quarta-feira, 30 de setembro de 2009


Enquanto te lançavas no ar,
Distraída,
Seguia a vida o longo rumo
Daquela rua.
Mas aquela rua já não mais parecia
Tão longa,
Que a mente liberta, em meio
Ao incerto
De tantos pensamentos repetidos,
Já conhecia
O caminho: o rumo inteiro, assim,
Ficava menor...

E o Coração viu que aquilo
Era bom...

E assim, no fim da semana,
Tudo, de novo,
Era novo, enfim, para todo
O sempre:
Eu não te culpo de seres capaz
De planar
Por sobre as águas
Ou por seres mais leve que o ar: já conheço
Essa estrada...
E tudo o que vejo em meu redor
É menor
Porque do ar - e podes concordar comigo -
Tudo é repetido!

E tu, em meio ao enxame de almas viventes,
Simplesmente amas!
E assim refazes meus dias e descansas ao final
E ao largo
De meu jardim,
Sem nunca ao certo te despedires de uma vez por todas
De mim...

(Dilberto L. Rosa, setembro de 2009)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Saem o Super-Homem e o Homem-Morcego

e entra em cena o... "Carcaju"?!


"Carcaju o car... Meu nome é Wolverine, porra!"
Wolverine, em Inglês, quer dizer "carcaju", um tipo de texugo das florestas do Canadá, terra-natal do mutante mais famoso e sanguinário dos Quadrinhos!


Ele já foi Logan, Arma X (sua primeira alcunha e também uma das melhores HQs já feitas, mostrando a origem das garras de adamantium em uma incrível trama de suspense – que, se bem adaptada para o Cinema, renderia bem mais que o ridículo X-Men Origins: Wolverine), Caolho e Morte (em fases mais independentes) e é X-Man desde o "comecinho da carreira", pouco depois de ser mero coadjuvante do Hulk, onde surgiu, em 1974. De lá pra cá, tantas foram as fases e "descobertas" sobre seu passado enigmático (amnésias e implantes de memória sempre deixaram o "velhinho" confuso sobre suas origens, bem como seus leitores!) até uma polêmica série que teria posto um "fim" ao início": Wolverine, na verdade, nasceu James Howlett há mais de 100 anos (sua idade era, até então, um mistério, devido a sua capacidade de regeneração), garoto fraco e doente, filho de um rico latifundiário, que vivia "tranquilo" até que, instintivamente, cravou garras monstruosas que de suas mãos surgiram, matando um capataz. Adotando o nome falso de Logan, passou anos trabalhando embrutecido como um anônimo minerador, onde passou a ser comparado a um carcaju (animalzinho escavador invocado, conhecido em Inglês como 'wolverine'). Muitas guerras (inclusive a Segunda Grande Guerra, onde lutou ao lado do Capitão América) e batalhas (as mais memoráveis contra os robôs Sentinelas, com o famoso arremesso de Colossus) depois, Wolverine continua como o campeão de popularidade da Marvel e se reinventa em inúmeras séries de HQs e de TV, conquistando crianças e adultos!

Em maio, quando do lançamento do bobo filme com o sempre bom Hugh Jackman (que mais uma vez "incorporou" o personagem, apesar de o filme passar longe das reais "origens" do herói animalesco), várias HQs foram (re) lançadas, e, mesmo com alguns "caça-níqueis", algumas são dignas de nota! Comprei e li com entusiasmo saudoso pelos tempos do Chris Claremont à frente do personagem (com desenhos do lendário Frank Miller) Eu, Wolverine: com inúmeras reviravoltas, Logan segue para o Japão, fica dividido entre o amor de sua Mariko, então casada por interesse do pai mafioso, e o da rebelde Yuriko, em meio a espetaculares ataques genocidas da Tentáculo! Pena "acabar" de forma abrupta, bem na beira do altar (isso mesmo: nunca antes o rebelde das garras houvera sido tão humanizado!)! Boa notícia? Parece que esta HQ será a base de Wolverine 2: só assim para tirar o gosto ruim do primeiro! Capa dura e preço razoável convidam ao deleite do saudosismo de uma grande fase do personagem!

A outra pedida é a "fininha" Wolverine Logan, compilação de estorinhas de um pequeno arco de histórias desenvolvidas pela dupla Brian K. Vaughan (Os leões de Bagdá) e Eduardo Risso (da série 100 Balas): se a trama está a quilômetros da qualidade artística de Eu, Wolverine, pelo menos a diversão de mexer com certos "conceitos paralelos" do personagem (tipo aquela eterna dúvida sobre a imortalidade dos personagens da série Highlander ser anulada pelo corte da cabeça...) e o clima de Terror do meio-final geram uma bobagem gostosa de acompanhar! Sem esquecer o mimo que acompanhava a edição lacrada: uma placa de metal do Exército com a inscrição do "eterno" mutante...

Super-Homem e Batman completaram, respectivamente, 71 e 70 anos recentemente; Wolverine é um dos grandes "caçulas" dos Quadrinhos, completando agora 35 anos (apesar de o personagem já passar dos 100 nas estorinhas...): se a maioria da população só passa a conhecer grandes personagens de HQs e suas estórias legendárias através de suas adptações para o Cinema – e os personagens da DC têm mostrado bem mais fôlego cinematográfico que o rival da Marvel! –, é torcer para que o complexo, humano (e sanguinolento) universo de Wolverine renda produções melhores daqui pra frente...


Super-Homem e Batman tiveram filmes respeitáveis e inteligentes nos últimos tempos; o mesmo não se pode dizer de algumas franquias "pipoca e efeitos" da Marvel, como Wolverine...
Especialmente para os colegas de minha turma do 3º Ano do 2º Grau do Colégio Dom Bosco, de 15 anos atrás, que se amarravam no desenho X-Men (1990), exibido na divertida TV Colosso quase na hora do almoço e um pouquinho antes de as aulas começarem: alguns tinham um apelido carinhoso sobre algum personagem; lembro-me de que o meu era "Wolverine"... Um herói atípico: logo eu, um cara tão pacífico... Vai entender...

sábado, 19 de setembro de 2009

'The last man standing: the best Is yet to come...'


"O último homem de pé: o melhor ainda está por vir..."

Certa feita, quando perguntado sobre quem seria o maior cantor do mundo, Frank Sinatra não pestanejou: Tony Bennett! Não vi o genial “The Voice” quando de sua apresentação no Brasil; óbvio, eu tinha pouco mais de 2 anos de idade e sua passada foi bem rápida, somente no Maracanã, num histórico ‘show’ de mais de 150 mil pessoas... Mas eu bem que poderia presenciar “o segundo maior cantor”, em sua mais nova apresentação no Brasil (próximo mês de outubro), se não fosse um pequeno detalhe geográfico: o mais próximo de minha ilha equatorial onde se apresentará será em Recife – aceitando doações para conhecer, enfim, a Veneza Brasileira e ver um de meus derradeiros ídolos da Música – e ouvir as interpretações perfeitas, na ainda poderosa voz aos 83 anos, em clássicos como I Wanna Be Around, The Good Life, The Best is yet to come, Rags to Riches e, como não poderia deixar de ser, o hino maior da melancolia citadina, I Left My Heart In San Francisco! Que a "boa vida" siga com este Mestre ítalo-americano – e com todos os fãs que puderem ir aos seus 'shows' no meu lugar...



E, falando em “derradeiro”, nada mais justo que homenagear ‘The Killer’, “O Matador” das origens da criação do ‘rock’n roll’, Jerry Lee Lewis – também, digamos, o “segundo maior” depois do Rei Elvis Presley: The Last Man Standing (ou “O último homem de pé” – nada mais apropriado para este louco genial depois de escândalos, tragédias pessoais e vícios!) marcou não só seu retorno através do disco homônimo lançado em 2006 (com parcerias com outros astros igualmente lendários, como Mick Jagger, Keith Richards, Ringo Starr, Eric Clapton e B.B. King), como também traz de volta ao País uma das “últimas lendas vivas do rock” (Chuck Berry e Little Richard ainda estão “de pé”, mas um pouquinho mais velhos, cansados e fora de cena...) em apresentações em Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte... 'C'mon, Jerry': passasse aqui na "Ilha Rebelde", que você se sentiria em casa! Entre o céu e o inferno de seu piano magistral, fico aqui de longe inebriado pelo seu legítimo 'rithm'n blues', 'boogie woogie' ou 'country-blues/gospel' meio negro pagão, meio branco religioso! E, para quem puder, curtam essas "grandes bolas de fogo" por mim!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Para o alto... E avante!

Costumo dizer que, com algumas exceções (como o tolinho Carros!), as animações da Pixar costumam ter “camadas”: assim, mesmo diferente da poesia ou da profundidade de filmes como A Viagem de Chihiro, Persepolis ou As Bicicletas de Belleville, pequenas obras-primas como Toy Story, Procurando Nemo, Os Incríveis e Ratatouille, além de tecnicamente perfeitos, são pérolas cinematográficas da nova animação norte-americana! Infelizmente, algo dessa fórmula de sucesso parece não ter se repetido no mais novo trabalho do estúdio da luminária: UP – Altas Aventuras, apesar de bonito e interessante, não segue a inteligente linha de seu antecessor, Wall-E...

Se os primeiros 30 minutos são tão emocionantes quanto no filme do robozinho apaixonado, com um amplo espectro sobre a vida, o amor, a velhice e a perda, Up passa ainda por mais duas "fases" distintas, que acabam segmentando o filme: o "desenvolvimento" da trama (o vôo da casa por meio de balões, juntamente a um garotinho escoteiro, rumo a uma América do Sul tão cheia de mistérios quanto se imaginava no início do século passado, era dos grandes exploradores), onde a animação vai demonstrando uma contínua perda de fôlego à medida que vão se apresentando as "surpresas" (aves raras, os sensacionais "cachorros falantes" e um vilão previsível), e a consequente "correria" de praxe, que acaba tomando conta de boa parte do terço final da animação, reduzindo-a ao nível de filmes "engraçadinhos" como A Era do Gelo, com "aventurinhas" estapafúrdias que transformam, por exemplo, o Sr. Fredricksen (genialmente dublado na cópia em Português pelo Mestre Chico Anysio), um velho quase octogenário, num verdadeiro atleta!

Com os cuidados do mesmo diretor do ótimo Monstros S.A. Pete Docter, e dividido entre o estilo "animação para adultos" daquele estúdio e o "’blockbuster’ para crianças", Up acaba sendo um bom filme... Só que um pouquinho "para baixo" da linha de excelência das demais animações da Pixar!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ilha Magnética

Fellini é quem sabia das coisas: cena de meu filme favorito, Amarcord

Do alto de meus doze andares de altura vejo minha amada ilha de São Luís quase toda de minha varanda privilegiada... Mas me chamou mais atenção neste feriadão em casa uma escola municipal quase vizinha de meu condomínio: em sua quadra, hinos de louvação a soldados e pátria eram entoados enquanto os pobres meninos, como autômatos, ensaiavam uma marcha, acredito que para os desfiles da Semana da Pátria... Mas que coisa mais reacionária esta fascista ideia de tropas vistoriadas pelos nossos esvaziados e sonolentos políticos em palanques ensolarados pelo tórrido clima de baixo da linha do Equador - onde, se não existe pecado, parecem nunca deixar de existir tolas referências ditatoriais a um país sem memória e sem identidade!... Independência de quê?!


Bandeiras e fronteiras: pendão ludovicense e ilha de Upaon-Açu ("ilha grande" em bom tupinambá) fotografada por mim numa de minhas viagens de volta de Krypton...

E senta que lá vem mais História: franceses fundaram (Forte de Saint Louis) e quiseram colonizar (França Equinocial, com mais sorte no projeto da Guiana), os Tupinambás até deram uma força, mas Alexandre Moura e os portugueses chegaram e reclamaram o que era "seu", a ilha de Upaon-Açu... De um forte, cresceu cidade em torno do açúcar e seus azulejos e sobradões alimentam a poesia de qualquer um que visite aqui com o coração aberto: minha cara São Luís completa hoje 397 anos!

É sabido e notório que aqui, infelizmente, ainda faz parte de um feudo coronelista de informações controladas e atraso político de décadas pedetistas (de oposição ao bigodudo!), mas, acima dos problemas sociais e estruturais (o pouco mais de um milhão de habitantes vem se espremendo em suas ruas e avenidas estreitas e calçadas quebradas, cheias de carros novos e ambulantes sedentos e becos com cheiro de urina) e das ladeiras e dos telhados cheios de História, existe uma cidade suspensa repleta de encantos etéreos e eternos, tudo embalado a bumba, tambor e 'reggae' num forte e úmido calor cheio de sabores quentes em sensuais peles morenas... Salivemos juntos numa história de lendas quentes e sem fim por mais séculos e séculos...

Em São Luís

Pois só por cima
de teus telhados
eu respiro
A brisa de saudade
que não sei explicar
De onde vem, para onde vou
– minha cabeça em giro
Por sobre a cidade-tempo
suspensa no ar...

(Dilberto L. Rosa, 2007)



Pescando corações desavisados: quem provou, não quer deixar; quem ainda não veio para cá, não vê a hora de sentir esta gostosa brisa cálida entre as palmeiras de bem-te-vis e sabiás... Para Sérgio Ronnie, o Degredado-Mor, que foi e voltou e que agora aqui sentou praça, completando nessa semana, quase junto à cidade, mais uma primavera...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Infinito


– Diabolices, menina, diabolices...
Dizendo isso entre os dentes, foi a última coisa de que ele se lembrava ter dito a ela antes de se deixarem vencidos pelo cansaço do dia difícil. Lembrava-se ainda de tudo ter sido necessário para acalmar o coração dela, ansioso e angustiado para além do normal, sempre àquela hora da noite... Aquela era, sem dúvida, a hora mais difícil do dia, o confronto com a razão justamente na hora de deitarem-se (havia ainda, da parte dela, a hora da toalha entre os dentes, logo após o banho frio e cheio de dúvidas, mas dessa ele não participava pessoalmente...). De repente, ela veio, de pronto:
– Surpresa: lê isso, espero que gostes...
Ele leu tudo rapidamente, como sempre fez. Já era meio da tarde e o dia havia se arrastado para bem mais longe do que poderia esperar para pensar em poesia àquela hora, ainda pregado na cama...
– Não tem final...
– Como assim?
– Não tem final!
– Não precisa ter final! Filmes franceses não têm final!
– Não têm...?
A Professora de Piano...
– É... A Bela da Tarde talvez...
– Aqueles da trilogia das cores... Algo azul, algo vermelho...
– Do Kieslowski? A Liberdade é Azul pode até ser, mas A Fraternidade é Vermelha tem final, sim, aquele onde os personagens dos três filmes se encontram num barco...
– Ah, não sei... Pô, discutir final...
– Claro que não precisa de final, mas ficou chocho, não sei... Vinhas com certa profundidade e o final ficou bobo... Então é isso: tem final, mas é bobo!
– Merda, 'tou me sentindo mal...
– Por quê?
– Escrevi pra ti... Mas, tudo bem, eu me iludi como escritora, né? Bom me mostrares as falhas...
– Não 'tou criticando... Desculpa, não quis te atropelar... 'Tá bonito, poxa, fizeste pra mim...
– É sempre assim: as coisas giram em torno de ti: egocêntrico, insuportável! Só tu estás certo!
– Vem cá...
Não pôde se livrar de um tapa que ainda veio em sua direção, mas ele bem soube entrelaçá-la em seus braços ao ponto de desarmá-la: beijaram-se com sofreguidão e com a pré-anunciada saudade de saberem-se derradeiros num mundo sem razão... E o memorável clichê se seguia através da imagem das listras douradas de sol de final de tarde que as persianas entreabertas deixavam passar naquele quarto esquecido pelo tempo... À noite quase não se falaram e ele pegou seu avião; ela preferiu ficar em casa, despediram-se como se a tarde não houvesse existido. Falaram-se ainda muitas vezes pela 'internet' e brigaram ainda muitas vezes pelo telefone. Não-sei-quantas vezes terminaram e ansiaram e se reinventaram por tardes de luxúria como aquela que viveram naquele dia de filme francês... Tudo sem final...

Dilberto L. Rosa, agosto de 2009
 

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