quarta-feira, 29 de julho de 2009

Amanhã é outro dia


Correu a vista pela ampla sala à sua frente. Nada. Uma sala grande, espaçosa, mas não conseguia encontrar nada. Seu olhar percorreu tudo, sem deixar nada de lado: o grande sofá postado à sua frente; o televisor com o recém-importado 'home theater'; a grande estante repleta de livros; o lustre; o abajur... Nada. Nada havia ali – em tudo que via, nada restava para ser sentido daqueles objetos caros, sujos e sem valor...

Esfregou os olhos com a ponta dos dedos, lenta e demoradamente – abria-os e o grande relógio de parede, depois do breve fechar, era a primeira coisa vista, a indicar dez horas.

Era noite. Toda frieza e morbidez calmas da noite entravam no apartamento de cobertura em que morava, vindo a se arrastar com o suave vento que tremulava as cortinas brancas sobre a janela entreaberta... – A janela – pensou. E numa atitude maçante se tornou o levantar vagaroso de sua cadeira importada, continuado de seus leves passos em direção à janela. Parou. Observou. Nada. Tudo ali embaixo se movia, tudo se mexia com uma aparente alegria a despontar em seus olhos marejados de lágrimas, que demoradamente escorriam, a lavar-lhe o rosto impassível, sonolento depois de um breve bocejo. Mas não estava com sono.

Do parapeito da janela ele observou a Lua. Uma Lua cheia, de feitiço e de mandinga, de luxo e de estrelas. Cheia de frustração, ele a olhar para a Lua sem nada encontrar. Ter que olhar para ela do alto de um edifício porque lá embaixo só se viam prédios e se perdia o valor do céu – Que valor?

Circundava, com sua visão intrujona, vendo, ao lado da Lua, estrelas... Estrelas... – Uma estrela cadente: faça um pedido!... Era tarde...

Percebeu um vulto na sacada de um prédio vizinho, a uns três andares e dois prédios do seu. Ele fitou-o, até descobrir que se tratava de uma mulher. As nuvens, aos poucos, passaram a caminhar lentamente, deixando a Lua a iluminá-la. Era linda. Em um vestido branco, suave como ela, a bela jovem deixava com seus trejeitos e com a boa vontade do vento, que se olhasse uma amostra de seus seios. Ela, com uma taça de bebida que acabara por deixar cair segundos antes graças a um leve tropeço em sua sacada, transpirava incertezas... Mais alguns segundos depois, levantou-se e, como se desse adeus à solidão que tanto carregava em seu semblante, num gesto sublime, mergulhou após a taça e a bebida, sem destino, pensando ser menina-voadora sem asas – Adeus, solidão! Voe em seus últimos, céleres e inevitáveis sonhos...

Ele suspirou. Contornou perifericamente tudo à sua volta por alguns instantes, fechou a janela e foi deitar-se. Afinal, amanhã seria outro dia...

(Dilberto L. Rosa, fevereiro de 1993)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

"Blue Moon"

"Leve-me voando até a Lua/E me deixe brincar entre as estrelas/Deixe-me ver como é a primavera em Júpiter e em Marte"... Assim ludicamente dizia a gostosa letra de Fly me to the Moon , clássico imortalizado por Frank Sinatra e cantada ao fundo por Julie London, numa época quando, nunca antes até então, sonhava-se com o futuro em carros voadores e em colônias em outros panetas, especialmente no satélite natural da Terra! O tempo passou, a Lua perdeu um pouco a graça para a NASA (hoje fala mais em Marte) e carros voadores mesmo só nos Jetsons ou na série De volta para o futuro... Mas, sem dúvida, um dos mais emblemáticos momentos da Guerra Fria, especialmente a "Seção Ideológica" sobre quem seria o "Número 1" na corrida tecnológica espacial naquele final de década de 60, foi mesmo a chegada do homem à Lua, episódio que completou anteontem 40 anos! Eu sei, eu sei, até material lunar foi trazido e avaliado por cientistas renomados, mas... e se o homem realmente só pisou o solo lunar anos depois (ou mesmo nunca teria pisado), com toda aquela sequência não passando de uma bela farsa ianque filmada no deserto de Nevada e feita por encomenda (seria o Deus Kubrick?) para arrefecer os ânimos russos, que já haviam mandado para a órbita terrestre o cosmonauta Gagarin? Na dúvida? Como é sempre divertido ler sobre estas "teorias da conspiração" norte-americanas, e não é pecado nenhum dar uma espiada, "viajemos" por aqui!

De qualquer forma, a Lua, além de alimentar os mais loucos desejos dos insanos ("Um verme passeia na lua cheia", como diria a canção!), sempre despertou os mais bonitos sentimentos quanto à cara metade... Tanto que acabei achando, em meio a teorias da conspiração e aos escombros de meus arquivos, um bem traçadinho roteiro de fuga para o Sol dos Namorados, brincando com a imortal canção sessentista em meio ao espírito eterno de São Luís, com gosto juvenil, bem como a Lua sempre deve aparentar... Façamos então amor com a lua e tenhamos filhos sóis...

Centro
Nós dois
Casarões e vidas de antes e depois
Tudo em volta cabe no pólen da flor
Que te dou...
Não é exagero, Amor:
Se tu acreditas que um homem possa voar
E guardar-se menino por sob os lençóis,
Deus há de desatar todos os nós
E ainda riremos juntos, etéreos, no ar
Tu, lindamente nua,
Em algum lugar, brincando entre as estrelas
Junto a mim,
Voando, levemente, rumo à Lua...

(Dilberto Lima Rosa, data indefinida)


A todos os amigos que ganharam um dia a mais para comemorar, depois de aquele argentino esperantista e esperançoso na humanidade resolver enviar cartas para dezenas de desconhecidos naquele 20 de julho de 1969, quando viu aquele espetáculo da chegada do homem à Lua pela TV: e viva a amizade e o querer-bem, sempre! Especialmente para a sempre enluarada mãe Dilena; à amada, terna e eterna Jandira; ao compadre e "amigo dos tempos das sopas orgânicas" Jimmy, que cortará o cabelo quando o homem chegar a Júpiter; à alegre sobrinha Advi, que me homenageou em sua homenagem aos amigos; a Ricardo, que primeiro me mostrou esta teoria muito louca sobre a "fraude do século" (juntamente com duas cópias do filme JFK!); ao primo Marco, que tem um pôster de Neil Armstrong em tamanho natural em seu quarto e uma 'top secret' amostra de pedra lunar em seu sótão; e ao índio analfabeto desconhecido, que até hoje duvida da tal chegada à Lua, uma vez que não viu nada daqui durante a lua cheia, tampouco acredita que São Jorge permitiria tal afronta...

"D de Dilberto..."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sarna'n Roll!!!

No último dia 13 de julho comemorou-se o Dia do Rock! E viva Pitty, Raul, Led Zepellin, The Clash, The Doors, Rolling Stones, Beatles, Jerry Lee Lewis, Little Richard e Elvis Presley! E falando no Rei, meu amigo Sérgio teve uma visão profética e vaticinou: "Elvis e Michael Jackson estão vivos em algum lugar nas Ilhas Fiji, curtindo a vida adoidado"... Fazer o quê?! A vida é irônica e mesmo cheia de conspirações...

E o amigo Jimmy me chamou a atenção, na semana passada: "O chão 'tá encerado e tem papel no banheiro do Fórum?!". Claro: confusão por confusão, o Ministro Presidente do STF, Gilmar Mendes, campeão de outras maquiagens, estava visitando as instalações jurídicas maranhenses... Aí, claro: os absurdos números de congestionamento de processos em mais de 70% na Justiça Estadual, as péssimas instalações do Fórum e as regalias e mamatas de juízes, desembargadores e seus assessores não passaram em vistoria! Socorro, CNJ, alguém...! Elas por elas: advogado sofre e o Maranhão é mesmo assim...

O que dizer, por exemplo, do Donatário Eterno e Raposa Imortal José Sarney? Ex-presidente da República com a morte de Tancredo Neves (época em que abocanhou sua concessão de TV e Rádio no Maranhão, fazendo o mesmo também para seus asseclas, além do rombo inflacionário e de corrupção em que deixou o País) e atual Presidente do Senado, como senador pelo Amapá (curral onde raramente põe os pés), Sarney representa o que há de mais atrasado na Política brasileira: ao lado das forças mais reacionárias da sociedade, começou nos braços da golpista UDN, seguiu no colo arbitrário da ARENA, tentáculo civil da ditadura militar, a quem abandonou quando os ventos mudaram de lado... Hoje é defendido à unha e a fios de barba por um demagogo presidente sem passado e sem ética: tudo pela governabilidade e pela democracia!

Pois que, apesar de participar efusivamente do Movimento "Xô, Sarney", desde quando começou nas últimas eleições para Governador no Maranhão (com "Xô, Rosengana", ocasião em que Jackson Lago venceu – até a derrota recente no "tapetão") e também nos dias atuais, quando a manifestação ganha contornos nacionais por causa dos atos secretos, eu digo "Fica, Sarney": deixa para sair mesmo só debaixo de vara e da humilhação pública que mereces há décadas de desmandos, depois que te expuseres ainda mais na vitrina desta cadeira, para que descubram ainda mais de tuas falcatruas! É, porque, só pelo teu patrimônio declarado, se fosses uma pessoa comum (o cara tem até uma ilha!), já estarias atrás das grades há muito tempo! E, se saíres agora, o povo é capaz de esquecer tudo ao ponto de ainda seres ovacionado, quando o Capeta te chamar, como o grande "Patriarca da Democracia e das Letras"!

Nem sei... Dizem por aqui que até o Capeta tem medo do que aquele bigode pode aprontar no Inferno...



Atos secretos anulados? Lavagem de dinheiro e CPI da Petrobrás? PMDB? Apoios espúrios? Cargos para a 'famiglia' toda? Só rindo mesmo para não chorar...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

CineMorcegos


Afastado das salas escuras (e mesmo da caseira sessão de vídeo em casa) há um bom tempo, desde a estréia desta nova temporada que não aparecia entre estes Morcegos nada referente à Sétima Arte... Eis que este ‘post’ vem para tentar corrigir o longo hiato: e tome cinema!

Em DVD, se o "lixo-vampiresco-de-Literatura-em-série-para-cinema" Crepúsculo nem merece comentários e o equivocado Austrália mostra um abismo entre o excelente Moulin Rouge e a atual pataquada de Baz Luhrman, a surpresa fica mesmo por conta do simpático Marley e Eu, adaptação do ‘best-seller’ homônimo que, por incrível que pareça, é mais um filme sobre escolhas na vida e em família do que um “filme de cachorro”: vale uma "Sessão da Tarde"! Mas foram outras duas produções que deixei de acompanhar nas telas do final do ano passado (e que chegam agora em vídeo para o deleite caseiro) que merecem realmente destaque.

O primeiro vai para a soturna fábula do Mestre Neil Gaiman, adaptada para o Cinema pelo artesão Henry Sellick (o mesmo persistente na arte do ‘stop motion’ de bonequinhos dos ótimos O Estranho Mundo de Jack e James e o Pêssego Gigante, só que agora sem os números musicais): Coraline e O Mundo Secreto pode até assustar crianças menores, dado o clima amedrontador da estória à Alice no País das Maravilhas, onde uma garotinha descobre uma passagem secreta para uma versão paralela de assustadoras “perfeições” de seu próprio mundo, mas, afora um ou outro furo, é um belo trabalho para todas as idades!

O segundo é um “encontro entre o mundo da Inteligência com o universo das academias de musculação”, como bem definiu o sempre irônico Joel Cohen em entrevista nos bons extras deste DVD: Queime depois de ler é mais um inteligente e despretensioso trabalho dos irmãos Cohen (do vencedor do Oscar do ano passado, Onde os fracos não têm vez) que não perdoa ninguém, debochando da CIA, dos 'personal trainners' e dos próprios astros (com penteados ridículos) e personagens (morte a seco em humor negro fino)! Puro escracho com o comportamento de norte-americanos idiotas de meia-idade!


Não me esqueci da telona: eis que bons ‘blockbusters’ surgiram finalmente! E, o que é melhor, tem filme lucrativo nacional também: se Jean Charles não inspira ninguém a nada, Selton Mello acerta em cheio no divertido A Mulher Invisível! Mas são as franquias mesmo que dão o tom do momento nos cinemas: além da previsível e multipicotada continuação do só razoável Transformers, que não me apeteceu para ver outra vez mais da mesma pirotecnia do primeiro filme, Exterminador do Futuro – A Salvação e A Era do Gelo 3 são grandes pedidas do Cinemão-Pipoca atual!

Aproveitando o gancho do tema animação, esta, mais comercial e “engraçadinha”, apresenta-se mais na linha "aventuras com garantia de boas risadas": ponto para o diretor brasileiro Carlso Saldanha, quebrando vários recordes na bilheteria! Assim, seguindo o mesmo caminho trilhado pelos títulos anteriores (personagens divertidos em estórias rasas), A Era do Gelo 3 diverte com os velhos (e novos) personagens, agora em meio a um vale perdido de dinossauros! Destaque para a versão em 3D em algumas salas: vale a pena a experiência modernizada dos bons e velhos óculos bicolores de papelão dos anos 70 e 80 (tirando o certo incômodo na vista cansada ao final e nas orelhas doídas com as abas duras!)...

Os saudosistas, entretanto, vão se divertir bem mais com o retorno em grande estilo de John Connors: se faltou corrigir os furos de continuidade temporal entre os dois primeiros (e excelentes) trabalhos de James Cameron e as péssimas terceira parte e série de TV, juntamente com algumas modificações polêmicas na estrutura da narrativa (especialmente com um novo personagem ciborgue), o público não vai se ressentir durante os 130 minutos em que se desenrolam as ótimas sequências de ação (os robôs surgem sempre em cenas que lembram filmes de Terror), um visual à Mad Max e um Christian Bale à Batman! De quebra, os acordes que marcavam o surgimento do exterminador T-800 (quem disse que Schwarzenegger não poderia das as caras?!) e os tão esperados combates entre humanos e máquinas (só faltou a já clássica cena de abertura da batalha à noite... Quem sabe no próximo?) já valem o ingresso e proporcionam uma gostosa viagem no tempo rumo aos bons anos 80... Uma época em que os arrasa-quarteirões eram bem mais interessantes...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

"The thrill is gone, baby..."


O ano era 1982 e aquele “negrinho” dos Jackson 5 já havia mostrado que o talento ‘castratto’ não só havia se mantido com o passar da idade (ele agora tinha 24 anos), como também havia aumentado, com o lançamento da ótima mistura de ‘R&B’ e ‘discomusic’ no disco Off The Wall (cujo carro-chefe havia sido a canção Can’t stop (‘till you get enough) e que é lembrada até hoje através da abertura do sofrível global VideoShow)... Mas foi mesmo com o disco mais vendido da História, Thriller, que Michael Jackson mostrou o genial artista (cantor, dançarino e homem de negócios) que era, acima de qualquer preconceito! Infelizmente, mesmo com a qualidade de alguns trabalhos posteriores, Thriller foi mesmo o seu ápice de talento e ousadia, e, de lá pra cá, assim como se deu com outro Rei (no talento e nas esquisitices, Elvis Presley), só houve descida até o recente desfecho melancólico...

Mas falemos do que realmente interessa: vindo de duas pequenas obras-primas dos anos 80 (Os Irmãos Cara-de-Pau e Um Lobisomem Americano em Londres), o “Diretor dos Anos 80” (ao lado de Spielberg), John Landis, foi convidado por MJ para escrever e dirigir o material para a canção-título do seu novo disco Thriller. Entretanto, o Mestre Landis não só dirigiu com maestria o videoclipe (que você pode acompanhar, na íntegra, na galeria ‘Sing It’ ao lado), como também fez de Thriller mais uma pequena obra-prima em seu currículo! Infelizmente, as dobradinhas Landis/Jackson que se seguiram nunca mais conseguiriam repetir o excelente resultado: em Black or White, por exemplo, apesar de bem razoável, especialmente por aquele clássico efeito da transmutação, o clipe acabou tolamente esticado até as polêmicas cenas de explosão violenta de Michael, sem esquecer o uso desnecessário de Macaulay Culkin...

Não desço a homenagens chinfrins ao artista que se foi cedo ou a pieguices dos ridículos programas vespertinos da TV aberta, muito menos perderei meu tempo falando do ‘Wacko Jacko’, do menino maluquinho cheio de esquisitices alimentadas pelos tablóides (ou pelo próprio artista): como diria Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é! Prefiro ouvir meu disco Thriller, cheio de clássicos memoráveis... Thriller, em Inglês, significa algo que provoca calafrios, que estremece (normalmente usado para designar gênero de filmes com suspense e ação), justamente o que se sente ao se ver (e rever) esta aula de clipe, com a fantástica maquiagem de Rick Baker (o mesmo de Um Lobisomem Americano em Londres), as ótimas metalinguagens (filme dentro do filme; voz de Vincent Price, astro de clássicos do Terror), a inesquecível coreografia dos zumbis...
 

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