segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

São Luís Merece...


Na semana passada, numa breve postagem que fiz em meu perfil na rede social Facebook, alguns amigos captaram tão somente a beleza poética da foto que compartilhei e nomeei com o título “Retrato de São Luís do Maranhão” (vide acima), quando, na verdade, referia-me à metafórica relação “Davi e Golias” no contraste entre uma pobre embarcação no canto direito e, no oposto da foto, um gigante navio que despontava no horizonte, a esperar por sua vez de desembarcar sua milionária carga no Porto do Itaqui... Nada que não exista em qualquer cidade brasileira de qualquer estado deste nosso País de contrastes sociais e políticos. Mas aqui em São Luís a situação é sempre mais desesperadora: temos Sarney e seus asseclas - e estes são tantos que, mesmo depois de anos de morta toda a família de mafiosos bigodudos, ainda perdurarão as vicissitudes deste paupérrimo Estado...

E eles seguem aí, a olhos vistos, a renegar esta terra a décadas de atraso e de exploração, a condenar o pobre maranhense a sempre se contentar com o pouco que lhe é ofertado, com as migalhas que caem da mesa das negociatas, condicionando-se a um eterno sentimento de pequenitude, de se achar sempre em desvantagem perante o resto dos brasileiros e de, por conseguinte, adorar tudo que é "de fora"... Trocando em miúdos, é como se o querido leitor pudesse pormenorizar o eterno complexo de vira-lata do brasileiro diante da dominação imperialista norte-americana e a encaixasse no microcosmo de um pobre estado nordestino como este, diante do resto do Brasil – e elevá-lo à quinta potência!

Tanto é que ontem, no Teatro Arthur Azevedo, quando da última apresentação desta temporada da inteligente e divertida Pão com Ovo, dirigida e estrelada por artistas maranhenses, a peça começa sua alucinada sátira de costumes regionais brincando com tais estereótipos, após uma interessante exibição de uma espécie de “videoclipe” com imagens locais ao som do hino do Maranhão em ritmo de reggae (como que a querer lembrar aos presentes “esta é sua terra: aprenda a amá-la com suas imperfeições e... Ria de si mesmo!”), com a aspirante a nova-rica Clarice Milhomem (Cézar Boaz), logo em seguida, desabafando com a plateia: “Gente, fico feliz com os engarrafamentos que finalmente nós temos; afinal, qualquer cidade grande e desenvolvida sempre teve isso e eu morria de inveja quando falava com minhas amigas de São Paulo e uma delas dizia ‘Estou presa no engarrafamento’: São Luís merece, né, gente?"...

E esta Cidade é mesmo assim: uma rica Poesia traçada em trapos de cueiros que poderosos usaram há décadas de suas infâncias... E, o que é pior, ainda estão por aí para serem reutilizados! Mas nós, os ludovicenses, somos bem-humorados! O problema é que, se por um lado isso é ótimo por termos farto material para rir de nossas mazelas, tal como na histriônica peça local, enquanto o populacho se ri da "lenda urbana" chamada Sarney, o diabólico octopus estende seus tentáculos infinitos a novos discípulos ignorados pelo grande público... E tudo com seriedade profissional! Só resta batemos palminhas quando um “artista do Sul” fala o nome desta pobre ilha nalgum show lotado – tal como qualquer outro irmão brasileiro diante de algum figurão estrangeiro que grita “I love Brazil” ou “I Love Rio” em qualquer desses megaeventos transmitidos pela Globo...

Exatamente como se deu na semana passada, na passagem da turnê Verdade Uma Ilusão, da diva pop Marisa Monte, por esta cidade, onde, já no bis e desacompanhada de seus ótimos músicos no palco, ao mudar os últimos versos de uma de suas mais famosas canções para “São Luís I Love you...”, a audiência quase veio abaixo. Nada a criticar da mais que caprichada apresentação da imagética cantora de voz divina, com toda a sua ternura coreográfica de finos braços ao ar em cada belíssima interpretação, em meio a belas projeções de variadas obras de artistas plásticos brasileiros, e seus delicados bate-papos com o mar de ludovicenses que lotou o ginásio Castelinho no último dia 22. Críticas sobraram, entretanto, para a produção local do espetáculo: não só faltaram mínimas organizações de trânsito no local (cones já ajudariam!) como a venda de ingressos a mais do que o possível para a arquibancada gerou uma absurda lotação, o que acabou por obrigar todo o meu lado, onde já estava comodamente sentado, a assistir ao show de pouco mais de uma hora e meia em pé por conta do povo que foi se aglomerando na frente com o passar do tempo...

E tome um infernal calor e uma única saída (as outras estavam fechadas para as arquibancadas!) para toda aquela multidão gigantesca sair, a passos de formiga, após o show – só eu e minha esposa levamos uns 45 minutos entre o sair do ginásio, pegar o carro e deixar as abarrotadas ruas do complexo esportivo! Mas obrigado, Senhor: vimos Marisa Monte, pagando 140 reais, o casal e temos que agradecer a estes honrosos membros do Marafolia (espécie de “agência do entretenimento única” do Maranhão, empresa ligada à família Sarney, claro) que nos deram a oportunidade de estar perto de uma cantora daquele quilate, não importando o calor, a venda de ingressos acima da capacidade (e sem respeitar o direito do mínimo legal para meias-entradas) e as péssimas condições de acomodação!

E agora eu vejo, com pesar, uma tragédia de proporções gigantescas numa cidade do Rio Grande do Sul, onde centenas de jovens foram pisoteados, asfixiados e queimados pela ganância do jeitinho brasileiro de subjugar o povo em nome do lucro fácil - e tudo isso arrastado pelo lucrativo sensacionalismo de uma mídia que prefere enterrar centenas em cortejos fúnebres de longos dias de exibição a fiscalizar e denunciar de forma impessoal... Mas Santa Maria tinha uma grande boate, com um grande show, e os meninos agradeciam estar ali sem nem pensar nas milhões de subjugações a que se submetiam...

Infelizmente, não me saem da cabeça as palavras da personagem cômica da peça maranhense, referindo-se à nossa autohumilhação em nome do “desenvolvimento”: imagina se algo acontecesse de errado no show da Marisa Monte, não só eu não estaria aqui a teclar estas mal traçadas linhas como milhares de outras pessoas estariam mortas após eventual desespero diante de uma catástrofe como o incêndio lá do Sul... Se isto acontecesse, Clarice Milhomem, que, do alto de sua satírica visão tragicômica deste estado que se esquece de si mesmo a cada dia, que já achava lindo um "tornado dos Estados Unidos, diferente daquele tufãozinho da nossa praia da Raposa", facilmente diria em alto e bom tom: “Uma tragédia no show de Marisa, igual a do pessoal de cidades desenvolvidas de fora, finalmente... Afinal, São Luís merece, né, gente?"

sábado, 19 de janeiro de 2013




Antiquado

Corto o sete ao meio
E sigo beijando o indicador
Ao final
Do sinal
Da cruz
Mas não me benzo
Em frente à igreja
De relance
Nem me lanço
A cabalizar-me
Aos sete ventos
Nem com treze números afins...

Sou antiquado
(Sigo num desalinho
Sem fim)
Até quando desando a falar de amor
Com a mulher mais cretina
Que não quer saber de mim...

(Dilberto L. Rosa, 2004)

domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma Retrospectiva... Cinematográfica?

Uma luz no fim do túnel: um bom começo para 2013... E em grande escala na telona.

Há exatos 13 dias encerrou-se 2012. Não o mundo, como brincavam alguns, mas só o ano. Um período dentro de um contexto de um calendário ou só mais uma volta em torno do Sol, para os mais pessimistas. Para mim, um ano cheio em todos os sentidos, tortuoso em outros tantos, especialmente no segundo semestre, onde assumi mais coisas do que eu poderia dar conta e suportei mais solavancos do que numa viagem costumeira entre pessoas díspares... Mas foi bom, porque aprendi mais do que ensinei e o cheiro de novos ventos de agora me apetecem ao ponto de começar a dar cabo do desanimado começo preguiçoso de 2013... Afinal, são só 13 dias do início de 2013. E um ano pode começar a qualquer momento - e, às vezes, nada cinematográfico...

Sim, porque, afazeres intermináveis e enlouquecedores à parte, uma das coisas que mais me marcaram no ano que se findou foi a falta de arte: escrevi pouco, li menos ainda... E a paixão pela Sétima Arte, neste conturbado segundo semestre, então: as sessões caseiras tiveram de amargar longas esperas entre os cada vez mais espaçados tempos livres. E, entre algumas horas de brincadeiras com a filhota e um longo supermercado de um domingo qualquer, os cochilos da esposa na hora de ver um filme em casa acabavam por também me convidar a descansar alguns minutos antes de um novo rojão explodir...

Mas, a muito custo, de agosto pra cá consegui ver um punhado de filmes com alguns bem-vindos gratuitos 'downloads' da 'internet' - o ótimo exercício de Indiana Jones As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne, adaptação fidelíssima dos Quadrinhos do belga Hergé; o adorável clássico Meu Amigo Harvey, com um inspirado James Stewart às voltas com seu coelho gigante "imaginário"; o sensivelmente cômico filme de um cada dia melhor Selton Melo com seu ótimo O Palhaço, feito às antigas e merecedor da cada prêmio ganho; o curioso, multifacetado (e, em alguns aspectos, equivocado), porém interessante fim do mundo de Lars VonTrier em Melancolia; e o deplorável Tarantino da homenagem 'trash' aos filmes B dos anos 70 que não funcionou no péssimo À Prova de Morte (pés em close, trilha bacana, três sessões de diálogos interminavelmente chatos e duas mortes absurdas intercaladas!). E foi só! Média de 1 filme por mês (contando a pirataria de estreia de O Cavaleiro das Trevas Ressurge)! Séries cômicas, sessões na TV ou reprises com meus DVDs? Quem sabe em 2013...

E ir ao cinema propriamente dito? Ao longo do ano inteiro fui apenas duas vezes à sala escura: numa, assisti ao ótimo Os Vingadores - e fui com um medo danado, não só de aquela reunião dos medalhões dos Quadrinhos Marvel não resultar num bom filme como também de ter que aguentar aqueles insuportáveis e mal educados companheiros de sessão... Mas a agradável experiência de voltar ao escurinho do cinema (e à infância) ao ver que finalmente acertaram a mão desde o ótimo Homem de Ferro (2003), com a difícil tarefa de reunir tantos heróis num filme só (no que, para mim, foi o melhor arrasa-quarteirão do ano) foi tão boa que até a costumeiramente irritante plateia dos celulares e dos beijos apipocados ficou quietinha por trás dos seus óculos 3D! Na segunda vez, fui ver o ídolo Woody Allen numa divertidamente leve, porém não menos inteligente, sessão no introspectivo Cine Praia Grande com Para Roma, com Amor.

Nem a mais que aguardada "conclusão" da trilogia do meu herói favorito eu vi na tela grande: baixei no dia da estreia e vi em casa mesmo, na madrugada do dia seguinte - e acordei menos de três horas depois para ir trabalhar... Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge foi o mais fraco da era Nolan, mas, mesmo com as tolas resoluções, "bombásticos" 'plots' e algumas equivocadas misturas entre "Batmans" de diferentes eras, o tom heróico-realista desta série empolga e acabei gostando um pouco mais na segunda vez que o vi, no finalzinho do ano passado - agora em HD!

Mas ainda restava o terceiro filme mais aguardado de 2012 - e eu já imaginava reencontrar a telona numa aprazível redenção de fechamento de ano: além dos badalados heróis de plantão, restava na Terra-Média, num tempo perdido, um pequenino ser averso a aventuras, cujo início de saga daria origem à mais bem sucedida adaptação literária de todos os tempos... Mas acabei mesmo vendo O Hobbit – Uma Jornada Inesperada somente nesta semana. E posso dizer que, mesmo com as mudanças (necessárias) dos "estilos" dos anões, com as supressões de muitos momentos interessantes do livro (calma, Smaug só abre o olho no final, para aparecer na sequência) e com os intermináveis acréscimos, oriundos de apêndices de outras obras do escritor J. R. R. Tolkien (o que acabou inflando o que seriam dois filmes para virar uma nova trilogia), o filme funciona bem independente da trilogia de O Senhor dos Anéis - embora, no entanto, algumas persistências em manter uma linearidade com a famosa série condicionem O Hobbit a alguns momentos de incômodo déja vu... Mas ver de novo Gandalf, Galadriel, Saruman e Golum em excelentes diálogos e as belíssimas paragens da Nova Zelândia/Terra Média ao som de mais uma bela trilha de Howard Shore já valem o ingresso! Sem falar dos efeitos espantosamente mais impressionantes (a pele e a respiração de Sméagol nos fazem esquecer, em definitivo, que se trata de uma criatura digital), que já evidenciam o destino dos principais Orcars técnicos do próximo fevereiro...

E assim 2012 acabou-se sem eu ter podido ir ao cinema ver filmes que tanto queria, como Argo, 007 - Operação Skyfall, Na Estrada e À beira do caminho. Mesmo em casa, o escasso tempo livre tampouco me deixou ver títulos bastante elogiados que há muito me aguardam, ansiosos, devidamente baixados no computador: Os IntocáveisDrive, A Separação, Homens de Preto 3 e, vá lá, O Espetacular Homem-Aranha. Mas o ano começa promissor e, caso eu ainda não tenha sido tomado por uma "cinemofobia", vencerei o comodismo dos 'downloads' e correrei o mais breve possível para uma sala escura a fim de ver As Aventuras de Pi, A Viagem, Amor e O Som ao Meu Redor - e, é claro, chamar em seguida os Morcegos para fazermos a devida avaliação por aqui...

Teatro? Uma única vez, ver o fraco 'show' do ótimo Danilo Gentili (prefira vê-lo em vídeo no muito bom Politicamente Incorreto). Um 'show': Paralamas do Sucesso salvou meu ano em homenagem ao Dia do Advogado (gratuito: tenho direito!). Viagem? Uma, exaustiva e meio que obrigada, para Teresina, Piauí. HQs, livros, CDs e DVDs comprados, porém sem a devida conferência - muitos me aguardam mesmo lacrados, no desorganizado e empoeirado escritório do meu apartamento, porque não consegui ainda concluir minha "grande arrumação e limpeza de fim de ano"... Bom, é mais ou menos como diria o amigo Jack Torrance: "Só trabalho, sem diversão, faz de Jack um bobão"... E é como eu já disse, um ano novo pode começar a qualquer momento: e o dos Morcegos (e, de certa forma, o meu também) começa agora.

O Artista filme Crítica de O Artista, por Jader AraújoO Palhaço
             
Os melhores que vi em 2012, em ordem de classificação (da esquerda para a direita), incluindo aí o bom primeiro semestre e o terrível segundo... Mas me faltou avaliar o iraniano A Separação, o norte-americano Drive, o brasileiro À beira do caminho... Coming Soon!

 

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