sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Infelizmente, algumas vezes na vida se deve, unicamente, sobreviver. Certas sequências exigem cenas de drama intenso, onde o protagonista, em meio a uma desenfreada correria de afazeres e problemas, amarga orgulhos feridos e densas fraquezas humanas, padecendo ainda de várias escoriações pelo corpo, advindas das cenas de ação (feitas sem o auxílio de dublês): viver, com firmeza no controle do destino, parece luxo! Mas, como o espetáculo não pode parar, que a sobrevivência forçada desta passagem do livro sirva de crescimento para o personagem, que, a 24 quadros por segundo (ou 48, como quer o mais novo arrasa-quarteirão da fantasia do momento, que, infelizmente, ainda não vi), tem que se adaptar para o maior número possível de mídias que surgirem com a chegada do novo ano...

E que venham os "novos projetos", porque, por ora, digo não e adeus aos insuportáveis "alunos de fim de ano"  E meu ponto extra do questionário? E a nota do trabalho: o senhor arredonda? O senhor me reprovou por meio ponto: me ajude, por favor...– e aos abusivos (e alguns absurdos) descasos, excessos de trabalho e faltas de respeito de outros tantos... Mas, enquanto Deus e alguns amigos permitirem, bato o ponto juridicamente, desejoso de dias mais justos para maranhenses ávidos por novos horizontes...

Pois, se eu não me perdoo por muitas coisas neste belo ano-cão, a família já perdoou a loucura desembestada de acabar esquecendo até do Natal, sem tempo de ofertar um mimo sequer – embora a filha ainda se agarre com as pernas em meu tronco a cada hora que ameaço descer de casa rumo a uma simples padaria: sumi, de verdade... Mas antes de virar barata, encolhi humanamente, e, agora, corro para descansar um pouco antes da alvorada do meu primeiro 13, número que bem me acompanha desde sempre...

Será que agora poderei, enfim, surgir efusivamente nos céus ludovicenses, com uma bandeira listrada (mas com uma estrela só, que a bandeira é a maranhense, fazendo favor: ufanista e bairrista, a seu dispor, Tio Sam!) e com um sorriso hollywoodiano na face, a "voltar" triunfantemente, depois de tantos percalços?! Decerto que já "voltei" inúmeras vezes (neste ano mesmo: escritório), mas ainda devo a muita gente (especialmente a mim) aquele final de Superman II, com direito àquela maravilhosa marcha do Mestre John Williams de fundo, com o devido autocontrole ao dizer "Desculpe ter estado fora tanto tempo... Jamais os abandonarei de novo"... Bem, com a devida retificação em relação ao pronome oblíquo para um mais apropriado "me"...

Acho que não planejarei mais nada e só vou dormir um pouco antes de o novo ano bater à porta: sei que nada muda, na realidade, mas o povo adora o lance da "nova dimensão", especialmente depois da chatice cinematográfica do tal fim do mundo que atribuíram aos pobres maias! E, para eu mudar qualquer coisa mínima, terei que, pelo menos, descansar antes... Então, aos amigos que me esqueceram  aquele abraço –, aos colegas das causas perdidas, aos fieis e compreensivos blogueiros de plantão remanescentes (Morcegos abandonados; blogues amigos, idem), aos adoráveis entrões destruidores de sonhos infantis e à minha querida e sempre zelosa mãezinha: vou desligar rapidinho os celulares, ok? Só o tempo do cochilo... Mas não sem antes lhes desejar um ano de muitas sequências cheias de drama intenso e de cenas arriscadas de ação, que esta vida shakesperiana há tempos que foi adaptada para o Cinema: resta a nós apenas dirigir e editar tudo um pouco a fim de não deixar a coisa toda perecer num filme de quinta categoria...

Até ano que vem...


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

MPB, Música Popular Brasileira... O que antes era símbolo de qualidade, de ícones atemporais de gênios de letra e música, entre as décadas de 70 e 80, resultou numa sigla esvaziada, às vezes forçosamente lembrada como "Nova MPB" ou coisas que o valham, ao tratar, atualmente, alguns segmentos de uma geração apenas boa (Nando Reis, Arnaldo Antunes, Zaca Baleiro, Lenine), razoável (Marcelo Jeneci, Criolo) ou mesmo bem fraca ("Seu" Jorge), à sombra de deuses olímpicos como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulinho da Viola - este o último setentão da praça e do grupo desde o último novembro (Chico é o "caçula", com 66).

Ainda me lembro de como éramos os reis da interpretação de texto, a minha geração e a anterior à minha, graças às pesquisas forçadas para saber mais sobre as "Mulheres de Atenas" ou entender melhor as nuances de "Sampa": aquela Poesia tão rica e perfeitamente casada com a grande Música daquele pessoal nos tornava tão mal acostumados que, mesmo diante de boas coisas que vieram depois, tudo, com o tempo, foi-se tornando, pra mim, tão fraco... Ao ponto de eu já me encontrar um tanto quanto sorumbático diante do outono iminente desses amigos emepebistas que parecem querer levar, em breve, com eles, os segredos da fórmula alquímica de criar ouro...

Tudo bem que alguns deles já se reinventaram tanto ou forçaram demais ao seguir na estrada que os trabalhos atuais já não guardam a mesma genialidade de outrora... Mas, ainda assim, todos eles em franca atividade só demonstram o quanto de criatividade que sempre carregaram nas veias, bem diferente da "salada 'cool'" que andam a gravar por aí os novos nomes da nossa Música - que, de brasileira, parece estar com a carona generalizada da tal "world music"!

Afinal, por onde andam os "afro-sambas" de Vinícius e Baden ou os "samba-rock" de Gil? Quem continuará esses "bons velhinhos" de hoje? Chico sucedeu Noel, Paulinho sucedeu Cartola... Mas quem continuará a essência dessa brasilidade criativa de nossas canções? Não, não quero saber de "hip-hops" ou de "raps": não sou xenófobo, ouço de tudo, mas isso é importado e seus condutores não trazem nada de novo - como dira o poeta: "Eu quero um samba feito só pra mim..."

Que eu fique, então, com o Príncipe do Samba, um dos últimos deuses olímpicos da MPB, a respeito da minha ranzinzice nostálgica por aquela boa Música tão representativa de um Brasil eternamente genial: "Se um dia meu coração for consultado, para saber se estou errado, será difícil negar..." E viva o 2012 da MPB 70 (parabéns, Caetano, Gil, Milton, Paulinho...)!

domingo, 25 de novembro de 2012

Sete dias depois...


Meu primeiro contato direto com a morte foi quando do falecimento do meu avô paterno: só no momento em que peguei sua mão fria foi que percebi que ali não estava mais aquele amigo que tanto amava, mas somente sua última lembrança física - que, em poucos instantes, enterraríamos para só podermos vê-lo novamente por meio de fotos (pelo menos nesse plano físico...).

Minha querida avó Raquel morreu no último domingo, mas não me despedi dela. Soube da sua morte por telefone, quando minha mãe, aos prantos, avisou-me da sua partida. Não viajei as 8 horas que separam sua última morada, Tutoia, daqui de São Luís. Nunca fui a Tutoia: tantas vezes planejei uma viagem para vê-la outra vez, mas só guardo dela uma foto em que ela toma um café em meu apartamento e a última vez em que nos falamos pessoalmente, ocasião em que ela, dias antes de deixar esta Ilha para morar com sua enfermeira/cuidadora e meu tio no distante interior do Estado, há mais ou menos 3 anos, disse que gostava de mim como um filho - mas eu sou seu neto, vovó...!

- Ela já não se lembrava de quase ninguém... Tinha 90 anos e, como foi para o Rio muito cedo, por questões pessoais, e lá morava há tantos anos, com a velhice e com a morte do companheiro, acabou por ficar um tanto quanto senil e acabamos por nos distanciar... Tentava eu explicar para a colega do escritório o porquê de, na segunda-feira, eu não estar tão arrasado ou sofrido... Doía, mas não chorei nenhum dia a semana inteira: o "discurso pronto" sobre a idade avançada e a distância enganava quem me via por fora - por dentro, algo me punia por ter deixado os compromissos e o tempo minarem a possibilidade de um último encontro, mesmo que fosse somente para ela falar sobre sua mãe e suas memórias da juventude para um "desconhecido" que ela teria como "um filho" ou "um grande amigo da família", esquecendo-se, mais uma vez, que eu era seu neto...

Não convivi o tanto que gostaria com ela. Talvez por isso não tenha chorado ao longo da semana inteira, somente o fazendo agora, nesta missa... Mas não houve um só dia em que eu não me lembrasse do seu jeito de conversar comigo, na minha infância, e de todos os mimos que sempre me ofertou, muitas vezes à distância - se hoje sou um ávido leitor, muito se deve a uma coleção de livros que ela me mandou por Sedex quando eu tinha apenas 7 anos de idade (meu primeiro mosaico de dorsos, com a imagem completa dos famosos personagens de Patópolis num divertido piquenique com a enciclopédia infanto-juvenil Biblioteca dos Escoteiros-Mirins)... A sua fala mansa ainda ecoa na minha lembrança dos poucos almoços em família quando das suas vindas a São Luís (-Mas eu já estou cheia, que isso é um banquete!)... E vejo seu semblante doce quase toda vez em que Isabela faz alguma meiguice - afinal, se minha filha se parece tanto comigo e eu, com minha mãe (algumas fotos de Isabela lembram muito mamãe quando criança)... E vejo que o segredo da vida está justamente nisso mesmo: na continuidade...

Não pude pegar a mão fria da minha querida avó. Não me despedi dela como eu gostaria... Mas o calor das suas boas ações e o conselho sempre vivo, cheio de otimismo e amor, seja por telefone, seja nas poucas vezes ao pé do ouvido (olho no olho, mão na mão) estão comigo hoje aqui, enchendo meu coração de felicidade e de saudade, e me fazendo chorar... Muito! Viva Raquelzinha, palmas para minha querida avó, distante e distanciada, mas próxima das melhores lembranças, as infantis - puras que são as criaturas-avós na formação de qualquer ávio leitor ou escritor...

E assim, entre lágrimas, com aquelas palmas para quem realmente importava naquela igreja, ontem, pela manhã, de alguns parentes que igualmente não via já há algum tempo, eu encerrava minha pequena homenagem àquela grande mulher: mais ou menos com essas palavras, humildemente, disse-lhe o quanto eu a amei e o quanto eu me desculpava por deixar o tempo e a vida diminuir algumas chamas já pequenas, porém cheias de calor que ainda falarão por muitos anos a fio em mim, muito mais do que frias mãos de adeus...

Sete dias depois...


Meu primeiro contato direto com a morte foi quando do falecimento do meu avô paterno: só no momento em que peguei sua mão fria foi que percebi que ali não estava mais aquele amigo que tanto amava, mas somente sua última lembrança física - que, em poucos instantes, enterraríamos para só podermos vê-lo novamente por meio de fotos (pelo menos nesse plano físico...).

Minha querida avó Raquel morreu no último domingo, mas não me despedi dela. Soube da sua morte por telefone, quando minha mãe, aos prantos, avisou-me da sua partida. Não viajei as 8 horas que separam sua última morada, Tutoia, daqui de São Luís. Nunca fui a Tutoia: tantas vezes planejei uma viagem para vê-la outra vez, mas só guardo dela uma foto em que ela toma um café em meu apartamento e a última vez em que nos falamos pessoalmente, ocasião em que ela, dias antes de deixar esta Ilha para morar com sua enfermeira/cuidadora e meu tio no distante interior do Estado, há mais ou menos 3 anos, disse que gostava de mim como um filho - mas eu sou seu neto, vovó...!

- Ela já não se lembrava de quase ninguém... Tinha 90 anos e, como foi para o Rio muito cedo, por questões pessoais, e lá morava há tantos anos, com a velhice e com a morte do companheiro, acabou por ficar um tanto quanto senil e acabamos por nos distanciar... Tentava eu explicar para a colega do escritório o porquê de, na segunda-feira, eu não estar tão arrasado ou sofrido... Doía, mas não chorei nenhum dia a semana inteira: o "discurso pronto" sobre a idade avançada e a distância enganava quem me via por fora - por dentro, algo me punia por ter deixado os compromissos e o tempo minarem a possibilidade de um último encontro, mesmo que fosse somente para ela falar sobre sua mãe e suas memórias da juventude para um "desconhecido" que ela teria como "um filho" ou "um grande amigo da família", esquecendo-se, mais uma vez, que eu era seu neto...

Não convivi o tanto que gostaria com ela. Talvez por isso não tenha chorado ao longo da semana inteira, somente o fazendo agora, nesta missa... Mas não houve um só dia em que eu não me lembrasse do seu jeito de conversar comigo, na minha infância, e de todos os mimos que sempre me ofertou, muitas vezes à distância - se hoje sou um ávido leitor, muito se deve a uma coleção de livros que ela me mandou por Sedex quando eu tinha apenas 7 anos de idade (meu primeiro mosaico de dorsos, com a imagem completa dos famosos personagens de Patópolis num divertido piquenique com a enciclopédia infanto-juvenil Biblioteca dos Escoteiros-Mirins)... A sua fala mansa ainda ecoa na minha lembrança dos poucos almoços em família quando das suas vindas a São Luís (-Mas eu já estou cheia, que isso é um banquete!)... E vejo seu semblante doce quase toda vez em que Isabela faz alguma meiguice - afinal, se minha filha se parece tanto comigo e eu, com minha mãe (algumas fotos de Isabela lembram muito mamãe quando criança)... E vejo que o segredo da vida está justamente nisso mesmo: na continuidade...

Não pude pegar a mão fria da minha querida avó. Não me despedi dela como eu gostaria... Mas o calor das suas boas ações e o conselho sempre vivo, cheio de otimismo e amor, seja por telefone, seja nas poucas vezes ao pé do ouvido (olho no olho, mão na mão) estão comigo hoje aqui, enchendo meu coração de felicidade e de saudade, e me fazendo chorar... Muito! Viva Raquelzinha, palmas para minha querida avó, distante e distanciada, mas próxima das melhores lembranças, as infantis - puras que são as criaturas-avós na formação de qualquer ávio leitor ou escritor...

E assim, entre lágrimas, com aquelas palmas para quem realmente importava naquela igreja, ontem, pela manhã, de alguns parentes que igualmente não via já há algum tempo, eu encerrava minha pequena homenagem àquela grande mulher: mais ou menos com essas palavras, humildemente, disse-lhe o quanto eu a amei e o quanto eu me desculpava por deixar o tempo e a vida diminuir algumas chamas já pequenas, porém cheias de calor que ainda falarão por muitos anos a fio em mim, muito mais do que frias mãos de adeus...

domingo, 4 de novembro de 2012

Isso te lembra o quê?



Noutro dia, na vinda pra casa após uma cansativa noite de trabalho como professor, sintonizava eu uma rádio qualquer à cata de algum sucesso nostálgico naquele horário em que costumam pulular canções antigas nas melhores estações, quando fisguei, já pela metade, a deliciosa "Then he kissed me", com The Crystals, de 1963, e, subitamente, visualizei Elisabeth Shue, só de blusão e meias pretas, dançando num quarto... Calma, meus caros blogueiros de plantão: antes de me taxarem de pervertido fetichista ou algo assim, deixem que eu me explique melhor...

Espécie de "versão infanto-juvenil" de Depois de Horas (1985), do mestre Martin Scorcese, onde protagonista se envolve em mil situações de problemas por puro acaso, a subsidiária "filmes adultos-família" da Disney, Touchstone Pictures, lançou, em 1987, este pequeno clássico 'teen' dos anos 80, Uma Noite de Aventuras, com a então queridinha Elisabeth Shue (posteriormente indicada ao Oscar pelo ótimo Despedida em Las Vegas, em 95) como protagonista de uma inesqueível "Sessão da Tarde": jovem bacana de 17 anos (de bairro igualmente bacana), desprezada pelo namorado, decide ser babá de uma garotinha numa casa vizinha enquanto os pais vão para uma festa e, em socorro a uma amiga em frustrada tentativa de fuga de casa (Penelope Ann Miller, do recente O Artista), decide ir para a "cidade" (town ou o grande centro urbano das grandes cidades norte-americanas - no caso, Chicago, Illinois) e arrasta consigo a garotinha pajeada, seu irmão adolescente (e apaixonado pela protagonista, vivido pelo hoje sumido Keith Coogan) e o amigo engraçadinho deste - que, por sua vez, em função de uma Playboy em cuja capa se encontra uma espécie de "sósia" de Elisabeth Shue, acaba envolvendo todo mundo numa confusão ainda maior, com uma quadrilha especializada em roubos de carros.

Redondinho e feito para a família (não há violência, com tudo muito 'clean', tal como em outros clássicos da Touchstone, como Splash - Uma sereia em minha vida, Uma Linda Mulher e Cocktail), a comédia de aventura elitizada é cultuada até hoje por uma legião de saudosistas dos anos 80 e agrada a gregos e troianos com as situações vividas pelo grupo de jovens burgueses: pneu furado no meio de uma 'highway' e socorro por um mecânico estranho, porém bonzinho ("- Como é que vocês saem para a cidade sem estepe?"); escapadas de tiroteio; invasão de boate negra de 'blues' num bairro pobre; perseguição de criminosos etc. E, no final (como não poderia deixar de ser), todos aprendem valiosas lições, amadurecem um pouquinho e... Dá tudo certo, com todos ilesos, sem um arranhão!

Ainda me lembrei, já depois do fim da canção na rádio, de quando cheguei em casa, aos 12 anos, com este filme: marcou-me porque, junto ao vídeo, alugara outro lançamento da época, também um clássico adolescente da Touchstone, Namorada de Aluguel (com o hoje "Sr. Grey's Anatomy", Patrick Dempsey, e a linda, porém afastada do 'showbiz', Amanda Peterson) e minha mãe foi logo questionando se aquilo era filme pra mim, por causa daquele estranho título em Português (no original, a produção se chama Can't buy me love, canção dos Beatles que abre e fecha o filme)... O engraçado foi que mamãe depois não só viu seu equívoco, adorando aquela divertida comédia romântica sobre uma garota riquinha (ah, esses burguesinhos norte-americanos e suas adoráveis 'highschools') que "se vende" por mil dólares em troca de passar por namorada de um 'nerd' a fim de torná-lo popular, como também seguiu em "sessão dupla", deliciando-se também com Uma noite de aventuras, primeiro filme de Chris Columbus (o mesmo de Esqueceram de Mim)!

Engraçado como uma canção, quando bem empregada numa cena, pode remeter seu ouvinte, de imediato, a uma viagem pelo tempo a um filme muitas vezes já esquecido... E relembrar a deliciosa canção "Then he kissed me", clássico do início dos anos 60 que já apareceu em inúmeras interpretações e em diversos filmes - mas que foi com sua gravação original, com o ótimo grupo de cantoras negras The Crystals, que mais tocou no Cinema - me trouxe, no ato, meu amado ano de 1989, quando então era eu o maior rato das locadoras do São Francisco e adjacências, época em que aluguei Uma noite de aventuras...

Tudo bem que a igualmente clássica sequência de Os Bons Companheiros seja inesquecível (1990), com o famoso 'travelling' em que Ray Liotta e Lorraine Braco adentram o luxuoso Copacabana em seu primeiro encontro, seja igualmente memorável... Mas, para uma geração de pré-adolescentes oitentistas, Elisabeth Shue, só de blusão azul e meias pretas, dançando lindamente apaixonada em seu quarto enquanto se arrumava no fino da moda de 87 ao som de The Crystals, ainda é a melhor sequência com esta música... Para relembrar:


Ainda me lembro do amigo Henrique Spencer congelando a imagem no momento da levantada de pernas de Elisabeth Shue (pena que a Touchstone não deixava passar nada)... Bons tempos que não voltam mais!

domingo, 28 de outubro de 2012

Esquerdas e Bandeiras...



Domingão em casa, 16:45 h, preparando materiais para as aulas da semana, e algo fica a me cutucar... Não, não se trata das cutucadas virtuais do Face (coisa que até hoje não entendi para que serve!), mas, sim, de algo dentro das ideias, sobre uma coisa que eu teria que fazer, mas que não me lembro direito o quê... Jesus: ainda não votei! É correr para pegar a primeira camiseta vermelha em homenagem à velha Esquerda de guerra e seguir para o antigo bairro, Maranhão Novo, a alguns quilômetros daqui! A falta de empolgação pelas eleições é que "astravanca" a nova democracia - também, com o quadro de candidatos que se desenhou para estas eleições locais... E sigam-me os bons (e esquecidos)!

Diacho: não há camisas vermelhas a não ser uma social e duas em estilo 'nerd'! E, entre uma com estampa do Barney Rubble dos Flintstones e outra com os medalhões da Marvel, sigo a toda, com parte dos Vingadores e dos X-Men no peito, para as urnas - alguma empolgação tenho que fazer surgir, nem que seja via heróis de Quadrinhos, com a chama adolescente de outrora, quando das primeiras vezes em que votei...

Vermelho, eleições, juventude... Eu então votava com minha medalhinha do PT, mesmo jamais tendo me filiado a partido algum, extremamente empolgado com a Esquerda alimentada dos CAs da universidade e das propostas de um novo tempo para o Maranhão, de verdade, sem Sarneys, sem os reacionários métodos políticos a favor do grande capital e massacrando o povo na miséria e na ignorância... O povo se libertaria em breve, seria só uma questão de tempo...

Hoje, apesar de Lula ser ainda um dos melhores presidentes brasileiros (ao lado do histrionismo desenvolvimentista sem lastro de Kubitscheck e das inovações sociais e de políticas públicas e trabalhistas com a ditadura fascista de Vargas), aquele vermelho acabou esmaecido pra mim... E não foi por causa das corrupções existentes ao longo do seu Governo (cujo estardalhaço são a pauta do dia: infelizmente, Política se faz com governabilidade e tais práticas vêm de longas datas...), nem pela certa decepção com o fim daquela boa "ideologia esquerdista" (ainda tenho o Lula em alta conta): o que me doeu profundamente, e me fez arrancar a estrela do meu peito para sempre, foi a aliança e a amizade com Sarney e Roseana, os maiores tumores do meu paupérrimo estado há 5 décadas...

Cores, direções e desapontamentos à parte, faltando cinco minutos para as 17 h ("No meu, faltam 2 minutos..." e "No meu já são 5 horas!" eram o que tripudiavam os mesários fanfarrões em meu desfavor - "Até a urna se encerrar, ainda posso votar!"), votei na opção que tinha pela mudança do atual quadro político de São Luís, dominado por uma raposa velha dos tempos da Ditadura Militar e cria de Sarney... Coincidentemente, a esperança, apesar de evangélico e de algumas ideias conservadoras (PTC, um desses partidos nanico-cristãos), é jovem, adotou o vermelho e foi largamente apoiado por um mestre "comunista" (do PCdoB) - e venceu as eleições!

Viver sem esperança não é viver - e ficar a apontar o dedo para todos os "políticos ladrões" não se converterá em solução para os problemas que enfrentamos diariamente em sociedade. Voltei para a casa com a camiseta vermelha com motivos infanto-juvenis bem suada (esta ilha maranhense anda muito quente... E nem falo das baixarias que o outro candidato, coincidentemente, do PSDB, andou aprontando no cenário político local, louco para se reeleger aos 75 anos), abracei minha filha linda de 2 anos e 5 meses e fiquei a conjecturar: se as regras de mercado e de governabilidade impuseram à Esquerda marcas esmaecidas de sonhos ideológicos de outrora, quais serão as cores que ainda tremularão quando minha menininha estiver em idade de poder votar... Só espero uma coisa: que sua empolgação pela Democracia não esmaeça jamais - e que ela saiba votar, tal como o pai dela sempre procurou fazer!

                                     

sábado, 20 de outubro de 2012

Dia do Poeta


Certa vez escrevi um dos meus poemas mais queridos, Indolente: "Alma poeta, coração vagabundo, mente doentia/ Que me permitam a paz de continuar a escrever/ E a esconder-me sabiamente por trás de minha poesia". E foi isso: três versos bem construídos numa interessante ideia concisa, quase que numa apresentação poeticamente livre de alguém que, mesmo sentindo-se poeta, jamais criou maiores pretensões em torno dos seus versos, desejando só e tão somente a liberdade de seguir por trás das muitas imagens que um poema pode garantir...

E hoje me dizem que é dia do poeta. E eu me pergunto se é meu dia. Tal como me perguntei se na última segunda merecia qualquer encômio por ser professor. Afinal é tudo tão efêmero e acabamos antes mesmo de sermos qualquer coisa ou qualquer um. Mas as pessoas acabam por me lembrar, a qualquer momento, "hoje é teu dia" - no que eu, humildemente, apenas agradeço, sem saber direito qualquer coisa a respeito do dia de amanhã...

Sou um mero artesão das palavras: trabalho-as, porque amo o ofício, seja arranjando-as nos versos de um poema, seja montando-as nos parágrafos da prosa de uma crônica, de um conto, de um ensaio... Os outros é que me dizem sempre alguma coisa sobre o trabalho pronto, porque eu, como artífice, só sei enxergar o trabalho pronto, amando, simplesmente, o fato de tê-lo aprontado e deixado ali, à mostra de quem passar...

Porque a Poesia é algo muito maior e se encontra ao largo, ideal, inaudita e austera, em tudo em volta. É arte plena em movimento constante. E o poeta, parece-me, é o grande intermediador entre aquele mundo e o de cá, com o seu bem dizer oportuno e sensibilizado, traduzindo aquele dizer maior. Um artista, na melhor acepção da palavra. Eu sigo artesão, efêmero, batendo palma para a Poesia e seus poetas mais perenes...

Só me resta escrever... Ou, como diria o samurai malandramente poeta, "Não discuto com o destino: o que pintar eu assino"!

Infeliz Eternidade

Sofro na constância
De reiteradamente
Romper e nascer
Poesia já velha.

Cresço a escrever
Sem ler
O que é poetizar

Morro e renasço
Nas cinzas
De meu poema de pó

Pareço-me com um poeta
Pelos versos que imito
E pelas linhas tortas
Que do mundo copio...

(Dilberto L. Rosa, 2004)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

E viva a criança brasileira!

Se eu mostrasse à minha doce Isabela, hoje com 2 anos e 4 meses, figuras mundialmente conhecidas como o Mickey, o Pateta ou o Pato Donald, até pouco tempo atrás ela não teria a menor ideia de quem se tratava! Hoje, graças a uns livrinhos de historinhas com as famosas Princesas da Disney e a um jogo americano com a Gatinha Marie, esse quadro já mudou um pouco... Mas, desde bem cedo, eu jamais precisei sequer apontar algumas figuras para as quais, de longe, minha garotinha já acenava, tremendo-se de alegria, anunciando seus nomes bem nacionais:
Pexonaaata! Gainhaa Pintinhaaa! Patatáááá! Cocoicóóó!

Confesso sentir um gostoso orgulho de ver isso acontecer, uma vez que minha infância não possuía quase nenhuma referência nacional para a criançada a não ser o Sítio do Picapau-Amarelo e, posteriormente, o Balão Mágico, na Globo, e os Quadrinhos ou alguns desenhos em vídeo da Turma da Mônica. Nada contra a minha gostosa memória afetiva em torno dos super-heróis estadunidenses e dos personagens Disney dos meus adoráveis anos 80 (aprendi a ler com as revistinhas do Pato Donald!), e longe de mim qualquer xenofobismo - minha menina também é cercada pelos canadenses Backyardigans, pela "latino-norte-americana" Dora (com quem até se parece bastante...) e pelos adoráveis ingleses Pocoyo (cujos pulinhos, ultimamente, ela não para de imitar) e MisterMaker (com quem ela aprendeu as formas!)! Mas não há nada melhor que ver coisas diretamente ligadas a sua cultura fazendo sucesso e gente do seu próprio idioma crescendo profissionalmente, juntamente a seus filhos, com trabalhos bem feitos e que já viraram febre entre os menores, desbancando mesmo medalhões globalizados há décadas...

Melhor ainda quando alguns desses personagens o próprio pai já conhece há bastante tempo: é o caso da turma do Cocoricó, da TV Cultura, que, mesmo já grandinho quando do seu surgimento na TV, acompanhei muito daqueles deliciosos programas infantis cheios de canções inteligentes (a maioria de autoria do mestre Helio Ziskind) e de referências ao bom viver do campo com seus personagens inesquecíveis  Júlio, Zazá, Alípio, Mimosa, Vovô... Que, com o passar do tempo, foram ganhando a companhia de tantos outros, que, hoje, são citados pela minha menininha com a maior facilidade ao ver e rever seus programas  ela mesma, muitas vezes, não dorme sem ouvir a "Música do Porquinho" Astolfo:  "E se meu brinquedo caíííísse..."!

Mas a coleção de agarradinhos da turminha do paiol têm uma "rival" à altura no coração da minha pequena: se as galináceas Lola, Lilica e Zazá são adoradas em suas cores vivas, o que dizer de uma outra galinha azul e cheia de pintinhas? Fenômeno infantil legitimamente nacional e livre das antigas amarras de insuportáveis Xuxas midiáticas e suas discípulas oportunistas, a Galinha Pintadinha entrou meio que sem querer no mercado de vídeo infantil e, já em seu volume 3, conta com milhões de DVDs e Cds vendidos - afora um universo de produtos licenciados, tais como xampus, lancheiras, mochilas, brinquedos... Viva a Galinha Pintadinha, animação simples e bonita por sobre clássicas cantigas infantis, cujo primeiro DVD foi dado pela vovó-madrinha, minha mãe Dilena, que iniciou minha filha neste "vício", e cujo álbum de figurinhas virou quase uma adoração não só para a filha, como para a própria mãe Jandira, viciada em trocar figurinhas do álbum da Pintadinha com as outras mães do condomínio!


Mas nem só de galinhas vive o mercado nacional: correndo por fora (ou seria melhor "voando"?) tem um peixe agente secreto que, graças a seu traje especial voador, mistura de escafandro e roupa de astronauta, transita livremente debaixo d'água e acima da terra, ao lado de Marina, uma garotinha, e de Zico, um macaco, dentre outros amigos no "Parque das Árvores Felizes" (bem inspirado pelas lindas paisagens cariocas/brasileiras)... É o Peixonauta, produção genuinamente brasileira da TV Pinguim lançada em 2009 em parceria com o canal Discovery Kids e que, tal como sua amiga penosa, já possui uma interminável leva de produtos licenciados e uma legião fãs pequeninos - bem, no meu caso, nem tão pequeno assim... Afinal, para a minha menininha ver algo, gosto de acompanhar sempre que posso, vendo a qualidade do que está sendo exibido e, por isso, muitas vezes, acabo ficando fã: "Olha a POP, filha: vamos bater palmas para abri-la?"

Falando nisso, ela e eu descobrimos juntos esse adorável peixinho brasileiro por meio de outros maravilhosos personagens igualmente brazucas: antes mesmo de assinar TV a cabo e ter o DiscoveryKids ou o Nick Jr. 24 horas por dia à disposição (mas, claro, com controle de horas/dia para a filhota assistir), Patati e Patatá, adorável dupla de palhacinhos coloridos ressuscitados pelo Silvio Santos num programa de muito sucesso, Carrossel Animado, já dominavam a metade das manhãs da gurizada e começavam suas atrações com o adorável peixinho agente secreto, bem na hora do acordar da minha garotinha...


E hoje, no dia das crianças, não poderia ser diferente: o presente da filhona foi o "Painel Mágico" da Galinha, com todos os seus ímas, letras e números que tanto já fascinam Isabela 
   bem, admito que terei que trocar o brinquedo amanhã, tamanha a má qualidade de muitos elementos integrantes (inclusive a própria lousa, que veio com graves defeitos e empenamentos)... Reflexo da ainda incipiente qualidade técnica da nossa indústria emergente e incapaz de acompanhar o ritmo do mercado infantil?! Não saberia dizer... Só sei que acompanho este universo infantil 'made in Brazil' e me pego feliz, contemplando minha filhota pela casa com o seu "carrinho de compras" 'Pag Lev' cor-de-rosa cheio de agarradinhos e de DVDs do Cocoricó, com seu bonecão do Patatá na prateleira do quarto e com os DVDs da Galinha já enfileirados ("É pra escolher só um, senão você fica o dia nesta TV, ouviu bem?!") aguardando o fim da exibição do Peixonauta na televisão... É... Bons ventos nacionais, vida longa e próspera ao mercado infantil 'made in Brazil'! Minha filha agradece por essa boa brincadeira... E viva a criança brasileira!


sábado, 6 de outubro de 2012

"Festa da Democracia":
Saúde, educação, emprego e renda...


É festa! Todos se irmanam para falar mal dos nossos representantes políticos, sendo que a grande maioria sequer se lembra em que votou nas últimas eleições! Tudo é proibido (boca de urna, bebida etc.), mas, ao mesmo tempo, tudo é permitido (boca de urna, bebida etc.)! O clima carnavalesco toma conta das ruas e, por conta do seu local de votação, aquele mesmo que você nunca trocou porque não teve tempo de se lembrar, torna-se uma desculpa para dar uma passadinha na casa da mamãe, ali pertinho...

Aqui em São Luís ainda há resistência ao domínio do Coronel Bigodudo e seus candidatos, que, desde meados da década de 80, jamais sequer ameaçaram alguma expressividade de votos. Apesar disso, não estamos lá muito bem servidos de opções neste pleito: entre a dita "renovação" de jovens rostinhos evangélicos e as raposas matreiras de longas datas, o povo ludovicense, assim como o brasileiro de um modo geral, anda bastante descrente e confuso...

E o que dizer do voto para vereador? 30 segundos na tela da TV e panfletos, pôsteres, "bandeiraços" e afins a emporcalhar a cidade e a "vender" produtos de baixíssima qualidade... "Tens candidato para vereador?" "Não..." "Essa menina, pega o santinho do teu tio... Olhe, não é por ser meu irmão, mas ele é batalhador e 'tá precisado dessa boquinha..." - e assim se propaga a consciência política!

Só nesta ilha há, para o pleito 2012, 681 candidatos concorrem a 31 vagas na Câmara Municipal de São Luís... Para fazer o quê, mesmo? Afinal, a Câmara é um terreno de ilustres desconhecidos para a esmagadora maioria de ludovicenses, diante do muitas vezes apático e reduzido volume de trabalho de um vereador, com atribuições bem espremidas em relação aos seus "vizinhos ricos" da Assembleia Legislativa... Mas vamos lá: renovar é a ordem! Entretanto, na lista de todos os candidatos à cadeira do Legislativo municipal deste ano, segue o mais do mesmo: uns debochados; outros poucos sérios; e a grande maioria formada de aventureiros que não merecem sequer atenção... Uns visando o bom salário de mais de quase 10 mil reais líquidos; outros com boas intenções ideológicas em relação a mudar os rumos políticos da Cidade; mas a grande massa atrás apenas de "algo mais", numa "profissão" para uma súcia que não para de crescer, ano após ano...

E segue a festa da democracia: algo falsamente animado, cuja ressaca se amarga nos quatro anos seguintes... Afinal, esse povo todo só se reunirá de novo, em sua maioria, para falar mal dos políticos daqui a dois anos... Ou, então, para celebrar as festas do pão e circo de algum megaevento pago com o dinheiro público!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Setenta Tim



Vai, Tim: canta pra mim aquele baião de dois com rock e funk dos Isteites que só tu sabes fazer! Porque és coronel - e, se o Tio Sam ou os generais não o querem bem, nós queremos, Tim, de corpo e alma lavada e sem motivo, que a semana inteira foi complicada só pra terminar assim: dançando e melando o sovaco no embalo solto da vitória-régia ou juntinho, no "mela-cueca" da dança com uma linda mulher num salão onde vale tudo (na seca, sem chá,café ou chocolate)... Mas és maior que isso, Tim, bem o sabes (e teus estrelismos sem nexo, teus pitis fora de hora e teus furos depois das alturas não me deixam mentir!)... E, se do flerte com o Rei e suas guardas não brotou o que merecias, foi com o nada racional uso da tua genialidade que a gente viu que chiclete com banana caía bem! E tome samba-soul suingado, gospel-intergaláctico careta (disco incrível...), xaxado com levada negra norte-americana... Só tu mesmo, cabra da peste tijucano preto, gordo e malucão!

E os teus, da geração pós-guerra e paz-amor-e-álcool ou drogas (eles tinham meio-termo, seu puto!), todos chegaram aos 70... E tu? Hoje chegarias... Mas querias sossego! É, você é mesmo algo assim e seus altos e baixos esperam aqui em cima pelo teu retorno no palco (onde foste visto pela última vez), síndico do Brasil: setenta neles, Tim!




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crônica de Uma Morte Encomendada





Crônica de Uma Morte Encomendada


Tenho o peso de todas essas almas
Acorrentadas às minhas costas
E só consigo pensar em seus olhos de ressaca
A me olharem com a boca entreaberta


Sobre um velho colchão afundado com o peso da minha alma funda
No quarto sujo de um hotel
Nos cafundós de uma cidade quente, porém melhor que eu,
Rabisco seu nome como um colegial
Que acabou de ofertar-lhe flores roubadas
Às escondidas


Quisera dizer-lhe onde estou
Quisera acender-lhe uma vela derradeira pelas tantas almas enredadas
E beijar-lhe a boca, ao final
De outro alvorecer
De mais uma morte encomendada


(Dilberto L. Rosa, 2004)

sábado, 8 de setembro de 2012

400


"Foi bonita a festa, ó, pá": um amplo terreno do parque da Lagoa da Jansen tomado pelos palcos e pronto para receber milhares de pessoas na multimilionária campanha de shows promovida pelo Governo do Estado em comemoração ao aniversário de São Luís (Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Zeca Pagodinho e outros bambas de cachês exorbitantes). Eu, que sempre amei os passeios a pé em longas distâncias (afinal, só se conhece uma cidade caminhando-se por ela) e tanto já namorei por entre as estreitas vielas e à sombra de sobradões centenários, a sorver a magia romântica destas paragens, hoje fiz apenas um breve passeio de carro com a família para ver a multidão que já se formava na Lagoa para ver Roberto Carlos de graça - na verdade, às custas dos nossos suados impostos...

Mas às favas, uma cidade não faz 400 anos todo dia: então, se Roseana arrasava quarteirões com o seu circo milionário de artistas, o prefeito Castelo promovia o "pão" com seus 400 metros de bolo e uma virada cultural com artistas locais! Pois que, se a do Bigode inaugurou apenas um trecho de uma badalada avenida prometida há anos como "presente" para a aniversariante, a velha raposa matreira e "ixpiriente" também podia entregar apenas uns 500 metros de trilhos construídos de forma duvidosa e às pressas, plantar um lindo vagão de metrô de superfície para ficar oxidando à beira-mar e bradar no horário político de sua reeleição que "o novo sistema de transporte do VLT é uma realidade em São Luís"! Saúde, educação, obras de infra-estrutura mais do que urgentes...? "Não foi possível..." Quem sabe nos próximos 400 anos?

Mas "amo tanto e, de tanto amar, acho que ela é bonita"... E, tal como na canção do poeta-mor da MPB, não dá para enxergar só mazelas de uma histórica cidade tão cheia de encantos - afinal, São Luís é seu povo resistente e sua rica cultura de 4 séculos, tão viva e pulsante em sua Upaon-Açu preta e branca (mais preta do que branca, saravá), em meio a pesados tambores e a insinuantes 'reaggaes', transitando tão levemente entre o Sagrado e o Profano e entre o Passado e o Futuro, que, vivendo o seu dia-a-dia, facilmente se percebe que ela é muito maior do que os seus exploradores vis ou seus representantes políticos pútridos! Porque aqui, nesta agradavelmente quente fronteira entre o Norte, o Nordeste e o Oceano, à espera de Dom Sebastião para nos redimir, predomina o vento constante nas palmeiras dos sabiás e na bunda do boi que balança em seu miolo, tudo com o dormente clima de província, tanto no seu aspecto negativo, de arraigadas práticas reacionárias, como no lado de "paraíso perdido" do lado de baixo do Equador, aonde a violência e os grandes problemas citadinos ainda não conseguiram invadir aos borbotões (com certeza, encalhados no nosso protetor Boqueirão)...

Raimundo Correa, os Irmãos Azevedo, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzzi, Odylo Costa Filho, Nauro Machado: todos esses são de São Luis! Não é de se admirar que esta Ilha seja um grande berço de Poesia... Aqui há lixo e esgoto ao léu, praias impróprias, Educação e Saúde completamente abandonadas e buracos mil... Mas aqui também tem um magnetismo que não se acha em mais nenhum lugar desse Brasil - e nisso o Tribuzzi estava certo, só devendo ser atualizada a sua "Louvação a São Luís" com o verso Ó, meus governantes, deixem-me viver e mais nada/ que eu quero aprender a Poesia desta Ilha encantada... Feliz São Luís!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

"Artes em Geral"...

Pôr-do-sol no Canto da Fabril, ladeira da Venceslau Brás (2008).

Apesar de fazer referências à Arquitetura e à Música como artes primordiais da evolução humana na obra Psicologia Musical das Civilizações (1908), curiosamente Ricciotto Canudo não incluiu a arte do edificar no seu mais famoso Manifesto das Sete Artes (1911/1923) - sim, o Cinema não é chamado de "Sétima Arte" à toa, uma vez que, no início do Século XX, aquele italiano catalogou em sete as artes existentes (Música, Dança, Pintura, Escultura, Teatro e Literatura), posicionando, no último lugar, a então recém-surgida cinematografia...

E antes que o meu querido blogueiro de plantão abandone esta leitura, temendo encontrar por aqui outro texto longo, complexo ou mesmo chato, tal como o de algumas últimas postagens fracassos recentes de público, um aviso: na verdade, trata-se apenas de um prólogo para abordar as duas artes desprezadas pela esmagadora soma de votos da última enquete (total de 8 votos, na verdade...) aqui nos Morcegos: quando perguntado na última postagem "O que não pode faltar nos Morcegos" (veja resultado completo abaixo deste 'post'), nenhum visitante escolheu "Artes em geral: Quadrinhos, Fotografia etc.", preferindo matérias sobre o tão querido e popular Cinema,  opção  mais votada - vitória da sétima, mais popular especialmente pela Indústria norte-americana, em detrimento da oitava e da nona artes...

Sim, pois que, com o tempo, outras artes foram "adicionadas" aos pensamentos do referido manifesto e, ainda que a Fotografia tenha surgido antes do Cinema, só foi "lembrada" depois, sendo normalmente aposta como a oitava arte - ou seja, a ordem das colocações não passa, necessariamente, pela sequência do surgimento de cada uma delas... Outras manifestações, como as artes visuais digitais (incluindo até mesmo as programações dos novos videogames, muitas com trilhas sonoras sinfônicas e trabalhos de atuação de dubladores para os personagens), já são informalmente inseridas nesta lista, sem muito critério ou cerimônia...

E eis que uma imagem tirada em família fez bastante sucesso entre amigos no Facebook neste mês de agosto que se finda: usando como capa da linha do tempo do meu perfil pessoal naquela rede social uma foto, de junho de 2011, onde apareço de costas, com Isabela nos braços à beira do mar (Praia do Araçagi), mostrando a ela os navios a caminho do Porto de Itaqui - foto escolhida sem maiores pretensões além de homenagear o mês dos pais - aquela imagem foi vista e comentada por muitos como uma "ode poética" à relação pai-filho, onde estaria mostrando à minha garotinha linda o mundo e "ensinando-lhe sobre a vida"... Tudo isso retratado numa simples câmera 'point-and-shoot', sem nenhum daqueles efeitos mágicos de luz das máquinas profissionais, o que traz à tona a arte por trás do retratar: houve algo a ser dito, ainda que não intencionalmente, aquele instante clicado se eternizou não só para o fotógrafo (no caso, Jandira) como para qualquer um que vivenciasse aquela experiência sob suas próprias impressões! No caso, talvez eu só tenha sido ajudado por uma poesia inerente ao preto-e-branco em que salvei a imagem...

O certo é que nossas praias ludovicenses andam bem distantes da poeticidade capturada naquela foto (vide abaixo): a não ser pela quase fidelidade do tom cinza das águas (como São Luís é voltada para o continente, nosso mar sofre influência de muitos bancos de areia e de poucas algas), nosso litoral anda bem sujo e, o que é pior, agora oficialmente poluído e impróprio para banho... De um modo geral, às vésperas de a cidade completar 400 anos no próximo dia 08, pouca é a Poesia que resta para ser retratada - o que eu, de teimoso, clico de vez em quando, como na foto que abre esta postagem: um poético pôr-do-sol, próximo a meu antigo escritório, registrado pelo meu celular (de poucos 'pixels' de precisão)!

Já sobre Quadrinhos, não ando querendo falar muito, não: grande admirador de gênios como Eisner, Crumb, Sacco, Manara, Moebius, Mutarelli, Laerte e outros bambas, sigo desanimado com as poucas opções do momento para os colecionadores (edições encadernadas de grandes personagens ou histórias clássicas, por exemplo) e ainda me pego caindo na esparrela da curiosidade sobre o que a DC Comics andou prometendo como "revolução", recomeçando do zero a contagem de todas as suas edições recentes - vejo tudo como mais uma farofada promocional para atualizar heróis eternos que não deveriam passar por tanta reformulação (ainda bem que deixei de acompanhar faz tempo, comprando só ocasionalmente algumas coisas)... Mas, afinal, quem precisa de HQs de renovados personagens de collants espalhafatosos quando se pode ser o super-herói de sua filha numa simples praia (poluída) maranhense? E, o melhor: num artístico e poeticamente eternizado mundo em preto-e-branco perdido no tempo...

Isabela, com 1 ano de idade, contemplando o mar e o horizonte no meu braço (2011).

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Molduras


Cansei-me dos amores emoldurados
Cansei-me das amizades cansativas
Cansei-me do mais antigo cansaço
Cansei-me antes mesmo que me digas
Que estás cansado

Cansei-me da repetição, feito cantiga
Cansei-me dos poemas mais amargos
Cansei-me mesmo da vida e deste poema antes mesmo de ele ter começado

Mas, à morte, a poesia é mesmo assim:
Por mais cansado que eu esteja
Um poema, não me cabe guardá-lo...

(Dilberto L. Rosa, 1999)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Miscelâneas...


Há muito tempo, não consigo precisar o número de anos passados (tenho dificuldades com isto), existia um espaço virtual coletivo que reunia um grupo de blogueiros para, diariamente, apresentar um texto de cada um dos seus integrantes, sobre os mais diversos assuntos, de acordo com o gosto e o estilo do redator do dia - equipe para a qual fui convidado já quase no final da existência daquele 'blog', que acabou assim, do dia para a noite, com a completa extinção do referido espaço da internet, juntamente à extirpação de todos os textos dos seus redatores (apenas com um comunicado, via e-mail, aos integrantes, que tudo se acabara, mas sem apresentar nenhuma razão - a dona da ideia, administradora da coisa toda, parecia ter surtado ou algo assim)... Seu nome era Miscelânea S/A, bem apropriado para um certo modismo da época, quando eram mais comuns 'blogs' coletivos (alguns sobreviveram até hoje) falando de uma saraivada de temas do agrado de cada integrante: Política, poemas eróticos, críticas e resenhas de Cinema etc.

Num breve exercício de análise, ao longo destes 8 anos de existência, os Morcegos apresentaram um pouco de tudo das tais "Artes em Geral" do título, porém, muito autocrítico, de certa forma sempre lutei para que este dileto espaço virtual não se tornasse uma "miscelânea", tamanha a enorme diversidade dos temas... Entretanto, tudo até hoje por aqui me pareceu costurado pelo universo 'pop', que permeia o estilo do 'blog' ao misturar assuntos tão díspares, de ensaios político-sociológicos a históricos de personagens em Quadrinhos, dando-lhes certa "liga"... E, ainda que certos textos "viajem" por muitos e variados temas numa só postagem, creio ser tudo muito "personalíssimo", a depender dos "arroubos literários" da intenção de cada crônica: "os escritos têm vida", costuma-se dizer por aí entre os escrevinhadores habituais...

E tantas variedades acho que acabam "ajudando" aqueles mais "tímidos" na hora de deixar um comentário: com tantos assuntos, dificilmente o visitante não terá um tema da sua predileção para deixar suas impressões - mas haverá quem diga que atrapalhe... De qualquer forma, quando voltei à blogosfera neste mês após meu autoexílio anual, depois de muito refletir sobre o assunto, decidi por retirar o espaço dos comentários dos Morcegos, mesmo isto significando o fim de uma maior interação com meus queridos blogueiros de plantão... A ideia me sorriu depois de uma espécie de "cansaço" com o passar dos anos: com cada vez menos tempo de visitar os vizinhos virtuais ("visite para ser visitado" é um dos lemas da blogosfera, nem sempre cumprido à risca...) e exausto de praticamente pedir "passando o pires" para alguns amigos, reais ou virtuais, a fim de uma visitinha e um "não se esqueça de comentar" - afora aqueles fanfarrões que, sequer lendo os suados textos, só deixavam um singelo "passei por aqui; passa depois no meu" (seguindo a máxima já mencionada) -, optei por não mais criar tantas expectativas quanto ao tema "comentários", bastando-me excluir o espaço correspondente a eles do 'blog'!

Qual não foi a minha surpresa quando, já na primeira postagem, começaram a surgir as reclamações! E foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos (até de quem não costumava comentar, sequer apagava a luz quando saía do 'blog'!), que dominei minha ideia fixa anterior após a constatação final de uma enquete lançada neste espaço (17 votos a 3 quanto ao retorno da polêmica caixinha de comentários)... E, nesta espécie de "postagem especial" em "celebração" a tal "retorno", não poderia eu mesmo deixar de comentar sobre todos estes prolegômenos...

Assim, se o querido blogueiro de plantão ainda não estiver enfadado com a excessivamente autoanalítica postagem até aqui - mimetizando o estilo dos diálogos metalinguísticos do Mestre Machado de Assis, um grande escritor interativo numa época em que nem se sonhava com internet) -, acho que já é hora de partirmos para a "miscelânea" do dia, tal a soma dos muitos assuntos deste agosto de muitos temas e de pontas para inúmeras vertentes de comentários... Mas calma: num parágrafo apenas os Morcegos darão um breve rasante sobre tudo! Afinal, diante de tantos centenários ou outras celebrações quase seculares, nem temos fôlego mais para tantos vôos: teria que viver de blogagem para tanta homenagem - e passar outros 100 anos falando de todo mundo...!

Afinal, só neste mês, temos tantas datas especiais, que fica difícil abordar tudo num 'post' só... Como o de hoje, do majestoso cruzmaltino Gigante da Colina Clube de Regatas Vasco da Gama, que completa 114 anos de fundação (será que ainda sai título nesse ano?!) e o de 100 anos do multimidiático Tarzan, lançado como personagem de Literatura em 1912. Isso sem mencionar as saudosas datas de memórias: Alfred Hitchcock (nascido há 115 anos e tema da nossa última postagem), Elvis Presley (morto no ano em que nasci, ou seja, há exatos 35 anos - e tema de homenagens na fanpage dos Morcegos no Facebook) - de quem não sabia muita coisa até mais ou menos 1989, quando o querido Raul Seixas se foi, mas não sem antes me contar e me ensinar muita coisa sobre o Rei e seu legado magistral por meio de súditos como ele próprio, o genial Maluco Beleza... Sem falar no maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, que também era vascaíno ("Não digo que sou um vascaíno doente, pois doente é quem não é vascaíno") e nos deixou há 25 anos com bem menos Poesia, e sem poder esquecer o centenário do "Anjo Pornográfico" Nelson Rodrigues, o mais adorável "reaça" das nossas letras, com suas frases mirabolantes e textos (crônicas, peças de Teatro, contos) contestadores dos paradigmas familiares com suas taras intermináveis... Isso sem falar no aniversário de Euclides da Cunha, da morte de Getúlio Vargas...

Sem dúvida, um samba do crioulo doido (ou seria melhor "rock"?) juntar tantas vertentes, artistas, datas comemorativas e paixões desportivas - "Toca Raul...!" gritaria em alto e bom som se houvesse uma enquete (a propósito, tem uma nova ao final desta postagem) para homenagear alguém específico deste agosto do cachorro louco... Por isso, bom mesmo é revisitar os textos nos 'links' correspondentes, uma vez que este humilde espaço virtual já falou de quase todos e hoje prefere falar sobre "o nada"... Porque, uma vez preso a uma vida virtual de 8 longos anos, não serei eu o poeta de um mundo caduco, e, por isso, sigamos de mãos dadas, como diria o poeta-mor - mas hoje envolto em maior e maior interatividade virtual... Pois, se pra fazer sucesso hoje tem que reclamar (viva Raulzito), também entrei nessa jogada de Facebook e vamos todos juntos a compartilhar...

De qualquer forma, como os Morcegos andam cansados (e sempre atarefados...), mal comentando nos 'blogs' amigos, jamais fariam parte de um "time" novamente - vide os fracassos da "Família Morcegos" e do próprio Miscelânea S/A! Mas perambular pelas artes em geral e delas extrair uma gostosa garapa 'pop' com Poesia e uns acordes precisos um bom rock'n roll seguem sendo a tônica dos escritos por aqui - e, agora, de volta aos comentários, como diria aquele poeta: "Que sobre poesia/ Sobre tudo/ Sobretudo/ Sobre todos"...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

13 de agosto:
115 Anos de Alfred Hitchcock


Recentemente, a revista inglesa Sight and Sound, do Instituto Britânico de Cinema, como costuma fazer de 10 em 10 anos, publicou mais uma de suas enquetes sobre os melhores filmes de todos os tempos e, para surpresa geral, após mais de 50 anos de hegemonia de Cidadão Kane no topo da lista, eis que Um corpo que cai assume, pela primeira vez, a ponta (saiba mais lendo aqui e aqui)! Nenhum demérito à obra-prima absoluta e inovadora do genial Orson Welles (que ainda acho superior ao clássico Vertigo, apesar de este seguir como um dos meus favoritos), somente uma constatação "atualizada" de que a obra de Alfred Hitchcock, cujo nascimento, há exatos 115 anos, celebra-se hoje (nada mais "apropriado" para o mestre do medo: 13 de agosto!), continua excelente e será sempre digna de novas revisões...

Apesar de inglês e de ter começado sua carreira na terra da Rainha, meu primeiro contato com este genial diretor foi com o seu primeiro trabalho nos EUA: Rebecca - A Mulher Inesquecível não me apeteceu de cara, dadas algumas de suas feições afetadas e teatrais comuns a uma boa parte das produções norte-americanas da época, só vindo a ver as qualidades daquele filme anos depois, quando pude perceber o artista por trás daquele formato 'mainstream'... Noutras palavras: Alfred era tão genial que conseguiu fazer um ótimo filme sem desagradar os modelos convencionais que o Cinema estadunidense queria ao lhe dar as boas vindas ao Novo Mundo! Rebecca levou o Oscar de melhor filme, mas o diretor por trás do espetáculo acabou injustiçado, sem premiação - curiosamente, ele não só jamais levaria o prêmio da Academia, como também nem um outro trabalho seu ganharia novamente como melhor filme...

Entretanto, com o grande sucesso inicial em terras ianques, Hitchcock espertamente acabou por estabelecer um "modelo" para seus próprios filmes: com tudo em estúdio para ter mais controle (especialmente quanto à sempre excelente fotografia, com raras filmagens em locações), trilhas sonoras inesquecíveis (o magistral Bernard Hermann foi o seu principal colaborador, criando para o mestre inglês grandes "hinos" do Cinema, como os violinos estridentes de Psicose ou a pulsação vertiginosa de Um corpo que cai) e elencos sempre muito bem dirigidos (que, dizem as más línguas, especialmente as das atrizes com quem trabalhou, o diretor tratava como "gado"), foi muito além do subgênero Suspense, do qual se tornou um símbolo, para explorar outras faces da Comédia (O Terceiro Tiro e Interlúdio: sofisticado), do Drama ("O Homem Errado", baseado em história real, com o ótimo Henry Fonda), do Terror (Psicose e Os Pássaros) ou da Aventura (Intriga Internacional e Topázio) - todos pontuados por uma inigualável técnica de contar histórias...

E, falando em histórias, difícil falar de Hitchcock sem mencionar seu lado multimídia inovador na época: além do Cinema, o então já consagrado diretor transformou-se numa espécie de "marca" referente a Suspense e não só teve lançados vários livros de contos por si selecionados, com sua figura rechonchuda sempre a estampar as capas (tendo eu lido um deles, do qual não consigo lembrar-me agora o título, mas que me impressionou bastante aos 13 anos de idade...), como também apresentou uma bem-sucedida série televisiva, Alfred Hitchcock Presents, cujas tramas baseavam-se em histórias cheias de suspense e selecionadas, tal como se dava com os livros, entre vários autores literários do gênero - uma delas, considerada impraticável para a televisão da época, cativou o diretor/apresentador a ponto de querer trabalhá-la no Cinema por causa do potencial de um certo assassinato num chuveiro...

Longe de entregar as coisas com facilidade, Alfred Hitchcock sabia como poucos envolver o público em suas tramas: nada de chocar com a explosão de uma bomba; melhor revelar ao público sobre a bomba e nos tornar seus cúmplices diante dos personagens inocentes, sem saber de nada... Nada de mistérios ou sustos gratuitos, Suspense não é isso: "Interesso-me menos pelas histórias do que pela forma de contá-las", dizia o rechonchudo cineasta, com jeito bonachão, mas sempre com fina ironia e humor sarcástico muitas vezes incompreendido... Sem dúvida, um grande contador de histórias, com bom humor em cada detalhe, desde o excelente 39 Degraus, ainda na fase inglesa, onde manipulava, com bastante ação e humor, uma investigação de espionagem, até seu último filme, Trama Macabra, com um adoravelmente cômico time de escroques! "É inútil ver em mim intenções profundas; não estou nem um pouco interessado pela mensagem ou moral do filme - sou, digamos, um pintor de flores..." disse, certa feita, o mestre inglês, talvez autoparodiando-se por sua tradicional "veia comercial" - uma injustiça: poucos conseguiram imprimir marcas tão profundas nas telas, ainda que em trabalhos sucessos de público... Um exímio artista no antigo sistema de estúdios, num popular, porém criativo, Cinema de autor!

Como esquecer, por exemplo, a viagem pelo apartamento (e pelo brilhante jogo de diálogos entre os personagens assassinos e seu professor) da câmera-personagem de Festim Diabólico - fiquei embasbacado quando vi pela primeira vez num antigo Corujão da Globo, procurando o próximo "corte" de edição (tudo foi filmado continuamente, com cortes quase imperceptíveis somente para mudar o rolo de filme)? Ou o nada discreto cenário visualizado pelo fotógrafo 'voyeur' acidentado de Janela Indiscreta, que, do seu apartamento, fica confabulando mil teorias sobre os vizinhos que acompanha por meio da sua teleobjetiva? Ou ainda os sufocantes ataques de Os Pássaros, naqueles incríveis efeitos especiais? Impossível... Se hoje a maioria dos jovens só conhece sustos e horrores explícitos cheios de sangue nas telas, escorria um singelo achocolatado na banheira de Psicose ao final da famosa cena do esfaqueamento no chuveiro - detalhe: o impacto da cena ainda hoje é grande, mas não se vê uma perfuração sequer!

E o que dizer do filme em questão, Um corpo que cai (Vertigo)? Um James Stewart inspirado, num dos seus melhores trabalhos como o policial aposentado por sofrer vertigens de acrofobia e que é contratado por um amigo para uma estranha investigação; uma Kim Novak nunca antes tão linda e sedutora em seu "papel duplo"; um mergulho psicológico no amor e no medo humanos, bem como a obsessão por algo que não se pode ter; o desejo ambíguo entre o real e o imaginário; o suspense misturado a doses de terror entre o real e a possibilidade do sobrenatural; um final impactante que já entrou para os anais da História do Cinema mundial; uma San Francisco onírica, uma trilha inesquecível (Hermann outra vez)... Tantos elementos reunidos resultaram no trabalho mais completo de Hitchcock, não à toa sempre lembrado em qualquer lista dos 10 melhores de todos os tempos! Já quanto a ser o primeiro, a desbancar este ou aquele filme, considero questão muito pessoal, que foge a uma racionalidade etérea de um "pódio" seguro... Eu mesmo tenho os meus 50 melhores (lista na qual Vertigo figura em 9º lugar) e muitos diretores famosos têm os seus critérios para os seus favoritos (confira aqui os "Top10" de cineastas como Woody Allen, Martin Scorcese e Quentin Tarantino)! De qualquer forma, o fato de Hitchcock galgar a primeira posição só mostra o quanto sua obra é perene e segue admirada até hoje...

Fato: ele nunca levou um Oscar para casa... E, justamente por este prêmio ser quase um sinônimo para grandes injustiças, Alfred Hitchcock, apesar de morto há mais de 30 anos, segue incólume e indiferente a isso como um dos maiores mestres da Sétima Arte, na mente assustada de milhões de admiradores de sua Escola... Prova disso é a escalação de uma de suas obras-primas ao posto máximo pela  famosa  revista inglesa! E, aos jovens baseados no sangue 'gore' ou nos sustos em alto Dolby Surround que ainda não conhecem o mestre inglês, talvez passem a saber de alguma coisa depois que assistirem a Hitchcock, cinebiografia sobre o diretor interpretada por Anthony Hopkins, prevista para o ano que vem... Que seja tão bom quanto Um corpo que cai (tarefa quase impossível!): quem sabe não passa a figurar como melhor filme daqui a 10 anos?


Onde está Alfred? Marca registrada em seus trabalhos, os fãs aficionados sempre se divertiram em descobrir onde o diretor aparece ao longo de cada um dos seus filmes. E você? Sabe de todas as aparições do mestre? Confira neste 'site' e divirta-se!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

SuperBacana: Caetano faz 70 Anos!

Se Chico Buarque havia sido macho o suficiente para nadar contra a maré do rock que então surgia, compondo suas obras-primas em pérolas de um samba então esquecido, vindo a peitar, posteriormente, a Ditadura Militar do Golpe de 64 com suas "músicas de protesto", Caetano Veloso desmunhecava 'hippie' e seminu (ou mesmo completamente nu, como na capa de seu excelente disco, Jóia, com uma sugestiva pomba colocada posteriormente...), efeminadamente pungente numa censora sociedade, com suas guitarras tropicalistas ao fundo e proibindo proibir...

Ah, esse cara... Ele me foi "apresentado" por um cara "que se diz meu irmão" e, com o tempo, aquelas mil caras diferentes foram se tornando familiares para mim - "Por que esse Caetano faz tantas músicas difíceis?", no que Dilemberto às vezes me explicava corretamente, noutras inventava, da sua cabeça, acerca da origem deste ou daquele verso estranho ou cheio de referências... Meu primeiro contato? O cultuado disco Caetano Totalmente Demais  (1986), onde cantava "com o útero", como brincava meu irmão, clássicos como "Qualquer coisa" (demorei para entender aquilo...), interpretava, de forma única, clássicos de sua geração ("Amanhã", de Guilherme Arantes) e, de quebra, ainda me apresentava um gênio de gerações idas que, posteriormente, seria um dos meus ídolos, Noel Rosa (com "Pra que mentir"): inesquecível...

Depois, com um vizinho cujo padrasto era pródigo em comprar clássicos em LPs, conheci, com mais profundidade, a obra (quase completa) daquele gênio louco de Santo Amaro da Purificação (cujo lado "menino do interior" conheci depois, no ótimo documentário/show Circuladô Vivo). Nesta coleção, seus maiores sucessos vinham compilados numa edição luxuosa de um álbum com 9 discos, que incluíam minha então seleção completa de favoritas para uma fita K-7 - como eu gravei fitas com Caetano... Até com um dos seus trabalhos mais fracos, Tropicália 2, que tinha pelo menos uma genial, "Desde que o samba é samba". Minhas favoritas para gravar? "Coração Vagabundo", "Domingo", "Remelexo", "Avarandado" (todas oriundas de um dos meus discos favoritos, seu primeiro e mais bucólico LP, Gal e Caetano Domingo, de 67), "Tropicália", "Clarice", "No dia em que vim-me embora", "Alegria, Alegria", "Onde andarás" (do seu disco mais completo, Caetano Veloso, de 68), "Baby", "Panis et circenses", "BatMacumba" (de Tropicália, seu disco seguinte, aquele que inaugurou o famoso movimento...), "Irene", "Pipoca Moderna", "Eclipse Oculto", "Leãozinho", "Trem das Cores", "Muito Romântico", "O quereres", "Sampa"... Bom, talvez precisasse de mais que só uma fita K-7... 

E, como que caminhando contra o vento, Caetano sempre soube se reinventar: camaleônico, foi cosmopolita num mundo ainda longe da globalização e passou por clássicos italianos, espanhóis, e tornou clássicas velhas e esquecidas breguices geniais; como um estrangeiro, viu o carnaval da sua amada terra mais distante com a mais tropical das visões poéticas ("Atrás do trio elétrico", "Samba, Suor e Cerveja", "É Hoje"); e, hoje, um grisalho e bonito Caê, de voz mansa e com algumas modéstias (em meio às comuns arrogâncias geniais), equilibra uma vigorosa carreira em que sempre se inova - vide um dos seus últimos trabalhos autorais, (cujo show tive o prazer de ver aqui, no Castelinho), onde é impossível quedar-se indiferente às quase-adolescentes provocações de suas músicas irregulares, porém divertidíssimas! Um adolescente mesmo: anda agora só falando de sexo esse menino...

Li numa matéria recente que o cara não quer fazer alarde de sua bela nova idade, longe de desejar que seus 70 anos virem "um evento"... Evento foi ele nesta estrada: cineasta, apresentador, produtor, escritor, arranjador, compositor e cantor... E, para um SuperBacana como Caetano, um feliz aniversário: deixem-no cantar, que é pr'o mundo ficar odara e beleza pura... 

E por que não?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

OS MORCEGOS RESSURGEM:
Batman nunca morre...


O melhor do filme? As inteligentes ironias da Mulher Gato com vários mitos do Homem-Morcego, na bela atuação de Anne Hathaway.

Já disse isso em crônicas idas, mas sempre posso dizer outra vez: há na minha vida um pequeno marco especial que guardo com carinho, aquele momento em que cada um passa a "entender-se por gente" e as descobertas passam a ser algo corriqueiro num então recém-inaugurado processo de crescimento - este marco se deu para mim aos 12 anos de idade...

Naquele ano, no colégio, forjei meu primeiro grande amigo, que, por sua vez, mostrou-me o Cinema que conhecia: não a Arte que eu viria a conhecer depois, mais velho, a partir de Fellini, mas uma arte por trás do entretenimento mágico daqueles já clássicos anos 80. Assim, rapidamente, tornei-me amigo da galera do Dr. Venckman, de Marty McFly, do Dr. Jones, do policial Alex Murphy, bem como de Peter Vincent, Jason Vorhees, Freddy Kruegger... Ali descobri que Cinema era Magia e aquele aparelho de videocassete (até essa "aula" sobre o nome correto do equipamento aquele cabra que me explicou), comprado naquele ano por meu pai, terminou de me mostrar o quanto minha oclusa vida de estudante CDF um tanto quanto distanciado dos esportes poderia render-me longas viagens cheias de aventuras a mundos fascinantes na eternidade das costumeiras duas horas de uma boa fita...

Sim, o tempo passou e fitas são coisas históricas (apesar de guardar algumas, mesmo mofadas, para não enterrar de vez o passado...) e, se DVD já começa a ficar obsoleto diante dos aparelhos cada vez mais sofisticados de exibição, o que dizer de um mais do que obsoleto VCR! Mas, naquela época, dizer para um garoto de 12 anos que se podiam gravar os seus filmes favoritos era a glória máxima de tecnologia de que eu precisava... E o amigo? Ele me ensinou a gravar, editar os "plim-plins" (para que o filme ficasse com cara de uma coisa só, sem os comerciais da Tela Quente ou da Sessão da Tarde), a programar aquela "máquina" a gravar em horários madrigais, quais as melhores marcas de fita (que é, na verdade, o videocassete propriamente dito) etc. e etc.

E eu já conhecia os heróis: sim, já havia visto, pela primeira vez, aos 7 anos, Superman - O Filme, num longínquo Supercine de algum sábado de 1984. Mas, novamente, foi aquele meu amigo que terminou sua "missão" apresentando-me "o herói", aquele cara fantástico que, mesmo sem os poderes de um Homem-Aranha, que eu já havia visto aqui e ali nalguma revistinha que meu irmão mais velho comprara algum dia, ou os de um maravilhoso Super-Homem, "mudando como um deus o curso da história por causa da mulher" no inesquecível filme de 78, um homem normal também podia combater o crime com suas habilidades físicas e mentais e ainda ter o sombrio charme de um detetive atormentado: Batman, aquele famoso blockbuster dirigido por Tim Burton e com a famosa (e genial) trilha de Danny Elfman, fora a minha porta de entrada para descobrir o meu herói favorito. Corria o ano de 1989...

1990 chegou e, com ele, uma nova década de um Cinema de entretenimento (bem como uma Cultura como um todo) bem mais esvaziada de Magia, conteúdo e de qualidade, numa eterna sensação de reciclagem de tudo que já se havia feito nas artes até então, com raríssimas e honrosas exceções... Tanto que meu próprio herói favorito sofreu naquela época três filmes fracos e esquisitíssimos (especialmente pelo fato de eu já acompanhá-lo pelos Quadrinhos e saber bem que tudo andava mal na telona para o Homem-Morcego)! E meu amigo? Bom, meu amigo voltou para sua terra natal e perdemos por completo o contato...

Um pequeno salto no tempo. Em 2004, já em meu primeiro trabalho como advogado num escritório, depois de uma vida de poemas e crônicas perenes, porém sem uma constância precisa, passei a dividir minhas obrigações jurídicas iniciais com a criação, três vezes por semana, de textos para uma "nova" tecnologia que então já dominava o mundo: a Internet e seus blogs me foram apresentados, desta vez, por uma outra amiga de infância e acabaram por se tornar meus novos e queridos "brinquedinhos", tais quais as adoráveis traquitanas de um cinto de utilidades virtual - agora, escrevia constantemente e caprichava nas minhas apresentações visuais para uma fixa plateia de amigos próximos e fiéis em suas leituras, universo que rapidamente se expandiu para amigos de além-cidade, estado, país...

O "endereço"? Um já extinto site de hospedagem, o Weblogger (mudei-me para o Blogspot em seguida, onde estou até hoje). O nome do espaço? Morcegos. Um pouco por causa do meu primeiro poema homônimo, um tanto por causa das referências pop em volta do meu personagem favorito das HQs (e eternizado na imagem que minha adorável amiga encontrou para o layout, um "batsinal" numa lua, tudo com um ar inteligentemente trash e retrô, símbolo que se tornou do meu blogue até hoje), de quem falei várias vezes. Enfim, mesmo sem eu me dar conta, 2004 já era um novo "marco" em minha vida...

O curioso é que, no ano seguinte, dois "retornos" incríveis aconteceram: após o ridículo carnaval baitola dos "batmamilos", finalmente respeitavam a seriedade de Batman numa versão cinematográfica bem realista em Batman Begins e finalmente, graças à visualização com o blog, meu antigo amigo "ressurge", dando um reboot na velha e saudosista amizade: ele me encontrou por causa dos Morcegos e não demorou muito para as antigas "pautas" cinematográficas adolescentes se fazerem presentes em longas conversas telefônicas e via Skype sobre os bons tempos que pareciam estar voltando: tudo começava novamente ali...

E hoje me encontro em frente ao computador, a digitar estas "mal traçadas linhas" virtuais nesta dilatada madrugada, tal como nos tempos madrigais de minha adolescência, logo após assistir a Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge neste mesmo PC - sim, numa ótima cópia pirata virtual que deixei baixando antes de sair para o trabalho agora à noite, tamanha a ansiedade "infantil" em ver o término da tão boa trilogia desenvolvida por Christopher Nolan e tamanha a "adulta" falta de tempo de ir ao cinema em que me encontro desde a estreia do filme na última sexta-feira, 27... E revejo toda essa "história" em minha mente, tudo sedimentado em tantas camadas quanto as várias versões que o meu herói favorito já teve, que me pego gostando deste terceiro filme! "E não era pra gostar?", poderia perguntar algum entusiasta mais aguerrido, no que eu responderia que, após tantas mudanças de tom em relação aos dois primeiros filmes, este encerramento de trilogia, por muitas vezes, soou antiquadamente equivocado...

Sem dúvida o mais "quadrinhos" dos três filmes, parece que o tom realista do diretor abriu demais a mão para concessões "simpáticas" ou mesmo bobas demais na condução das tramas (surge um novo Vader: soluções caricatas para vilões "indestrutíveis") e acabou perdendo a mão no roteiro (situações forçadas, como o primeiro encontro com Bane, a "bomba à anos 60" que deve ser despejada na baía ou ainda os exageros toscos de ver bandido com metralhadora na mão esperando pra levar porrada do Morcego ou Selina montando e mandando ver num batpod que nunca antes pilotou, só para não revelar muito mais...) e, naquilo que os seus sucessores ficaram prejudicados com tanto realismo, este filme acabou se saindo mal por completar tudo em "outro estilo"...

Mas, se como filme é o mais fraco, como desfecho de trilogia (ou, mais especificamente, como "continuação" de Batman Cavaleiro das Trevas) funciona muito bem: como eu disse, são muitos Batmans ao longo de uma história de mais 70 anos de existência do personagem, bem como já se vão tantos anos das minhas iniciações dos idos de 89, que posso dizer que dá para parar tudo (e adiar uma sempre tão importante e almejada boa noite de sono) e assistir, "maduramente", com um sorriso no rosto e com a empolgação de sempre (re)descobrir um personagem que, pelo menos pra mim, é símbolo de uma fase de primeiras descobertas - e, agora, de "ressurgimento"... Viva o herói que nunca morre, não só nos arcos de histórias que inventam para vendar mais revistinhas, matando e "ressuscitando" os personagens mais importantes da editora, como também nos já sempre poéticos finais de Nolan, como em A Origem, onde nem sempre é o que parece ser (atenção para os detalhes...)...

Agora, 2012, com vidas consolidadas, perdas e ganhos de gentes, dinheiros e sonhos que ainda não se realizaram e uma linda filha no meu humilde currículo, aquele velho amigo ressurge com força total a me impulsionar, há pouco tempo, a escrever o argumento de uma ideia antiga: "Vai, usa esse teu dom e escreve um roteiro para a gente ganhar subsídio do Governo federal e fazer nosso filme sobre aquela época incrível, finalmente" - e eu fiz, escrevendo 10 Anos de Cinema em tempo recorde para inscrever no concurso cultural... Não ganhei, tendo apenas sido selecionado na primeira fase, e lá se foi a honorável verba para começar algo completamente novo em minha vida (ele já trabalha com áudio-visual; eu fiquei na burocracia)... Mas não tem nada, não: "estamos aí", imergindo quando preciso, mas ressurgindo sempre - afinal, "para que caímos..."?

Já passa da hora de dormir e encerro parcialmente o que eu tinha pra dizer. Porque sempre se tem algo novo para contar sobre ontem, sempre a se acumular uma nova camada para melhor se sentir a vida e aprender um jeito novo hoje de melhorar o amanhã. Falando em amanhã, ou melhor, daqui a pouco, vou acordar cedo e me preparar para as rotinas diárias, mas acho que, mesmo cansado, estarei melhor com mais essa "camada": os Morcegos estão de volta, em nova fase renovada, e eu terei sido o super-herói da minha madrugada de simples recordações perenes... E viva o Cinema, sempre a recriar personagens das nossas infâncias e a ensinar novos consumidores de Quadrinhos, fazendo tudo o de melhor ressurgir pouco antes da hora de dormir - ou já tendo passado bastante dela...

Ah, os nomes dos meus amigos? A eles dedico este filme (se ainda não viram, vejam já, de preferência nos cinemas!) e esta afetuosa crônica: José Henrique Spencer Leão, o "Rei de Nova Iorque", e Adriana Bello, a "Divindade do Recanto". Saibamos sempre a hora de jogarmos as bombas nos lugares apropriados...

“Tem dias que você simplesmente não consegue se livrar de uma bomba!!!” Adam West, como Batman, no filme Batman O Homem-Morcego, de 1968. Ré, ré, ré.



 

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