Difícil de classificar...?
Reitero o que já havia dito quando da entrega do Oscar sobre os filmes A Rede Social e Bravura Indômita, cujos trechos acabei revendo recentemente, tamanha a enxurrada de ovações a estes competentes, porém apenas bons filmes de 2010 (tal como o realista drama O Lutador, com o sempre ótimo, e agora oscarizado, Christian "Batman" Bale)! Mas reprise, para mim, hoje é luxo! Foi-se a época, por exemplo, em que eu fazia uma lista mensal com vários títulos vistos, inéditos ou não: hoje em dia, com a falta de tempo, se dá para ver uns 2 filmes num mês, "Viva o Brasil de Cabral", como diz minha mãe! Mas há uma luz no fim do túnel e um motivo a mais para comemorar: além da saúde plena de Isabela de volta, consegui, entre as ações, os cursos, as compras, a casa e as fraldas (sem esquecer, infelizmente, o hospital, as clínicas e os remédios por um período...), do carnaval até este feriadão da Páscoa, assistir a uma boa pá de filmes...
Do interessante terror-psicológico 1408 alugado e visto na casa da amiga Lígia (depois de um longo inverno de visitas!) aos filmes baixados graças ao bom PC e à 'internet' (preços exorbitantes das locadoras? Aborrecimentos no cinema? 'Tou fora!), vários foram os estilos: Predadores (fraco reinício da bela franquia de ação/ficção-científica iniciada com Scwarzenegger e estragada com a mistura com Aliens e afins); as animações Batman contra o Capuz Vermelho (estória razoável para adultos que acompanham as HQs do Homem-Morcego, especialmente com uma boa homenagem ao Menino-Prodígio), Mary e Max Uma Amizade Diferente (interessante e provocador longa australiano que, apesar das esquisitices, bem poderia ter sido indicado ao Oscar na categoria) e Rio (divertido, bonitinho e colorido, porém superficial desenho do brasileiro Carlos Saldanha); Um dia para relembrar (apenas razoável drama de 1995, com um Pacino no piloto automático...); as comédias As Viagens de Gulliver (sem dúvida, o pior de todos: tolo e mal editado, com apenas uma piada simpática, a eterna brincadeira 'pop' de Jack Black com o universo de Star Wars), Entrando numa fria maior ainda com a família (apesar dos ótimos coadjuvantes e da piada-chamariz do "Godfocker", mais do mesmo num filme fraco) e KickAss (divertida comédia de ação com ultra-violência baseada em HQ); e, enfim, um filme digno de nota - o oscarizado O Discurso do Rei, interessante "drama de minúcia", daqueles que tão bem sabem produzir os "bons caras das ilhas" do Cinema irlandês e inglês, tal como o também ótimo A Rainha, onde um pequeno assunto (no caso, a gagueira do rei George VI) transforma-se num belo espetáculo de superação e de boas atuações.
E falando em filmes – e em seus gêneros –, mais recentemente ainda (último fim de semana) resolvi acrescentar mais duas prateleiras de tatajuba no gabinete, a fim de ampliar o espaço para a acomodação, dentre outras coleções, de meus DVDs e 'Blue-Rays' (cujas últimas aquisições, Uma Aventura na África, Os Goonies, Kill Bill - Vols 1 e 2, Matrix, Star Wars Trilogia Clássica, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Ben-Hur, O Mistério da Libélula, Tomates Verdes Fritos, A Era do Rádio, Os Normais, Pelé Eterno, Cronologia do Donald, Alice no País das Maravilhas, Drácula de Bram Stoker, O Resgate do Soldado Ryan, O Chamado, Akira, 300, Os Infiltrados e Os Reis do Ié-Ié-Ié, seguem lacrados e eu, sem poder revê-los por falta de... Bem, vocês já sabem!), e, qual não foi a minha surpresa ao enfrentar a imensa dificuldade de catalogação de meus filmes por gênero, tarefa das mais árduas, em face do grande ecletismo dos temas existentes nas películas... Mas afinal: quais são os gêneros existentes?
Partindo-se das premissas da Comédia e da Tragédia do Teatro Grego, chega-se facilmente aos grandes filões cinematográficos da Comédia e do Drama, de onde dezenas de outros subgêneros têm sua gênese: comédias-românticas, comédias dramáticas, romances e musicais – creio mesmo ser o Musical um subgênero de Comédia ou do Drama: à exceção de filmes "cantados", como Evita e Guarda-Chuvas do Amor, é só prestar atenção ao esteio da trama permeada por baixo das canções e números coreografados, mesmo quando o filme é narrado por meio da música (vide a Comédia Cantando na Chuva e o Drama Dançando no Escuro)! E "gêneros" como "Faroeste" (ou 'Western', como desejam os puristas holywoodianos)? Subgênero geográfico: tudo não passa de uma grande aventura ou de um pesado drama sobre os pioneiros do Oeste norte-americano... Tanto que, se filmássemos Rastros de Ódio no sertão nordestino, não haveria mais faroeste, mas só e tão somente um drama forte sobre preconceito na pobre região brasileira... E quanto ao gênero "Guerra"? Já tenho minhas dúvidas... Melhor seria classificar como "drama de guerra", subgênero que, normalmente, viria embebido em sangue de violentas cenas de batalha...
Mas maiores dúvidas surgiram 'in loco': como elencar filmes como De volta para o futuro e Os Caça-Fantasmas? Classifico-os como comédias de ficção científica! Já Brilho eterno de uma mente sem lembranças estaria neste mesmo segmento ou em romance? E como classificar filmes "modernos" como Moulin Rouge ou O Fabuloso Destino de Amélie Poulain? E Um Tira da Pesada: policial fraquinho ou uma boa comédia de aventura? E Onde os fracos não têm vez: suspense, policial ou drama de ação? E O Poderoso Chefão: policial ou drama épico? E o que vem a ser um "épico" no Cinema: as produções à Ben-Hur e Spartacus (dramas ou aventuras ditas clássicas?!) ou aquelas sagas onde o personagem passa por inúmeras adversidades até encontrar sua redenção (Três homens em conflito, Dança com Lobos e Superman - o filme)? Qual o critério para diferenciar fantasia de ficção científica, seriedade da abordagem? E qual a linha tênue que separaria suspense de terror – presença ou não de tema sobrenatural?
Engraçado é quando a distribuidora do filme "tenta" empurrar gato por lebre: na capa de Segredos e Mentiras, pesado drama familiar do diretor Mike Leigh, consta o filme como "comédia" - da mesma forma que em Faça a coisa certa, de Spike Lee (aquele que culmina com uma tragédia no Brooklyn, em NY, baseado em estória real!)! Mas ainda mais engraçado é quando se "criam" gêneros: já vi filme ser vendido como "clássico" (Os Dez Mandamentos... Ou seja: um gênero que já nasce eterno...
Na(s) dúvida(s), classifiquei meus quase 200 títulos (confira a lista completa e atualiza aqui) e os coloquei cuidadosamente nas minhas bem limpas e lustradas prateleiras, sentindo falta do tempo em que eu tinha tempo para ver e rever os clássicos de todos os tempos e de todos os gêneros que minha hoje fatigada mente tão bem catalogou em minha memória afetiva... Acho que a coisa toda é como o amor: Cinema, como qualquer arte em sua essência, não tem gênero - toca fundo na alma ou não; é bom ou não é! E, como "amar se aprende amando", como dizia o Poeta, sigamos aprendendo cada dia mais a "interpretar" cada nuance da Sétima Arte...
Pra que tanto filme, meu Deus, diria o Poeta, numa atualização sugerida pela minha esposa Jandira: quase não vendo nenhum filme novo, imagine arrumar tempo para ver uma reprise...