segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Entre Magos e Ratos...


Em outros tempos, no afã de costumeiramente escrever uma nova postagem atualíssima para os Morcegos, sempre estava eu a catar alguma especial data comemorativa celebrada naquele dia, rememorando algum aniversário de uma personalidade qualquer das Artes em geral ou ainda elucubrando sobre alguns marcos na trajetória de algum outro personagem famoso... Faz tempo! Hoje, entretanto, descobri por acaso que o Rato Mickey e o Mago Alan Moore fazem aniversário neste 18 de novembro - e, com esta dupla inusitada, não consegui evitar voltar no tempo para enlaçar uma postagem comum a dois ícones tão díspares da cultura 'pop'!

Apesar de nunca ter sido um grande admirador do famoso camundongo nos Quadrinhos - sua "perfeição" ao lado do Pateta e a repetitividade das suas historinhas policialescas atrás do Mancha Negra jamais me cativaram -, é inegável o seu papel de destaque no Cinema: Steamboat Willie e Fantasia foram marcantes não só para o mundo da Sétima Arte com os seus pioneirismos, como o primeiro desenho-animado com o uso do som sincronizado na narrativa e a primeira animação narrada inteira e unicamente por clássicos da Música Erudita (com o Mickey vivendo o inesquecível Aprendiz de Feiticeiro), respectivamente, como também para mim, com seu lúdico mundo genialmente construído em maravilhosos clássicos que confeccionaram a minha formação de cinéfilo amante das grandes animações.

A despeito de ser um símbolo da indústria mercantilista e selvagem ianque, bem como ser a máxima representação do império de um reacionário "caçador de bruxas", nada questiono quando o assunto é entretenimento infantil e, sem culpas, cubro minha doce filhota de 3 aninhos com Mickey e sua turma em várias mídias: afinal, a qualidade é sempre certa, a tradição dos geniais curtas das décadas de 40 e 50 ainda soam brilhantemente atuais no DVD e a filha adora suas "roupitchas" da Minnie Mouse! Disney ainda reina com um rato num mundo sujo que tanto precisa de magia...

E, falando em magia, nada mais atual do que ovacionar o "Mago de Northampton", o maluco-beleza com cara de bruxo e com as letras mais inteligentes dos Quadrinhos: ao lado de outros míticos bambas dos roteiros da Nona Arte, como os igualmente mágicos Neil Gaiman e Frank Miller, Alan Moore foi um dos responsáveis pela "ascensão" das HQs ao nível adulto - não por caso, os seus grandes roteiros em releituras de grandes personagens da cultura 'pop', da assustadora criatividade na reinvenção do Monstro do Pântano às deliciosas atualizações da mitologia do Super-Homem, serviram de base para inúmeros artistas vindouros passarem a tratar os super-heróis com apelo bem menos infantil.

O que dizer, por exemplo, da obra-prima absoluta A Piada Mortal (1988), que completa 25 anos com o mesmo fôlego impactante daquele meu distante Natal de 1990, quando a comprava num relançamento ainda embalado pelo sucesso do 'blockbuster' Batman, de 89, onde então descobriria quem realmente eram Batman e Coringa? As cores vivas e a bela arte de Brian Bolland terminavam de emoldurar aquela brilhante história cinematográfica de Moore em que o Palhaço do Crime, em meio a 'flashbacks' do que seria o seu passado (mostrada pela primeira vez uma "origem" para o maior vilão de Gotham), aleijava Barbara Gordon, enlouquecia seu pobre pai, o Comissário, e fazia o Cruzado de Capa imergir num aterrorizante pesadelo psicológico - e, de quebra, ainda insinuava um final com o herói quebrando o pescoço do seu nêmesis em meio à doentia piada do título (note que as risadas cessam e só fica a sirene, de acordo com teoria do grande Grant Morrison)... Simplesmente genial: as sagas O Cavaleiro das Trevas, Batman Ano Um e Asilo Arkham perdem!

Mas se engana quem pensa que o Mestre inglês tenha sido "meramente" um contador de novas histórias para velhos personagens consagrados do 'mainstream': na verdade, sua veia independente sempre foi sua maior marca registrada (mesmo quando trabalhava com grandes estúdios) e, não por acaso, seus trabalhos mais lembrados são mesmo os clássicos em que refletia sobre nossa sociedade em meio às inventividades das HQs e da ficção científica - e assim, juntamente às inesquecíveis histórias da revista inglesa 2000AD, ao 'reboot' do Juiz Dredd e à maravilhosamente infernal criação de John Constantine, restam como insuperáveis os seus contos sobre reuniões de heróis decadentes ou de um mundo pessimista de amargos amanhãs, como os excelentes V de Vingança, A Liga Extraordinária, Do Inferno Watchmen - grandes momentos que o Cinema tratou de ou minimizar demais a história em adaptações unidimensionais ou mesmo de estragar tudo por completo no velho estilo hollywoodiano, coisa sempre detestada pelo escritor inglês.

Mas, afinal, o que um calejado contestador da arte da escrita nos livros e nos Quadrinhos pode ter em comum com um personagem-ícone dos estadunidenses mundo afora em sua representatividade de mega-parques de diversões? Um faz 60 anos de bruxa criatividade e o outro completa 85 de existência infantil na mesma data (que, por acaso, eu descobri e sobre ela teci tal inefável associação)? Não, creio haver bem mais que isso: além do incontestavelmente mutante ambiente industrial da arte em série em que os dois se encontram (e da dúvida de muita gente, até hoje, sobre o fato de o Sr. Moore, na verdade, ser ou não um personagem dos Quadrinhos...), ambos são excepcionais símbolos do que fazem de melhor há tantas gerações. E, entre tanto lixo cultural sendo servido pelo mundo, nada mais justo e reconfortante do que celebrar igualmente aqueles que sabem tirar magia de pedra há tanto tempo - ainda que pelas mais diferentes razões...



Menos, Mickey Mouse... Menos!

terça-feira, 12 de novembro de 2013


Levo uma década
Para resolver um segundo
Explodiu meu mundo
Antes de ter começado

(Dilberto L. Rosa, 2006)

... Mais ou menos é mesmo essa a sensação - não deu para este tantas vezes reles, porco e vil: longe há tempos dos campeões, ao menos valeram os versos do poema sujo dos campos, valeu a tentativa, creio eu. Bem que ela estava certa... Porque, depois de tanta lama e interrupção, ela me disse, vez que ainda conversamos muito durante os intervalos, que era muita coisa boa p'ra um ano só! E realmente foi: nem bem eu descia das nuvens das carregadas expectativas de novas vidas plenas de alegrias e incertezas, eu já lutava contra mim mesmo para crescer novamente e mostrar que eu ainda podia voar... Mas qual o quê: mais uma vez seria necessária uma reinvenção - só que, agora, em definitivo, que já chega de experimentações! Mas não fui... Permaneço apenas sendo mestre do caos perdido dos meus anos cansados. Assim, para tentar outra vez, como cantava o maluco naquela velha canção, eu mesmo disse certa feita, muito tempo depois, que Na eterna insatisfação de mim mesmo Vejo meus poemas vivos Independentes mesmos de mim... Então sigamos a catar Poesia do lodo que sobrou nas calças sujas recém-saídas da lama e vejamos se dá para encontrar qualquer cobre (que muito há por cobrir), que eu tenho que seguir, porque a vida não espera e, afinal de contas,

Com um pouco de esforço e de pena
por sobre o lodo
a coisa toda
pode até virar um poema...


(Dilberto L. Rosa, 2008)


 

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