terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Hoje a ROTATÓRIA está com cara de intercâmbio: além de ter pela primeira vez neste espaço virtual o amigo Marcos Fábio Matos, jornalista, professor e escritor maranhense, também tenho a honra de ter uma de minhas crônicas poéticas expostas em seu ótimo blog www.marcosfmatos.blog.uol.com.br!

Por aqui publico dois contos de seu último livro publicado, Cotidiano Cinza, um inteligente e divertido panorama do cotidiano através de um olhar irônico e de estórias curtas, porém precisas!



RISCO I

(Sempre há um escape)


Ele sustentava três criaturinhas consumistas. As duas crianças, as piores exigências. Era o shopping, era o lanche do shopping, era o cinema, era a tv por cabo, era o videogame, era o lanche da escola, era a pizza do domingo à noite, era o presente para o aniversário do coleguinha do condomínio, era a roupinha nova para o aniversário do coleguinha do condomínio, era a natação, era o particular, era o inglês, era a revistinha, era a pipoca na frente da escola, era o material extra para a aula de artes, era o passeio da escola no fim de semana, era um presente qualquer visto na rua. A mulher lhe exigia um pouco menos, um pouco só.

Um dia, numa dessas viagens do trabalho, ele conheceu a Carolina. A Carolina trabalhava. A Carolina era independente. A Carolina era despojada de coisinhas materiais. A Carolina era viúva e seu único filho estava se formando naquele ano e já morava com a namorada. A Carolina se apaixonou por ele. E ele por tudo o que representava a Carolina.

Ele não pensou duas vezes quando a Carolina, três meses após o início do tórrido romance, fez o convite. Levou as roupas, os livros e os cd's para o apartamento dela.

E as três criaturinhas consumistas tiveram de se virar sozinhas.

(MATOS, Marcos Fábio Belo, Cotidiano Cinza, edição de autor, 2004)

domingo, 29 de janeiro de 2006


Nasci e me criei em São Luís do Maranhão. Cresci assistindo a uma bela e rica cultura, em todos os sentidos, advinda de um povo pobre, porém rico em misturas raciais e em tradições culturais. Se bem que nos meus tempos de criança não havia esse 'boom' de arraiais de hoje, de "São João pra inglês ver", de São Luís Patrimônio da Humanidade nem qualquer outro 'merchandising' barato para promover ainda mais uma oligarquia imunda que de pão e circo se alimenta há mais de 40 anos...

Por aqui circulam muitos ritmos e estilos de qualidade, que fundem um pouco do Reggae (vindo para cá na década de 70) à tradição maior dos ritmos tradicionais do Bumba-boi e das percussões dos tambores negros, sem esquecer das marchinhas de qualidade que o nosso carnaval costumava apresentar - tudo isso apesar do mau gosto cultural dominante no atual cenário maranhense... Todos aprendemos na escola que o Maranhão e o Piauí se localizam no Meio-norte (sendo mesmo o Estado do Maranhão parte da Amazônia legal). Assim, neste pequeno "rego" (não será grande?) entre o Pará, o Ceará e a Bahia, estamos sujeitos aos piores tipos de influência musical já existentes de todos os tempos - e olha que chamar "Calipso", "Forró" (pelo menos o que chamam hoje de forró) e o mais recente e esdrúxulo "estilo", o "Arrocha", de "música" já é forçar bastante! O pior é que o mau gosto tomou mesmo conta das rádios de São Luís e parece que, por um bom tempo, as porcarias vão continuar troando e ecoando por aí...

Sei que muita coisa precisa mudar na "terra dos mirantes e sobradões", especialmente no aspecto político... Afinal, do contrário, nossas belas lendas, histórias e tradições (coisas que realmente fazem uma terra pertencer a um povo) servirão apenas para enternecer os turistas cegos de câmera na mão... Uma dessas lendas reza que existe uma gigantesca serpente dormindo por baixo de nossa ilha, e que, caso a dita acorde, toda a cidade afundará - parece até metáfora sobre o povo ludovicense, que dorme distraído enquanto é subtraído em temerosas transações, a manter acomodado na mesmice este chão por mais séculos e séculos... Mas sigo a amar esta "Cidade dos Azulejos", "Ilha do Amor", antiga "Atenas Brasileira" por seu berço cultural de outrora (hoje ironicamente chamada pelos mais críticos de "Apenas Brasileira"!), a única capital brasileira fundada pelos franceses (e colonizada por holandeses e por portugueses), e tantos mais epítetos poéticos e românticos a esta ilha com seus belos sobradões, praias maravilhosas e com seus becos fedidos a urina... Sigo a amar esta cidade quente e seu povo mestiço e misturado, a ver poesia nos seus prós e nos seus contras...

Moro no Maranhão Novo, onde, do alto da ribanceira da Reserva Ambiental do bairro dá para ver tanto o Centro como o Renascença, com o rio Anil a separá-los e o sol a pôr-se ao fundo... Mantenho meu coração eqüidistante entre este velho e aquele novo, na certeza de que, num pulo de 15 minutos, saio da Daniel de La Touche e chego à 7 de Setembro, no Centro e, com disposição e com um amor por minha terra acima dos seus representantes, posso caminhar por entre seus becos fedidos e pelas esquinas cheias de ambulantes, a sentir a riqueza dos detalhes de seus azulejos seculares, das suas belas igrejas e dos seus casarios, em sua maioria, descuidadamente lindos, juntamente com seus mirantes e solares, a subir e a descer suas intermináveis ladeiras, até poder avistar a Ponta d'Areia, e, atravessando a ponte, chegar aonde a ilha tem seu "fim" - e com o carro deixado lá no "começo"...

(Compilação das crônicas "Arraial Oficial", "Vertebral: São Luís do Maranhão", "Ligeirinhas: Arrocha O Meio!" e "Independência, São Luís!")


sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Apesar de já ter participado do "post comunitário" da cara Micha, pela primeira vez tenho uma proposta aceita pela amiga virtual, uma vez que passo bastante por este "tema" atualmente... Só fiquei pensando numa proposta da Micha sobre academias de ginástica só para garotas... Com certeza o cheiro seria bem melhor que aquela sudorese insuportável da macharada tão comum nesses ambientes! E, com certeza, não faltariam currículos masculinos para trabalharem como professores!


Torturas em série! Lançamento de obra inédita de Kafka: "O Processo vai à Academia!"


Academia: ame-a ou deixe-a... Ou arranje uma amante para os fins de semana!

"Academia"... Pelo nome, não faz muito tempo, primeiramente se pensava logo num espaço intelectual onde se discutiriam idéias, princípios, teses e axiomas, tal como universidades e agremiações artísticas ou científicas... Entretanto, ao longo dos anos 80, aos poucos esta concepção intelectual de academia foi cedendo espaço para ambientes voltados exclusivamente para o físico, naqueles tempos em que Stallones Rambos, Schwarzeneggers Conans e Van Dames Kickboxers inspiravam jovens raquíticos a ter os corpos com todos aqueles músculos salientes, sem esquecer as fitinhas de fitness das séries self service de work out (quantos nomes em Inglês!), tão procuradas nas locadoras e que deram origem aos primeiros booms de coroas que ansiavam em ter o corpo da Jane Fonda! Já os anos 90 passaram a presenciar as academias de musculação como "males necessários", com o incremento do 'cooper' e dos concursos de danças aeróbicas nos 'shopping centers', o que levou à sua estabilização como verdadeira "instituição" nestes anos 2000...

A primeira vez que tive que encarar este diferente "universo acadêmico" da malhação foi por necessidade, devido ao aumento inesperado das minhas taxas de colesterol ruim e de glicerídeos, durante o meu segundo "período de engorda", aos 27 anos, justamente naquele tempo de consolidação do sedentarismo do escritório, do computador e do DVD aos domingos - a "primeira engorda" havia se dado na passagem dos 17 para o 18, entre o fim do segundo grau e a faculdade, aquele tempo dos "nissins miojo" de final de noite para agüentar as madrugadas de estudo e das cervejinhas das intermináveis festas de despedida do terceiro ano e das inúmeras comemorações pelas aprovações nos vestibulares!

Assim lá ia eu, quase que arrastado pela minha então namorada Jandira, hoje noiva, para aquela espécie de nova escolinha para marmanjos sedentários, onde já podia me sentir desesperado, tal como um guri que tem que encarar pela primeira vez o assustador mundo do jardim de infância... Supinos, esteiras, bicicletas ergométricas, pesos e todas aquelas parafernálias que mais pareciam objetos de tortura modernizados me causavam cansaço só de olhar, juntamente com aquele monte de gente se exercitando e fazendo caretas a cada esforço - não tinha mais volta, afinal, tinha que me cuidar!

Confesso que o ambiente da academia escolhida facilitou muito minha adaptação naquele difícil "início de vida nova", bem diferente do ritmo desumanizado normalmente visto nesses estabelecimentos: na Personal Trainning (um pouquinho de comercial para ver se meu blog ganha patrocínio ou se consigo um desconto nas mensalidades) pude encontrar professores e instrutores boa-praça e mais preocupados em corrigir erros e posturas dos alunos do que interessados em apenas tirar casquinha das gostosonas saradas, música sem ser no último volume e com gêneros democráticos e alternados (se bem que a base é mesmo o "bate-estaca" pra deixar todo mundo acordado ou o que hoje chamam de "R&B", aquele sonzinho babaca de bandinhas como Black Eyed Peas ou das "bundas sussurrantes" J-Lo e Beyoncé!) e, além de somente garotões e garotonas, podiam-se também ver casais sem maiores pretensões além de manter a saúde e a regularidade física em dia, tudo isso fazendo daquela academia uma boa escolha dentre os outros locais consultados por mim e por Jandira até então - um "ambiente familiar", como no justo dizer do proprietário e professor Sálvio Honorato.

Mesmo com todo aquele clima amigável, as máquinas e equipamentos nunca souberam relacionar-se direito comigo, o que levou ao rompimento da minha primeira relação de "casamento" com as academias... Sentindo-me "livre" novamente depois de cinco meses de torturas repetitivas semanais, passei, por um tempo, a manter uma rotina de caminhadas de 'cooper' e 'jogging' a fim de assegurar as conquistas nas melhorias dos exames, obtidas graças àquele relativamente curto tempo de academia. Bom, pelo menos foi isso o que eu tive de prometer a Jandira para conseguir minha "alforria" da academia... Mas, preguiçoso confesso que sempre fui, depois de alguns meses de "caminhadas forçadas", também ao lado de minha noiva e "dublê de personal trainning", aproveitei um momento de distração em sua vigília e também abandonei as caminhadas, durante um período em que ela não me pôde acompanhar devido a um curso noturno!

Porém, como todo casamento moderno que se preze, depois de pouco mais de um ano tive que "reatar" com a academia, por força de mais um "período de engorda" ? meço cerca de 1,83 e peso, normalmente, entre 86 e 87 quilos, mas, mais uma vez, já estava beirando os 92! Assim, independentemente de novos exames de 'check up' (que me recusei a fazer, com medo de alardes familiares!), voltei à Personal há cinco meses e, graças a Deus e às "torturas" (ah, exagero meu; já até consigo ter prazer em todos aqueles exercícios repetidos, ao lado do pessoal gente boa de lá...), consegui recuperar o meu peso normal e me manter firme numa razoável disciplina de três vezes semanais - sem esquecer o "firme" dos meus bíceps e tríceps que aos poucos voltam à ativa, é claro...

Entretanto, ao ver um número cada vez maior de garotos e garotas tão novos em espaços de musculação, normalmente sem necessidades reais de perderem ou de manterem pesos, dietas ou rígidas disciplinas corporais, sempre me pergunto se não se trata, de fato, de uma tendência desta geração ao masoquismo, em busca de um desenfreado modismo e rumo a um já quase descontrolado e imbecil narcisismo, em meio a inúmeros outros "ismos" gerados e alimentados cada vez mais nos atuais e iguais tempos globais... Academia: ame-a ou deixe-a... Ou, numa relação mais atualizada, ame-a, mas sem exageros, que é pra não abusar, e mantenha uma vida paralela com algumas amantes, como boas massas e vinhos nos finais de semana!

terça-feira, 24 de janeiro de 2006



Na última quinta-feira, o quase sessentão Moto Clube de São Luís (nome dado graças às origens da sua fundação, que data de 1937 como "Clube dos Amantes do Motociclismo") perdeu para o Barueri, de São Paulo, nas quartas de final da Copa São Paulo de Juniores: fica aqui o registro deste "momento histórico", em que um time maranhense, que já viveu seus tempos de glória (com 22 campeonatos maranhenses, 1 Copa Norte e 1 Copa Norte-Nordeste), ainda que num campeonato menor, mostra garra e determinação mesmo inserido num contexto de quase completo abandono do Futebol no Maranhão, tanto pela falta de vergonha na cara da Federação Maranhense de Futebol, como pelas péssimas condições em que o esporte se encontra no Estado, graças à falta de políticas públicas...

E falando em "péssimas condições à falta de políticas públicas", um dos maiores estádios brasileiros, o Castelão (Estádio Governador João Castelo), construído em 1982 e com capacidade para 80.000 pessoas, desde o ano passado se encontra interditado, aguardando uma digna reforma, triste fato que contribui, mais ainda, para o desestímulo do torcedor maranhense e para a quase falência dos clubes locais...

Tudo isso em homenagem ao meu esporte favorito, que anda tão mal das pernas, a aguardar o glamour da Copa do Mundo... Em homenagem à Taça da FIFA (feia, se comparada à Jules Rimet, e que, ao contrário desta, não apresenta a possibilidade de ser nossa em definitivo... E em homenagem à reabertura do Maracanã, com o número provisório (e irrisório) de 45.000 lugares... E em homenagem à enorme inveja que estou sentindo de Sérgio Roonie, que foi ontem ao eterno gigante assistir ao clássico Vasco x Botafogo (ainda que o meu Vascão tenha perdido para o Botafogo!)...

Muitos foram os textos que escrevi em homenagem ao maior espetáculo da Terra, publicados neste espaço virtual (como as três Vertebrais que escrevi sobre o Futebol), mas só agora lanço meu primeiro poema sobre o esporte bretão...


Futebol

A bola é redonda, tem dois lados
e rola pra lá e pra cá
entre o pé descalço, de calos e joanetes
do time de meninos que não estuda
nem tem futuro,
e a chuteira dourada
do time dos garotos-propaganda
multimilionários e sem passado...
De juiz, um frustrado sem mãe
e sem talento para jogar...
De técnico, todos nós em rouco uníssono...
E, na reserva, milhões de garotos em fumaça de ilusão...
Na arquibancada, um poeta apático e silencioso
que nunca foi muito de jogar,
mas que se perde na ilusão apoplética
de uma bicicleta de cor negra de um diamante bruto e imortal,
nas pernas tortas de um cafuzo que se acaba como um menino sem juízo
e num rei absoluto com tantos súditos e tantos corações...

O mundo é uma bola
e meu coração rola pra lá e pra cá
esperando apenas o momento mágico de ser chutado a gol como bola de meia
certeiro no cantinho onde a coruja dorme, indefensável para qualquer goal keeper perdido no tempo dos últimos segundos dos 45 do segundo tempo...

(Dilberto Lima Rosa)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006



Hoje estava na casa de minha avó paterna, D. Marieta Guilhon Rosa, no Planalto-Anil, próximo ao Posto Pingão, célebre casa de minha infância, tantas as vezes que lá dormi... Conversava com vovó na cozinha, quando saímos por instantes para colocar o lixo na área ao lado, que dava para um longo corredor até o fundo da casa, ao que ela me confidenciou, baixinho: "teu avô está te esperando lá no quartinho do fundo, ele quer conversar contigo, vai lá...". Eu, sem questionar, segui a passos lentos aquele corredor estreito, de paredes cobertas pelo tempo e pelo limo, quando me lembrei de algo que irrompeu ao coração: "ei, mas vovô já morreu!", no que acordo e percebo que estou no meu quarto e que tudo não passara de um sonho, que, assim como a maioria dos sonhos, não sabia porque o havia tido...

Na hora do almoço, em casa, com a televisão a dar as notícias, distraído acompanhava as matérias até que enfim prestei atenção numa em especial, sobre o feriado de hoje no Rio de Janeiro, por ser dia de São Sebastião - meu avô, Sebastião Ribeiro Rosa: ele faria aniversário hoje!

Apesar de nunca ter sido dado a misticismos, não deixei de me surpreender com aquela estranha ligação: sonhar com vovô, justo hoje; e ele, por uma época, ouviu seus inesquecíveis LPs no quartinho do fundo de sua casa, para onde levou o velho aparelho de som depois que meu tio de lá se mudou, e sempre que o visitava, para lá me dirigia a fim de acompanhar aqueles mestres da voz, como Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Jamelão, Ataulfo Alves... Em que pese o fato de, antes de morrer, ele passasse longe do quartinho do fundo, uma vez que sofreu uma delicada cirurgia em que teve de amputar a perna direita, restando tristemente deitado no seu quarto nos últimos meses de vida, marcara-me o quartinho do fundo, o "quarto da bagunça", no fundo de minha memória perdida...

Especialmente neste dileto espaço virtual, muitas foram as homenagens que já fiz ao meu estimado avô, que morreu sofregamente no hospital, depois de várias internações, no dia 13 de junho de 2004 (dia de outro santo, Santo Antônio), entretanto nada mencionara sobre ele já há um bom tempo, nem nas conversas informais na família, por isso a surpresa a respeito do sonho...

Logo após o seu falecimento, minha avó vendeu a grande casa do Planalto e se mudou para a casa da minha tia. Nunca mais soube daquela casa, nem dos seus novos moradores, e fico me perguntando se meu avô não continua por lá, no quartinho dos fundos, repousando enquanto toca na vitrola antiga Lábios que beijei ou Juramento falso, silente e discreto como sempre viveu, sem chamar a atenção dos novos moradores, nem de forma espectral, nem de forma alguma... E me pergunto, mais ainda, sobre o que vovô Sebastião gostaria de conversar comigo hoje...


II
Na despedida da mão fria


Pouco testemunhei
a tristeza de meu avô
- corri com toda força
e ela não me pôde alcançar...

Na despedida da mão fria
ainda lhe pude sentir o calor
do sorriso elegante
ao som dos dissabores...

Ao som de sambas antigos
despedi-me, enfim,
da alegria congelada e completa
de um perdido domingo feliz...

(Dilberto Lima Rosa, 2004 Poemas, 2004)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Tenho mesmo sobrinhas adoráveis: tanto a Advi, como a Rafaella ou a Lelinha sempre me foram muito carinhosas e atenciosas (a não ser a Lelinha, quando em dias de TPM...), tal como uma sobrinha deve verdadeiramente ser, e muito contribuíram para que essa brincadeira da Família Morcegos fosse adiante e chegasse até hoje com todo este calor virtual... Mas hoje o abraço especial vai para a Advi, que, sorrateiramente, teceu alguns versinhos, tal como uma garotinha, simplesmente, em minha homenagem! Já é segunda que recebo afetuosamente (a primeira foi a do amigo Marcelo TA) e publico em agradecimento na Coluna Lateral (que eu espero, sinceramente, que esteja na lateral...) - um grande beijo, caríssima!

Hoje é dia de ROTATÓRIA, e volta a este humilde espaço virtual o grande Jabor, com seus irônicos e brilhantes textos sobre um País desmemoriado como o nosso - cortesia do amigo Ricardo Santos Silva!

OS DISSABORES DO JABOR


A estética da corrupção

Eu adoro a estética da corrupção. Adoro a semiologia dos casos cabeludos sob suspeita, adoro a reação dos implicados, adoro o vocabulário das defesas, das dissimulações, as carinhas franzidas dos acusados na TV, ostentando dignidade, adoro ver ladrões de olhos em brasa, dedos espetados, uivos de falsas virtudes e, mais que tudo, lágrimas de crocodilo.

Todos alegam que são sérios, donos de empresas "impecáveis". Vai-se olhar as empresas e nunca nada rola normal, como numa padaria. As empresas sempre são "em sanfona", uma dentro da outra, en abîme , sempre têm holdings, subsidiárias, são firmas sem dono, sem dinheiro, sem obras, todas vagando num labirinto jurídico e contábil que leva a um precioso caos proposital, pois o emaranhado de ladrões dificulta apurações.

Me emociona a amizade dentro das famílias corruptas, principalmente no Nordeste. Oh, Deus! Lá, creio eu, há mais amor do que entre picaretas paulistas ou cariocas. Lá existe uma simbiose maior no parentesco, mais calor humano, mais "fio de bigode". São inúmeros os primos, tios, ex-sócios, ex-mulheres que assumem os contratos de gaveta, os recibos falsos, todos labutando unidos, como Ali Babás sincronizados. Baixa-me imensa nostalgia de uma família que não tenho e fico imaginando os cálidos abraços, os sussurros de segredo nos cantos das casas avarandadas, o piscar de olhos matreiros, as cotoveladas cúmplices quando uma verba é liberada pela SUDAM em 24 horas, os charutos comemorativos; tenho inveja dos vastos jantares nordestinos, repletos de moquecas e gargalhadas, piadas, dichotes, sacanagens tão jucundas, tão "coisas nossas", tão "alagoas", que me despertam ternura pela preciosidade antropológica de imagens como a piscina verde em Canapi, a barriga de Joãozinho Malta (lembram?), a careca do PC Farias e as sobrancelhas de Jader. Esses signos e símbolos muito nos ensinaram sobre o Brasil real.

Adoro também ver as caras dos canalhas. Muitos são bochechudos, muitos têm cachaços grossos, contrastando com o style dos populares magros de seca, de fome, proletários chiques, elegantérrimos pela dieta da miséria. Todos acumulam as mesmas riquezas: piscinas, fazendas, lanchões, miamis, todos têm amantes, todos têm mulheres desprezadas e tristes, com filhos oligofrênicos, deformados pelas doenças atávicas dos pais e dos avós.

Aprecio muito os bigodões e bigodinhos. Nas oligarquias, eles não usam a bigodeira severa de um Olívio Dutra, babando severidade, com um eco de stalinismo e machismo gaúcho, não. Os bigodes corruptos são matreiros, bigodes que ocultam origens humildes criadas à farinha d'água e batata-de-umbu, na clara ocultação de um racismo contra si mesmos, camuflando os ancestrais brancos cruzados com índios e negros, raquíticos por séculos de patrimonialismo.

Também gosto muito do vocabulário dos velhacos e tartufos. É delicioso ver a ciranda das caras indignadas na TV, as juras de honestidade, é delicioso ouvir as interjeições e adjetivos raros : "ilibado", "estarrecido", "despautério", "infâmias", "aleivosias"... São palavras que ficam dormindo em estado de dicionário e só despertam na hora de negar as roubalheiras. São termos solenes, ao contrário das gravações em telefone, onde só rolam palavrões: "Manda a grana logo para o f.d.p. do banco, que é um grande *#@, senão eu vou #@** a mãe deste *#&@."

Outra coisa maravilhosa nos canalhas é a falta de memória. Ninguém se lembra de nada nunca: "Como? D. Sirleide, aquela mulher ali, loura, popozuda, de minissaia? Não me lembro se foi minha secretária ou não". E o aparente descaso com o dinheiro? Na vida real, eles cheiram a grana como perdigueiros e, no entanto, se justificam: "Ihhh... como será que apareceu um milhão de reais na minha gaveta? Nem reparei. Ahhh... essa minha memória!..."

Adoro também ver as fotos das placas da SUDAM. Sempre aparece um terreno baldio com a placa da SUDAM e o nome pomposo da empresa fantasma, onde, às vezes, ao longe, um burro pensativo pasta... E o objetivo "social" dos financiamentos da SUDAM, da SUDENE? Nunca é uma empresa para desenvolver algo; são ranários de 10 milhões, fabricas de componentes para piscinas, empresas de ursinhos de pelúcia, ou esta maravilhosa USIMAR, que ia custar um bilhão de reais para fazer peças de carro, mais caro que três General Motors na caatinga.

Amo também ver o balé jurídico da impunidade. Assim que se pega o gatuno, ali, na boca da cumbuca, ali, na hora da mão grande, surgem logo os advogados, com ternos brilhantes, sisudos semblantes, liminares na cinta, cínica serenidade de cafajestes e, por trás deles, vemos as faculdades malfeitas, as chicaninhas decoradas, os diplomas comprados. E logo acorrem os juízes das comarcas amigas, que dão liminares e mandados de segurança de madrugada, de pijama, no sólido apadrinhamento oligárquico, na cordialidade forense e freguesa, feita de protelações, desaforamentos, instâncias infinitas, até o momento em que surge um juiz decente e jovem, que condena alguém e é logo chamado de "exibicionista"...

Adoro as imposturas, as perfídias, as tretas, as burlarias, os sepulcros caiados, os cantos de sereia, as carícias de gato, os beijos de Judas, os abraços de tamanduá. Adoro tudo, adoro a paisagem vagabunda de nossa vida brasileira, adoro esses exemplos de sordidez descarada, que tanto nos ensinam sobre o nosso Brasil. Sou-lhes grato pelas sujas lições de antropologia, verdadeiros "gilbertos freyres" da endêmica sem-vergonhice nacional.

Só um sentimento me atormenta o coração: não sei porquê, também me passa pela cabeça a imagem dos corruptos chineses condenados e ajoelhados no chão, com o soldado alojando-lhes uma bala de fuzil na nuca. Penso nestas cenas e sinto uma grande inveja da China. Por que será?

(Arnaldo Jabor, 29 de dezembro de 2005)

domingo, 15 de janeiro de 2006

Abraço especial para a "sobrinha" Rafaella (sim, Rafa, todos os textos publicados são meus, a não ser os da ROTATÓRIA, onde aproveito obras de outros autores, incluindo as de amigos virtuais, todos devidamente creditados ao final do texto; as poucas vezes nas quais me "auto-credito" são aquelas em que re-edito textos meus já publicados nos Morcegos; o resto é texto novo, meu e sem "créditos"), sempre com seus elogios carinhosos; para o "vizinho" DO, que, não importam quantos recados eu deixe em seu blog, só responde aos chamados da "família" no último instante; para a tia Mirza, que anda sumida desde a homenagem da coluna lateral (que acho que agora ficou finalmente na lateral); para a irmã Luma, que anda sofrendo umas injustiças virtuais, mas que, com sua classe e com sua inteligência, saberá superá-las todas; para o Mago e para o Júnio, que nem respondem mais os 'e-mails' deste humilde "patriarca"; e para o "vizinho" Makoto, que foi o primeiro a "selar" a família em seu blog, com um 'thumbnail' pra lá de honroso pra mim! Tudo isso para fazer a "convocação oficial" da Família Morcegos: pessoal, respondam sobre a possibilidade de uma "reunião mensal da família", num dia a combinar (a sugestão é que seja na última terça ou quarta de cada mês), onde cada um dos homenageados neste humilde blog é convidado a falar de um tema familiar (o de janeiro será para que cada um fale sobre sua cidade, dizendo de onde posta e o que de especial pode atrair o resto da família para o conhecer o seu lugarejo), "lincando" os demais numa grande rede de amigos... Vamos lá, desde dezembro que os "parentes" não se "reúnem"... E não deixem de "adotar" a idéia do Makoto, por favor!

Hoje, encerrando a SEMANA ESPECIAL DOS PRESENTES DO FIM DE ANO, agradeço, por fim, à amada noiva Jandira, que me proporcionou uma gostosa viagem no tempo, direto aos anos 80, que nunca quis abandonar... Ela fechou o meu "fim de ano em DVD" com o 'pack' ou 'box' (ô mania chata de internacionalizar qualquer nome; por que não chamar de "caixa" ou "coleção"?) As Aventuras de Indiana Jones, que reúne os três (será que ainda haverá tempo de um quarto, apesar das notícias?) filmes produzidos entre 81 e 89 com o maior arqúeólogo de todos os tempos, vivido pelo "astro do século" Harrison Ford. A história dispensa apresentações, já que qualquer um que tenha passado os últimos vinte anos no planeta Terra conhece a trilogia, cabe aqui apenas um pequeno destaque para o quarto DVD, só com extras, que traçam um divertido painel das três produções, com entrevistas atuais com todos os envolvidos e com filmagens de bastidores inéditas até então... Só me resta assobiar aquela "clássica musiquinha" (tema de John Williams) que não sai da cabeça depois que assistimos a qualquer um desses mágicos espetáculos: "ta-ta-ra-tá/ ta-ta-rá..."

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Dando continuidade à SEMANA ESPECIAL, destaco hoje um presente que "me ofertei", depois de ter comprado presentes pra todo mundo: Monty Python e o Sentido da Vida, mais um DVD...

SEMANA ESPECIAL: OS PRESENTES DE FIM DE ANO


Genial e inovador grupo de comediantes ingleses, o Monty Python fez verdadeira revolução no humor televisivo, servindo de inspiração para inúmeros programas humorísticos (como o extinto programa TV Pirata, o ainda em atividade Saturday Night Live e o atual Casseta e Planeta). Depois de um sucesso arrasador na televisão por mais de 5 anos, o grupo "Monty Python's Flying Circus" (série cômica de humor corrosivo que iniciou em 05 de outubro de 1969, atacando a moral, os costumes, a família, os dogmas e as tradições britânicas), composto pelos impagáveis Terry Jones, Terry Gilliam, Graham Chapman (falecido em 89), Eric Idle, John Cleese (cujo último papel foi o de substituto do 'Q' em 007 - O amanhã Nunca Morre) e Michael Palin, foi buscar o merecido sucesso no Cinema - e conseguiram: com 7 filmes de muito sucesso de crítica e de público (incluindo clássicos absolutos como Monty Python em Busca do Cálice Sagrado e A Vida de Brian, onde satirizam, respectivamente, as empreitadas do Rei Arthur em busca do Santo Graal e a vida de Jesus Cristo), repetindo o consagrado estilo devastador da TV (onde alguns filmes chegam a parecer-se com seus especiais televisivos, com sucessões de 'sketches' ou quadros de piadas, como em E agora, para algo completamente diferente...), eles "cometeram" o seu filme mais engraçado com Monty Python e O Sentido da Vida (Universal Vídeo)!

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 1983, O Sentido da Vida, a trupe de comediantes britânicos satiriza a Medicina, a Igreja, os militares, o sexo e tudo o que é levado a sério demais pelos seres humanos normais, num filme formado por quadros que vão contando a trajetória humana, do nascimento à morte (numa das muitas seqüências memoráveis, onde a própria surge para um grupo de casais metidos, depois de comerem uma 'mousse' de salmão estragada, satirizando O sétimo Selo), entrecortados por canções (compostas, na maioria, por Idle), desenhos animados (feitos por Gilliam, que já foi cartunista da revista MAD, precursora neste tipo de humor, e hoje é diretor renomado de filmes como O Pescador de Ilusões, As Aventuras do Barão Mundchaussen e do recente e fraquinho Os Irmãos Grimm) e por... Peixes (os próprios comediantes vestidos!).

Mesmo não sendo o mais ousado e surreal do grupo inglês (que se separou depois deste trabalho, mas com atuações e participações conjuntas de muitos de seus membros em diversos filmes, como aconteceu em Um Peixe Chamado Wanda e em Erik, O Viking) ou o mais cinematográfico (já que em formato televisivo), é, com certeza, o mais engraçado - apesar de o DVD não trazer maiores "extras" além dos já rotineiros "menus animados" (com desenhos dos personagens do filme), "comentários do diretor" (no caso, dois, Terry Jones e Terry Gilliam, que dirigiu o inteligente curta de abertura) e das cenas excluídas (inseridas na "versão do diretor"). As únicas novidades ficam a cargo de uma tal "trilha sonora para os solitários" (uma faixa de áudio que permite assistir-se ao filme com ruídos externos ao fundo, típicos de um solteirão, como arroto, abertura de latas de cerveja etc.) e a própria capa do filme: um engodo da Universal, que vende o DVD anunciando "horas de extras em dois discos", quando, na verdade, só vem um - parece até mais uma picardia do Monty Python!!!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Na primeira ROTATÓRIA do ano, ainda em clima de ano novo (com mais otimismo, e, como diria o DO, já engatando a primeira!), aproveito o belo texto que me foi enviado, por e-mail, pelo amigo Luiz Alberto Machado (juntamente com a belíssima foto da artista Leila Lopes, que registrou este belíssimo nascer do Sol na vista da Praça Municipal, em Salvador/BA). O Luiz dispensa apresentações: e já que ele inaugurou, no ano passado, esta coluna de grandes personalidades do mundo virtual em meu humilde blog, nada melhor que iniciar 2006 com este "cabra da peste"...

ROTATÓRIA



É janeiro e o sol contempla todas as manhãs no maior exemplo de justiça que se possa imaginar.

É assim como eu vejo, este é o meu olhar. E mesmo que leve oito minutos e meio para nos tocar a pele brozeando nossa vida, o disco alado, indiscriminadamente, reluz para brancos, pretos, cafusos, mamelucos, crioulos, mulatos, arianos, caboclos, mongóis, germanos, multicor ou descoloridos.

Seja o que for: católico, batista, pentecostal, confucionista, judeu, quackers, budistas, anti-semitas, ateus. Seja que gênero, até homo, hetero, trans, hermafrodita ou assexuado. Seja ou não flamenguista ou de que time for. Ou, ainda, iconoclasta. Seja, enfim, afortunado, pobre, emergente burgüês, desafortunado ou estornado miserável.

O que me deixa por lição é que seu fulgir encarna o privilégio de constatar a maior e mais verdadeira liberdade, isso porque, seja através do prisma de Newton ou das citações da Cidade de Campanela, aprendemos que "o amor à coisa pública aumenta na medida em que se renuncia ao interesse particular... ninguém deve apropriar-se das partes que cabe aos outros". E mesmo sob as situações mais adversas, deveríamos ter com o etério brilhante a mesma atitude de Manco Capac, o inca primeiro que abriu os olhos e inquiriu das criaturas da ignomínia o que esperavam da vileza, quando o sol dava vida para serviço dos homens e vegetais do mundo. Ou como os Maias e a bela lição de modéstia do vigoroso astro, confirmando ser o ser humano subalterno e acidental, vez que em suas fábulas pregam que se se nasce de noite, só se realiza ao alvorecer.

Irradiante, pois, nos ensina que os deuses são matinais para honrar a alma, indo, com sua majestade, do oriente ao ocidente a caminho da constelação de Lira. E eu, curaca silente, tiro minhas sandálias para sentir o chão, voltado para o leste, aplaudindo o espetáculo dos clarões da aurora dourando a vida de todos.

Beijo, na catarse do momento, os primeiros raios e os guardo no meu relicário para entregá-los às mãos puras que "contemplam-no como a imagem de Deus, chamam-no de excelso rosto do Onipotente, estátua viva, fonte de toda luz, calor, vida e felicidade de todas as coisas".

Sigo pelas supremas hierofanias solares colhendo no Livro dos Mortos: "o ontem me criou. Eis hoje. Eu crio amanhãs".

(Luiz Alberto Machado - todos os direitos reservados)

terça-feira, 3 de janeiro de 2006



Terceiro dia do novo ano... Querendo começar, mas ainda lento... É... O ano novo está aí: feliz 2006! E é só! Um poema a mais...


SOBRETUDO

Que sobre poesia
Sobre tudo
Sobretudo
Sobre todos
Sobre o mundo
Ou sobre nada
Sobre o mundo
Sobrem todos
Sobre tudo
Sobre a poesia
Sobre a vida
- E que soçobre a esperança
Sobre o caos...

(Dilberto Lima Rosa, À beira do derradeiro solstício, 2005)
 

+ voam pra cá

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