domingo, 29 de dezembro de 2013

Eu já ouvi essa canção antes...


Dei para redescobrir algumas coisas minhas. Noutro dia, saindo atrasado, peguei o primeiro CD que avistei na minha hoje quase abandonada pilha empoeirada de discos. Nem dei nada ao escolhido de início, All That Jazz - 25 Mundo Hits (Paradoxx Music): cheguei a maldizer minha escolha apressada até, no caminho entre o elevador e o bater de porta do carro, antes de colocar a "bolachinha" no CD player. Mas qual não foi a minha surpresa quando, além de constatar que se tratava de uma coletânea interessante, ouvi uma linda canção na sexta faixa, que, na hora, remontou-me a um grande filme de Woody Allen... Mas qual? Algum dos mais novos, que vi recentemente, como Para Roma com Amor? Não creio... Dos mais antigos, então... Já sei: Hanna e Suas Irmãs! Também acho que não: tanto tempo que vi esse filme, a memória não estaria tão fresca... Mas de uma coisa eu estava certo: eu já havia escutado aquela linda canção antes...

E qual o nome daquela música?! Tão logo pude parar o carro com segurança, catei às pressas a capa do disco e visualizei, apesar da pouca luz: I've heard that song before, imortal obra de 1942 do mestre Harry James! Sim, o nome da canção era exatamente esse, "Eu já ouvi essa canção antes", em bom Português! E em que filme, afinal, o genial comediante Allen, conhecido por valer-se de grandes clássicos do Jazz nas trilhas de suas igualmente geniais obras-primas do Cinema, como Manhattan, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e A Era do Rádio, usou a tal canção? Bendito Google que então me faltava, celular pereba que mantenho porque "não ligo muito pra esse excesso de tecnologias num telefone", ai, ai... O jeito seria esperar voltar pra casa, ligar o PC e correr para tirar a dúvida no "pai dos burros cibernético"  precisamente o que eu fiz, para descobrir que minha memória, modéstia às favas, continua excelente: realmente havia sido na ótima comédia dramática Hanna e Suas Irmãs, livremente inspirada no romance As Três Irmãs de Tchekhov, que Woody usara aquele clássico jazzístico!

Mas qual a relevância deste pequeno acaso de gostosas coincidências no microcosmo de uma viagem de carro minha para um compromisso qualquer? Bem, achei muito interessante e, por várias razões, valioso como boa história para muito além do meu mundo de quiproquós que, normalmente, só interessam a mim ou, no máximo, à minha mulher, quando não está com sono à noite (coisa rara nesses tempos gemelares...) e aguenta ouvir um dos meus "causos diários"! Afinal, em época de fim de ano, quando a sensibilidade aflora para as infinitamente repetitivas lembranças de antigas histórias cheias de sonhos, desembocando em um sem número de resoluções para o ano que virá  mesmo se sabendo que não se cumprirá nem a metade , nada mais preciso e necessário do que uma velha canção de um velho filme, num turbilhão de metafóricas metalinguagens redivivas, para nos rememorar de nós mesmos, de quem fomos e de quem ainda podemos ser... Especialmente diante desta espécie de "dimensão paralela de felicidade absoluta", logo ali, à mão e em frente aos narizes, e cujo portal dimensional parece que se abrirá à meia-noite do dia 1º de janeiro do novo ano que se aproxima...

E, como diz a letra desta canção maravilhosa, na interpretação da "voz das bigbands", Helen ForrestA mim parece que já ouvi esta canção antes, num repertório antigo e familiar/ É engraçado como um tema faz relembrar um sonho favorito/ A letra diz 'para todo o sempre' e para sempre já é uma recordação em si..., fica fácil perceber que a vida é mais que cíclica e ninguém precisa ter o dom de viajar no tempo para descobrir o quanto de histórias em que, mesmo já se sabendo da maioria dos seus finais, ainda se insistirá, em meio a sentimentais recordações, com fé e um sorriso otimista no rosto, para seguir em frente... E assim, abraços calorosos em meio a brindes intermináveis poderão ocultar muitas realidades sem melodia no "ano novo", de novo, mas não sem antes se acreditar no que se está celebrando nesta eterna passagem de recordações... E há neste mundo viagem mais gostosa do que essa, pelo tempo de nossas mentes, a resgatar alegrias aparentemente perdidas, porém contidas numa simples canção de um disco esquecido  que, por sua vez, remonta a um filme, que traz um amor, que perdura uma alegria para mais um ano bom que, amanhã, só depende de você?

Pensando em tudo isso, chamei a amiga virtual Suzane Heck para, neste dia 29 de dezembro de 2013, fazermos juntos uma viagem afim e em paralelo nesta dimensão suspensa chamada internet. Cada um num extremo do País e ambos falando de Música da melhor qualidade e relembrando o poder de uma velha canção nas lembranças de quem sonha com letras e de quem concretiza canções em belas interpretações: Suze já se encontra em seu segundo CD, que, gentil e novamente, oferta-o a mim: presentão de fim de ano! Ei: parece que já ouvi esta canção anteriormente... Ah, creio que me lembro da letra: foi quando "venci" um concurso cultural em seu excelente 'blog' e, por isso, ganhei seu primeiro trabalho fonográfico... E isto me lembra também que já falei deste episódio neste humilde espaço virtual... O que me traz o grande trabalho que realiza esta cantora da blogosfera: ela se lembra de um clássico da Música, pesquisa um grande filme onde tal canção tocou, e dita, em seguida, sua precisa interpretação. Hum, acabei me lembrando que eu já fiz coisa parecida antes, só que fora da internet...

Foram inúmeras as interpretações deste clássico, e, embora grandes intérpretes tenham preferido cantá-la com menos intervenção dos belos metais de uma grande orquestra (tal como o fez "The Voice" Frank Sinatra), eu ainda prefiro esta canção do jeitinho que toca por aqui (aperte o play abaixo e viaje), com a inesquecível e lindíssima introdução da grande Big Band de Harry James, tal como deve ser um clássico jazzístico desta época e da mesma forma que Woody Allen imortalizou em minha memória afetiva com seu belo filme (tema da personagem da sempre ótima Barbara Hershey, que sempre caía nas promessas de um adúltero Max vonSydow)... Segue a Suze Heck, do outro lado, a cantá-la do seu jeito, igualmente belo por sobre os sempre impecáveis arranjos do maridão Roberto... Seguimos todos, então, a lembrar, porque é preciso cantar ("mais que nunca é preciso cantar", como diria o Poetinha) e alegrar a vida ainda desconhecida de amanhã com as lindas canções imagéticas de nossas memórias, porém sem data de validade para a boa Música e para os bons desejos de sempre... Por isso, feliz 2014!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ele é Carioca

Meu Zé Carioca favorito ainda é aquele com chapéu panamá e paletó marrom, da versão original do Cinema. Mas não posso negar que sempre gostei também do visual mais "pobretão", criação de Renato Canini: aquele da camiseta branca e sem chapéu, que, entre idas e vindas, dividiu espaço com o traje clássico nas historinhas ao longo dos anos 80, a melhor época do bom malandro - a minha infância...


Eu havia completado 5 anos de idade e me encontrava bastante distraído com minha revistinha no banheiro de casa – costume esse antigo, de ganhar livrinhos e revistinhas desde tenra idade e de levá-los para folhear na hora do "nº 2" – quando, momentos antes de soltar o “Terminei” para ser devidamente limpo pela minha mãe, esta irrompe no toalete, pega de minhas mãos os quadrinhos, dá nele uma rápida lida para, em seguida, erguer-me num efusivo abraço. Só depois de algum tempo é que fui entender tudo: a alegria radiante advinha da surpresa da minha mãe em constatar que eu já sabia ler (“Pensava que estavas criando a historinha e lendo em voz alta”, diria ela depois). E qual era aquela minha "primeira revistinha"? Zé Carioca nº 1.601, de 1982, que guardo, com carinho, até hoje.

Sim, meus caros blogueiros de plantão: se HQs de super-heróis como Batman, Super-Homem e X-Men se apresentariam a mim somente na adolescência, e a minha vasta coleção da Turma da Mônica só começaria no final da década de 80 (passando por Abril, Globo e Panini até os dias atuais), no comecinho da infância as minhas revistinhas prediletas, aquelas sempre pedidas quando das idas aos supermercados ao avistar as tradicionais bancas de jornais logo em frente, eram as da Disney – mais especificamente Zé Carioca, Pato Donald e Peninha. E foi mesmo com o adorável malandro que eu aprendi a ler bem cedinho: criado pelo Pai do Mickey em 1942 para a animação Alô, Amigos, fruto direto da tal “Política da Boa-Vizinhança” com a América Latina durante a Segunda Guerra (época em que surgiram também o mexicano Panchito e o chileno aviãozinho Pedro), o personagem já me emocionava àquela época ao surgir entre clássicos como Aquarela do Brasil e Tico-Tico no Fubá na tela da TV com aquele pequeno clássico da animação...

E, em 2012, Zé Carioca fez 70 anos. É, hoje ele já está com seus 71, mas, como vivo numa provinciana São Luís quase esquecida pela distribuição setorizada das grandes editoras, só em junho deste ano fiquei sabendo desse grande e histórico aniversário quando da aquisição de Zé Carioca 70 Anos Vol. 2, muitos meses depois do lançamento da mesma edição no Sudeste... Tudo bem que a ocasião merecia mais capricho  ambos os volumes saíram no famigerado "formatinho" antigo da Abril e com encadernação e papel que deixam a desejar , mas, ainda assim, fiquei triste em ter perdido o Volume 1... Mesmo sendo, até hoje, um ávido "rato de banca", o primeiro me escapou e só encontrei e comprei o segundo exemplar, bem fraco, com muito do Zé dos anos 90 pra cá (aquele da camiseta 'Z', do horroroso boné virado pra trás e das historinhas em cansativos tons de paródia)! 

Desta forma, apesar de atrasado, facilmente se perdoa uma tardia homenagem a este dileto personagem Disney, um dos meus favoritos, ao lado de Peninha e Biquinho... E agora, depois de tanto ter postergado o presente 'post', somente na última semana fiquei sabendo, infeliz e (também) tardiamente, que o grande Canini, maior responsável pelo abrasileiramento do caráter e dos traços do papagaio (a própria matriz estadunidense por várias vezes questionou o tanto que o “padrão-Disney era desrespeitado”), havia falecido no último mês de outubro...
O quadrinhista Renato Canini era gaúcho, mas soube, como ninguém, captar a alma bairrista do “carioca da gema”, que adora defender sua gente e as coisas da sua terra (especialmente as praias e as mulheres – ou, no caso, papagaias, periquitas e afins) e que, mesmo duro e sem futuro, estampa sempre uma alegria cativante. Imprimindo ao personagem não só as suas principais características desde então (a malandragem para fugir dos cobradores, por exemplo) como também o seu habitat natural numa favela do morro carioca (mais precisamente a famosa Vila Xurupita), o desenhista de traço marcante ainda criaria um sem número de adoráveis e inesquecíveis coadjuvantes: Pedrão, Afonsinho, os parentes do Zé (Zé Paulista, Zé Mineiro...), a ANACOZECA (Associação Nacional de Cobradores do Zé Carioca) o herói Morcego-Verde (o próprio Zé, empolgado com o Morcego Vermelho do Peninha) etc.

De uma vez por todas, tomava-se de assalto o que já era "nosso" desde o início, personagem "brasileiro" que sempre foi, de origem e de formação (Walt teria criado Joe Carioca no Rio, no Copacabana Palace e se teria inspirado no músico José de Oliveira, que acabou dublando o Zé no Cinema) – assim, Canini e uma leva de outros grandes artistas (como o precursor Jorge Kato) criaram um universo de histórias genuinamente brasileiras... Nada mais justo: com tão poucas histórias produzidas nos EUA, até então o “jeitinho brasileiro” era modificar historinhas norte-americanas do Mickey e do Donald para, por cima destes, adaptá-las com a presença do papagaio entre figuras “estranhas” como o Pateta ou o Gastão (daí surgindo os sobrinhos Zico e Zeca, ora desenhados por cima dos Chiquinho e Francisquinho do Mickey, ora coberturas sobre Huguinho, Zezinho e Luizinho do Donald, apagando-se um destes)!

Por isso, engana-se quem pensa que o setentão mais carioca do mundo seja uma ofensa gringa aos brasileiros: quem viu as animações onde ele aparece na década de 40, facilmente perceberá que o original do velho Disney era meramente um elegante bonachão que ensinava um pouco da “arte” de ser brasileiro e de gostar das coisas boas da vida  e se havia alguns golpes para "se dar bem" nas originais tirinhas dos EUA, não era nada que ultrapassasse o "estilo" dos personagens engraçadinhos da época, como o próprio Gastão, de Disney, e o Pica-Pau, de Lantz! E isso tudo bastante diferente do estilo “caloteiro” e do “preguiçoso” e com “alergia ao trabalho”, perfis estes dados por artistas brasileiros ao longo das décadas de 70 a 90 (Put the blame on Canini... Ou, em bom Português: "Culpem o Canini"!), que por aqui sedimentaram um personagem inicialmente com curto “prazo de validade”, sem maiores pretensões, e o converteram numa brasileira e longeva carreira em Quadrinhos...

Embora eu tenha crescido nos anos 80, época dos belos traços mais tradicionais de artistas como Roberto Fukue e  Euclides Miyaura, não há como negar a influência do estilo debochado e alegre de Canini para a fundamentação nacional do personagem – uma vez que até hoje, nos EUA, Zé Carioca não passa de um ilustre quase desconhecido, que raramente dá as caras nalgum desenho dos medalhões (série House of Mouse) ou aqui e acolá nalguma atração dos parques, onde não deve ser muito disputado para tirar fotos... 

E eu, como ardoroso e precoce fã, além de não dar a mínima para as críticas ao personagem, aprecio todas as suas fases: desde suas primeiras aparições em tiras de jornais norte-americanos ainda em 1942 (antes mesmo da estreia do filme por lá – logo, Zé Carioca é um legítimo personagem dos Quadrinhos!), passando pelos filmes (com o sucesso na tela grande, ele apareceria novamente, e com mais destaque, em Você já foi à Bahia/Los Tres Caballeros, inovador em técnicas de animação com atuações reais) até o seu estilo "moderninho" dos dias atuais (fase mais fraca, mas ainda bacana em alguns aspectos, da qual tenho pouquíssimos exemplares)! E, se bobear, em meio à minha atemporal pilha de revistinhas antigas, a minha doce e pequena Isabela ainda acabará por aprender a ler com alguma coisa desse adorável vagabundo legitimamente brasileiro...

Uma bela história nacional... Da esquerda para a direita: 
1. Primeira aparição de Zé Carioca em quadrinhos brasileiros (capa de O Pato Donald, estreia da Editora Abril, em 1950, mas sem nenhuma estorinha do papagaio); capa do primeiro número da revista Zé Carioca (que nasceu atrelada à revista Pato Donald, com quem dividia a numeração: por isso já surgiu como o número 479 de Pato Donald Apresenta:, em 1961); capa do Manual do Zé Carioca, onde o personagem apresentava uma espécie de enciclopédia infantil com temas como futebol - e cujas matérias, pouco mais de uma década depois, foram republicadas junto a outras na Biblioteca do Escoteiro-Mirim, que guardo até hoje) - infelizmente, não possuo nenhuma destas!

2. Capas de revistinhas dos anos 80, onde alternavam o visual do Zé: minha infância colecionou todas estas (que guardo até hoje, com exceção do excelente Almanaque do Zé Carioca nº 1, que sumiu, inexplicavelmente, da minha coleção)!

3. Reedições e releituras: desde o começo dos anos 2000, a revistinha Zé Carioca passou a reeditar várias historinhas antigas e chegou até mesmo a sofrer alguns hiatos nas bancas (coisa que parece estar voltando ao normal, com o recente lançamento de revisas com novas historinhas) - algumas piadas de capas, pelo visto, são as mesmas há bastante tempo (e iguaizinhas àquela minha primeira revistinha, não?!)...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Caçadores de Brinquedos

Skeletor
Clique na imagem e conheça mais deste adorável programa sobre brinquedos antigos e seus colecionadores (original em Inglês, sem legendas)... Assim como o espevitado apresentador Jordan Hembrough, também tenho as versões originais de Lion e do Esqueleto (porém, infelizmente, sem o mesmo "vigor")...


Com um pouco de paciência, muita coisa interessante pode ser encontrada na televisão de um sábado à noite. Não, infelizmente não falo da televisão aberta, nicho infelizmente sem salvação para milhões de pessoas, mas, sim, dos canais pagos por assinatura e presentes na maioria dos pacotes vendidos atualmente. E, ainda que minha esposa diga que, por muitas vezes (especialmente nos fins de semana, onde a maioria das boas séries é somente reprisada), podem-se rolar os canais do início ao fim da grade e nada se achar de bom, eu retruco sempre: zapear é uma arte e, com o controle remoto nas mãos, eu sou um Monet...

Sim, mesmo num sábado à noite, pode-se encontrar um filme bacana na normalmente fraca e comercial HBO (noutro dia mesmo pude ver o adorável casal vivido por impecáveis Matt Damon e Michael Douglas perfeitamente gays em Minha Vida com Liberace, muito bom telefilme sobre a vida de Liberace e seu romance secreto com seu assistente), algum clássico do Cinema nacional em canais improváveis, como TV Senado ou TV Justiça ou ainda divertidos 'reality shows' (não, nada de ridículos absurdismos sobre confinados televisionados, alguém querendo casar-se ou sobre vidas pessoais de ex-astros: isto é lixo puro e sequer deveria ser televisionado!) que se valem de bom humor para falar de interessantes quiproquós da vida real – como aquelas neurastênicas briguinhas de casal por besteira: então que tal saber quem está com a razão e rir sobre as manias dos outros em amalucados casais com a presença de grandes comediantes? Esta é a proposta de Marriage Ref, criação do genial Seinfeld após o término do seu maravilhoso seriado, uma legítima tábua de salvação entre as muitas bobagens comumente exibidas no canal Glitz...

Mas nenhum deles me parece mais atraente do que um que descobri neste findo fim de semana no Discovery Civilization: The Toy Hunter, literalmente traduzido como "Caçador de Brinquedos" é um genial achado não só para ardorosos fãs de brinquedos antigos e outros colecionáveis como eu, como também é um divertido e ligeiro passatempo (menos de 30 minutos a atração toda) para "não iniciados", uma vez que mostra quão felizardos podem ser certas pessoas que, desconhecendo valores de mercado para determinadas "coisas velhas" guardadas por tanto tempo no sótão, acabam descobrindo que podem lucrar de dezenas a milhares de dólares com um agitado colecionador/comerciante destas antiguidades (e também apresentador do 'show', Jordan Hembrough), que conduz as visitas ao longo do 'show' televisivo – e, com ele, vemos desfilarem na tela inúmeras boas lembranças de nossas infâncias em brinquedos ou acabamos por conhecer outras tantas diversões comercializadas em épocas idas de nossos antigos programas ou filmes favoritos!

Nesta minha primeira incursão no programa, diverti-me bastante com duas senhoras no Texas: uma, com aquela "síndrome da casa vazia" depois de os filhos ganharem o mundo com novas famílias, faturou bons tostões com vários brinquedos em ótimo estado; e a outra, que juntava inúmeros presentes que acabaram não sendo dados em festas de aniversário perdidas, desconhecia o dinheirão contido em algumas caixas lacradas (as mais valiosas!) de bonecos dos antigos desenhos animados dos anos 80 das Tartarugas Ninjas: mil dólares foram oferecidos pelo apresentador/comprador, que, de forma honesta, expôs bem detalhadamente o quanto valiam no mercado e por quanto venderia (incríveis US$ 2.500,00!) – ou seja, ninguém é enganado com algumas doletas se o produto vale bem num leilão de fanáticos por estas memorabílias ("coisas que servem para ser lembradas")!

Ora, nem preciso dizer que um programa como este é delicioso para alguém como eu, que, desde o início da juventude e dos primeiros empregos como professor de Redação e de Inglês de cursinho, compra e coleciona, além das tradicionais compulsões por livros, CDs e DVDs/BDs, miniaturas de carros, motos e outros veículos, bem como 'action figures' (jeito meio metido a besta de chamar os bonequinhos) de grandes heróis e personagens cinematográficos – como a série Star Wars - Guerra nas Estrelas, onde reúno desde os clássicos bonecos da Hasbro até miniaturas em chumbo de personagens e naves da famosa hexalogia do Cinema, todos devidamente "expostos" nas hoje já amontoadas e empoeiradas prateleiras de meu pequeno escritório no apartamento onde moro (e onde Jandira vive a repetir que "não cabe mais nada"!).

Mas nem sempre tais relações me renderam boas lembranças – e não falo das frustrações de ter deixado de comprar alguma "pérola" em miniatura: refiro-me, na verdade, a alguns brinquedos antigos que meio que "iniciaram" toda a minha atual coleção e que não foram comprados por mim, mas, sim, por minha mãe (meu pai, tirante uma ou outra revistinha em quadrinhos da Disney que implorava para ter numa ida ao supermercado, nunca me comprava nada) nos hoje distantes anos da minha infância nos anos 80. Sim, eu tenho "clássicos" como alguns bonecos da linha dos Thundercats, da Grasslite, o He-Man e o Esqueleto da Estrela/Mattel; dois 'consoles' do Atari 2600 (com vários "cartuchos" de jogos); os jogos Triângulo das Bermudas e Mini-Senha da Grow; Pega-Pega e Ferrorama (droga: na verdade, este é meu irmão quem tem!) da Troll e por aí vai, alguns mesmos mantidos em caixas guardadas com carinho até hoje.

E no que tamanhas raridades me "magoariam", pode perguntar o atento blogueiro de plantão – elementar, "Gafanhoto" (nada mais antigo!): tais peças são muito mais cobiçadas do que possam julgar nossas limitadas filosofias e, ainda que eu jamais tenha posto alguma delas à venda, algumas pessoas, aproveitando as facilidades das exposições virtuais de uma ou outra foto exibida nas redes sociais (como os visuais e já em desuso Flogão Flickr, onde vez por outra, quando ainda solteiro, eu postava fotos das minhas relíquias), aproximaram-se e expuseram sentimentais histórias de vida ligadas àqueles brinquedos, visando um possível negócio comigo. E eu, compulsivamente cordato em qualquer época do ano, sempre respondi amigavelmente a todas os contatos, muito mais no afã de trocar uma ideia sobre este interessante mundo dos que guardam coisas antigas com valor afetivo do que com reais intenções de comercialização. Afinal, dificilmente eu receberia propostas tentadoras similares àquele divertido programa televisivo gringo e, mais dificilmente ainda, eu me desfaria facilmente de tão queridos relicários de minha infância...

Por isso, acabei por me indispor com duas pessoas que, se inicialmente mostraram-se nostalgicamente ricas com belas histórias ligadas aos objetos de desejo – mais precisamente com dois brinquedos em particular: BolaMania dos Trapalhões, uma brasileira e circular versão do quadrado Cubo Mágico, o famoso Rubick estadunidense; e o tabuleiro Ludo Disney/ Sobe e Desce Disney, com uma versão de jogo com dados e pinos para cada lado (ambos da Estrela) –, terminaram por evidenciar um terrível "Lado Negro" quando perceberam que as amigáveis conversas não resultariam em vendas e, diante de minhas indagações a respeito de quais seriam suas ofertas, mais por curiosidade do que intenções de comércio, acabei sendo mal interpretado e agressivamente tachado de que "supervalorizava demais" minhas adoradas relíquias! O pior é que sou, definitivamente, um colecionador, para o bem e para o mal: guardo estas conversas com os nefastos quase-compradores até hoje, sempre me assustando com os últimos contatos... O ser humano é mesmo um bicho estranho!

Mas nem tudo são grosserias neste duro mundo 'business' de coisas antigas: acabei mantendo uma espécie de amizade virtual até hoje com um boa-praça (outra antiguidade!) "jovem senhor" recifense de 41 anos, Demócrito da Silva, que, de todos, foi o que mais mostrou não só cordialidade no trato com um desconhecido colecionador como se mostrou o mais humanamente "merecedor" de um possível negócio com um dos meus brinquedos da década de 80: a estranha BolaMania dos Trapalhões, que se valia do sucesso do quarteto de comediantes globais apenas no nome (o brinquedo não guardava referência alguma a nenhum deles) para vender o difícil apetrecho cheio de bolinhas coloridas em série que, embaralhadas, deveriam ser recolocadas, por meio de três movimentos em torno de um eixo central, em cada um dos seus anéis na seguinte ordem: amarelo, verde, vermelho e azul. Curiosamente, jamais resolvi tal quebra-cabeça modernoso e acho que nem é necessário dizer que aquele "eu de mais ou menos 10 anos de idade", com o tempo, distanciou-se daquele objeto para só esporadicamente tentar arriscar umas rodadas a fim de encontrar uma solução...

"Então por que não vender esse brinquedo de uma vez, até mesmo dar pra quem queira?!", perguntaria um ainda mais atento blogueiro de plantão (ou minha mulher Jandira Helena, toda santa vez que tomava conhecimento de algum interessado na "quinquilharia encalhada": palavras dela!) – não saberia responder... Mero apego sentimental, talvez... De qualquer forma, o barato mesmo em torno de raros itens sentimentalmente guardados por tantos anos são as histórias envolvendo tais colecionáveis: tanto é que, em meio àquelas promessas de "um dia, quem sabe", em muitas de nossas conversas eu costumava brincar com o amigo Demócrito que, se ele um dia me mostrasse como solucionar aquele doido 'puzzle' de bolinhas e eu realizasse tal feito ao menos uma vez, o brinquedo poderia ser dele... No que ele, espertamente, concluía que, se um dia eu descobrisse o segredo, eu então jamais o venderia!

Hoje o danado tanto fez que conseguiu uma BolaMania para chamar de sua: em recente postagem no Facebook, o persistente pernambucano publicou fotos pessoais do seu idolatrado objeto de desejo finalmente adquirido, ainda que nada revele quanto aos detalhes da aquisição... Uma pena, vez que já me havia acostumado a brincar sobre os escorchantes valores que cobraria! Mas a boa amizade que surgiu continua (como disse certa vez: o melhor deste universo é "colecionar novos amigos com suas histórias incríveis"), bem como a "posse definitiva" deste intrigante brinquedo segue em meu poder. Bem, mais ou menos: desde os fins das últimas tratativas de venda do mágico artefato, este se encontra devidamente trancafiado e protegido por destemidos e importantes nomes da prodigiosa em mitos década de 80, num concorrido canto do escritório da minha residência (foto abaixo). Assim, melhor deixar esse pessoal tomar conta: afinal, eles pertencem a uma espécie de dimensão paralela... E eu, juntamente a uma fina geração de bons lembradores, seguimos atrás como "caçadores de brinquedos antigos"!

 Entre Esqueleto e He-Man (com uma pequena ajuda dos amigos Thundercats e de um desconhecido Transformer), melhor deixar a Bola onde ela está: eu que não meto à besta com esse pessoal poderoso de grandes recordações...

 

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