segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Eu tenho medo..."


Maior alvo da reação antirracista, Mayara Petruso manteve as ofensas (REPRODUÇÃO)
"O sertão vai virar mar... O mar vai virar sertão..." Seria o novo dilúvio proposto por Mayara Petruso o que preocupava as previsões de Antônio Conselheiro?! Mistério...


A despeito do que pensam muitos sulistas (Sul/Sudeste), o Brasil começou no Nordeste do descobrimento, do pau-brasil, do primeiro governo-geral de Salvador, da lavoura canavieira, algodoeira e das Companhias de Comércio do Grão-Pará e do Maranhão... Com o tempo, com as mudanças na economia mundial, com as descobertas de ouro e pedras preciosas no Sudeste e com as bandeiras paulistas, aquele eixo original foi perdendo força até transformar grandes centros, antes símbolos da abastança, em verdadeiras cidades-fantasma - como minha amada e vizinha Alcântara, a 53km de onde falo, em São Luís do Maranhão...

Será, então, que por nos termos tornado os "primos pobres" da Nação não merecemos fazer parte dela ou de sua rica História tanto quanto quaisquer outros? Ou será que eu, do alto de minha antiga "Atenas Brasileira", detentora de uma das mais ricas culturas do mundo, sem olvidar o Português mais corretamente falado (pelo menos até bem pouco tempo...), devo olhar do alto de um pedestal ao avaliar "os mano paulista", com seu Português inculto, seu samba inexato ou sua poesia de concreto? A resposta para ambas as perguntas é "claro que não!". Infelizmente, tais preconceitos não parecem ter morrido, mesmo após séculos de amarga História... Especialmente numa parcela da maior metrópole do Brasil...

Apesar de nem só de pobres viver minha região, com tantos ricos investidores nordestinos no Sul/Sudeste, infelizmente o Nordeste ainda sobrevive com índices tão atrasados de desenvolvimento, culpa de séculos de coronelismos aproveitadores dos bolsões de pobreza criados a partir da derrocada de vários sistemas político-econômicos esvaziados... Afora o fato de que este Brasil de dimensões continentais foi, é e sempre será erguido com o sangue, o suor, as lágrimas, os calos, a "cabeça-chata", o jerimum-com-jabá e o dinheiro do povo nordestino, qualquer pessoa dita civilizada deveria considerar o País como um só, de um só povo, ainda que de sotaques e estilos tão diversos! Mas, diante de "Escolas do Medo" que facções políticas desenvolvem há tanto tempo e que tão bem estruturaram por intermédio de meios virtuais e televisivos, especialmente contra a candidatura (e a pessoa) de Dilma Roussef recentemente, nada mais (in)justo que novas crias aguerridas do voto censitário (aquele onde apenas o voto dos ricos tinha valor) e do ódio às classes esquecidas em séculos de governos elitistas, que só viam nortistas e nordestinos ou como mãos-de-obra baratas ou como estorvos às elites econômicas, comecem a dar suas caras novamente...

Decerto que o Nordeste é pródigo em ter no Bolsa-Família uma grande tábua de salvação e que metade da população do Maranhão recebe o subsídio do governo (quase 3,2 milhões de pessoas), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Mas daí a atribuir a isso o único reduto eleitoral de Lula/Dilma (não só eu como muitos nordestinos não pensamos assim e votamos em Lula para ver um Brasil diferente das tantas "democracias elitistas" anteriores) ou disso derivar o dito "achatamento" da classe média (após o tão "assustador" 'boom' de consumo da classe C, o Brasil teve uma forte expansão das compras também na classe B, de acordo com estudo da consultoria IPC Marketing sobre dados do IBGE: 30% a mais do que em 2009) é de uma estupidez cega e preconceituosa ao extremo: se houve algum achatamento foi no governo pessedebista anterior, com seus pífios crescimentos econômicos de suas ainda mais pífias "políticas de controle da inflação" e seus arrochos intermináveis! E, só no período 2003/2008, o ganho trabalhista no Nordeste chegou a 7,3% ao ano, o que, por sua vez, joga água por sobre a fraca tese elitista de que os ganhos nordestinos se devem apenas às transferencias de renda do “assistencialismo oficial" (fonte: 'site' sejaditaverdade)... Jogar água?! Melhor não dar ideia, tem tanto louco por aí que nos odeia...

Atualmente, essa loucura tem nome e sobrenome: Mayara Petruso, a pobre menina rica que soltou em perfis de suas redes sociais recadinhos vis de incitação ao racismo e ao extermínio do povo nordestino, a este atribuindo a vitória de Dilma no segundo turno, sem perceber que sua própria região abastada também elegeu, com 51,8%, a nova presidenta (sim, esta forma feminina é possível e devida, como atesta o Aurélio: pena que tantos jornalistas sejam tão covardes ou reacionários, especialmente frente à Língua...)! Sem esquecer que SP elegeu também Maluf, Pitta, e, mais recentemente, Frank Aguiar, Clodovil e Tiririca... Quem é "burro e manipulável" afinal?

Entretanto, o que mais assusta nem é o fato de ser esta jovem estúpida apolítica e agressiva preconceituosa uma estudante de Direito, apta, depois de "se formar", a ser uma profissional que precisará defender a Justiça e os direitos humanos (!), tampouco os vários e absurdos manifestos de apoio que ela recebeu ("Tinham que separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil"; "Construindo câmara de gás no Nordeste matando geral"...), ou o ainda mais vazio "pedido de desculpas" da mocinha ("Minas sinceras desculpas ao post colocado no ar, o que era algo pra atingir outro foco acabou saindo fora de controle. Não tenho problemas com essas pessoas, pelo contrário. Errar é humano, desculpa mais uma vez") ou a defesa de seu irmão, Sérgio Petruso, também na 'net', a explicar o óbvio, sobre a fútil "ingenuidade" de uma patricinha que queria aparecer sem medir a dimensão de seus atos tolos...

Tolo, realmente, pensar que alguém poderia seguir cegamente esta menina maluquinha: "Ei, um nordestino! O que faremos com ele? Afoga! Não foi isso que a Mayara mandou fazer?!"... Sempre achei graça do politicamente correto: ficar na repressão cega em prol de "minorias" tem tornado chatas discussões como direitos de negros, homossexuais etc. Tanto que daqui a pouco será crime qualquer piada de humor negro, especialmente se ela for sobre um... negro! E o que dizer dos programas de humor? Cancelariam todos, pela restrição a qualquer referência a "bichinha" e afins... Por isso, brincadeiras como as provocações entre maranhenses e piauienses, vizinhos e "rivais" de longa data neste final de Nordeste/começo de Meio-Norte, como bem lembrado pelo grande Bruno Mazzeo, reside no domínio público do bom humor e da chacota permitida. Mas não vi humor nessa garota, não... Vi medo, da parte dela e da pequena casta de certos "paulistas quatrocentões" represados pela "enchente" de nordestinos que se multiplicam mais a cada dia... E algo precisava ser feito, mesmo que paulatinamente, por meio de difusão de idéias como esta, do ódio, do afastamento: então dêem voz a uma "garotinha inocente"... Em nome de um partido decadente...

Mas o que realmente me deu medo foi o que acabei lendo num dos milhares de fóruns sobre o caso, de alguém cujo nome não lembro, mas que falava de "democracia" e do "direito de expressão" da futura advogadinha inconseqüente... Democracia e crime não se misturam, especialmente diante da facilidade com que pessoas hoje cometem crimes a três por quatro na rede mundial, todos com a "inocência" de chamarem a atenção ou para se tornarem populares, para o bem e para o mal! Afinal, esta moça cometeu, "sem querer querendo" e reiteradas vezes, os crimes de "incitação ao crime", "apologia de crime ou criminoso" (arts. 286 e 287 do Código Penal) e um dos crimes resultantes de preconceito da Lei 7.716 (mais precisamente seu art. 20: "Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (...) § 2º Se qualquer dos crimes previstos no 'caput' é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Pena: de 2 a 5 anos de reclusão, e multa"). Se ela queria aparecer, conseguiu!

Decerto que sou um democrata no maior sentido da palavra e acho que o Estado deve mesmo ser mínimo em matéria penal (tanto que detestei muita coisa da tal "lei da palmada" e do "Estatuto do Torcedor"): sigo bem a linha do 'laissez-faire, laissez-passer' em matéria de liberdade de expressão, tal como os avançados EUA o praticam! Só que, mesmo lá nos 'states', o 'hate speech', manifestação de idéias que podem gerar violência e ódio, é duramente condenável! Assim, a linda mocinha foi bem mais longe do que somente cometer uma injuriazinha qualificada com preconceito (art. 140, § 3º, CP): usou um grande veículo de comunicação para insuflar massas contra massas, tal como queria seu "ídolo" Serra, com seu recente pelotão de choque "apócrifo", virtual e televisivo, a espalhar ódio, preconceito e medo através de informações caluniosas, difamatórias e injuriosas numa das mais feias campanhas políticas de todos os tempos...

Como diria Regina Duarte contra o Lula de 2002, na reta final do horário político de Serra, eu tenho medo: medo de algumas elites lindas, asseadas, separatistas e autocráticas sulistas que, tal como em antigos e ultrapassados ideais de secessão (como nos EUA, duramente combatidos pelo democrata republicano Lincoln) que, desde os tempos de Alberto Sales e sua São Paulo "província mais rica e culta do país" (que deveria, por isso, separar-se do Império), passando por Monteiro Lobato e seus seguidores "constitucionalistas" de 32 (para quem nortistas não passavam de negros e mulatos), chega até os dias atuais do MSRP (e de 'revivals' da "República Riograndense" através de movimentos como "O Sul é Meu País") e gera divisões tolas e discriminatórias, sem maiores discussões político-econômicas importantes...

Não quero montar uma republiqueta nordestina em contrapartida, longe de mim! Tampouco acho que ver essa "tolinha" atrás das grades seria a melhor solução - mais interessante seria vê-la passando por longas e justas penas alternativas de aprendizado e trabalho sócio-educativo aqui pela nossa linda e pobre região... Mas não posso negar uma coisa, tenho medo desse pessoal: gente que fala água pode incutir o mal nas cabeças de milhões e inconseqüentes bolinhas de papel podem mesmo acabar sendo muito perigosas...

sábado, 6 de novembro de 2010

Luz...

Cinema

Não disse até logo
Nem tampouco adeus
Não segurei, nem afaguei,
Apenas toquei sua mão...

Desço aos infernos
Está tão claro
Estou tão só.
O escuro do cinema me faz bem
No pouco da claridade que vem da tela

Eu te sinto tanto
(Vinte e quatro quadros por segundo)
E, ao invés,
Minha luz,
em ti,

esmaece um pouco a cada dia

(Dilberto L. Rosa, 1996)


Quero urgente e impacientemente
Fugir de todo esse berreiro
De todo esse dilema
Quero alçar vôo impunemente
Ser apenas prisioneiro
Trancado na sala de um cinema!

(Dilberto L. Rosa, 1999)

Preto e Branco

Lembro-me dos filmes
De cor cinza
A me falar de sombras
Que nunca pude viver.

Viva os filmes de toda cor:

Mas vivo a imagem
Esmaecida
Dos tempos bem vividos
Que eu não consigo esquecer

– Tiro beijo no escuro noir...

Já nem sei
Da fotografia
Que meus filhos viverão
Ao meu Cinema fenecer...

(Magia falecida de antigos amanhãs)

Creio mesmo
Ter magia
No escuro da sala vazia
Com a tela clara a me preencher

Minha memória é em preto e branco!

Vivo contigo o Cinema
Com toda a sua poesia
Naquele tom de cor esquecida
Que o meu tempo nunca vai esmaecer...

(Dilberto L. Rosa, 1998)

Grandioso

E ela me achou a vida bela
Numa tela de perdido cinemascope
Tudo porque contei a ela de meus filmes
- Só porque lhe mostrei um punhado de belas cenas
De filmes eternos de final grandioso...

(Dilberto L. Rosa, 2010)


Poemas de épocas diversas com meu amado Cinema como pano de fundo... Cenas de Um bonde chamado desejo, Cinema Paradiso, O Terceiro Homem, Cidadão Kane e A Doce Vida
 

+ voam pra cá

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