quarta-feira, 16 de agosto de 2006

A Última Cortina:
A Revoada Final!


Post dedicado à "Madrinha dos Morcegos" Adriana, bem como a todos os amigos que fiz por aqui...


Então é isso, caros blogueiros de plantão: os Morcegos dão início a um vôo sazonal, à beira do derradeiro solstício, onde nesta Ilha mais parece terem-se abertos os portais do Inferno, tamanho o calor que faz por aqui - talvez por causa da aproximação das eleições, com filhotes de velhas oligarquias ameaçando retomar o poder... Pena que não estarei aqui para dedilhar a harpa por sobre os umbrais do próximo 1º de outubro!

Nem me perguntem quantos 'posts', quantos comentários (uns vivos, outros tão sem imaginação...), quantas músicas de fundo (não sei se todos notaram, mas, em cada uma das
últimas cinco postagens que restam no ar, foi escolhida uma trilha diferente, com a sugestiva My Way nesta "despedida") ou quantas visitações: não sei responder, há muito que esses Morcegos não registram nada... Cinema, Literatura e Artes em geral por pouco mais de dois anos, com uma dedicação que não me cabe mais, pelo menos por um bom tempo!
Mas viva tudo o que me foi proporcionado, através de meus registros precisos: um livro de crônicas sobre atualidades (Vertebral), um de contos (As Mais Novas Cartas Chilenas), um de críticas e resenhas literárias (Ensaios, Resenhas e Críticas de Um Amante do Cinema), sem esquecer as coletâneas de poemas e de textos que geraram alguns outros volumes (como Com um pouco de esforço e de pena...), todos tendo me dado um enorme orgulho de terem desfilado por estas páginas virtuais e que, apesar de não terem sido impressos, foram "publicados" para uma sempre fiel platéia de leitores...

E além dos Morcegos, eu também me retiro por um tempo da internet: tanto que alguns dos amigos feitos por intermédio deste espaço suspenso me propõem as esquecidas missivas, o que muito me alegra! Volto, mas não sei se com os mesmos Morcegos, se com outros, com nada ou se com outras impressões...

Assim se façam derradeiras palavras por sobre soltas impressões
digitais: muita coisa perdeu a graça e a vida escassa no tempo curto me apressa a tomar a decisão antes mesmo de a Poesia cessar... E sem ao menos me dizerem por quanto tempo fora ficarão, acompanho a revoada dos Morcegos sem muita explicação! Adeus... Ou até logo! E boa noite e boa sorte!

sexta-feira, 11 de agosto de 2006



Atendendo à vontade de inúmeros blogueiros de plantão, este 'post' não será determinado como "último" algo, a fim de não criar maiores expectativas... Será simplesmente uma imagem a determinar um contexto: a belíssima tela Impressão: Sol Nascente, do mestre Claude Monet, nome maior do Impressionismo, movimento na pintura que sempre seduziu a tantos no mundo todo, talvez pela forte carga de poesia de cada obra, e que ainda consegue arrebatar cada observador através de sua dimensão singular de cores e de luzes... É uma "impressão virtual" que deixo hoje, através deste verdadeiro ícone de Monet, e, particularmente, da técnica de suas pinceladas ágeis e inusitadas, sobrepondo variados matizes de cores diversas até que alcançasse o "tom ideal" da luz de cada cena retratada - como no caso deste quadro, que traz um sol laranja refletido sobre as águas cinzas do porto do Havre, de manhã bem cedo, com algumas embarcações (cena bucólica e sugestiva para estes momentos de "despedida", a esperar uma nova aurora, para um dia, num futuro distante, talvez...), algo ridicularizado à época pela fuga dos tons acadêmicos e que traz à baila uma curiosidade: o nome "impressionistas" surgiu em tom pejorativo, dado pela crítica de um jornal da época à mostra dos seus precursores (como Pissarro, Sysley, Degas, Manet, dentre outros), graças ao título deste trabalho! Ao fundo, além do horizonte, a música-tema de Amarcord, clássico maior de Fellini (se tiver de voltar um dia, seria com essa música, a celebrar)...



Impressão: Sol Nascente - Claude Oscar Monet, óleo sobre tela (48x63), 1872.
Museu Marmottan, Paris


Especialmente dedicado a Lígia Calina, amiga cara, dentre as primeiras a me mostrar Monet (e a me ofertar de presente um de seus livros, justamente o de minha cobiça, com a obra do pintor francês) e que adora Amarcord; para meu pai, Carlos Humberto, por ocasião do próximo domingo, para quem, no ano passado, dediquei o poema Abre esta porta, por ocasião do último dia dos pais (confira novamente o 'post' do dia 13 de agosto daquele ano), e que, decididamente, não pertence a este mundo virtual (curiosamente, nunca olhou o meu 'blog'), nem, de certa forma, ao mundo real, mas que sempre me trouxe o universo da admiração distante, de poucas palavras, diante do conturbado da vida... E para todos os advogados que amam mais as artes e a arte do bom Direito Social que os arroubos (ou arrotos) pernósticos dos "doutores da lei" - cujo "dia" é hoje, 11 de agosto.

domingo, 6 de agosto de 2006

Dando continuidade aos últimos 'posts' destes Morcegos que aos poucos se vão (sem saber se voltam um dia...), hoje é dia da "última crítica de Cinema", com um filme delicioso e vivo, mais um excelente exemplo de o quanto o nosso eterno Cinema Brasileiro pode ainda apresentar... Dedicado ao dileto amigo, infelizmente também de partida neste mês de agosto: Luiz Henrique, adorador de Kubrick como eu e que sabe muito da sétima arte, sempre mandando bem no seu Under Pressure 2 - apesar de gostar de Armageddon (rs)!

Último Cine Morcegos


Cinema, Aspirinas e Urubus é o primeiro trabalho no Cinema do talentosíssimo pernambucano Marcelo Gomes. É Cinema sobre o Nordeste, chega a lembrar clássicos como Vidas Secas, graças à insistência com a fotografia quase queimada pelo Sol ou pelos largos enquadramentos da caatinga sem vida do sertão (no caso, da Paraíba). Mas, se não chega àquela profundidade de dramas e de personagens como se deu na adaptação genial de Nelson sobre a obra de Graciliano, também não é "cinema nordestino", voltado para o umbigo do microcosmo da pobreza abandonada pelo "Estado Invisível" - isso até existe, mas a grandeza está em reunir dois personagens que nunca poderiam ser amigos em qualquer outro lugar do mundo: um alemão, representante das então lançadas aspirinas da Bayer, e um sertanejo amargo e sem futuro algum.

Os dois juntos cruzam a aridez daquela região pobre num caminhão da empresa alemã e se tornam amigos verdadeiros, graças a pequenas situações que, aos poucos, vão mudando suas perspectivas de vida. E é só: uma estória simples e direta, sem rodeios, firulas ou reviravoltas mirabolantes com emoção fácil. Não. Trata-se de um trabalho competente, preciso em imagens e em diálogos (com destaque para o excelente ator João Miguel, o Ranulfo, baseado nas histórias do tio-avô do diretor, amargo e matuto a princípio, mas que aos poucos sabe mudar - "Não pode mudar, não?", retruca em um dos muitos momentos engraçados do filme), que alargam a visão de quem quer ver tudo com estreiteza: afinal, quem foge de uma guerra, como o personagem Johann, até a miséria seca de uma terra sem futuro é bonita...

Se este belo trabalho começa com a contemplação, a descobrir e a nos ensaiar sobre o que se pode encontrar no nada (aqui, o Nordeste árido do sertão da Paraíba do ano de 1942, na era Vargas prestes a entrar na II Guerra, e, logo, a considerar os alemães no País como inimigos), pode-se dizer que termina com alegria, e alegria redentora, infantil, que eleva a alma de quem deixa a sala escura e faz lembrar que a felicidade está bem mais perto do que se pensa... E que, entre Cinema (no caso, os filmetes da Bayer sobre um "país maravilhoso" que ninguém conhecia e que faziam qualquer um comprar aspirina) e urubus (o abandono, o descaso, como se povo fosse lixo), não há espaço para dores de cabeça!

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

E os Morcegos ainda não se foram por completo...


A Última Homenagem


Eu poderia começar mais este "'post' de despedida" falando dos 80 anos de um dos meus cantores favoritos, Tony Bennet, que ontem fez mais um aniversário de um talento inigualável (tanto que o próprio Sinatra chegou a considerá-lo o melhor), em canções imortalizadas como I left my heart in San Francisco, The boulevard of broken dreams ou Just in time... Ou ainda falar sobre um dos melhores times do mundo na atualidade, o São Paulo F. C., com Rogério Ceni e cia. que, além de terem arrasado no jogo de ontem com um ótimo futebol que lembra o do Bi de Telê, bem que mereceriam ser a base de uma Seleção Brasileira, como se dava nos velhos tempos, ao invés de perderem tempo com "estrelas" longínquas... Mas o homenageado de hoje é um poeta cujo centenário aconteceu recentemente: Mário Quintana... Para Glória, que ama a Literatura, namora as palavras e canta belamente as palavras...



Dizer que o gaúcho Mario Quintana foi "o poeta das coisas simples" sempre me pareceu assaz "simplificado", e um poeta não se simplifica, desvenda-se... Como se, em sua casa, do alto de sua "Rua dos Cataventos" (donde podia avistar com facilidade o resto do mundo), fosse apenas um velho poetinha, a observar a morosidade da vida... Entretanto sua grandiosidade reside justamente nisso, no seu ver a vida - afinal, a poesia é ser maior, abstrato e incompleto: completamo-nos nos poemas que dela podemos colher, e Quintana, definitivamente, sempre os colheu de forma magnificamente despreocupada (escrevia porque sentia necessidade, dando de ombros para qualquer crítica, que injustamente o reconheceu de forma um tanto tardia...).

Conheci esse mestre como se conversasse com ele em alguma praça de Porto Alegre (cidade onde faleceu, no dia 5 de maio de 1994, próximo de seus 87 anos), tamanha a intimidade que logo alcancei com a sua obra: lia, por ocasião dos livros para o Vestibular, sua belíssima "Nova Antologia Poética", precisamente no ano de sua morte, eternizando-se em uma influência rejuvenescedora, para sempre...

Decidi, desta vez, falar pouco e deixar que o mestre falasse de si mesmo, em sua perfeitamente simples descrição da vida - faço minhas as suas palavras...


"Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.

Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton!

Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, instrospectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de fármacia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam), o que é a luta amorosa com as palavras..."

(Mario Quintana)

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Agosto: Mês do Desgosto, do Cachorro Louco...

E dos Morcegos em Debandada!


É isso mesmo, caríssimos e confusos blogueiros de plantão: os Morcegos estão partindo em revoada neste mês de agosto! Se voltam, não sei... Quanto à migração da Poesia, acho que se deve a motivos dos mais diversos: falta de tempo, numa nova etapa da vida, com afazeres que ocuparão quase tudo; desilusão com muita coisa (e/ou muita gente) deste louco mundo virtual; quase esgotamento de energia para escrever para tão poucos (porém fiéis, agradeço sempre)... O certo é que, a qualquer momento de agosto, os Morcegos partem sem deixar aviso prévio ou demais considerações, como costumeiramente tive ao longo desses mais de dois anos de humanidade virtual com muitos que não devolveriam nem se lhes fosse pedido nada de volta... Mais certo ainda é que a Poesia não morre, nem tampouco os textos (a imensa maioria escrita especialmente para este 'blog') aqui expostos hão de apagar-se: são memórias vivas, como minhas impressões digitais de uma era que, apesar de tudo, já me deixa saudade... E não parto apenas deste humilde espaço virtual, como também da 'internet' como um todo: por isso, ilha de mim mesmo, sigo a ermo e a esmo, a repensar e a refazer coisas que deixei pra trás... A 'internet' à frente, o tempo que não me espera e Deus por todos nós!

Assim, sem data para ir, nem para retornar, eis que, até a debandada definitiva, seguem os "últimos posts": a "última homenagem", a "última crítica de Cinema", a "última crônica"... Hoje, com muito carinho, dedico o "último poema" a Jandira, que tão pouco comentou neste 'blog' por não vivenciar a realidade virtual (ou, como no seu bom dizer, "por dizer tudo que pensa" pra mim diretamente, sem intermediários), mas que ama de verdade cada letra que lanço ao branco de qualquer tela...

O Último Poema

À beira

Concluí-me, nesta noite
À beira de meu início

O sol, o dia,
A porta que se abre
Ao me saber recomeçar
À beira do precipício...

Finalizo, solenemente, meus remorsos
À beira de meus próprios artifícios

Tenho as mãos abertas
E a mente fechada
(Do coração, nem falo mais nada)
À beira do meu sacrifício...

O escuro do tempo da chuva à tarde
À beira do derradeiro solstício...

- À beira de onde começa o vento
Termina o vício de me fazer eterno:
Encerra-se mais um poema vazio
Bem onde a poesia tem seu início...

(Dilberto Lima Rosa, À beira do derradeiro soltício...)

terça-feira, 25 de julho de 2006



Hoje se comemora o Dia do Escritor! Considero-me um, com vários livros por publicar, amador e amante das letras, em prosa e em verso... Por isso que, no SUPERPOST de hoje (em "edição extraordinária", aproveitando o pouco tempo de que venho dispondo para publicar algo aqui e repetindo o sucesso de 'superposts' de outrora, onde publicava, num único 'post', três obras distintas, incluindo a de outro autor além de mim), dedilho um pouco desta minha paixão interminável em um poema onde homenageio o concretismo do ato de ser poeta e em uma crônica poética que narra as idas e vindas saudosistas de um escritor perdido no tempo... Como desfecho desta pequena homenagem ao ato de escrever (e do ato de viver da pena), não poderia deixar de citar o maior escritor que li até hoje, Machado de Assis, cuja obra maior, Dom Casmurro, me marcou bastante (ainda que também seja fascinado por muitos outros de seus livros, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, de onde extraí uma pequena passagem para este post)... A todos os grandes nomes desta ingrata arte de tecer no papel o seu ofício, a Manuel Bandeira, a Drummond, a Cecília Meireles, a Eça de Queiroz, a Fernando Pessoa, a Sá Carneiro, a Augusto dos Anjos, a Cruz e Sousa, a Graciliano Ramos, a Vinícius de Moraes... os meus eternos parabéns e o meu humilde muito obrigado...


Nada mais concreto

A tinta que escorre na parede
Não desce à cor do poema
Mais concreto
(Fechada seja a mente
Posta a descoberto)

Ser do sol, sal da terra
E o chapéu se foi com o vento
Chega gesso, falta cimento e se espalham as cinzas
Escrever é meu contentamento
Ao desabar
Em desatino...

(Dilberto L. Rosa, in À Beira do Derradeiro Solstício)




Abrindo meu papel

Acendo a luz e percebo que se trata de um antigo escrito, coisa minha de mais de dez anos. Volto a procurar, só que agora tento encontrar na folha algo meu perdido em alguma linha, uma inocência que talvez o tempo não tenha feito curvar...

O pior é que só vejo a mesma essência do eterno presente de mim: ainda que papel velho, sou eu mesmo que falo ali com a mesma voz cansada de agora, como se ontem e hoje se dobrassem para me lembrar de quem realmente sou...

E o papel ainda conta tantas coisas mais, como que se desdobrando em tantos outros que com ele guardam ligação (eterna continuidade abstrata, talvez mesmo sem valor): todos me aguardam no escuro, nem sei se dobrados ou não...

Por fim dobro o papel, fazendo-o curvar-se ao meu controle e a tudo que ele passou, como papel velho e amarelado, para chegar até aqui - a curvar-se mesmo sobre si, desdobrando os tantos eus que ainda restam em mim...

Encontro, ao léu e no escuro, o que parece ser uma velha folha de papel. Tateio e procuro achar os vieses de algo que há muito já se tenha dobrado, porém não encontro os tais machucados - a folha parece que nunca se curvou...

(Dilberto L. Rosa, in A Prosa de Meu Agora Outrora...)



Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)

"Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não: é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes."

(Trecho de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", 1881)

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Há um dia especial para toda coisa, ainda que nem mesmo tomemos conhecimento da quinta parte destes dias... Anteontem, por exemplo, parece ter sido o Dia do Futebol - com meu Vasco perdendo daquela forma apática para os urubus, não tenho o que comemorar... E na próxima terça será o Dia do Escritor... Ontem, não sei quando ou quem começou, foi o Dia do Amigo... Eu que sempre me dirijo a você, leitor deste humilde espaço virtual, como "meu querido blogueiro de plantão", já considero um novo amigo, ainda que distante, ainda que pouco visite meus diletos Morcegos - afinal, este universo constitui-se mesmo numa grande exposição, ainda que não goste de diários da rede, acabamos sabendo muito uns dos outros... Por isso, a todos os novos amigos virtuais, assíduos ou ocasionais, especialmente aos de longa data, pelas idas e vindas, aos próximos e aos que andam distantes e afastados pelas mais diversas razões (um amigo sempre é um amigo), aquele abraço!

E, falando em poesia, hoje lembro o Poetinha Vinícius de Moraes: aproveitando o Dia do amigo, trago hoje "O Soneto do Amigo", um belo poema de um homem sempre cercado de amigos até que se foi, em julho de 1980, sem nem bem se despedir da maioria deles...


Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com os olhos que contem o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

(Vinícius de Moraes, 1946)

terça-feira, 18 de julho de 2006

Super-Homem - A Canção

E hoje, encerrando a SEMANA ESPECIAL SUPER-HOMEM, relembro uma pequena crônica que escrevi já há algum tempo, sobre um "super-encontro" mágico entre um filme inesquecível norte-americano (capaz de ser um precursor no entretenimento das grandes adaptações dos Quadrinhos para o Cinema, meio que "refilmado" recentemente no interessante Superman - O Retorno) e uma canção brasileira de um lirismo inesquecível...

Em 1979, logo após uma exibição do eterno clássico Superman - O Filme, um jovem compositor encontra um amigo e declara, extasiado: "cara, que filme fantástico! No final, o Super-Homem volta o tempo e muda a história do mundo pra salvar a mulher que ele ama, a Lois..." - o amigo, também artista, inspira-se naquela narração cheia de belo entusiasmo juvenil e cria uma linda canção... Os amigos em questão eram, respectivamente, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e assim nascia a belíssima Super-Homem - A Canção, inspirada diretamente no excelente trabalho de Richard Donner, de 1978.

Em seus versos derradeiros e magistrais, o atual Ministro da Cultura inferia "Quem sabe/ O Super-homem venha nos restituir a glória/ Mudando como um Deus o curso da história/ Por causa da mulher", em referência direta à colossal seqüência final do filme, onde, revoltado por não ter conseguido impedir o segundo míssil lançado por Lex Luthor (imortalizado na interpretação sarcástica de Gene Hackman), que se chocaria contra a Califórnia, e por não ter assim salvo sua amada Lois (a esquecida Margot Kidder) da morte, e, mesmo contrariando todas as advertências de seu pai, Jor-El (Marlon Brando, o imortal), de que jamais poderia "interferir na história da humanidade", o super-herói (vivido com perfeição por Christopher Reeve) faz o planeta voltar no tempo, voando em velocidade impressionante no sentido contrário ao da rotação da Terra, salvando Lois e a Califórnia da destruição - num dos maiores furos da história do Cinema de entretenimento (afinal, voltando o tempo, tudo voltaria a acontecer)!

Assim, naqueles bons tempos que não voltam mais, tivemos o "nascimento" de duas pérolas artísticas diferentes, mas casadas numa espécie de "adaptação para a música": na canção, a ode à mulher e à eterna dependência delas por parte de nós, homens, culminando com um desdobramento abissal; no filme, uma fantástica aventura de qualidades épicas e românticas, ainda que fielmente baseadas numa "arte menor" ou "sub-arte", que são os Quadrinhos... O que termina por nos deixar na garganta um doloroso nó de nostalgia: poucas vezes depois o Cinema e a Música conseguiram aliar magia e qualidade num só produto, ou, melhor dizendo, em dois produtos tão diferentes...

sexta-feira, 14 de julho de 2006

O Filho do Super-Homem



Não sei se os meus queridos blogueiros de plantão sabem, mas O Poderoso Chefão Parte II foi o primeiro filme da história do Cinema a usar um número como indicador de uma continuação. Até então, os filmes que se valiam de seqüências (intermináveis, por sinal) costumavam ser os antigos clássicos de Terror, que normalmente apresentavam títulos como A Noiva de Frankenstein ou O Filho do Lobisomem para dar continuidade às tramas então populares nos cinemas do mundo todo... Começo o segundo 'post' da Semana Especial Super-Homem com esta curiosidade cinematográfica para celebrar a beleza da paternidade, presente com grandiosidade na estréia mais aguardada do ano de 2006: Superman - O Retorno - que bem que poderia ter este parentesco no título...

Afinal, só se considerarmos o diretor Bryan Singer como filho do mestre Richard Donner para podermos explicar, com um mínimo de consistência, tamanha homenagem feita a uma produção cinematográfica, a ponto de quase ter sido criada uma espécie de "'remake' atualizado" da adaptação do maior super-herói dos quadrinhos para as telas: ao repetir, através de referências diretas, diálogos e cenas do clássico absoluto de 1978 (como os quase idênticos abertura e final, bem como ao relembrar frases inesquecíveis como "estatisticamente, voar é a forma mais segura de se viajar"), Singer não só emociona uma platéia formada em sua maioria absoluta por fãs ardorosos dos primeiros dois filmes com Cristopher Reeve (a quem a atual produção é merecidamente dedicada), como também, tal como Donner (que, além de ter dirigido Superman - O Filme e de ter deixado praticamente pronto Superman II, fez ainda, dentre outros, os pequenos clássicos A Profecia, Os Goonies e O Feitiço de Áquila), consegue se firmar atualmente como o criativo diretor de um consistente "cinema de autor e de magia", com dois X-Men no currículo, além dos ótimos O Aprendiz e Os Suspeitos.

E como esquecer a paternidade guardada em segredo por tanto tempo e finalmente revelada neste Retorno (reconhecida "continuação" dos Superman I e II) e que, sem dúvida, gerará muita polêmica entre os fãs mais ardorosos das histórias em quadrinhos? Calma, não estou entregando nada da trama do filme, não: falo de Brandon Routh, o "filho do Super-Homem"! Além de lembrar a aparência do inesquecível Reeve em muitas cenas (em ângulos propositadamente colocados para aumentar a semelhança, apesar do "rosto de boneco", mais comprido), Routh (com o nome estreante surpreendentemente abrindo os créditos) praticamente "imita" em muitas cenas alguns trejeitos da já clássica concepção Clark Kent/Super-Homem das produções de 78/87, o que dificulta ainda mais a vida do novo ator, sujeito às inevitáveis e terríveis comparações com o "pai", personagem desenvolvido com maestria pelo imortal Cristopher - guardando-se, é claro, a maior seriedade conduzida por Brandon em sua interpretação mais contida, mais fiel aos quadrinhos e menos "charmosa" e "engraçadinha" que a da concepção antiga.

Mas, sem sombra de dúvida, a mais importante analogia que se pode fazer com relação à questão "pai e filho" do Escoteiro Azul é com o Messias em pessoa! Se as inevitáveis comparações com Jesus Cristo, o "Filho do Homem", sempre acompanharam este mito da Cultura Pop do século XX ao longo das inúmeras versões deste super-herói, nada poderia ser mais colocado em destaque em Superman - O Retorno: desta vez, além do 'revival' das falas do finado Marlon Brando como Jor-El, a relembrar que Kal-El seria a "luz" que inspiraria a bondade dos homens da Terra, e de uma passagem em que este confidencia a Lois Lane que, do alto dos céus, ouve de todos lá embaixo "o quanto todos precisam de um salvador", nunca o Super-Homem se sacrificou tanto por nosso mundo, a ponto de lembrar passagens de revistas em quadrinhos como as séries A Morte e O Retorno do Super-Homem, tudo com direito a metáforas bem explícitas (como a posição da cruz, formada depois do maior esforço do personagem no filme, e como a passagem do "leito abandonado")...

É por essas e por outras que eu, como um legítimo "filho" da magia dos anos 70/80 do Cinema, do qual personagens adaptados para a telona como Super-Homem e Batman (89) são alguns dos maiores nomes, só pude aplaudir e festejar esta gostosa "sessão nostalgia" que tive hoje na primeira sessão de Superman - O Retorno, mesmo a despeito de algumas modificações (como a roupa, o clima mais sombrio e um Lex Luthor mais assustador) e de alguns exageros e furos da trama, tão nababescos quanto a grandiosidade do último filho de Krypton... Vida longa ao Super-Homem!

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Aos que se foram em junho...

Foi tanta Copa, porém tão pouco Futebol que, mesmo sem empolgar em nenhum dos cinco jogos de que participou, a Seleção acabou ocupando todo o espaço deste humilde e perna de pau espaço virtual! Tanto que as festas juninas ludovicenses, bem como as costumeiras homenagens póstumas passaram sem nenhuma menção... Como sempre é tempo para um merecido destaque aos que passaram e marcaram seu tempo, eis aqui um breve "obrigado"...

Àquele comediante que, se não foi um gênio, foi um precursor ao lado de um grupo de companheiros, ajudando a revolucionar o humor brasileiro: Bussunda. Tal como Graham Chapman deixou muito cedo o genial e precursor grupo inglês Monty Python, o nosso comediante surpreendeu a todos com sua partida prematura e no meio de uma Copa do Mundo sem graça (o que me lembra de outro grande nome que se foi em junho, aos 77 anos, o radialista esportivo Fiori Gigliotti, que, quis o destino, acabou por não assistir a esta total ausência de espetáculo, de verdadeiro "crepúsculo de jogo"...) deixando o grupo do Casseta e Planeta (fusão dos grupos universitários Casseta Popular e Planeta Diário) profundamente desfalcado...

Não que o humor brasileiro estivesse morto, não mesmo: uma turma do passado segurava bem as pontas até o começo da década de 80 - especialmente gente de vários talentos como o mestre Paulo Gracindo (que, se vivo, completaria neste último junho 95 anos de idade), que trazia, aliado ao seu gigantesco conhcimento de atuação no Teatro, no Cinema e na TV, a verve fantástica dos primeiros programas de humor da rádio (como o quadro "Primo Pobre e Primo Rico", exibido até então em programas televisivos como Balança, mas não cai)... Mas aquela gente jovem, misturada com gente mais experiente (como Luís Fernando Veríssimo), tinha que trazer Python, Mad, Saturday Night Live, e aportuguesar tudo no grande Besteirol brasileiro, humor que fez escola no teatro (com grupos como Asdrúbal trouxe o trombone) e na Televisão (com o genial TV Pirata, grande parceria de gente como Bussunda, LFV, Falabella, Patrícia Travassos, dentre outros).

Mas ninguém faz mais falta neste cenário mundano que alguém desconhecido do grande público, mas que marcou como um grande artista a sua família, bem como a todos que o conheceram: Sebastião Ribeiro Rosa, falecido num distante dia de Santo Antônio e que, se vivo, completaria, em 2006, 85 anos... A ele o meu saudoso e fraterno abraço, com um dedo de Poesia ao avô amigo que se foi num junho de três anos atrás...

I
Meu avô se foi...


Meu avô
se foi
não sei
só sei
que amei
cada samba
em vinil
que com ele
escutei...

(Canto I da Trilogia em Elegia ao Meu Avô)

quarta-feira, 5 de julho de 2006

SÓ RINDO MESMO...


Alemanha e Itália: isso é jogo de Copa! Tudo que o Brasil não fez pôde ser visto ontem de ambos os lados até o derradeiro minuto da prorrogação, com o segundo gol da Esquadra Azurra! E, apesar da Seleção, o prometido era a ROTATÓRIA ESPECIAL FUTEBOL até o final da Copa: por isso, hoje, na última semana da competição, nada de grandes cronistas sobre o universo esportivo! A despedida desta seção será com o gosto do último jogo do Brasil: um escracho total! Por isso, no interessante e divertido Blog dos Cassetas, os conhecidos humoristas da TV lembram o estilo curto e grosso que os consagraram na revista Casseta e Planeta, e, ao longo dos últimos dias, Hélio de La Peña mandou ver - não é à toa que ele se lançou recentemente como escritor com "Vai na bola, Glanderson!"... E, amanhã, 'avant', Felipón!!!


LEITURA LABIAL

Quizidane: Vai ficar pra ver nossa próxima partida? Vai ser na quarta-feira, contra Portugal.
Gordômeno: Não vai dar. Nossa partida é hoje mesmo, pro Brasil.

Muita gente achava que nosso técnico não devia ser o besta quadrado mágico do Parreira e sim um diretor de publicidade. Mas não é verdade que nos comerciais a seleção verde-amarelona arrebentava. Lembram onde eles chutavam a bola no comercial da Brahma?

Pra que o Ronaldinho Derrotucho tanto queria um desodorante Rexona, se ele nem suou? E o Roberto Carlos, tava ajeitando a meia ou fazendo meia ?

FINALMENTE REVELADO:
PARREIRA SOFREU CONVULSÃO


Já temos a desculpa pra esta derrota tão derrotosa: o técnico Carlos Alberto Besteira passou mal antes do jogo. Durante o jogo, Cafu, Roberto Carlos, Kaká e Ronaldinho Gaúcho também passaram mal. Passaram mal, cruzaram mal e marcaram mal. O professor Besteira estava apático, não conseguia mexer no time e chegou a babar quando estava no banco vendo o Zidane jogar.

Tomamos uma goleada de 1 a 0. O Brasil não viu a cor da bola. Os franceses só não nos deram uma lavada porque, mesmo classificados, não são chegados a práticas higiênicas. Na falta de avião da Varig, a seleção fretou uma barca para a Freguesia. E bate mais um recorde: é a seleção que mais perdeu da França em jogos de Copa do Mundo.

(Hélio de La Peña, in Blog dos Cassetas)

domingo, 2 de julho de 2006



Vive la France! É, meus queridos blogueiros de plantão, não foi desta vez... É o fim dos feriados de meio de semana! Ao invés do chocolate esperado dos Ronaldos, tivemos que engolir a seco um croissant do Thierry Henry! Logo ele, que disse que brasileiro não tinha nada o que fazer o dia inteiro além de jogar bola, enquanto os franceses vão para a escola... E sem preconceitos, do jeitinho que aquele discurso que abre os jogos manda, claro! Afinal, já viramos mesmo fregueses dos franceses, com três eliminações em Copas, tendo sido a última, sem dúvida, a mais amarga... Sem problema, os brasileiros adoram os franceses, conforme vimos desde o túnel do estádio, antes e depois do jogo - conforme disse Ronaldo, "não faltou garra", só andar em campo e vergonha na cara talvez, mas fica pra depois da noitada que ele marcou com Zidane e Roberto Carlos pra comemorar! E desta vez não teve convulsão do Camisa 9, nem esquema da Nike: o Brasil amarelou sozinho e jogou algo que lembrava futebol, mas que nada tinha a ver com o que os franceses faziam em campo! E parabéns a Zidane, o homem do jogo, um Rivaldo em plena forma, reconhecido em seu País! E só nos resta torcer para Portugal, com o último brasileiro no front, Felipão! Afinal, se só restam os europeus, que sejam os nossos irmãos do idioma! Guardemos então as camisas, as bandeiras e o patriotismo para 2010 e torcer para que o Brasil enfim estréie - coisa que não conseguiu fazer nesse mundial!!!




E não sei se os meus parentes e amigos desta ampla família notou, mas no mês de junho não houve Reunião da Família Morcegos! Tudo bem, sem problemas ou crises familiares, a família poderá ter várias chances de se encontrar ao longo deste mês de julho: em virtude do aniversário de um ano desta idéia simpática e calorosa, de dar destaque para determinados 'blogs' e, para eles, desfechar um carinhoso "parentesco" (iniciado no comecinho de agosto de 2005 no espaço do Weblogger, todo domingo deste mês haverá reunião desta adorável "família virtual"! Hoje, de início, destaque para a sobrinha Lelinha, que criou uma segunda "logomarca" para a Família, de seu jeitinho todo peculiar, claro! E para a próxima reunião, o "tema" já está no ar: qual foi a sua reunião favorita? Basta uma introdução para explicar o porquê e a repetição do seu 'post' ou daquele de um parente de que mais tenha gostado sobre um dos temas escolhidos (a minha favorita foi a primeira, do Amigo Invisível Virtual, de dezembro passado, mas só revelarei a participação do parente que mais apreciei no próximo domingo!) - até lá! E aguardem a "árvore genealógica" atualizada!

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Enquanto ouço, ao fundo, a bela "Na cadênica do samba (que é bonito é...)", automaticamente me lembro daqueles lances ancestrais do Canal 100... Hoje, mesmo com os avanços da tecnologia, com câmeras nos mais inusitados ângulos e em cima da jogada, o Futebol anda bem inferior àqueles tempos de glória! Só ver um Portugal e Holanda, verdadeira guerra européia! E o que dizer do modorrento segundo tempo de hoje, de Brasil e Gana? Tudo bem, ganhamos de 3 a 0, mas... Desse jeito, contra Gana? Tudo bem, Ronaldo fez um gol às antigas, Ricardinho entrou e jogou bem (!) e ganhamos fácil, fácil de uma seleção sem pontaria ou talento (quantos erros de nossos laterais), mas é incrível como a Seleção não evolui, tal como a cabeça de Parreira! Podemos até ser hexa, dado o futebolzinho dos demais, mas será com sofrimento, pior que em 94! E por falar em passado, sigamos para uma volta no tempo: estamos classificados para uma revanche contra a França (mon Dieu!) e o coração esfria só de lembrar 98... Por isso, na ROTATÓRIA ESPECIAL FUTEBOL desta semana, trago um hilariante texto do gênio Luis Fernando Veríssimo sobre as "verdades" daquela final macabra - que, esperemos, não se repita no próximo sábado!!!


O que realmente aconteceu
Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e Zero Hora, 26/7/98.

Para encerrar de uma vez por todas a questão, eis o que realmente aconteceu no domingo, 12 de julho, antes de o Brasil entrar em campo para decidir a Copa do Mundo. Todas as outras versões dos fatos são incorretas ou fantasiosas.

11h: Os jogadores acordam normalmente, como todos os dias. Dunga vai no quarto de cada um e o derruba da cama.

11h15: Zagallo convoca uma reunião para tratar da estratégia que usarão contra a Noruega. Ninguém lhe dá atenção. Zico lembra a Zagallo que o jogo será contra a França.

11h30: Café da manhã. Todos parecem descontraídos. Há a habitual guerra de coalhada, vencida por Roberto Carlos. Dunga pede voluntários para limpar uma clareira atrás da concentração de pedras e tocos de árvores, mas acaba indo sozinho. Ronaldinho recebe um telefonema da Adidas, dizendo que seqüestrou a Suzana Werner. Zagallo volta para a cama.

12h: Almoço. Todos estranham a mudança do pessoal da cozinha, e do menu. As suspeitas crescem quando um dos escargots servidos ao Ronaldinho tenta fugir do prato mas cai, com evidentes sinais de envenenamento, antes de chegar muito longe. O escargot é atendido pelo Dr. Lídio, que diagnostica estresse e autoriza a sua volta para o prato de Ronaldinho.

13h: Descanso. Os jogadores vão para os seus quartos, ignorando uma convocação do Zagallo para estudar tapes dos últimos jogos da Croácia, para não serem surpreendidos. Júnior Baiano pede um dos livros do Leonardo emprestado e pergunta se o Schopenhauer é com figurinha. Isto parece afetar estranhamente Ronaldinho, que tenta esgoelar Roberto Carlos. Ninguém intervém e alguns até o incentivam. Ronaldinho só pára com a chegada de Ricardo Teixeira com a notícia de que a Nike comprou a CBF, pretende redimensioná-la, investindo em outras áreas, e quer perder a Copa para sinalizar ao mercado que está abandonando o futebol.

14h30: No quarto, Roberto Carlos raspa a cabeça de Ronaldinho e nota um pequeno dardo espetado na sua nuca. Ronaldinho diz que pensou que fosse uma mordida de mosquito e os dois não dão maior atenção ao fato.

15h17: Roberto Carlos acorda da sesta e vê Ronaldinho caminhando no teto.

15h20: Depois de tentar, inutilmente, puxar Ronaldinho para o chão, Roberto Carlos vai procurar ajuda. Encontra Dunga no corredor, fazendo embaixada com uma escrivaninha. Os dois correm para o quarto e descobrem Ronaldinho de pé em cima da cama, coberto de pêlos, rosnando e com o chapéu do Napoleão na cabeça. Chegam correndo César Sampaio, Cafu, Aldair e Júnior Baiano mas nenhum deles consegue impedir que Zidane seja o primeiro a entrar no quarto.

15h42: Depois de examinar a situação, o Dr. Lídio recomenda repouso e muito líquido e receita duas aspirinas e um calmante para Roberto Carlos.

16h05: Em pânico, César Sampaio enfia o dedo na boca e tenta desenrolar a língua de Zé Carlos, até ser convencido de que ele fala assim mesmo. Zagallo acorda da sesta e, ao ser informado do ocorrido, pergunta: "Que Ronaldinho?"

18h52: Ronaldinho é levado para um hospital francês, onde é substituído por um sósia.

20h30: O sósia de Ronaldinho assegura à comissão técnica que pode jogar. Intrigados com o fato de o jogador estar falando com um forte sotaque francês, a comissão ouve dos médicos a explicação de que aquilo é comum em casos como o do Ronaldinho, seja ele qual for.

20h50: A seleção entra em campo com o sósia do Ronaldinho, que não joga nada. O Brasil perde o jogo e a Copa.

(Luís Fernando Veríssimo, Portal Literal/Terra)

domingo, 25 de junho de 2006

Aproveitando a folga da tarde da última segunda-feira, pela primeira vez em muito tempo, finalmente assisti a três filmes que já andavam à beira de sair das telonas: dois badalados 'blockbusters' da estação e uma produção nacional feita com a alma interiorana de outros tempos. Só restou um tal Código, que Jandira, por mais que tenha insistido, ainda não conseguiu me arrastar para ver...

Cine Morcegos: Três Sessões


Na primeira sessão: Tapete Vermelho, encantador trabalho do diretor Luiz Alberto Pereira, homenagem ao antigo campeão de bilheteria do cinema brasileiro, Amacio Mazzaropi. Matheus Nastchergaele (em mais uma ótima atuação, compondo uma mistura de imitação do falecido comediante paulista com um caipira típico do interior de São Paulo), desejoso de cumprir uma antiga promessa a seu pai, leva mulher (Gorete Milagres, irregular, pelo menos distante da repetição da Filó) e filho para a primeira cidade que encontrar exibindo um filme de Mazzaropi, partindo numa espécie de 'road movie' com comédia gostosa e leve, baseada no qüiproquó dos personagens, algo como visto em A Marvada Carne. Entretanto, ao contrário desse pequeno clássico do recente Cinema Nacional, Tapete Vermelho é irregular tanto na técnica quanto no enredo, pecando em enveredar por desvios de narrativa envolvendo temas diversos (como os sem-terra e o draminha do sumiço do filho), perdendo-se a partir da metade final. Entretanto, diante do sentimentalismo presente em algumas produções de Mazzaropi, a homenagem parece ter ficado mesmo completa: mesmo com tantos baixos, é diversão garantida para toda a família!

Segunda sessão: X-Men - O Confronto Final, terceira e aparentemente última adaptação dos famosos personagens mutantes da Marvel. Dirigido pelo competente Bret Rattner (Dragão Vermelho), que pouco mudou na trama conduzida com precisão cirúrgica por Bryan Singer (responsável hoje por outro super-herói, que em breve voará novamente nas telas do mundo inteiro), o novo X-Men tem mais ação, muito mais mutantes (tirando as promessas do segundo, Jubileu e Noturno, que não repetem seus papéis aqui) e um pouco mais de ritmo que os anteriores, arriscando-se em cobrir ainda mais períodos dos quadrinhos: depois de dada como falecida no último filme, Jean Grey ressurge como a Fênix, com poderes incalculáveis e segredos só agora revelados (no que difere um pouco da origem da personagem nos quadrinhos) e se alia a Magneto na guerra contra a cura, alardeada por uma empresa de bioquímica como uma possibilidade de transformar mutantes em pessoas comuns. Assim, mutantes morrem, outros perdem poderes e uma intensa reformulação é feita, para a surpresa dos não iniciados no universo dos 'action comics', onde personagens morrem e renascem constantemente - falando nisso, atenção ao fim dos créditos, onde uma grande revelação sugere uma ponte para uma nova leva de filmes...

Quase que sem querer, aproveitando a oportunidade e o horário da sessão, o último filme do dia (já à noite): Missão Impossível 3, terceiro filme de uma franquia já cansada e sem identidade (cada filme foi dirigido por um diretor diferente, devendo ser considerado como de crédito unicamente o primeiro, do mestre Brian dePalma), cujo personagem "de ligação" ainda é vivido pelo produtor Tom Cruise, o Ethan Hunt da série original (sem esquecer do personagem vivido pelo sempre bom Ving Rhames, presente em todas as produções). Com muita correria e muitas seqüências de ação, a "trama" quase não dá espaço para o tão alardeado vilão vivido pelo excelente Philip Seymour Hoffmann (oscarizado neste ano por Capote) e termina por enterrar a série como apenas um filme ligeiro de ação. Nada de mais! Somente filmes demais para um dia só...

sábado, 24 de junho de 2006

SEMANA ESPECIAL CHICO BUARQUE



Ao longo de cerca de 40 anos de carreira, Chico Buarque gravou aproximadamente 35 discos, fora álbuns especiais em outras línguas (como o italiano, por exemplo, tendo vivido dias difíceis em Roma na época do auto-exílio), quase 10 DVDs e inúmeras coletâneas. Difícil dizer qual teria sido o melhor disco, tamanha a constância da qualidade de todos os seus trabalhos: além de ser impossível definir uma "melhor música", mais ainda seria dizer qual dos seus discos teria reunido mais "clássicos"... Teria sido Chico Buarque vol. 4, com pérolas como Cara a Cara e Essa moça tá diferente? Ou talvez Chico Buarque (78), com Cálice e Apesar de você? Ou ainda Chico Buarque de Hollanda (66), com a fineza de sambas antológicos do esplêndido início de carreira, como A Rita, Olê, Olá e Pedro, Pedreiro? Realmente não é tarefa fácil para ninguém, que dirá para um fã ardoroso de sua obra completa como este pobre escritor que vos fala... Por isso, tentando reduzir o "multiverso" deste tão fantástico compositor, minimizemos todos estes clássicos à também já clássica compilação Chico Buarque, 50 Anos, onde, se não foi possível todos os maiores títulos de suas quase 400 canções, pelo menos o hercúleo trabalho do crítico Tárik de Sousa foi, dentre todas as coletâneas, a que mais se aproximou da perfeição!

Ainda que a coleção de gravações originais dos 5 CDs não traga material extra, como fotos ou letras das músicas (o que seria mais do que merecido para uma legião de adoradores da poesia do mestre carioca), Chico Buarque, 50 Anos traz em seu bojo, além de perfeições absolutas como Samba e Amor, Atrá da Porta, Cotidiano, Você vai me seguir, Bye, Bye, Brasil, O Meu Guri, Geni e o Zepelim, Flor da Idade, A Banda, Até o fim, dentre outras tantas, uma divisão das canções (feitas desde 1966 até 1994, ano de lançamento dos discos, que já tiveram inúmeros relançamentos) de acordo com os vários temas abordados pelo eclético compositor. Assim temos o disco O Amante, área em que foi um mestre tanto no pessoal como no profissional; O Trovador, com 12 composições do Chico tal como nos tempos áureos do Pré-Romantismo; O Cronista, uma das grandes características de sua obra, baseada que sempre foi num eterno narrar de estórias, cheias de jogos de narrativas temporais (como a que o querido blogueiro de plantão ouve ao fundo neste 'blog', Vai Passar); O Malandro, cujo hino, sem dúvida, é Vai Trabalhar, Vagabundo, composto para o filme homônimo de Hugo Carvana; e O Político, arte maior do mestre, impossível lembrar alguma canção "despolitizada" de seu repertório, especialmente ao longo dos negros anos da Ditadura...

"Descobri" Chico Buarque por volta dos 13 para 15 anos, garimpando LPs nas casas de amigos e de parentes. Ouvi esta coletânea, pela primeira vez, quando com ela minha amada Jandira presenteou-me de aniversário, já na era dos CDs - nem preciso dizer qual é a minha coleção favorita! Mas é curioso como o universo orquestralmente grandioso das gravações de Chico (especialmente as dos anos 70, como a maior de todas, Construção) parece tão reduzido e esterilizado na tão alardeadamente superior qualidade de um 'compact disc'... Não concordam?

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Tijolo por tijolo num desenho mágico, Chico começou como compositor e cantor (e um ótimo intérprete, diga-se de passagem, ainda que pesem as más línguas: voz precisa e melodiosa, acompanha com afinação as suas notas mais difíceis), lançando o excelente disco Chico Buarque de Hollanda (66), indo na contra-mão do samba Bossa Nova e voltando às raízes do samba de Noel e companhia! Depois veio o Chico "garoto-da-mídia", o Chico dramaturgo, com pérolas como A Ópera do Malandro (e até ator, no bom e excêntrico filme de Cacá Diegues Quando o carnaval chegar, de 72), o Chico escritor (com uma Literatura competente e evoluindo a cada livro) e, na casa dos 60, novamete o "garoto-da-mídia", com uma série enorme de DVDs, prova da força de Chico tanto com a geração antiga como com o público mais jovem, através de seus trabalhos mais recentes somados aos clássicos eternos... Por todo o talento destes 40 anos de carreira: Chico, Deus lhe pague...

E hoje, dando continuidade à SEMANA ESPECIAL CHICO BUARQUE, a homenagem vem em dupla face: a primeira, na forma de versos, que rabisquei em homenagem a uma de suas canções mais perfeitas Samba e Amor; a segunda, na forma de depoimento apaixonado de quem trabalhou com o Mestre carioca - Ruy Guerra, diretor no Cinema de duas adaptações da obra de Chico (A Ópera do Malandro e Estorvo).



Samba e Amor, TV, Poesia e Vazio


Vejo televisão, falo ao telefone
Como pão e faço versos
Até mais tarde
E tenho muito sono o dia todo, o tempo todo
Sem o colo da companheira ou o corpo do violão
Me ressinto no ardor da correria do dia
E da profissão,
E tenho um monte de gente
Para quem prestar satisfação
(Especialmente para mim),
Gente que contorna a minha cama
E que reclama de meu quarto fechado,
Abafado
- Por que é tão difícil adormecer
E acordar e renascer...
E em meio ao certo e ao direito
E a minha preguiça tão covarde
Eu tenho é mais poesia que fazer...

(Dilberto Lima Rosa, 2004 Poemas, 2004)



"Parceiro de euforias e desventuras, amigo de todos os segundos, generosidade sistemática, silêncios eloqüentes, palavras cirúrgicas, humor afiado, serenas firmezas, traquinas, as notas na polpa dos dedos, o verbo vadiando na ponta da língua - tudo à flor do coração, em carne viva... Cavalo de sambistas, alquimistas, menestréis, mundanas, olhos roucos, suspiros nômades, a alma à deriva, Chico Buarque não existe, é uma ficção - saibam! Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção."

(Ruy Guerra, cineasta e escritor, outubro de 1998)

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Ô, Bussunda: não teve a menor graça...

Menos engraçado ainda foi aquele jogo de ontem! Ronaldo e Roberto Carlos escorregando e tropeçando nas próprias pernas e sem domínio de bola, Dida saindo nas horas mais erradas... E Ronaldinho Gaúcho na defesa?!?! Algo tem que ser feito urgentemente! Haja coração... Vai passar?...

E hoje é aniversário de um dos maiores gênios da Música: Francisco Buarque de Hollanda (62 anos). Tombemos esse dia como feriado nacional! Louvemos ao mestre maior Chico Buarque! Façamos uma prece por ele que, tanto como Tom, Villa-Lobos, Noel e outros nomes tão grandes como o seu, perpetuou nossas mentes com genialidades e brindou a MPB (no tempo que esta sigla tinha algum valor, fazia algum sentido!) com um rótulo de qualidade e de beleza 'ad eternum' - e que seja ele eterno, vire pedra (mas pedar de cantaria), e dele emanem canções perfeitas, onde letra e música se casam como casamento nenhum jamais funcionou! E que se case com todas as mulheres por quem se apaixonou, vez que se apropriou de suas almas para sempre em suas retinas esverdeadas... Ao mestre, com carinho, por Construção, Cotidiano, Pedro Pedreiro, Januária, A Rita, Cara a Cara, Samba e Amor, As Vitrines... E pelo seu futebol, em letra, música e chuteiras canhoteiras, o obrigado de uma nação que inspira Futebol e expira Chico, professor maior, craque driblador em tantas artes!

Iniciando a SEMANA ESPECIAL CHICO BUARQUE, e aproveitando a série ROTATÓRIA ESPECIAL FUTEBOL deste mês de junho, publico hoje, de autoria de Chico, O Futebol, tal como nas próprias palavras do mestre: "há certos momentos de genialidade no futebol, daquela capacidade de improviso, alguns relances que acontecem no futebol, que artista nenhum consegue produzir"... Que a Seleção te ouça, meu caro amigo!



O futebol
Chico Buarque/1989
Para Mané, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro

Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para Mané para Didi para
Pagão para Pelé e Canhoteiro)

1989 © - Marola Edições Musicais Ltda.

domingo, 18 de junho de 2006

E hoje é o grande dia: finalmente a Seleção vai demonstrar se mereceu mesmo todo aquele entusiasmo mundial (esmaecido depois da fraca partida de abertura) ou se vai entregar a Copa para aqueles jogadores de rúgbi disfarçado de futebol... E no Cine Morcegos de hoje, nada melhor que lembrar um grande filme sobre o polêmico entusiasmo com o tri de 70 sob o punho pesado da Ditadura - cuja canção-tema é tocada aqui, mais pela beleza de hino em que se tornou que pelo simbolismo macabro e cego daquela época...

Cine Morcegos

"90 milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu coração"! Assim conclama a clássica e polêmica marcha de 1970 de Miguel Gustavo, em pleno período áureo da Ditadura Militar... Assim, enquanto centenas de pessoas "desapareciam" nos porões dos DOICODs, uma nação cegada pelo brilhantismo de Pelé, Tostão, Rivelino, Gerson e cia. e pela idéia do então iniciado "milagre econômico" vibrava o simples fato de ser brasileiro...

Este é o cenário real onde se desenrola a trama de Pra frente, Brasil, um dos grandes momentos do Cinema Nacional, dirigido pelo sempre competente Roberto Farias (do clássico Assalto ao Trem Pagador, de 58, também com o irmão famoso, Reginaldo): produzido em 1983, quando da abertura política brasileira, o filme narra as desventuras de um pacato cidadão de classe média que, confundido com um ativista político, é preso e torturado por agentes federais em plena Copa de 70.

Vencedor do prêmio C.I.C.A.E., no Festival de Berlim, e dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Edição no Festival de Gramado, Pra Frente, Brasil é um dos poucos filmes que retratam as atrocidades cometidas durante esta negra página de nossa História... E, a despeito dos costumeiros problemas de fotografia e de som da época, o filme tem direção impecável, roteiro e atuações memoráveis (Fagundes, Farias e um inesquecível Zara, tirando uma Natália do Vale deslocada, em início de carreira), sendo Cinema-Denúncia de qualidade num período em que os brasileiros começavam a acordar da letargia mortal dos tempos de chumbo... E é com um trecho deste memorável roteiro que eu termino o Cine Morcegos de hoje, com um libelo contra qualquer tipo de dominação ou manipulação - até mesmo através do Futebol!



INT Avião
Sarmento - Tenho a impressão que desta vez o Brasil ganha o tricampeonato.
Jofre - É? Toda vez que a Seleção sai daqui vaiada ela acaba ganhando lá fora.

O avião chega ao Rio. Desce no Aeroporto Santos Dumont. Na fila do táxi, Sarmento é o primeiro. Jofre está logo atrás. Pára um táxi. Sarmento vai entrar. Volta-se.

Sarmento - Você vai para onde?
Jofre - Vou para o Centro.
Sarmento - Quer aproveitar o táxi?
Jofre hesita, sorri e entra. O táxi parte.

O rádio do carro transmite um noticioso: "O Governo do General Onganía decretou, ontem, a pena de morte na Argentina. Carlos Lamarca é condenado a 24 anos de prisão em São Paulo, por furto de armas. O Presidente Médici afirmou ontem que é preciso que se tenha bem presente que o desenvolvimento de países em processo de explosão demográfica não prescinde de atrair créditos internacionais de ajuda a investimentos ou de exportar riquezas naturais, visando ao aumento da renda nacional. União Soviética lança em órbita terrestre nave Soyuz..."

Uma Veraneio azul com cinco homens começa a seguir o táxi. Jofre e Sarmento conversam animadamente. Não estão prestando atenção ao noticioso. Jofre sorri.

Jofre - Engraçado, a gente conversou esse tempo todo e ainda não se apresentou... (Tira um cartão). Meu nome é Jofre.
Sarmento, recolhendo o cartão - O meu é Sarmento. Só que eu não tenho cartão. Eu te procuro.

A Veraneio emparelha com o táxi. Um homem armado grita:
Dr. Barreto - Pára esse carro!

Sarmento reage imediatamente. O homem simpático de momentos atrás torna-se violento. Saca de uma arma e ordena:

Sarmento - Toca esse negócio. Mete o pé!
Jofre - Que é isso, rapaz? Pára com isso?
Sarmento - Não enche o saco, porra! Fica quieto.
Dr. Barreto - Encosta!
Jofre - Você está louco, cara? Está louco?

Sarmento atira na direção do Dr. Barreto. Um dos homens do Dr. Barreto aponta uma metralhadora e dispara na direção de Sarmento. Sob a estupefação de Jofre, Sarmento é atingido várias vezes. Jofre se encolhe atrás do banco. Sarmento cai por cima de Jofre, mortalmente ferido.

EXT Táxi
O táxi roda, desliza e sobe a ilha que separa as duas pistas. Os homens saem de dentro do outro carro. Comem para o táxi.

Mike - Puta que pariu! Matei o cara.

Jofre é puxado de dentro do táxi com violência. Cobrem-lhe a cabeça com um capuz, metem-no dentro do carro e partem. Por sobre o corpo de Sarmento começa-se a ouvir o entusiasmado locutor anunciando para dentro de alguns instantes o início do primeiro jogo do Brasil na Copa.

Locutor - "... E vem aí mais um campeão de audiência do escrete do rádio, Jorge Cúri: Alô, alô, amigos brasileiros! A seleção brasileira inicia hoje, 03 de junho de 1970, no Estádio Jalisco, na cidade de Guadalajara, a disputa da Copa do Mundo, visando à conquista do tricampeonato, já que o Brasil foi o vencedor em 1958 e 1962... O Brasil joga pelo Grupo..."

(Roberto Farias, trecho do roteiro original de Pra Frente, Brasil, páginas 2/4)

quinta-feira, 15 de junho de 2006

"Andá com fé eu vou, que a fé não costuma faiá"... "Só não se sabe fé em quê"! Mais um feriãdão para uma fé cada vez mais esvaziada e mais um dia para não se fazer nada! Feriado para a Igreja continuar fechada, para o Brasil continuar parado, para Ronaldo continuar irado ("O que terá Ronaldo?!" "Viva o passado de Ronaldo!")... Acendamos uma vela diante da imagem fria e aqueçamos a fé no mês de todos os santos...


Uma Vela no Altar

Poesia
Na chama da vela, a tremular,
Tardia,
Ao aguardar a dura e triste sorte
Sombria
De guardar mesma em si a própria morte...
Esguia,
Frágil e humana vela no altar
Da guia:
Luz que queima só na sacristia
Vazia,
Prostrada acesa ao pé de uma imagem
Tão fria,
Queimando a vida e a fé de passagem
- Magia
Que acaba, sem força, em pleno dia...

(Dilberto Lima Rosa, 2004 Poemas)

terça-feira, 13 de junho de 2006

"Abrem-se as cortinas e começa..." O espetáculo?! É, meus queridos blogueiros de plantão: o mestre Gigliotti se foi antes da festa, o "baile" que se esperava ficou adiado e a vitória saiu magrinha, magrinha, diante de uma Croácia que não metia medo em ninguém, mas que marcava bem uma Seleção apática e esvaziada... Com um Ronaldo mais para Romário num jogo do Vasco em fim de carreira que um fenômeno que desperta sempre ao início de cada Copa, um Gaúcho displicente, um Cafu levando bolas nas costas e um Adriano ruim como nos tempos do Flamengo, salvaram-se poucos, como Kaká com seu gol de craque, e Lúcio, um guerreiro sempre no lugar certo! Mas, sendo pragmáticos, "a vitória é o que interessa" e bola pra frente contra a Austrália no próximo domingo - com placares mais magros no bolão daqui pra frente, por favor (o meu foi 3x0)!

E hoje, dando continuidade ao desfile de craques das nossas crônicas esportivas de toda terça, até o final de junho, na Rotatória - Futebol, eis que a bola sobra para o sábio jornalista zen Juca Kfouri, com seu indispensável Blog do Juca, de onde extraí este texto fresquinho da hora (ele chega a publicar 5 'posts' diários), com sua abalizada análise!


ROTATÓRIA - FUTEBOL

Juca Kfouri

Ronaldo não merece

Aos 36 anos de carreira, acompanhando, profissionalmente, Copas do Mundo, desde 1970, jamais me vi diante de situação tão angustiante.

Em respeito a Ronaldo, é preciso apelar: não o escale mais, Parreira.

Ronaldo parecia um pugilista pesado e grogue no ringue, depois de um soco na ponta do queixo. Não sabia o que fazer com a bola, não se ligava no que acontecia em sua volta, não nada.

Não fosse Kaká fazer um gol salvador e Dida, algumas defesas importantes, e a Seleção Brasileira não teria estreado com vitória diante da Croácia e não teria alcançado a primazia mundial de ser a única que venceu oito jogos seguidos em Copas do Mundo.

Sim, pior fez a França também do já cansado Zidane, que além de apenas empatar 0 a 0 com a Suiça, completou seu quarto jogo sem marcar gol em Copas do Mundo.

Mas a França é problema dos franceses. O nosso, neste momento, é um só: preservar Ronaldo.

(Juca Kfouri, extraído do 'post' do dia 13/06/06, do Blog do Juca)

segunda-feira, 12 de junho de 2006

O mundo de hoje parece já ter-se acomodado com a efemeridade de tudo: lanche no lugar das refeições, bate-papo em lugar de uma boa conversa e 'internet' como veículo maior da pressa (textos curtos e atorados ao invés de boas leituras, namoros virtuais que duram enquanto se está conectado etc.)... O mais triste são as gafes que se pode cometer num mundo tão breve! Final do ano passado, por exemplo, aconteceu mesmo comigo: reencontrava uma conhecida que, uns cinco anos antes, havia-se casado com um grande amigo da faculdade "- Olá, como vai? E o Alberto?" "- Nós nos separamos há um ano..." "- Sinto muito...", como se se tratasse de algo digno de pêsames, aquele casal, que se amava tanto... Ao que ela respondeu: "- Que nada, é a vida!". Será? Bom, só sei que, com Jandira, as coisas têm mais envolvimento, profundidade e amor pelas coisas mais simples, como o simples estar junto, o confiar, o amanhã, que se repete depois, juntamente com a vida... Com ela tenho tantas certezas... A principal é a que, com ela, não tem risco de amigo nenhum cometer gafe alguma: "- Cadê Jandira? Vocês ainda estão juntos?!" "- Sim, e pode ficar tranqüilo em me perguntar isso para todo o sempre que a resposta será a mesma..."

Hoje, em homenagem à Jandira, a todos os namorados de alma (e não aos apenas de ocasião) e a todos os felizes com suas caras-metades, repito 'post' do dia dos namorados do ano passado, que conta um pouquinho da nossa história, participando do Post Comunitário da prima Micha

Post Comunitário


No 1° ano do 2° grau achei muito bom conhecer aquela nova colega que viera da cidade de Codó para a Capital estudar no Colégio Dom Bosco, uma escurinha inteligente, charmosa e excelente companhia. Aos poucos, de colega de classe ela foi se tornando amiga, e, ao final do 3° ano, depois de uma paixão frustrada minha, às vésperas dos vestibulares, entreguei-me a ela num namoro de exato um ano, cujos desencontros me levaram dela embora, de forma desorganizada e impensada... Envolvi-me com tantos outros carinhos femininos; ela, bonita e elegantemente, esperou por mim, firme... Pela universidade, os encontros fortuitos passaram a ser inevitáveis depois de um tempo, e a ex-namorada, próxima e mais próxima, passou a ampliar nossa comunicação, e, aos poucos, tornou-se novamente minha namorada, agora definitiva companheira, anos depois da separação incomunicada, anos depois dos reencontros... Passamos a não contar mais os anos, nem a lembrar as perdas do tempo, mas a falar de nós dois: falamos pelos cotovelos, falamos que nos acabamos, conversamos com a boca, com os olhos e com a pele; sabemos mais um do outro do que de nós mesmos...

Meu Bem, escrevo-te com a mão envolta por nossa aliança de serenidade, amor e gratidão mútuos: sigamos a rir do mundo moderno e permaneçamos no nosso mundinho atemporal, dos finais de semana sem datas, do companheirismo eterno - eu te amo de todas as formas, Jandira, e tu, de volta, traz-me, de recompensa diária, amor em dobro (olho a vida com teus olhos e me lembro de mim, já com saudades de ti)... Pelos anos de vida a dois, pelos 5 vídeos, 5 DVDs, 10 livros e 20 CDs e pelos tantos outros presentes sempre tão bonitos, pelos incentivos, pela paixão sempre reacendida, pelo amor: feliz Dia dos Namorados, noiva, namorada, esposa e amiga...

sábado, 10 de junho de 2006



Os Grandes Romances do Cinema - Imagens e Letras

O Cine Morcegos de hoje relembra alguns filmes que marcaram as retinas apaixonadas de namorados de todas as épocas... Minha mãe, por exemplo, sempre falava do "Tema de Lara", mais pela linda música de Maurice Jarre, estouro nas rádios da década de 60, que pelo belo, porém frio filme dramático do Mestre David Lean, Dr. Jivago! Já uma amiga um pouco mais velha que mamãe e dona de uma locadora, acabou por me convencer um tempo atrás a alugar Candelabro Italiano, por ter sido o "filme mais romântico" que ela já havia visto... Resultado: quase duas horas de uma xaroposa e vazia excursão à Itália, sem conteúdo nenhum, mas que, de alguma forma, marcara muitas moçoilas daquela época...

Difícil estabelecer uma "lista padrão" de filmes de romance, este subgênero do Drama que geralmente agrada mais às mulheres: com estilos dos mais diversos, que vão desde comédias românticas (como os inteligentes Harry e Sally, feitos um para o outro, Um dia perfeito e A história de nós dois, e as simpáticas Sintonia de Amor e Mensagem pra você, com a dupla Tom Hanks e Meg Ryan) até dramalhões lacrimosos (como Love Story - "nananananan"... -, Lagoa Azul - ah, Brooke Shields... - Amor além da vida, com aquela inesquecível direção de arte, e, não podendo esquecer, Titanic, que não curto, mas respeito o fenômeno que representou...), a coisa toda varia de acordo com a época e com o tanto de lencinhos que cada moça carrega na bolsa...

No ano passado, depois de muita insistência de Jandira, acabei assistindo Diários de uma paixão, filme competente, que convence mais com o drama do elenco idoso que a estória de amor adolescente que alinhava o filme. Mas termino esta ligeira incursão no mundo romântico cinematográfico com dois grandes filmes de épocas bem diferentes e com amores impossíveis: o primeiro, clássico absoluto e um dos mais completos filmes de todos os tempos, Casablanca (vencedor de três Oscars em 42), e o versátil, inteligente e sensível Antes do amanhecer (merecedor de uma igualmente ótima continuação, em 2004, Antes do pôr-do-sol)...

O romance, sem dúvida, sempre terá espaço no Cinema - na profundidade ou na superficialidade, em qualquer época... E, na dificuldade de abarcar este universo num 'post' só, elenco a seguir os meus favoritos como grandes filmes que são...






E para você: qual o seu filme de Romance favorito?

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Ronaldinho amarelando mais uma vez, Brasília arroxeando-se entre os hematomas da Câmara e o meu bolso sem quase nenhuma verdinha... Com a Copa finalmente começando, acabo por preferir mesmo outras cores, algo como o preto e o vermelho... Não, meu coração futebolístico continua alvinegro e nunca se renderia ao excomungado rubro-negro! Hoje, dando um tempo no Futebol, é tempo de celebrar a vida e volto às minhas memórias e raízes musicais com dois discos de minha coleção de que gosto muito...

Para Adriana - Obrigado por tudo! Dilberto


Há cerca de uns 8 anos, por volta da época do Clube dos Amantes do Cinema, ganhava então o meu primeiro CD (até então eu só tinha fitas k-7) da banda de Liverpool: no meio da correria de mais uma exibição de uma de nossas mostras no SESC-Deodoro, lá chegava a eternamente festejada e adorada 'blogmaster' (uns 6 anos depois de então seria ela a responsável por me ingressar neste louco mundo virtual) Adriana, vindo com o meu então presente de aniversário atrasado! Tratava-se do bom CD Beatles - Past Masters Vol. 1 (o famoso disco "preto" do 'revival' meio chocho daqueles tempos idos), predominantemente com alguns dos primeiros sucessos da fase iê-iê-iê (com alguns cantados também em alemão, num curioso repeteco de três canções no mesmo disco, relembrando o sucesso inicial da banda no atual país da Copa - levemente mostrado no filme Backbeat). Nem preciso dizer o quanto adorei, especialmente vindo de uma das maiores "beatlemaníacas" que conheço!

E o que dizer quando, uns quatro anos depois, quando da compra casada de um outro exemplar para ela mesma, eis que sou ofertado com outro ótimo exemplar em estilo de coletânea dos "besouros": Beatles - 1 conseguia a quase impossível tarefa de reunir o melhor da banda (pelo menos os sucessos de que mais gosto, com pérolas como A hard day's night, Help, A ticket to ride, We can work it out, Eleanor Rigby, Can't buy me love, All you need is love - que toca ao fundo, já antecipando o romantismo do dia dos namorados -, Something - que Sinatra considerava a mais bonita canção romântica já feita, dentre tantas outras)!

O engraçado é que nunca mais comprei disco algum dos Beatles, tamanho o preenchimento que estes me causaram! Nada daquelas mais que clássicas e maravilhosas capas... Até porque, no mundo do som digital, satisfaço-me mesmo com as coletâneas de músicas que eu só tinha em LP ou K7! E é só! Não me deterei a falar do óbvio, de como esta é a maior banda do mundo de todos os tempos e de como ela influenciou os costumes e fundamentou o rock como o conhecemos, servindo de ponte entre o ReB e o resto: tudo de que precisamos é amor e sigamos juntos - segure minha mão e... Olá e adeus!

 

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