..."Cantando só teus olhos/ Teu riso, tuas mãos/ Pois há de haver um dia/ Em que virás"... O oscarizado
Orfeu Negro, sem dúvida, envelheceu, mas a canção que o imortalizou mundo afora,
Manhã de Carnaval, continua melodicamente bela, a idealizar um carnaval suave de amor eterno... Um pouco diferente dos 50 beijos diários das "ficadas" em cada bloco perdido por este País de hoje em dia, onde carnaval dura o ano inteiro, em intermináveis, comerciais e sem-graça micaretas!
Certa feita escrevi "Sempre chove nos carnavais/ Lágrimas temporais/ escorrem./ E um grito abafado/ Na lama/ É pisado por algum folião distraído"... Mas, atormentado pela barulheira de um infernal retiro evangélico numa escola pública quase ao lado de minha casa nesta manhã de carnaval ensolarada aqui em São Luís (curiosamente não tem chovido!), os Morcegos de hoje nada trazem da tristeza poética que costumeira e macariamente exalo nos 'posts' da temporada de Momo: prefiro recordar um carnaval com tom infantil, tipicamente maranhense (apesar de também existir em algumas outras cidades nordestinas), por trás de uma máscara de papel machê...
Ô-Lá Lá...
"O carnaval é a festa maior/ Tem colombina, ô, tem dominó/ No jogo do baralho/ Quem se espanta é o fofão - ôlálá!"... Assim cantava um clássico do samba-de-enredo maranhense da Escola Flor do Samba, referindo-se a antigas figuras populares maranhenses nesta época do ano, em especial ao
fofão, "monstro" carnavalesco composto de macacão inteiro de chita (tecido barato), com guizos nos punhos, pau numa mão (para dar o tom "assustador") e, na outra, uma bonequinha (se tocar nela, tem que dar um trocado para o fofão!) e com a clássica máscara de pano ou de papel machê... Hoje em dia, como não poderia deixar de ser, muita tradição já mudou: com a máscara artesanal substituída pelas de borracha, que imitam demônios "halloweenianos", e sem a popularidade de outrora, os fofões, hoje, parecem seres em extinção...
Uma pena: eu mesmo, ao som de clássicas marchinhas e sambas inesquecíveis (bem longe das imbecilidades modistas de 'rebolation-xon-xon' e afins) fui um fofão, quando menino de 10, 12 anos (embora a brincadeira não tenha idade: adultos podem "transformar-se" também), e me amarrei na clandestinidade na hora de assustar crianças menores ou ao jogar maisena (pó branco de farinha de amido de milho) em algum folião desavisado ou ainda chegar mais perto das menininhas incautas, com a minha então tímida identidade preservada... Bons tempos que não voltam mais, de uma festa mais pura, numa manhã de carnaval perdida em algum ponto remoto de minhas retinas fatigadas...