Não, não falo do nada original A Origem, pretensiosa colcha de retalhos de Matrix, Brilho eterno de uma mente sem lembrança e A Hora do Pesadelo e metida a ficção-científica, mas, sim, da origem da “maior aposta do Cinema mundial”: o “Oscar” (leia-se com acento na última sílaba, igual ao nome do astro do basquete brasileiro, diferentemente do nome em Inglês) – “maior”, sem dúvida: afinal, ninguém entre nós é dado a apostas normalmente, assim como não damos a menor pelota para essa balela da imprensa de que o Oscar, dado a premiar sua própria indústria, seria o “maior prêmio do Cinema”...
E quando falo em “nós”, estou me referindo às “velhas cabeças pensantes” (hoje, mais velhas do que pensantes...) do extinto Clube dos Amantes do Cinema, antiga proposta cultural onde Sérgio Roonie e eu tínhamos um programa de rádio sobre trilhas sonoras de Cinema e proferíamos palestras e cursos, em parcerias com serviços sociais e universidades de São Luís. E, desde que nos entendemos por gente – Ricardo Alexandre viria depois –, realizamos o referido bolão para apurar quem é o mais “lógico” em “prever” o maior número de vencedores do prêmio da Academia.
“Lógica”, sim: afinal, quase um jogo de cartas marcadas com poucas surpresas, o Oscar tende a premiar seus eleitos "queridinhos" (só assim para explicar tantos prêmios para o "bom, porém chatinho" A Rede Social) ou aos filmes que mais renderam de volta à sua própria indústria – embora, de tempos em tempos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood goste de enaltecer algumas “causas” (como Guerra ao Terror, que bateu o "independente e sem-chance", porém melhor, Preciosa, no ano passado)... De todo modo, o maior “vencedor” da aposta do “Oscar” ainda sou eu (normalmente dou sorte ao chutar nas categorias que ninguém viu, como documentário ou animação em curta-metragem, o que me rende pontos extras!), seguido de perto por Sérgio; e, bem atrás, Ricardo!
Numa festa artístico-capitalista, que, originariamente, era um jantar entre os artistas e técnicos da Academia (e hoje quase sem belos números ou emocionantes atrações e cada vez mais parecida com o engraçadinho MTV Movie Awards!), nada mais justo que hoje, entre amigos, alguns filmes queridos virem matéria de aposta e de animadas discussões em meio a um jantar para os ganhadores do nosso "Oscar"... Dos mais famosos momentos ao longo de tantos anos de aposta foram a "Noite no Cachorro-Quente do Sousa”, onde Sérgio se esparramou de ervilha e maionese à procura de uma bandeja, e a “Pizza de Metro da Casa Itália”, onde o hoje banido Ricardo (condenado ao ostracismo depois de recusar-se a pagar sua última contra-prestação) quase teve indigestão por comer "metros quadrados" demais...
Mas, sem dúvida, o que não dá para engolir é a Globo comprar todo ano os direitos de exibição e deixar os cinéfilos da TV aberta a suportar Fantástico e, o pior de todos, Big Brother, até mais de meia-noite, depois de mais da metade da cerimônia... E ainda por cima ter de agüentar os comentários de Maria Beltrão e José Wilker! Só a TNT salva (ainda que seja pela 'internet')...
Mas vamos aos indicados deste ano: seguindo um parâmetro antigo (até 1944), desde 2010 são dez os indicados à categoria de melhor filme – o que dificulta, deveras, ao "Sr. Ocupado" aqui poder ver todos o concorrentes! Mas, com uma pequena ajuda dos meus amigos (Rodrigão, valeu!) e do PC, um pouquinho de pirataria não faz mal a ninguém (até porque, se o filme é bom, depois faço questão de comprar o original para ter na coleção): assisti em casa Cisne Negro, A Rede Social, Bravura Indômita, Toy Story 3, 127 Horas e A Origem quando muitos deles nem nas salas brasileiras ainda estavam! Seguem no páreo O Discurso do Rei, O Vencedor, Minhas mães e meu pai e o independente Inverno da Alma.
Dos que eu vi, considerei Cisne Negro o melhor, com seu mergulho (literalmente) visceral, dinâmico e célere na(s) personalidade(s) de uma bailarina oprimida prestes a se tornar a principal estrela numa remontagem de O Lago dos Cisnes – lembrou-me O Inquilino e Repulsa ao Sexo, do mestre Polanski, onde o protagonista enlouquece gradativamente até se tornar outra pessoa por influências internas (problemas psicológicos) e externos (elementos fantasmagóricos e aterrorizantes). Em segundo, adorei Toy Story 3, tão engraçado e belo como seus antecessores, com um desfecho outonal e singelo especialmente para todos aqueles que um dia amaram seus brinquedos... Mas animação tem que concorrer com animação (feito com precedente apenas com A Bela e A Fera)! Bravura Indômita, mesmo sendo "mais fiel ao romance" homônimo, rendeu apenas um "filme acadêmico com tipos estranhos dos irmãos Cohen", sem a graça de John Wayne do filme de 69... Já 127 Horas é aquela "ótima edição baseada em fatos reais com uma cena forte no meio", no páreo somente devido ao excesso de indicados. E sobre A Origem, nada, mas nada mesmo, de novo no 'front'...
Dentre as categorias principais seguidas (diretor, ator, atriz e seus coadjuvantes), reforço que preciso urgentemente ver O Discurso do Rei e O Lutador (já baixados aqui em casa!)! Já quanto à linda Nathalie Portman, um adendo: apesar da franca unanimidade, acho que, no caso, o trabalho maior foi da direção-de-autor de Aranofski, e que ela foi melhor na indicação anterior (Closer): em alguns momentos "frágeis" de sua rica personagem, pareceu ficar devendo um pouquinho... Mas, num todo, e devido ao profundo personagem, valeu! E não havia como errar num filme grandioso como esse: é, como diria Marlon Brando, um "papel à prova do ator" (ou, no caso, da atriz)...
E, se não tivemos os "lixos extraordinários" das últimas indicações brasileiras dos Barretos ao Oscar (levaram O Quatrilho e O que é isso, companheiro, mas, graças a Deus, não conseguiram emplacar Lula, O Filho do Brasil para outra mancada em Los Angeles...), o nosso Lixo Extraordinário perdeu para o norte-americano Trabalho Interno. E já chega desse "complexo de vira-lata" de que nosso Cinema não ganha Oscar: grande coisa! Nosso ótimo documentário era tido como "azarão" pelos jornais norte-americanos porque "não era falado em Inglês" e "não refletia uma realidade dos EUA"... 'Bloody fuckin' americans'...
Mas, como diria a canção, é isso aí: ano que vem tem mais – justos acertos, injustiças homéricas e astros e atrizes a pulular com seus lindos (e milionários) trajes! Para Sérgio e eu, os últimos homens de pé nessa aposta grandiosa, resta um jantar para o vencedor e para botar os papos cinematográficos em dia: próximo sábado, na minha casa, viu, Serjão?!