sábado, 1 de maio de 2021

Oscar, Aniversários e Muita Arte:

São 17 Anos...

E eu simplesmente não sei o que dizer...

Esta boca barbuda e envelhecida bem poderia ser a minha...

Acho que era para me despedir: última postagem, no dia do aniversário do blogue (que foi ontem), fechar portas e janelas de um lugar há tanto abandonado... Mas ainda havia alguns capítulos (inacabados) do romance Você ainda vai me amar amanhã...?, que queria deixar registrados... Os Morcegos, por alguma razão, não querem mais conversar... No entanto, pareço sempre ter uma eternidade (e além...) de coisas pra dizer... O Oscar, por exemplo, aconteceu no último domingo - e, à exceção de uns poucos anos de ausência, sempre comentei sobre as premiações e os indicados vistos por aqui... Neste ano, porém, mesmo tendo assistido a todos os concorrentes a "Melhor Filme" (além de vários participantes de outras categorias), nem sei bem por onde começar qualquer linha de qualquer crítica de qualquer análise de qualquer arte...

Logo eu, que venho lutando com o esteio da enunciação e do diálogo... Hoje é um daqueles dias em que se precisa dizer algo, mas, talvez mesmo por isso, fica difícil cobrir toda uma era da vida - qual seja a deste espaço virtual de vida plural, ativa e artisticamente literária - ou, pior, dizer algo para se despedir em seguida... Como abordar a ideia de um legado, quando, no fundo, não se queria parar - nem morrer, tampouco se despedir...

E o vilão é... Orson Welles?!
Mank: faltou emoção e... Justiça!
Mas com a vista cansada de tanta coisa finalmente vista, e com o corpo exaurido de tantas batalhas vãs, só consigo me lembrar de uma das cenas iniciais de Cidadão Kane (1941), com a boca de Orson Welles - ou melhor, Charles Forster Kane - a sussurrar, em close, a longínqua e afetiva palavra Rosebud diante de uma vida inteira no fim... O que me remonta ao recentemente oscarizado filme Mank, 80 anos depois e com técnicas cinematográficas similares (edição, fotografia com enquadramentos profundos e até o som, a emular o antigo monoáudio), justamente abordando o período em que o lendário roteirista Herman J. Mankiewicz (co)escreveu (com Welles?), em meio a problemas com a consciência, o álcool e as apostas, o também oscarizado roteiro original de Cidadão Kane - único prêmio de um dos maiores filmes, em técnica e emoção, de todos os tempos (enquanto Mank, por sua vez, muito mais técnico que emocional, levou 2 Oscars: Fotografia e Direção de Arte). A arte imitando a vida, com o futuro repetindo o passado: definitivamente, tudo está interligado...

Acabo muito mais para o escapismo de Nomadland (3 Oscars) e Druk - Mais uma rodada (1 Oscar), prêmios, respectivamente, de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional da noite: as emoções mexidas com a nômade solitária a perambular pelos EUA na sua van depois da perda do amado e do emprego, bem como com o time de professores dinamarqueses a fugir das crises dos 40 anos, diariamente, com grandes doses de bebida alcóolica compensaram as falsas promessas de Bela Vingança (Oscar de Roteiro Original somente pela atualidade do tema feminista, porém com resultado forçado e mal conduzido na tela), Minari (decepcionante história de uma família coreana nos EUA dos anos 80: Oscar de Melhor Atrriz Coadjuvante e um monte de outras indicações graças ao modismo carreado pelo também coreano Parasita, do ano passado), e os politizados Judas e O Messias Negro (Oscars de Ator Coadjuvante e Canção Original num filme pouco impactante para o rico tema do Partido dos Panteras Negras) e Os 7 de Chicago (sem prêmios para um simplório filme de tribunal também em torno das ondas de protesto nos EUA nos anos 70).

O assombro capitalista diante da estupidez 
da moda do cancelamento pareceu forçar a 
Academia a indicar mais filmes de temática 
negra - ainda que nem todos com qualidade...
Em tempo de coisas ruins, perda de tempo, igualmente, não faltou: nem consegui terminar o perdidamente fraco e teatral Uma Noite em Miami (supervalorizado libelo ficcional à consciência negra e indicado a Melhores Roteiro Adaptado, Canção e Ator Coadjuvante, mas nenhum prêmio) e me arrastei pela edição sensacionalista e sentimentaloide de Professor Polvo (Melhor Documentário). Isso sem falar dos politizados, porém intragavelmente esvaziados e equivocados documentários Uma Canção para Latasha (Netflix) e Time (Amazon Prime). 

Mas nem tudo foi perdido: dentre as premiações, salvaram-se os política e poeticamente duros e inteligentes Dois Estranhos (Oscar de Melhor Curta-Metragem), Collette (Melhor Documentário em Curta-Metragem) e Se algo acontecer, eu te amo (Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação) - sem esquecer o entretenimento consciente e bem amarrado de A Voz Suprema do Blues (Oscar de Melhor Figurino e Melhor Cabelo e Maquiagem, perdendo-se a oportunidade, porém, de premiar a melhor performance femininia do ano, a Mama Blues realíssima de Viola Davis). 

Ainda pude ver outros títulos, do final do ano passado pra cá, que amealharam algumas indicações, mas saíram de mãos abanando da "noite dourada" sem maiores shows, glamour nem piadinhas chatas (devido à pandemia, a cerimônia ficou mais restrita, lembrando suas origens de quase 100 anos atrás, com mesas e sem muitos convidados): o abobalhadamente inteligente Borat - A Fita Seguinte (indicado a Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz Coadjuvante); o abobalhadamente infantil O Grande Iavn (indicado a Melhores Efeitos Visuais pelos seus insuportáveis "bichinhos falantes Disney"); o redondinho discurso social de O Tigre Branco (indicado a Melhor Roteiro Adaptado); o bom Destacamento Blood (Spike Lee sempre renegado pela Academia: apenas uma indicação, a Melhor Trilha Sonora); o interessante Ron Howard de Era uma vez um sonho (indicado a Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Atriz Coadjuvante); o sensível Paul Greengrass de Relatos do Mundo (4 indicações: Fotografia, Design de Produção, Som e Trilha Sonora); e a mais nova produção do Casal Obama sobre inclusão social, o ótimo Crip Camp - Revolução pela Inclusão (indicado a Melhor Documentário).

Um idoso perdido a ouvir velhos discos
e tentando encontrar-se no tempo... 
Lembrei-me de certo romance inacabado...

Mas dentre tantos títulos em "disputa" assistidos, somente três realmente me arrebataram como lindos exemplos de Cinema com letra maiúscula, aproveitando meu precioso tempo com arte e atividade - porque Arte (assim como a vida) jamais pode ser algo passivo, ainda mais em tempos tão difíceis: assim, se se pode dizer que houve um "Melhor Filme" em 2020 (porque fico com o querido Sabadin: "
competição no mundo artístico é uma simplificação patética"), este foi Meu Pai, belíssimo trabalho que marca na memória a dolorosa jornada de perdição humana pelo Mal de Alzheimer: da composição dos cenários à edição, da adaptação do roteiro (originalmente uma peça, porém magistralmente incorporado à tela, rendendo um justo Oscar de Melhor Roteiro Adaptado) ao elenco excepcional - com destaque para um "novo Hopkins velho" (e, portanto, despido da maioria dos maneirismos do seu Hannibal Lecter: merecido Oscar de Melhor Ator) e as sutilezas de uma sempre boa Olivia Colman, uma obra perfeita!

Em segundo lugar, a beleza surda e sufocante, porém transformadora, de O Som do Silêncio: a também intimista história de um ex-viciado baterista de trash metal que, do dia para a noite, vê sua vida se perder completamente por causa de uma repentina surdez quase total, e é obrigado a se adaptar aos duros aprendizados, é daqueles filmes que marcam - especialmente ao conseguir o que Mank não soube apresentar: a façanha de aliar o melhor da técnica (merecidos Oscars de Melhor Som e Melhor Edição) à emoção de transpor o expectador a uma imersão na surdez e na consequente angústia do protagonista, a se achar sem amor... É correr para o Amazon Prime e assitir, fingindo-se estar numa antiga sessão do Cine Praia Grande!

Não era a sua hora de partir...
Nem a hora de a "22" nascer...
Melhor descobrir um jeito de ajudar
 almas atormentadas...
Por fim, mas nada menos importante (até porque simplesmente amo esse subgênero), chegamos à nossa terceira colocação pessoal de melhor filme, destacando-se que assisti, com meus filhos, a todos os 5 indicados à Melhor Animação ainda no ano passado: se a bobagem multicolorida e cheia de irritantes canções com belo apuro técnico de A Caminho da Lua decepcionou, o infantilmente divertido Shaun, O Carneiro - O Filme: A Fazenda Contra-Ataca, cheio de referências a clássicos como E.T. - O Extraterrestre e Contatos Imediatos do Terceiro Grau fez bonito, ambos concorrentes pela Netflix; o belo e ambientalista Wolfwalkers estabeleceu um novo padrão de animação ao misturar belas técnicas com lendas medievais; a Disney acabou surpreendendo com seu Dois Irmãos, espécie de conto familiar mesclado com RPG repleto de elfos e seres mágicos num mundo cotidiano... Mas a Casa do Mickey surpreenderia ainda mais ao lançar, diretamente em seu streaming, o melhor, e mais do que merecido Oscar de Melhor Animação: sem dúvida o mais adulto filme da Pixar, Soul combina, à perfeição, o jazz autêntico a uma bela jornada existencialista para crianças - simplesmente, imperdível ver o primeiro protagonista negro das grandes animações 3D hollywoodianas a explicar o que é viver (e morrer) ao lado da Melhor Trilha Sonora (segundo prêmio desta pequena obra-prima que tanto agradou meu filho)...

E era isso o que eu tinha pra falar do Oscar: decididamente, Cinema sempre foi uma das marcas dos Morcegos e acabou sendo sua última temática... Mas, no tema original do cabeçalho do blogue, constava "MORCEGOS: Cinema, Música, Literatura e Artes em Geral", posteriormente encurtado numa das muitas atualizações aqui no Blogspot... Assim, para considerar como "encerrado", ainda se haveria de fazer um post final sobre Música, sobre Literatura - tanto minha como dos grandes nomes aqui já homenageados... E, a se considerar a categoria reticente das "Artes em Geral", de se imaginarem ainda várias postagens derradeiras acerca de outras linhas aqui já demarcadas, como Quadrinhos, Artes Plásticas e até Política... Como acabar, então?



Não sei... Tudo o que sei é que nada soube e ainda fui perdendo o conhecimento ao longo do caminho... E, mesmo sem saber direito o que dizer inicialmente, sempre sai muito sentimento falado pela ponta dos dedos! Mas, se é para terminar, ainda havia o que dizer quanto às minhas últimas letras no meu primeiro romance, com a publicação dos capítulos já escritos para se encerrar a Primeira Parte deste projeto tão ambicioso que, talvez, um dia, ainda tome forma como um livro a ser lançado - e cantado e chorado e assinado embaixo de uma vida de dedicação e perdição... O que dizer de um mês que encerra tanta coisa ruim como o abril de ontem, mas, ao mesmo tempo, reforça e revive tantos aniversários - à beira de novos aniversários a surgir neste mês que inicia hoje... E pensar que, no ano passado, sequer foi publicado o post especial de 16 anos de blogue naquele horrível abril... Difícil demais dizer adeus: ainda mais quando, parece que ainda havia tanto a se dizer... Sobre Cinema, os Morcegos, que já falaram de Fellini a Tarantino, bem mereciam um belo Oscar pelo "conjunto da obra" de todos esses 17 anos de múltiplas vertentes e emoções, dedicação à Arte. à Vida e ao Amor Incondicional, que acabou por ressignificar este espaço para todo o sempre... Mas desisto: este é mesmo o último post, season finale, the end: não há mais nada a ser dito aqui... Espero que a jornada tenha valido a pena... Boa noite: já podem apagar as luzes e fechar as cortinas...
Morcegos: Oscars de Melhor Blogue, Melhor Jornada e Melhor Dedicação
a Tantas Artes Ressignificadas...


 

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