sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Setenta Tim



Vai, Tim: canta pra mim aquele baião de dois com rock e funk dos Isteites que só tu sabes fazer! Porque és coronel - e, se o Tio Sam ou os generais não o querem bem, nós queremos, Tim, de corpo e alma lavada e sem motivo, que a semana inteira foi complicada só pra terminar assim: dançando e melando o sovaco no embalo solto da vitória-régia ou juntinho, no "mela-cueca" da dança com uma linda mulher num salão onde vale tudo (na seca, sem chá,café ou chocolate)... Mas és maior que isso, Tim, bem o sabes (e teus estrelismos sem nexo, teus pitis fora de hora e teus furos depois das alturas não me deixam mentir!)... E, se do flerte com o Rei e suas guardas não brotou o que merecias, foi com o nada racional uso da tua genialidade que a gente viu que chiclete com banana caía bem! E tome samba-soul suingado, gospel-intergaláctico careta (disco incrível...), xaxado com levada negra norte-americana... Só tu mesmo, cabra da peste tijucano preto, gordo e malucão!

E os teus, da geração pós-guerra e paz-amor-e-álcool ou drogas (eles tinham meio-termo, seu puto!), todos chegaram aos 70... E tu? Hoje chegarias... Mas querias sossego! É, você é mesmo algo assim e seus altos e baixos esperam aqui em cima pelo teu retorno no palco (onde foste visto pela última vez), síndico do Brasil: setenta neles, Tim!




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crônica de Uma Morte Encomendada





Crônica de Uma Morte Encomendada


Tenho o peso de todas essas almas
Acorrentadas às minhas costas
E só consigo pensar em seus olhos de ressaca
A me olharem com a boca entreaberta


Sobre um velho colchão afundado com o peso da minha alma funda
No quarto sujo de um hotel
Nos cafundós de uma cidade quente, porém melhor que eu,
Rabisco seu nome como um colegial
Que acabou de ofertar-lhe flores roubadas
Às escondidas


Quisera dizer-lhe onde estou
Quisera acender-lhe uma vela derradeira pelas tantas almas enredadas
E beijar-lhe a boca, ao final
De outro alvorecer
De mais uma morte encomendada


(Dilberto L. Rosa, 2004)

sábado, 8 de setembro de 2012

400


"Foi bonita a festa, ó, pá": um amplo terreno do parque da Lagoa da Jansen tomado pelos palcos e pronto para receber milhares de pessoas na multimilionária campanha de shows promovida pelo Governo do Estado em comemoração ao aniversário de São Luís (Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Zeca Pagodinho e outros bambas de cachês exorbitantes). Eu, que sempre amei os passeios a pé em longas distâncias (afinal, só se conhece uma cidade caminhando-se por ela) e tanto já namorei por entre as estreitas vielas e à sombra de sobradões centenários, a sorver a magia romântica destas paragens, hoje fiz apenas um breve passeio de carro com a família para ver a multidão que já se formava na Lagoa para ver Roberto Carlos de graça - na verdade, às custas dos nossos suados impostos...

Mas às favas, uma cidade não faz 400 anos todo dia: então, se Roseana arrasava quarteirões com o seu circo milionário de artistas, o prefeito Castelo promovia o "pão" com seus 400 metros de bolo e uma virada cultural com artistas locais! Pois que, se a do Bigode inaugurou apenas um trecho de uma badalada avenida prometida há anos como "presente" para a aniversariante, a velha raposa matreira e "ixpiriente" também podia entregar apenas uns 500 metros de trilhos construídos de forma duvidosa e às pressas, plantar um lindo vagão de metrô de superfície para ficar oxidando à beira-mar e bradar no horário político de sua reeleição que "o novo sistema de transporte do VLT é uma realidade em São Luís"! Saúde, educação, obras de infra-estrutura mais do que urgentes...? "Não foi possível..." Quem sabe nos próximos 400 anos?

Mas "amo tanto e, de tanto amar, acho que ela é bonita"... E, tal como na canção do poeta-mor da MPB, não dá para enxergar só mazelas de uma histórica cidade tão cheia de encantos - afinal, São Luís é seu povo resistente e sua rica cultura de 4 séculos, tão viva e pulsante em sua Upaon-Açu preta e branca (mais preta do que branca, saravá), em meio a pesados tambores e a insinuantes 'reaggaes', transitando tão levemente entre o Sagrado e o Profano e entre o Passado e o Futuro, que, vivendo o seu dia-a-dia, facilmente se percebe que ela é muito maior do que os seus exploradores vis ou seus representantes políticos pútridos! Porque aqui, nesta agradavelmente quente fronteira entre o Norte, o Nordeste e o Oceano, à espera de Dom Sebastião para nos redimir, predomina o vento constante nas palmeiras dos sabiás e na bunda do boi que balança em seu miolo, tudo com o dormente clima de província, tanto no seu aspecto negativo, de arraigadas práticas reacionárias, como no lado de "paraíso perdido" do lado de baixo do Equador, aonde a violência e os grandes problemas citadinos ainda não conseguiram invadir aos borbotões (com certeza, encalhados no nosso protetor Boqueirão)...

Raimundo Correa, os Irmãos Azevedo, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzzi, Odylo Costa Filho, Nauro Machado: todos esses são de São Luis! Não é de se admirar que esta Ilha seja um grande berço de Poesia... Aqui há lixo e esgoto ao léu, praias impróprias, Educação e Saúde completamente abandonadas e buracos mil... Mas aqui também tem um magnetismo que não se acha em mais nenhum lugar desse Brasil - e nisso o Tribuzzi estava certo, só devendo ser atualizada a sua "Louvação a São Luís" com o verso Ó, meus governantes, deixem-me viver e mais nada/ que eu quero aprender a Poesia desta Ilha encantada... Feliz São Luís!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

"Artes em Geral"...

Pôr-do-sol no Canto da Fabril, ladeira da Venceslau Brás (2008).

Apesar de fazer referências à Arquitetura e à Música como artes primordiais da evolução humana na obra Psicologia Musical das Civilizações (1908), curiosamente Ricciotto Canudo não incluiu a arte do edificar no seu mais famoso Manifesto das Sete Artes (1911/1923) - sim, o Cinema não é chamado de "Sétima Arte" à toa, uma vez que, no início do Século XX, aquele italiano catalogou em sete as artes existentes (Música, Dança, Pintura, Escultura, Teatro e Literatura), posicionando, no último lugar, a então recém-surgida cinematografia...

E antes que o meu querido blogueiro de plantão abandone esta leitura, temendo encontrar por aqui outro texto longo, complexo ou mesmo chato, tal como o de algumas últimas postagens fracassos recentes de público, um aviso: na verdade, trata-se apenas de um prólogo para abordar as duas artes desprezadas pela esmagadora soma de votos da última enquete (total de 8 votos, na verdade...) aqui nos Morcegos: quando perguntado na última postagem "O que não pode faltar nos Morcegos" (veja resultado completo abaixo deste 'post'), nenhum visitante escolheu "Artes em geral: Quadrinhos, Fotografia etc.", preferindo matérias sobre o tão querido e popular Cinema,  opção  mais votada - vitória da sétima, mais popular especialmente pela Indústria norte-americana, em detrimento da oitava e da nona artes...

Sim, pois que, com o tempo, outras artes foram "adicionadas" aos pensamentos do referido manifesto e, ainda que a Fotografia tenha surgido antes do Cinema, só foi "lembrada" depois, sendo normalmente aposta como a oitava arte - ou seja, a ordem das colocações não passa, necessariamente, pela sequência do surgimento de cada uma delas... Outras manifestações, como as artes visuais digitais (incluindo até mesmo as programações dos novos videogames, muitas com trilhas sonoras sinfônicas e trabalhos de atuação de dubladores para os personagens), já são informalmente inseridas nesta lista, sem muito critério ou cerimônia...

E eis que uma imagem tirada em família fez bastante sucesso entre amigos no Facebook neste mês de agosto que se finda: usando como capa da linha do tempo do meu perfil pessoal naquela rede social uma foto, de junho de 2011, onde apareço de costas, com Isabela nos braços à beira do mar (Praia do Araçagi), mostrando a ela os navios a caminho do Porto de Itaqui - foto escolhida sem maiores pretensões além de homenagear o mês dos pais - aquela imagem foi vista e comentada por muitos como uma "ode poética" à relação pai-filho, onde estaria mostrando à minha garotinha linda o mundo e "ensinando-lhe sobre a vida"... Tudo isso retratado numa simples câmera 'point-and-shoot', sem nenhum daqueles efeitos mágicos de luz das máquinas profissionais, o que traz à tona a arte por trás do retratar: houve algo a ser dito, ainda que não intencionalmente, aquele instante clicado se eternizou não só para o fotógrafo (no caso, Jandira) como para qualquer um que vivenciasse aquela experiência sob suas próprias impressões! No caso, talvez eu só tenha sido ajudado por uma poesia inerente ao preto-e-branco em que salvei a imagem...

O certo é que nossas praias ludovicenses andam bem distantes da poeticidade capturada naquela foto (vide abaixo): a não ser pela quase fidelidade do tom cinza das águas (como São Luís é voltada para o continente, nosso mar sofre influência de muitos bancos de areia e de poucas algas), nosso litoral anda bem sujo e, o que é pior, agora oficialmente poluído e impróprio para banho... De um modo geral, às vésperas de a cidade completar 400 anos no próximo dia 08, pouca é a Poesia que resta para ser retratada - o que eu, de teimoso, clico de vez em quando, como na foto que abre esta postagem: um poético pôr-do-sol, próximo a meu antigo escritório, registrado pelo meu celular (de poucos 'pixels' de precisão)!

Já sobre Quadrinhos, não ando querendo falar muito, não: grande admirador de gênios como Eisner, Crumb, Sacco, Manara, Moebius, Mutarelli, Laerte e outros bambas, sigo desanimado com as poucas opções do momento para os colecionadores (edições encadernadas de grandes personagens ou histórias clássicas, por exemplo) e ainda me pego caindo na esparrela da curiosidade sobre o que a DC Comics andou prometendo como "revolução", recomeçando do zero a contagem de todas as suas edições recentes - vejo tudo como mais uma farofada promocional para atualizar heróis eternos que não deveriam passar por tanta reformulação (ainda bem que deixei de acompanhar faz tempo, comprando só ocasionalmente algumas coisas)... Mas, afinal, quem precisa de HQs de renovados personagens de collants espalhafatosos quando se pode ser o super-herói de sua filha numa simples praia (poluída) maranhense? E, o melhor: num artístico e poeticamente eternizado mundo em preto-e-branco perdido no tempo...

Isabela, com 1 ano de idade, contemplando o mar e o horizonte no meu braço (2011).

 

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