"Lula-lá, brilha uma estrela/ Lula-lá, cresce a esperança..." Cresci democraticamente com o PT: em 89, quando já me entendia politicamente como gente, fiz trabalho de equipe na matéria de EMC sobre o então candidato Roberto Freire, mas, no fundo, queria ter feito mesmo sobre aquele líder metalúrgico que, com o apoio de uma nação de artistas que já admirava – e que imortalizaram um dos 'jingles' mais bonitos da nossa história política –, poderia ser o senhor de uma virada política histórica, ao ser o primeiro presidente operário/socialista de um País então saído de um sujo e ridículo "governo de abertura democrática" do Sarney (1985/1990) e de uma ditadura militar de mais de vinte anos...
Com o apoio da ditadura da Globo, a imagem de Collor foi alçada ao cargo máximo da nação até a sua derrocada, com enrustidos caras pintadas maquiando o que nem a emissora do plim-plim queria mais: veio Itamar, num ótimo mini-governo de transição, e, com ele, as crias que tornariam o futuro do Brasil numa rinha de galos bicolores...
Com Itamar e com o Real, uma das nossas maiores conquistas recentes (o que provou que só faltava iniciativa política para controlarmos a inflação), veio a cria FHC, o sociólogo plantado para ser presidente e que, além de querer esquecer tudo o que havia escrito antes da posse como mandatário máximo da Nação, também esqueceu Itamar e se coroou o rei de um Brasil sem monarquia: esbanjou dinheiro público e voou como trator com seu Serjão-móvel por sobre bandalheiras (SIVAM, pasta rosa, BNDEs, Vale, precatórios), compras de votos para a reeleição (nossa pior "conquista"!), pífias e sucateadas privatizações, pior época para a Educação e para o funcionalismo público... A coisa foi tão feia que, mesmo reeleito e com a máquina nas mãos, não conseguiu fazer seu sucessor, o Vampiro de São Paulo, José Serra!
Não, o momento não é de retrospectiva histórica para uma conclusão a favor do PT ou da “histórica eleição da primeira presidenta do Brasil” – até porque temos no Maranhão a “primeira governadora do Brasil” e olha onde estamos (sexo, na Política, não quer dizer nada!)! Apesar de nunca ter sido partidário, era um defensor do PT e de outros partidos ditos de esquerda e com eles evoluí dos argumentos duros, enfurecidos e amadores de outras épocas e fui vendo, junto com eles, que muitas concessões precisavam ser feitas em nome de uma boa governabilidade. Entretanto, mesmo com os inegáveis avanços econômicos e sociais do ótimo governo Lula (no ensino profissionalizante e com maiores investimentos na Educação; PAC 1; políticas de incentivo à construção civil; aberturas de créditos populares e setorização de distribuições de renda; Minha Casa,Minha Vida; contenção de impostos para controle da crise...), não deu para engolir ver o PT de tantos combates ligar-se a tantos esquemas de corrupção, fisiologismos, nepotismos e alianças espúrias – mais duro que ter visto Lula pedindo votos para a ‘famiglia’ Sarney todo dia aqui no Maranhão, em outubro, foi ver o Bigodudo Imortal abraçando a então anunciada eleita presidenta, agora à noite, em Brasília...
Nem preciso dizer que aposentei a estrelinha do peito e hoje, quando me perguntavam sobre meu voto, dizia simplesmente que anularia... No fundo, ainda não estava muito certo... Apesar do primeiro turno “verde” (mais por uma ideologia falida que por realmente acreditar no “fenômeno esvaziado” Marina), vesti uma camisa vermelha, como sempre fazia nas outras eleições (uma representação romanticamente platônica, eu sei – o socialismo/comunismo naufragou em governos ditatorialmente autocráticos e sucateados), só que agora com um diferencial no peito: uma grande e estampada gravura à anos 80 do Barney Rubble dos Flintstones, em homenagem à minha doce Isabela, que foi junto... Bem, se ainda “não estava muito certo” quanto à anulação, certifiquei-me ao ver, abaixo do retrato da Dilma, o rostinho do Michel Temmer na máquina, nata do PMDB, partido que “está sempre do lado certo” (ou seja, o do poder), concluindo que "00" seria uma melhor opção que 13...
Sim, abstive-me por trás de um voto nulo, até vir uma terceira via lúcida e preparada para nos tirar de um continuísmo petista ou de um retrocesso em trazer aqueles tucanos do inferno ao poder... Jamais votaria no PSDB, partido que nem oposição séria foi (muitos de lá até discutiram a possibilidade de logo fundirem-se tucanos e petistas, tamanha a “adesão” pessedebista aos esquemões do poder) – e, a julgar pela mais tola, retrógrada e ridícula “campanha apócrifa” já feita na história deste País (com calúnias via 'internet' sobre a “terrorista com metralhadora, mulher-macho adoradora de Fidel com charutão na boca e matadora de criancinhas” Dilma, dentre outros absurdos), jamais o será – e ainda mais esvaziado que o PT recente em termos de programas de governo (Serra só faltou registrar em cartório que levaria o Mar para Minas!)! Mas, por outro lado, não conseguiria votar na continuidade de um grupo que, para o bem e para o mal, já ocupa 8 anos no poder e já não é mais um pobre partidinho de esquerda que sonha em conquistar alguma coisa, tamanho o seu alcance (e seus sujos “aliados”) em vários vértices do País...
Concordo com o Chico: Dilma é preparada e inteligentíssima! Concordo que sua oratória era pobre e que lhe faltavam os traquejos do jogo político dos palanques, mas isso não fazia dela uma “desmiolada”, uma “despreparada”, como queriam as frotas fascistas/elitistas paulistas do Serra: em termos de gestão, Dilma não ficou atrás de máfias de genéricos para se auto-intitular a “melhor ministra”! Pelo contrário: foi das que mais trabalharam com o Presidente, o que lhe rendeu os epítetos nada corteses de “durona” e “sargentão”... Mais meritório ainda ver alguém que lutou contra a ditadura na linha de frente de uma democracia ampla e irrestrita (apesar das várias e infudadas acusações em contrário...)! Agora é fiscalizar e lutar junto por dias melhores para um Brasil que ainda precisa de muita política pública para ficar de pé sozinho e, de uma vez por todas, livre de cânceres congênitos...
Concordo ainda com o dito pelo “fenômeno” Lula: “Serra sai menor desta eleição” – não só ele, como todo o PSDB que, se se confirmarem as previsões autofágicas dos cientistas políticos, vai se implodir sem bandeira ou identidade logo, logo, entre a Ipiranga e a Avenida São João! Será que deu para aprender que bolinha de papel dói menos do que lutar para ser o “Zé” popular, que "veio de baixo" e que “lutou contra a Ditadura" correndo para o Chile?! Fico aqui a relembrar seu ‘jingle’, separado de mais de 20 anos daquele clássico citado no início desta crônica: “Quando se conhece bem uma pessoa, logo se sabe que é gente boa/ com Serra essa certeza a gente tem, o Serra é do bem, o Serra do bem”... Seria medo de levarem a sério que ele era mesmo um vampiro tupiniquim, pronto para fazer o mal, ou seria para contrabalancear o número de “maldades abortivas” da “Dilma do Mal”? Não dá para saber... Mas, depois que santas negras foram levadas para o altar por um ex-ateu e que até o Papa foi convocado para dar uma fezinha nas escolhas de um Estado laico, só fico com um conclusão: nunca mais na história desse País haverá tempos – e ‘jingles’ geniais e cheios de esperança – como aqueles do fim de minha infância...