Eram tempos em que a voz do velho rádio trazia calor, filmes mudos falavam mais do que a tecnologia dos efeitos de hoje e simples folhas de jornais ou de revistinhas eram o passaporte para uma era dourada, acima das galáxias mais distantes, por sobre guerras de depressões das mais sombrias... Eram tempos em preto e branco quando aqueles seres extravagantes de eras futuras ou vingadores de 'colants' coloridos, tal como o homem mais forte do circo, realizavam prodígios e maravilhas... Quando os heróis dominavam a Terra... Eles traziam esperanças para um mundo anacronicamente sem cor...
O Sombra, Fantasma, Doc Savage, Buck Rogers, Tarzan, Zorro... Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash... Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Thor, Hulk, Homem de Ferro... Eras diferentes, mas que guardavam entre si o frescor de um mundo atemporal e cheio de fantasia. O mundo real podia ficar chato - como ficou, várias vezes, com seus códigos disciplinares nos quadrinhos e listas do medo entre artistas; com sua opressão transviada à juventude; com suas épocas dominadas por 'cowboys' de uma Política fascista e recicladamente ruim... Mas eles estavam lá, para qualquer um que quisesse acreditar em dias melhores...
E tais "dias melhores" eram sempre os do futuro, com seus mundos maravilhosamente práticos e sem violência... E todos aqueles sonhos de "dias de glória" futuras de antigas feiras científicas, enfim, chegaram: cinemas 'multiplexes' que te deixam surdo com seus exageros sonoros e sem opção de ver um filme alternativo; os 'I-pads', 'tablets' e afins, que repetem uma desenfreada sociedade atual através de suas personalidades de 1 minuto por entre assobios de passarinhos azuis globais e vídeos de gosto duvidoso... A violência se agravou e, se não houve (ainda) os carros voadores e os criados robôs, pelo menos o idealismo por dias melhores não morreu, apesar de todo o realismo pungente. E os heróis? Bem, eles já morreram, ficaram paraplégicos, mudaram de nome, uniforme, poderes, aderiram ao homossexualismo ou assexuaram-se de vez e ressuscitaram em revistinhas apodrecidas por editoras que se renovaram demais... Sim, porque, como imortais, não importa o que aconteça, eles sempre voltam - ainda que totalmente diferentes daquele tempo em que eles dominavam...
E numa era ferozmente moderna, porém multicolorida, como a dos dias atuais, nada mais justo do que aqueles heróis cheios de cores voltarem à tona, nas mais modernas mídias possíveis. Entretanto, bem antes que Batman, Homem-Aranha e Homem de Ferro se transformassem em indústrias movimentadoras de fortunas em filmes de bom entretenimento, houve um tempo em que as tramas adaptadas eram no preto e branco dos capítulos das matinês dos cinemas ou nas séries de uma televisão ainda primitiva dos anos 40 e 50... E se herói na TV era sinônimo de ‘pow’, ‘soc’ e ‘crash’, no mais exagerado ‘nonsense’ dos anos 60, um kryptoniano mudou por completo o conceito de adaptação de HQs: nada deste ‘boom’ cinematográfico de hoje em dia seria possível se em 1978 um certo alienígena sedutor não sorrisse para a câmera no final, naturalmente rindo-se dos que até então duvidavam que um homem de ‘collants’ pudesse voar num filme tão bom... Atraindo aos cinemas crianças maravilhadas e adultos ainda desconfiados (ou um pouco envergonhados),
Superman - o filme ressuscitou a magia de outrora com uma trama cheia da fantasia daqueles antigos e bons tempos, com respeito e inteligência aos gigantes de uma era já quase esquecida no Cinema realista da década de 70.
Hoje, em meio ao caos de imagens tão cheias de cores e sons, truques tão acelerados quanto vazios de seriedade e compromisso, por entre 'nerds' e 'geeks' que desejam aparecer mais que o próprio filme em seus cultos a uma babaquice desvairada, parece que a magia toda, matéria-bruta na qual aqueles heróis um dia foram forjados, anda bem esvanecida... Por isso, de assustar que, num só ano, surjam, pela primeira vez na tela grande Lanterna Verde, Thor, Capitão América... Sem contar o interessante reinício jovem dos X-Men com sua "Primeira Classe" (o melhor da safra, readequando-se aos bons e velhos anos 60 de suas origens)! Todos eles lá, aprisionados a campanhas de 'marketing' mais agressivas que as atrocidades de Caveira Vermelha, Loki, Sinestro e Magneto juntos e mais assustadoramente obtusas que qualquer Zona Fantasma: e tome bonecos (adendo: gosto de colecioná-los... Eu me rendo!), publicidades virais pela rede mundial de computadores (coisa da Shield, provavelmente...), lanchonetes vorazes com suas "ofertas" casadas... E tome vontade e esperança de vê-los novamente com a aura de majestade de antes e com eles dialogar sobre uma época que não mais existe!
Mas, mesmo as "versões moderninhas" me faltava tempo de vê-las, nessa correria desenfreada de tentar corrigir tantas mazelas no meu tempo que ficou pra trás, já quase sem fantasia... Eis que Odin, generoso como só um deus pode ser,
parece ter-se apiedado desta pobre alma, ó, irmão, e me conduziu, depois de longo e tenebroso inverno sem ver um filme sequer, às terras mágicas da sala escura, com toda aquela luz de arco-íris na grande tela dos últimos dias! Tive que correr, mais rápido que o velocista escarlate (que, dentre suas dezenas de versões chatas e cansativas, ainda prefiro Barry Allen!), para driblar o realismo sem fantasia de meus últimos meses e pôr a prosa com meus antigos heróis em dia: forçando uma folga recentemente, eis que voei aos cinemas para ver suas novas versões pirotécnicas!
Sim, porque, infelizmente, é mesmo o que pode ser dito quanto a um equivocadamente engraçadinho (e aceso!)
Lanterna Verde (bastava adaptar o arco
Origem Secreta, de Geoff Johns, e teríamos um filme bem melhor!), sem se esquecer de um fraco
Thor (que direção de arte tosca era aquela?!): se a DC ainda se esforça (em vão) para iniciar novas séries fora do brilhantismo de um Batman (pouca fantasia, mas ótima franquia de cerebrais filmes de ação) ou da nostalgia de um Super-Homem (ao contrário de muitos, gostei do filme-homenagem do Bryan Synger) e a Marvel Studios segue tropeçando desde
Homem de Ferro numa insana correria para apresentar a todos os seus medalhões antes do filme-evento dos Vingadores, fiquei sozinho na platéia, a tatear no escuro, literalmente, o ocaso de personagens tão ricos e bacanas, como o sentinela esmeralda e o deus do trovão, que mereciam filmes bem melhores...
Mas parece que
Capitão América - O Primeiro Vingador tem sido a mais "redonda" das últimas abordagens: com sua homenagem aos tempos áureos em que surgiu o personagem, o spielbergiano discípulo do bom cinema oitentista Joe Johnston conseguiu, ainda que sem muita novidade ou emoção, edificar aquele sentimento de matinê perdido em algum lugar de nossas retinas fatigadas, entregando um bem razoável entretenimento com a calma de que a Marvel vinha precisando:
Capitão América agrada mesmo em tempos de sentimentos anti-americanos com grande elenco, aventura e efeitos na medida (muito interessante a reconstrução em CGI do Steve Rogers franzino) e uma gostosa trilha de herói como há muito o amigo
Jorge Saldanha não ouvia (eu diria que desde James Horner em
Rocketeer, com aquela ótima trilha para um personagem novo com cara de antigo)!
Ah, os heróis e a fantasia inspiracional daqueles dias dourados... Eu mesmo, como se dominado pelo dia mais claro,
enchi meu peito daquela verde esperança de outros tempos, época em que mais me aproximava do espírito daqueles heróis, e lutei contra todos o desafios que surgiram no último agosto, mês de maior correria pra mim dos últimos tempos... Porém, apesar de aqueles que ainda me vêem de capa reluzente contra o sol (mas com uma bandeira brasileira ao fundo, faz favor!) jurarem ter-me visto voar em alguns momentos, infelizmente também tive meus tropeços, acompanhados de quedas livres... E, por isso, mesmo enfrentando todos os medos amarelos que me cobram os poderes até hoje (afinal, "com grandes poderes"...), e ainda querendo muito acreditar naqueles semideuses de outrora, sigo com meu super-uniforme no lixo, lutando o mero dia-a-dia como o mais realista dos mortais...
Não resta dúvida de que eles, um dia, dominaram a Terra... Muito tempo antes de toda essa patacoada visceral de efeitos desenfreados e de mundos virtualmente vazios... Muito antes de meus largos vôos por sobre a Terra terem-se transformado em, no máximo, corridos passos (sempre atrasados) em direção a faculdades de alunos desinteressados e a fóruns e juizados cinzas e sem esperança... Mas, se não sou mais um super-homem, ainda posso ser o superpai de minha doce Isabela, para quem salto mais alto que o próprio Hulk e tenho mais truques do que um Mandrake e um Zatara juntos! E minhas letras persistem, mesmo diante da kryptonita mais forte! Por isso fico feliz ao ver tantos fiéis Jimmys Olsens acompanhando as letras que jogo aos ventos virtuais, sempre por aqui antenados tal como se possuíssem aquele famoso relógio-trasmissor do fotógrafo camarada do Planeta Diário, à espera de mais uma nova temporada!
Pois ajustem a freqüência e ouçam a boa nova de setembro, caríssimos blogueiros de plantão: o Sombra já sabe e agora todos fiquem sabendo que
os Morcegos estão de volta em cartaz! O meu muito obrigado a vocês, que jamais me abandonaram voando sozinho rumo a um crepúsculo esmeralda qualquer...
"Eles nos matarão se puderem, Bruce! Eles não devem ser lembrados de que gigantes caminham sobre a Terra!"
(Super-Homem, em Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller)
Ainda assim, sempre será possível recomeçar e fazer a diferença, sendo alguém especial, um gigante...
Dedicado a Sérgio Ronnie, Jimmy (Olsen) Ranyer, Ricardo Alexandre, Dennis Guilhon, Henrique Spencer, Quézia Custódio, Lígia Calina, Diogo Rodrigues, Marcos Dhotta, Marco Santos e Adriana Bello (uma Liga da Justiça inteira!) e a todos aqueles que carregam dentro de si um herói de tempos idos...