Todo ano é a mesma coisa: seja por curiosidade, seja pela vontade de ver um bom filme (o que tem acontecido bem mais nos últimos anos, com uma diminuição de premiações para o cinemão mais comercial norte-americano e com um aumento em relação a filmes realmente independentes e bons), quanto mais a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o Oscar, vai se aproximando, procuro assistir ao maior número possível de indicados até antes do início da festa.
Em razão de estar há quase dois anos longe de uma sessão na sala escura (o último filme a que havia assistido num cinema fora o fraquíssimo Homem de Ferro 2, pouco antes de Isabela nascer), confesso que, nos últimos tempos, essa "Missão Oscar" acabou se tornando uma grande dificuldade em vista de os títulos apresentados até então para 'download' na 'internet' serem de péssima qualidade (normalmente gravados de alguma exibição, o chamado 'screener')! Mas hoje em dia, cavoucando bem, sempre se acham filmes com ótimas imagens - mesmo após a "morte" do Megaupload: assim, venho tendo a sorte de baixar muitos indicados a melhor filme deste ano em cópias de excelente qualidade destinadas, por exemplo, "somente" para membros do SAG Awards ou da própria Academia - nem preciso dizer que não faço parte de nenhum dos seletos grupos citados e acabei vendo os filmes em casa...
O mais recente que pude ver no conforto do lar foi Os Descendentes (indicado a melhor filme, direção, ator e roteiro adaptado), do mesmo diretor/roteirista dos ótimos As Confissões de Schmidt e Sideways, Alexander Payne, que mais uma vez acerta com seu estilo humano de contar histórias: o advogado havaiano Matt King (George Clooney, muito bom, com olhares perdidos e distantes, mas que tem Jean Dujardin como seu mais forte concorrente), diante de acidente que deixou sua mulher em coma, vê-se forçado a romper com sua letargia e indiferença em relação às filhas e a tomar sérias decisões pessoais, mesmo continuando a, pateticamente, não saber como reagir diante das adversidades. Um belo trabalho, sem dúvida, especialmente quanto ao roteiro (adaptado de livro homônimo), que, entretanto, acredito será o seu mais forte candidato ao Oscar, ao lado do roteiro original de Meia-Noite em Paris, foram os dois melhores que vi recentemente (ambos ganharam prêmios do Sindicato dos Roteiristas) - embora corra por fora com fortes chances também em relação a ator e diretor.
Mas nem só de 'downloads' vive este folião cinematográfico que vos fala, caríssimos blogueiros de plantão: aproveitando os preços promocionais e as salas mais vazias dos cinemas durante o carnaval, Jandira e eu deixamos Isabela fantasiada de joaninha na casa da vovó (e também madrinha e foliã) Dilena, e seguimos para adorar a tela grande em nossa espécie de retiro cultural! Posso dizer que, depois de um longo jejum, ver Histórias Cruzadas e A Invenção de Hugo Cabret no cinema, ambos indicados à estatueta dourada de melhor filme, foi um excelente retorno à sala escura!
Confesso que quase não via o filme favorito da amiga e resenhista Ruby por puro preconceito: afinal, aquele pôster de Histórias Cruzadas, além do título infeliz em Português, não me dizia muito do filme e mais me parecia um anúncio de "filme para mulheres", com alguma discussão racial pata inglês ver e feito sob medida para o Oscar... Ledo engano: The Help (o título original diz mais sobre o filme, tanto falando da ajuda das domésticas negras com todos os afazeres nas mansões sulistas como da jovem branca que as ajudará, dando-lhes uma voz contra a opressão) é um filme muito bem feito, que emociona no momento certo e, apesar da narrativa acadêmica, é competente, especialmente pelo competentíssimo elenco feminino (trata-se de um excelente "filme de elenco", onde todas estão bem e fortalecem a condução da trama) que, não por acaso, levou o prêmio do Sindicato de Atores norte-americano. Minhas apostas (confiram a lista inteira abaixo - ATUALIZADA com os vencedores do Oscar 2012 deste domingo, dia 26 de fevereiro) são para o elenco negro, com 2 Oscars: de melhor atriz para Viola Davis, em sua interpretação belamente contida da empregada Aibeleen, que tudo vê e tudo suporta em silêncio - destronando, assim, a Margaret Thatcher de Meryl Streep em A Dama de Ferro; e de coadjuvante para a excelente Octavia Spencer, que acaba roubando a cena (- Eat my shit!) com mais aparições ao longo do filme em defesa dos direitos civis das mulheres negras dos anos 60, no sul racista dos EUA.
Por fim, gostaria de me deter a falar mais desta bela homenagem ao Cinema (que, ao lado de O Artista, acabou por se tornar um dos favoritos à estatueta justamente por voltar no tempo para falar com magia sobre a Sétima Arte), A Invenção de Hugo Cabret, por vários aspectos: primeiro porque, curiosamente, apesar da linda direção de arte (para mim, o favorito ao Oscar na categoria) da rica história narrada com a magia de ótimos efeitos, não foi sucesso nos EUA o conto infantil conduzido com suaves mãos de artesão calejado (no caso, a do "esteta da violência" Martin Scorcese, vencedor do Globo de Ouro como melhor diretor); além dessa grande injustiça, interessante é o fato de uma homenagem ao Cinema pioneiro de George Méliès (e também a vários outros filmes e diretores, em muitas passagens deliciosas que os cinéfilos facilmente identificarão) ter sido filmada em 3D - contrassenso? Na verdade, não: o casamento do clássico com o moderno não poderia ter sido mais perfeito! Afinal, Méliès, o gênio francês por trás de clássicos icônicos como Viagem à Lua, era um vanguardista e o 3D pareceu, aos olhos do veterano Scorcese, uma tecnologia precisa para adaptar a história fictícia do menino órfão e aprendiz de relojoeiro que aprende, além de consertar um autômato, única lembrança do seu pai, a "consertar pessoas", em meio a mil aventuras entre relógios gigantes e inspetores de polícia (Sacha Baron Cohen, engraçadíssimo) numa estação de trem em Paris nos anos 30. Tudo tão gostoso que, desta vez, nem os incômodos óculos 3D atrapalharam! O filme concorre em 11 indicações, incluindo melhores filme e diretor.
Cavalo de Guerra, O homem que mudou o jogo, Tão forte, tão perto e o último trabalho do mestre Terence Mallick, A Árvore da Vida (vencedor do festival de Cannes do ano passado), apesar de aparentarem não ter maiores chances, também estão no páreo e se encontram nalgum lugar da minha já lotada CPU, esperando ansiosamente por uma olhada antes do próximo domingo, quando a Globo mais uma vez desrespeitará os fãs da madrigal premiação, com a apresentação da chatíssima dupla José Wilker/Maria Beltrão e seus intermináveis (e insuportáveis) bigbrothers a cortar mais da metade da festa, e a TNT, mesmo com Rubens Ewald Filho, aborrecerá bastante com as inoportunas traduções em desalinho, que mais atrapalham do que informam... Bom, quem sabe, então, eu não consiga "baixar" a cerimônia depois, nalgum 'site' de compartilhamento sobrevivente, com qualidade BD-RIP em HD, legendas em Português, e a veja na hora que eu bem entender, diretamente do meu PC...?
ATUALIZADAS
com os vencedores do Oscar 2012
"O artista"
Diretor
"
Michel Hazanavicius - "O artista"
Melhor ator:
Jean Dujardin - "O artista"
Ator coadjuvante
Christopher Plummer - "Beginners"
Melhor atriz
Meryl Streep - "A Dama de Ferro"
Melhor atriz coadjuvante
Octavia Spencer - "Histórias cruzadas"
Melhor roteiro original
"Meia-noite em Paris"
Roteiro adaptado
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Alexander Payne - "Os descendentes"
Melhor animação
"Rango"
Trilha sonora original
"O artista" - Ludovic Bource
Canção original
"Man or Muppet", de Os Muppets (Bret McKenzie)
Maquiagem
"A Dama de Ferro"
Direção de arte
"A invenção de Hugo Cabret"
Fotografia
"A invenção de Hugo Cabret"
Figurino
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"O artista"
Documentário (longa-metragem)
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"Undefeated"
Documentário (curta-metragem)
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"Saving face"
Edição
"A invenção de Hugo Cabret"
Melhor filme em língua estrangeira
"Separação" - Irã
Curta-metragem de animação
"The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore"
Curta-metragem
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“The Shore”
Edição de som
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"A invenção de Hugo Cabret"
Mixagem de som
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"A invenção de Hugo Cabret"
Efeitos visuais
"A invenção de Hugo Cabret"