sábado, 31 de dezembro de 2005

2006 à Vista...

...E, aos vencedores de 2005, as batatas!
Vamos todos tomar aquele banho caprichado, de ervas, sal grosso ou simplesmente bem gelado, a fim de não deixar nenhum vestígio do ano que se finda, mas sem esquecer as cracas acumuladas na alma de longa data. Corramos a nos arrumar com a roupa nova e mais alva, comprada para a ocasião, mas não sem antes desnudar os andrajos sujos e ultrapassados que ainda podem nos cobrir as mentes. Sigamos a dar os sete pulinhos nas ondas do mar da praia lotada, cheios dos pensamentos mais puros, por entre os bêbados mijões sem cerimônia, os casais mais empolgados e as oferendas a Iemanjá (querendo ou não, todos deixam a orla bem suja para o dia seguinte...). Ofereçamos votos de "feliz ano novo" a qualquer estranho pela rua, e passemos o resto do ano na famosa "correria", que usamos como desculpa para não ligarmos nem para a avó e como ela está. E enchamos a cara de bebida e de comida sem pensar na ressaca de amanhã... 

Já estamos mais do que crescidinhos para lembrar que a tal "entrada" de um réveillon está muito longe de uma nova "dimensão" a se abrir... Onde, a depender do que façamos na hora da "passagem", encontrá-la-emos como quem encarará um ano de delícias e prazeres ou 365 dias de infortúnios. Porquanto não há nada além de mais uma nova marca no calendário que não vai mudar qualquer de nossos objetivos (ou a falta deles), uma vez que nada muda pelo tempo se não mudarmos realmente ao largo dele! E agradeçamos a Deus, a Maomé, Buda, Khrishna, Brahma ou à estrelinha da sorte por mais um ano nesta Terra (o que também se pode fazer, com mais vantagens, a cada aniversário nosso)!

Sim, porque se não clamarmos urgentemente por algo maior, é bem possível terminarmos esmagados pelos nossos pensamentos pequenos... Por isso, fé para se pedir que jamais percamos a fé! Também peçamos por saúde, de corpo, mente e espírito, não só por nossos umbigos como também por outros seres viventes (por exemplo, aquele estranho a quem se desejou "feliz ano novo" depois da bebedeira)... E, acima de tudo, para que não nos faltem oportunidades (ou que se repita aquela que, preguiçosamente, deixamos passar), que o tempo não para, tampouco nossos corações (esperemos que ainda por muitos anos): que nunca nos faltem as batatas, assim como o nhoque, o molho bolonhesa e um bom cabernet pra acompanhar... Sigamos em frente, de preferência em linha reta, coloquemos o dedo na ferida e o medo medieval do fim dos tempos de lado, a encarar o mundo sem fim a fim de nos fazermos acontecer: felizes vidas novas!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Última Vertebral

O ano de 2004 me foi decisivo em inúmeros aspectos. Um dos principais, o alimento da escrita que andava um tanto quanto acomodada até então desde a tenra adolescência, foi ressuscitado graças a este dileto 'blog' (iniciado em março, no extinto Weblogger)! E, mesmo que 2005 tenha passado meio em branco na minha ainda breve história de vida, continuei com os Morcegos, ganhei novos e importantes amigos virtuais (abraço especial ao Júnio, que colaborou bastante para um Natal especial) e continuei com a maior tradição deste espaço virtual do ano anterior: a Vertebral! Nada melhor que reunir as 24 crônicas produzidas diretamente para este espaço, ao longo dos seus dois endereços, somadas a uma especialmente feita para a ocasião, imprimir em formato de livro e ofertar a alguém especial, o que fiz no último dia 23: Jandira recebeu, além de outros mimos, uma "edição especial" de como seria uma publicação com todas estas colunas que adorei escrever. Mas que agora, delas "aposentado" desde agosto, só me resta publicar a Última Vertebral, inédita por aqui, a fim de fechar o ciclo de uma fase da minha existência, bem como para fechar o livro... Por isso, às vésperas de um novo ano, nada melhor que usar o próprio "tempo" como tema:
ÚLTIMA VERTEBRAL

Deparo-me com a página virtual em branco a acenar com uma despedida especial demais para mim: dou por fim a Vertebral e ainda tento celebrar a vida... Sob meus auspícios poéticos de rimas deslocadas e sob a influência da reflexibilidade absoluta que envolve todo final de ano, penso sobre esta coluna que tanto me acompanhou e que me trouxe novo fôlego de vida: não, não falo notocordariamente, da coluna de vértebras que me sustenta, mas sim de outro suporte, o da minha alma, diante destas palavras postas em tabuleiros ideais da nossa tão quente língua, que freme até minhas mãos (que no computador se escreve com as duas), diante da tinta invisível da minha tela clara, que não me deixa calos por tantas penas descritas nestes vinte e cinco textos tão amados e que, graças ao frio mundo da quente rede global que me cerca há pouco mais de um ano, também angariaram amor além de mim, mesmo nunca tendo eu publicado nenhum livro em papel vivo... 

Mas como diria o meu Trovador Soberano, então "me diz, me diz, me responde, por favor, pra onde vai o meu amor, quando o amor acaba?": pra que me despedir desta crônica tão amada? Coisas do tempo, minha preta, minha branca, meus peões e meus reis de tempos que já se findaram: cada semana um jogo diferente, entre meus afazeres e meus tempos mortos sobre os livros, a imaginar cada estratégia única para melhor abordar aquele assunto que pululava por entre os jornais, as televisões e as bocas... O tempo cansa, assim como textos longos na internet, já diria quem já foi, e a ideia de um livro encerra qualquer jogo, a não ser que peçam revanche, como o fez o Gasparov diante de um computador. Sendo que, no meu caso, talvez o pessoal do computador é que me peça pra voltar...

Porque o tempo nada perdoa: são 28 anos divididos entre glórias e derrotas em formas desiguais, que muitos dos meus cabelos decidiram nem ficar para contar a história, tantos mundos e tantas vidas, que minha Vertebral se mostra hoje mais minha: se a cada semana ela contava as estórias dos outros pelos meus olhos, meu sangue também se perfez história! Como olvidar, de sua criação, o criador, quando o tempo que o gera é o mesmo que o recria? Meu tempo, hoje, talvez seja todo o tempo... Que já se cansa a poesia! Pois toda semana se repete alguma coisa, e, no fim, a prosa da retrospectiva não deixa margem para mais nenhuma reflexão: " 'Tá tudo aí, para quem quiser ver", como diria Arnaud e Chico Anysio... 

E eu vejo de novo novela na Globo. E sinto o quanto o tempo é irônico quando acompanho, majestosos, grandes vultos na telinha interpretando, diretamente do passado, personagens que eles mesmos já não são! Mário Lago, que se foi há uns três anos, está lá, ao lado do meu vilão favorito das chanchadas, o Lewgoy, e tantos outros desencarnados que sempre fizeram valer a pena ver pelo menos alguns capítulos de um folhetim televisivo... Mas não para por aí, já que o autógrafo que jaz em uma velha agenda de 98 ainda revive a emoção de ter conversado com alguém tão talentoso como o velho Lago, que se apresentou àquela época em São Luís com seus sambas inesquecíveis a mim, Jandira e a toda uma plateia embevecida no teatro Arthur Azevedo... 

Mas não é outro o tempo que se fala por aí senão o nascer, o renascer e o morrer do mês de dezembro, onde inventaram o Natal por entre os sóis de um sol mais que real: cristão que acho que sou, rio-me da fanfarra embrulhada em papel de presente de reflexão de botequim... Presenteemos, pois e no entanto, quem amamos, e glória aos céus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade! E viva os vazios "feliz Natal" por entre os amigos tão invisíveis quanto aqueles de que participamos, porque temos que nos confraternizar, tal como me disse, certa feita, Jandira, minha noiva, tal qual a Margarida com o Donald, que talvez ainda não se tenham casado por causa do pequeno salário que o pobre pato ganha na Patada: "Dil, vai para essa confraternização, mesmo sem mim"... 

E lá estou eu, a conjecturar sobre o que dizer na minha última coluna Vertebral, em meio a uma garfada e outra de salpicão, quando tiros irrompem a rua em frente ao salão em que estávamos os amigos da academia. Corre-se, alarde e dois corpos semimortos no chão. Uma frustrada tentativa de assalto, a três casas ao lado daquela em que estávamos, acabara de resultar em três baleados: os dois assaltantes, que os policiais então torciam para que morressem antes de a ambulância chegar, e um delegado, que reagira com precisão não suficiente de lhe impedir dois alvejamentos, mas que já se encontrava no hospital para uma delicada cirurgia para a retirada dos projetis...

Só então eu vi que o tempo é e sempre será o maior tema de qualquer coluna que se queira manter de pé por tantos anos, mesmo depois de qualquer criador desencantado decidir dá-la por encerrada: amanhã sairão nos jornais locais este desenlace, de frente pro crime na rua da confraternização na academia, como mais um retrato da violência espalhada por este grande País desamparado. E eu, sozinho ou mal acompanhado com o tempo que me acompanha (posto que cada um carregue o seu!), continuarei, ainda que sem registro, com muitas histórias para contar...

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Chegou o Natal!

Bola rolando: parabéns para o grande São Paulo, tricampeão mundial (apesar de vascaíno, admiro o tricolor paulista desde o histórico time do bi, em 93) e ao craque Ronaldinho Gaúcho, eleito dois anos seguidos o melhor do mundo na bola (será que sua força estaria nos cabelos)...? Mas, faltando pouco tempo para o Natal, vamos à prometida republicação de crônica do ano passado, dando início à SEMANA ESPECIAL DE NATAL:
Chegou o Natal! Na verdade, ainda faltam alguns dias, mas para o comércio, para a mídia publicitária, para o inconsciente coletivo, enfim, o Natal já chegou há um bom tempo, mais ou menos desde o comecinho de outubro, quando normalmente já começam a pulular as "promoções antecipadas" e várias figuras de incontáveis papais noéis fajutos por toda a parte!

Tudo parece dever-se à ideia fixa de ciclos que a humanidade, de uma forma geral, precisa ter: basta a simples noção de que o ano caminhe para o seu fim, ainda que faltem alguns meses para tanto, para que todos, desde muito cedo, deem partida a uma correria desenfreada para pôr a vida em dia... Afinal, fim de ano é o símbolo máximo de "encerramento" de um tempo para o "recomeço" de outro, como se uma nova dimensão surgisse; por isso a sangria desatada, nesta espécie de "balancete final", "fechamento de caixa" e "batimento de ponto da hora da saída": tudo tem que estar na mais perfeita ordem para as "Boas Festas", tipo de "recreio mágico" antes de começar o novo e maravilhoso "ano que vai nascer". Que, por sua vez, torna-se mesmo insuportável logo nos primeiros dias depois de "começado", já que tudo terá que acontecer outra vez, em meio a um novo e modorrento janeiro, com um ano inteiro pela frente...

E, nem bem inicia dezembro, a temporada natalina já está mais que instalada: os amocambados pinheiros de plástico já foram devidamente desencaixados, armados e cobertos de bolas, bonequinhos, festões e um monte de balangandãs, a esperar os presentes ou as "lembrancinhas" para o grande dia (ou, na ausência de abastança, as caixinhas decoradas, porém vazias, como se presentes fossem); Papai Noel, definido em sua clássica e empacotada paramentação atual desde um antigo comercial da Coca-Cola, já ocupa seu devido lugar nos shoppings em meio a decorações que imitam temas norte-americanos e europeus com muita, muita neve de espuma ou de algodão; guirlandas, sinos e papais noéis do Paraguai que rebolam e tocam musiquinhas já estão pela sala; as lojas, os supermercados e até o barzinho da esquina já estão devidamente decorados das formas mais espalhafatosas possíveis, com mil lampadinhas multicoloridas piscando sem cessar e entoando todas as "canções natalinas" estrangeiras de que se tem notícia!

E tome "Jingle Bells", "Christmas Tree", "Santa Claus is coming to town", "We wish you a merry Christmas", "Silent Night" e outras tantas, na harpa, no teclado ou em suas "versões brasileiras"... Às gratas exceções de pérolas genuinamente nossas, como "Boas Festas", de Assis Valente, "Fim de Ano" de Francisco Alves e David Nasser, e "O Velhinho", de Otávio Babo Filho, a nos enternecer e lembrar que o nosso Natal é, sim, importado, desde o imbatível conceito de "Natal Branco" (como na clássica "White Christmas", com Frank Sinatra, também tocada, instrumentalmente, à exaustão), impossível de acontecer por estas terras quase à linha do Equador, até as iguarias que aguardamos para ter na ceia da meia-noite do dia 25: peru, castanhas, nozes e várias coisinhas calóricas de outras terras bem distantes da nossa quente e pobre São Luís...

Assim, inaugurada a temporada da felicidade obrigatória, quando, justamente por isso, aumentam os números de tristezas, depressões e suicídios para aqueles que não conseguiram alcançar a plenitude que a época exige, lembremo-nos dos pobres que passaram o ano todo na mesma e façamos uma caridade básica para São Nicolau ver: pondo um alegre e distante sorriso nas faces, façamos uma prece e comemoremos o nascimento do Menino Jesus numa manjedoura plastificada de presépio, numa data católica instituída no vazio de nem bem sabermos ao certo quando foi mesmo que toda essa história começou...

(Dilberto Lima Rosa, Vertebral, 2004)

domingo, 18 de dezembro de 2005

18 de Dezembro

Ainda com poucas adesões à brincadeira "Amigo Invisível da Família Morcegos", aguardo os e-mails dos parentes desgarrados (para participar, você deve estar relacionado na lista da Família Morcegos, por ter sido homenageado por aqui, e escolher um número entre 1 e 19, conforme instruções enviadas)...

Mas hoje o destaque fica para dois outros aniversariantes especiais... O que Ricardo Alexandre da Costa Campos, um pacato RP ludovicense, atualmente prestando serviços para a CAIXA, bem-casado cristão e admirador da Sétima Arte, e Steven Spielberg, famoso diretor judeu californiano, autor de grandes clássicos do Cinema e recém-formado (finalmente) na UCLA, têm em comum? Além do fato de os dois gostarem de Cinema, estes tão distantes cidadãos nasceram na mesma data, 18 de dezembro!

Amigos vão, amigos vêm; somem, fazem burradas e deixam de falar com você; aparecem do nada; ligam com frequência; são sempre presentes ou se lembram de você somente em datas especiais... Entretanto, em se tratando do mais antigo dos meus amigos, um pouco de cada uma dessas coisas aconteceu: Ricardo, o velho Cadinho do extinto Colégio Cebolinha da 1ª série, da grande casa da Av. B, irmão de Pitu e de Leleca, cresceu comigo a jogar "béti" (ou "bate-lata", nome mais comum atualmente), futebol e outras brincadeiras cinematográficas por nós inventadas pelas ruas do Maranhão Novo; depois foram os filmes, pelas locadoras e pelos cinemas, e as confidências da adolescência; logo a maturidade dos relacionamentos... Uma sincera amizade de infância que se mantém até hoje!

Já quanto ao Steven, bem... Nossa "amizade" advém do relacionamento que mantemos com os artistas que admiramos (como sou um pouco amigo de Chico Buarque, por exemplo), com quem compartilhamos ideias e sonhos, especialmente quando se desligam as luzes do cinema e somos transportados para o seu universo de infância mágica (E.T. - O Extraterrestre), de aventuras fantásticas com gosto de matinês (Caçadores da Arca Perdida), de suspenses surpreendentes (O Encurralado; Tubarão), de dramas maduros e pungentes (O Império do Sol; A Lista de Schindler), de comédias alopradamente inteligentes (1941- Uma Guerra Muito Louca) e dos encantos desconhecidos da Ficção Científica (Contatos Imediatos do Terceiro Grau)... E isso só para lembrarmos suas obras-primas como diretor: afinal, ele coleciona genialidades com sua marca pessoal também como produtor (Poltergheist; Os Goonies; Gremlins; De volta para o futuro...).

Assim, mesmo com algumas "derrapadas" de Ricardo pelas épocas da juventude ou de Spielberg com algumas bobagens caça-níqueis (como Hook ou Jurassic World), amigos são sempre amigos! E só posso desejar um feliz aniversário aos dois, ainda que com 30 anos de diferença entre os dois (29 anos e 59 anos, respectivamente), esses dois capricornianos muito bacanas e sonhadores, com tanto em comum... Por essas e outras é que, sempre que acontece de eu esquecer o aniversário do Steven, assim que parabenizo o Ricardo, este me pergunta: "E o Spielberg, você já ligou para dar os parabéns?" (o mesmo acontecendo quando me esqueço do Ricardo).
Ricardo e Steven, num momento de descontração.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

For All...?!

Mas que coisa mais irônica: no dia do aniversário de um ilustre mestre, Luiz Gonzaga, o primeiro músico a assumir a nordestinidade representada pela sanfona e pelo chapéu de couro, cantando as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz, algum dono de gravadora inescrupuloso resolveu decretar como sendo o Dia do Forró! "Nada mais justo", você pensaria de cara, uma vez que o Velho Lua imortalizou algumas obras-primas de nossa Música Popular Brasileira através de xotes, forrós, chamegos e baiões, tendo sido a designação genérica "forró", por muito tempo, utilizada como símbolo da música de raiz nordestina... O que é desalentador é ver o que se fez do forró nos dias de hoje, onde qualquer porcaria vulgar de banda cearense ou pernambucana (e até paraense!) é chamada de forró, mesmo que sem sequer uma zabumba, uma sanfona ou um triângulo! É, queridos blogueiros de plantão: se vivo, acho que o Rei do Baião (e do Forró também), aos 93 anos, não gostaria nada, nada desta tal "homenagem"... Por isso, hoje, na ROATÓRIA, repito um texto da Coluna Vertebral de junho do ano passado do extinto Weblogger, onde criticava um certo "Festival de Forró" que então se realizava em minha cidade...
VERTEBRAL
ROTATÓRIA: EDIÇÂO ESPECIAL

Aproximando-se o II Maranhão Forró Fest (o absurdo já chega a mais de uma edição...), aproveito o ensejo para "homenagear" este "ritmo" que vem demolindo os tímpanos de qualquer um com mais de dois neurônios na cabeça: a onda do New Forró, com outras modalidades aí se incluindo (como o tal do "calipso" paraense), restando todos reunidos num "estilo" único, tudo emanado freneticamente por qualquer teclado de fundo de quintal... 

E tome bandas e mais bandas, no mais alto grau de breguice, a entoar "canções" sem um pingo de harmonia musical, "cantadas" pelos mais desafinados vocalistas (ou gritadas, melhor dizendo), com as letras e situações mais chulas, toscas, vagabundas, grosseiras e sem noção ("amor de rapariga", "você só quer me pegar e crau", "sou do signo de libra, escorpião, chega pra lá", "diz que me ama, me leva pra cama, acende essa chama", "acabou com a minha vida... você se foi ...acabou com a minha vida... você se foi..."!?!) já imaginadas por um ser humano em seu juízo perfeito, a cuspir na boa e esquecida tradição do forró pé-de-serra!

E sem noção parece ser mesmo o comportamento dos seus "seguidores", que parecem não escutar outra coisa, está para virar uma Religião: além de conseguirem aguentar repetidas e repetidas vezes as mesmas "músicas", os loucos ainda obrigam todo o resto a ouvir a mesma coisa, já que só ouvem isso no último volume de seus carros incrementados ou nos potentes sons de seus lares.

Mas longe de estar discutindo gosto (afinal, assim como você sabe o quê, cada um tem o seu, o que não se discute, apenas lamenta-se), o que faço é questionar a massificação de hoje em dia. Gostem, ouçam (baixo, por favor) e desfrutem os vazios culturais de suas vidas com satisfação ("a vida é sua; estrague-a como bem entender", como bem diz o velho Abujamra),só não permitam, entretanto, uma ditadura: a do "eu vou aonde todo mundo for", capaz de gerar, além de problemas sociais mais sérios, alguma futura ameaça musical pior que o atual "New Forró"!

sábado, 10 de dezembro de 2005

2 Fatídicos Dias 8 de Dezembro...
(E Um Dia 11 Totalmente Renovado)

Texto do ano passado, que republico por ocasião dos 25 anos sem Lennon e 11 sem Jobim...
 

"Imagine todos vivendo uma vida de paz"... Em épocas mais sensíveis como costumam ser os reflexivos, ainda que comerciais, tempos de fim de ano, proclamemos palavras de esperança, renovemos os sonhos e relembremos gênios sonhadores, que tanto já nos fizeram sonhar, em meio a eternos recomeços de novas e importantes fases da vida...

Tudo isso porque, dentre outras coisas, há 10 anos, o tom da Música (da Arte, com letra maiúscula) sofreu um golpe irreversível: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, em tenros 67 anos, deixava o Brasil órfão de um dos nossos grandes maestros, músicos e pais: da Bossa Nova (ao lado de João Gilberto, Vinícius de Moraes, dentre outros); de letras e melodias inesquecíveis (Wave, Corcovado, Passarim, Águas de Março, Chovendo na Roseira, Luiza...); pai de árvores, de pássaros e de ecologia num tempo que isso ainda nem era moda... Tantos adjetivos num gênio de gênio difícil, que, pelo menos, teve sua obra reconhecida mundialmente, tanto em vida quanto depois dela.

Descobri Tom Jobim por volta dos 15 anos, quando, catando LPs na casa de uma amiga para gravar uma fita K-7 (quantas antiguidades!), descobri Chega de Saudade, obra-prima absoluta de Tom e Vinícius, de 1958, na já clássica gravação de Severino Araújo com sua Orquestra Tabajara. Desde então, as músicas do mestre nunca mais deixariam de fazer parte da minha vida (ao lado de outros gênios como Chico Buarque, Noel Rosa, Pixinguinha...), daquele jeito que transforma pessoas distantes em entes próximos... 

Tanto que, no final de 1994, quando da notícia de seu falecimento (que só fiquei sabendo tarde da noite graças às preocupações e correrias daquele dia de inscrição no vestibular), minha noiva Jandira e eu acabamos por ter, com aquela triste notícia, o último empurrãozinho de que precisávamos para começar o nosso namoro: liguei para ela assim que soube pela TV e lamentamos juntos, ao longo de uma comprida, apaixonada e melancólica conversa sobre o homem por trás das canções de que gostávamos tanto...

Infelizmente, uma outra perda já se havia feito sentir muito tempo antes, na mesma data de oito de dezembro, só que em 1980: John Lennon, o grande sonhador irreverente da maior banda de Rock de todos os tempos, o eterno e renegado Beatle, foi assassinado fria e loucamente por um fã ardoroso, que lhe cravejou vários tiros gratuitos e covardes... Lennon, Jobim, Nelson Gonçalves, Frank Sinatra e tantos outros que tanto participaram de nossas vidas com suas músicas, interpretações e genialidades e que nos deixaram a Música mais pobre, frágil e esquecida...

Apesar de tanto gostarmos dos Beatles, creio nunca ter cantado uma das eternas canções de Lennon para Jandira (a não ser, talvez, Jealous Guy)... Já o brasileiro-até-no-nome Jobim embalou o início do nosso relacionamento, com Wave, que cantei inspiradamente para ela naquela distante e romântica praia de Panaquatira... Exatos 10 anos depois, Jandira e eu ainda lembramos com tristeza o Jobim que se foi, ainda nos espantamos com aquela bestialidade contra o grande Lennon, mas comemoramos um noivado (último dia 11) ao som de outro símbolo cíclico, porém muito vivo, de final de ano: Roberto Carlos.

(Dilberto Lima Rosa, Vertebral, 2004)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Meninos, Diretores e Robôs

Nesta segunda se comemoram 3 aniversários especiais: do texano multimilionário, conquistador e descobridor de grandes estrelas (como a bela Jane Russel, no seu fraco O Proscrito), megaindustrial da aviação, diretor e produtor cinematográfico sem muito talento Howard Hughes (retratado meio que como um "herói americano incompreendido" no irregular filme do mestre Scorcese, The Aviator, com Leonardo di Caprio como o maníaco-depressivo e paranoico personagem); do tirânico Otto Preminger, famoso diretor teatral e cinematográfico, famoso pela firmeza em clássicos absolutos como Laura e Anatomia de um crime. Mas, para além do centenário desses 2 ícones, hoje é o terceiro aniversário que está sob os holofotes deste humilde espaço virtual: o amigo de infância José Henrique Spencer Leão, o hacker e cineasta do Recife, que completa 29 anos! A ele, os meus mais sinceros parabéns, desejoso de ver realizados todos os seus sonhos (que, em parte, também são meus, já que sempre idealizamos, um dia, viver do trabalho no Cinema), com um poema que fiz e que traça um pouquinho desta história...
Poema da Infância Perdida

Querido amigo pragmático,
Tu, que não gostas da poesia,
O siso e o tempo um pouco adia
E me ergue algo automático:

Busca pela infância perdida
Entre as nossas musas e asneiras,
Segue perdido pela feira
E traz nossos robôs de volta à vida!

Não perde a fé, cético amigo,
E ouve bem atento o que eu digo,
Que esse tempo não se perdeu:

Entre os nossos planos e efeitos
Remonta tudo, enche o peito
E grita: "esse filme é meu"!

(Dilberto Lima Rosa)

sábado, 3 de dezembro de 2005

Cartola e Woody

Enfim chegamos ao tempo comum entre o comércio e a reflexão (se é que isso é possível): dezembro, do Natal, da beirada do Ano Novo, dos presentes, das alegrias, dos nascimentos e dos suicídios... E, bem na virada do mês, já tivemos dois acontecimentos especiais: 25 anos sem Cartola (último 30 de novembro) e os 70 anos de Woody Allen (última quinta, dia 1º. de dezembro). Vamos a estes dois grandes mestres...
Angenor de Oliveira, o elegante Cartola, de chapéu-coco no meio da construção civil e de nariz curioso sob os óculos escuros, nasceu em 1908 e em 1974, quando enfim gravou, aos 65 anos, seu primeiro disco... Um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, ao lado de gente simples e genial como o também fantástico parceiro Carlos Cachaça, com sua voz firme e suas próprias letras, então já cantadas por tantos outros, ecoou sua bela poesia em alguns poucos discos definitivos, para fazer com que o samba nunca morresse... É, Cartola, "as rosas não falam" e a "alvorada, lá no morro, é uma beleza", onde "ninguém chora, não há tristeza e ninguém sente dissabor": prefiro o romantismo de teu morro parado no tempo e no idílico, com o colorido verde-rosa do teu universo de samba perfeito, ao cinzento mundo de hoje ou ao agonizante samba ("agoniza, mas não morre")! Disfarço e choro tua falta por aqui, corro e olho o céu, que o sol vem trazer, sempre, bom dia, com tua música eterna e reverberada por muitos intérpretes e amantes da tua arte! Tu, que nunca tiveste homenagens à altura do talento em vida, recebe esta minha, simplesinha, pelo Dia Nacional do Samba (2 de dezembro), lugar onde reinas absoluto!
Allen Stewart Konigsberg, o genial Woody Allen ('woody', do "formato de palito" do início da carreira), o mais famoso judeu nova-iorquino do mundo, com todas as suas esquizofrenias e paródias por sobre a sua própria sociedade intelectual e emocionalmente despreparada da Nova Iorque que tanto ama, completou, na última quinta, 70 anos de uma vida que parece uma de suas tragicômicas obra-prima: nascido pobre no bairro do Brooklin, venceu os preconceitos familiares e chamou a atenção como comediante stand up em perdidos palcos até brotar como escritor de comédias de Hollywood (estreou como ator e roteirista no filme Que que há, gatinha?, em 1965); despontou como diretor e ator com sua pequena obra-prima, Um Assaltante Bem Trapalhão (1969, espécie de "Cidadão Kane de um ladrão incompetente", nas palavras do próprio autor); seguiu brilhante carreira no Cinema, por entre amalucadas comédias (Bananas; O Dorminhoco), divertidas sátiras sociais (Tudo que você queria saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar; Zellig) e inteligentes retratos cômicos do seu tempo (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Oscars de melhor filme e diretor), mas sem esquecer suas influências bergmanianas em inteligentes dramas e comédias dramáticas sobre relacionamentos (Interiores; Manhattan; Hanna e suas irmãs); e se manteve renovado como grande artista criativo durante os anos 1990 (Todos dizem eu te amo; Desconstruindo Harry; Tiros na Broadway; Celebridades) em meio à vida pessoal em frangalhos e sob ataque (inocentado das acusações de pedofilia pela ex-mulher Mia Farrow após a difícil separação e o posterior casamento com a enteada, Soon-Yi Previn). Sem dúvidas, um gênio, que segue incansável entre sua discreta vida de músico (ainda toca clarinete em excursões com seu conjunto, como visto em Wild Man Blues), seus inevitáveis Oscars (para os quais nunca deu muita importância) e os seus ídolos e influenciadores (além de Bergman, Felliini, Checkov, Groucho Marx e Cole Porter), a desfilar seu ácido humor por um mundo chato e sem noção...
E hoje não percam minha intervenção no blog da "sobrinha" Lelinha

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

FALA, SARNA!

E será que, um dia, ainda cai o bigodudo sarnento, com a sua corja, por estas bandas abandonadas do Maranhão? E sua amada filhinha, Rosengana Sarney, que quer voltar a qualquer preço ao poder maranhense, a fim de retirar da cadeira o atual desafeto, o Governador José Reinaldo Tavares (que, por sua vez, aqui e ali limpa a bagunça feita pela Branca em seus últimos oito anos de desmando)? Realmente, as coisas por aqui não andam nada engraçadas há muito tempo... Porém, ainda é possível rir um pouco, nem que seja com a imensa desfaçatez, a absurda cara-de-pau política e os absurdos devaneios imperiais do Dono do Mar(anhão) em seu domínio no Estado por tantas décadas! Um homem que representa o pior da Política oportunista nacional e não tem sequer mais a noção da enorme diferença entre a coisa pública e a privada: segue recente entrevista dada pelo senador José Sarney à revista Carta Capital, um verdadeiro documento para, na posteridade, ser estudado... Ele "não tem culpa"! Nós, muito menos! Então, divirtam-se!
"NÃO TENHO CULPA"
O senador José Sarney fala do mausoléu, da oposição, de oligarquias e dos índices de desenvolvimento do Maranhão
Por Sergio Lirio

Na manhã da quarta-feira 16, o senador José Sarney recebeu CartaCapital no gabinete de Brasília. A Assembléia Legislativa do Maranhão ainda não havia aprovado o projeto que prevê a devolução do prédio histórico que abriga a fundação do ex-presidente da República ao Estado. Sarney classificou a iniciativa de "briga política", defendeu a construção de seu mausoléu no convento que um dia abrigou padre Antonio Vieira e disse que os indicadores sociais que colocam o Maranhão na rabeira das estatísticas nacionais estão distorcidos. E desabafou: "Não tenho culpa de ser ex-presidente".

CartaCapital: O Ministério Público Federal e a Assembléia Legislativa do Maranhão questionam a doação do Convento das Mercês à Fundação José Sarney. Como o senhor encara esse questionamento?
José Sarney: Não há doação. O que há é uma fundação, feita a exemplo do que se faz nos EUA com todos os presidentes da República. No Brasil, temos a Fundação Tancredo Neves, temos a do Fernando Henrique, criada em forma de instituto, temos a do Juscelino Kubitschek, em Brasília. Entrei como doador de todo o meu acervo, cerca de 400 mil documentos. Estão lá todas as minhas obras de arte, a minha biblioteca de 40 mil volumes. Sou um colecionador, bibliófilo também, tenho cerca de 2 mil livros, primeiras edições, edições raras, manuscritos raríssimos como Espumas Flutuantes, de Castro Alves. O Estado entrou com o local, que estava abandonado. O convento é um dos museus mais visitados do Brasil. Mais de 100 mil turistas estiveram lá neste ano.

CC: A oposição diz que a Fundação não cumpre suas finalidades e que o espaço é usado de forma personalista. Aluga-se para festas de casamento e usa-se como estacionamento, por exemplo.
JS: É mentira. Em dez anos, fizemos uns três casamentos e nem sei quem são as pessoas. Isso é comum em palácios da Europa. A Fundação vive de receitas de aluguel e de doações. Nunca ninguém acusou de se fazer política no convento, de se usar o espaço para assuntos pessoais.

CC: E como o senhor explica essa investida?
JS: É uma guerra política sem nenhum apoio público. O governador, por vendeta, quer... Na verdade eles não podem tirar o convento. Só se a Fundação não cumprir seus objetivos. O acervo que tem lá vale muito mais que o prédio.

CC: Mas não é uma atitude personalista querer ser enterrado em um prédio histórico?
JS: Todos os museus presidenciais dos Estados Unidos têm local para mausoléus. Posso ser enterrado lá, posso não ser, não é essencial. Seria um atrativo turístico. No futuro, até ponto de peregrinação. Tenho culpa de ter sido presidente da República? Tenho culpa de ser membro da Academia Brasileira de Letras? Tenho culpa de ter escrito mais de 60 livros e de ter livros traduzidos em 12 idiomas? Não tenho culpa. É a minha vida. Nasci no Maranhão. É um patrimônio do estado, não meu.

CC: Há uma frente de oposição formada por alguns ex-aliados...
JS: Todos são ex-aliados. O governador, aliás, é membro do conselho da Fundação.

CC: O fato de a vida política do Maranhão organizar-se em torno da figura do senhor não demonstra a existência de uma oligarquia?
JS: Nunca exercemos o poder de maneira pessoal. Somos gente simples. Tenho 14 irmãos; tinha, porque hoje são 11. Vivemos lá, casamos no Maranhão, os meus filhos estão lá, os filhos deles estão lá. Gente de classe média. A única participação em empresas é relativa à atividade política: jornal, rádio e televisão.

CC: Mas isso não faz a diferença?
JS: Isso não é ter grupo econômico. Temos uma pequena televisão, uma das menores, talvez, da Rede Globo. E por motivos políticos. Se não fôssemos políticos, não teríamos necessidade de ter meios de comunicação.

CC: O Maranhão ostenta os piores indicadores sociais do País. O senhor sente-se responsável?
JS: É outra mentira. O IBGE tem 2 mil índices. Em alguns o Maranhão é ruim, em outros é bom. Por exemplo, é o segundo estado menos violento do Brasil. Temos o segundo maior porto, que movimenta 100 milhões de toneladas. Quando assumi não havia nenhum quilômetro de estrada. Hoje temos a melhor infra-estrutura do Nordeste. Dizem que temos o pior IDH do País. Não é verdade, os dados estão errados.

CC: Errados como?
JS: O IDH é feito para sociedades industriais, urbanizadas. No Maranhão, 50% da população vive na zona rural. Isso distorce as estatísticas.

CC: E o fato de ter a menor média de escolaridade?
JS: No governo da Roseana Sarney foi o período de maior avanço na educação.

CC: O atual governo diz que ela não construiu nenhuma escola.
JS: Não é verdade. Ela recuperou a rede escolar e investiu pesado em um projeto de ensino a distância (um contrato de R$ 100 milhões com a Fundação Roberto Marinho). Foram 150 mil alunos atendidos por meio de tecnologia avançada. Em vez de construir prédios, ela preferiu apostar na tecnologia.

CC: Segundo o IBGE, das cem cidades com menor renda per capita, 83 ficam no Maranhão.
JS: É uma distorção que não foi criada por nós. Criaram 87 municípios que não tinham condições de virar cidade. Repito que 50% da população vive na zona rural. E isso é muito bom. O Maranhão é o segundo estado menos violento, atrás apenas de Santa Catarina.

CC: O discurso de posse do senhor, em 1966, é moderno. Promete uma ruptura com a oligarquia, mas...
JS: E aconteceu. No Maranhão, hoje, todo mundo tem oportunidade. Basta dizer que nunca persegui nem cassei ninguém. Tive todos os poderes, era governador no tempo da Revolução. Nossa presença no estado sempre foi em benefício de consolidar os ideais democráticos, de aprofundar a democracia, de lutar para que houvesse progresso. Basta dizer que meus adversários são meus antigos amigos. Todos estiveram comigo em algum momento. Nenhum deles deixou de estar do meu lado ao longo da vida. Agora, não posso me dar um tiro, me matar, só porque alguns não se sentem confortáveis com a minha presença no Maranhão. A verdade é que o carinho do povo é muito grande.

CC: O senhor fez a Lei de Terras, que distribuiu enormes extensões de terra a grandes empresas.
JS: A lei no meu tempo não permitia dar além de 3 mil hectares, de acordo com a Constituição. Sou contra muitos dos procedimentos que foram feitos em governos posteriores em relação à posse de terra no Maranhão.

CC: O senhor tem uma enorme capacidade de estar ao lado de forças díspares. Em 1965, foi apoiado pelas esquerdas e contou com a simpatia dos militares.
JS: Tive muitas restrições dos militares por ter uma ligação forte com a esquerda. Recebi várias vezes o Juscelino (Kubitschek). Sempre procurei unir todo mundo no Maranhão, governar para todos. Não tenho inimigos. Não há ninguém que diga que sou um homem violento. Por que o povo nos apoiaria por tanto tempo se usássemos de violência? Não usamos força, não usamos nada.

CC: Há vários prédios públicos batizados com o nome do senhor ou de membros da sua família. O Tribunal de Contas do Estado chama-se Governadora Roseana Sarney Murad. Não é outra prova do seu poder oligárquico?
JS: Mas o que significa para quem está há 40 anos na política botar o nome em um prediozinho de dois andares? Pode ser errado ou certo, mas não é uma tragédia.

CC: Vários parentes do senhor ocupam postos importantes na administração pública do Maranhão.
JS: Somos uma família que está no Maranhão há muitos e muitos anos, vamos dizer, há três séculos. Não posso evitar que uma cunhada minha, há 30 anos na magistratura, vire desembargadora. O que tenho a ver com isso? Nada. É a carreira dela. Mas não conheço outros parentes meus em cargos importantes.

CC: Um primo do senhor é vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado.
JS: É um primo distante. Não é meu irmão, não é meu sobrinho, nem uma pessoa próxima.

(Carta Capital, Edição n. 369, de 23 de novembro de 2005)

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Poemas-Umbrais

A Coluna Lateral, enfim, creio estar no seu lugar: a lateral (ainda que isso me custe o belo visual do abandonado Weblogger...)! Espero que enfim possam vê-la todos os meus queridos blogueiros de plantão, já que, nos últimos posts, a maioria andou reclamando de sua visualização. E, para hoje, basta um poema para encerrar o dia, para encerrar a noite ou, talvez, encerrar a vida de algum poeta perdido e amargurado... Farewell!
Poemas-umbrais

Todos dormem
E eu caminho, sem futuro,
Numa comiseração ilógica,
Na secura deslavada
De beber água da chuva
Represada
Por sobre a tumba
De meus perdidos poemas-umbrais...

(Dilberto Lima Rosa, 2004)

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

No fundo do aquário da sala...

Hoje faço uma espécie de "homenagem póstuma e tardia" a um pequeno ser que se foi há algumas semanas: um peixe da raça Acará-bandeira, do aquário daqui de casa... Calma, este blog não se despersonalizou ao nível de um diário virtual, não mesmo: o poema trata de algo muito maior que a vida de um peixe, e foi escrito bem antes, quando da sua vinda para cá! Mas a forma estoica como ele morreu fez-me aprender duas importantes lições: peixes não são bons animais de estimação (você a eles se apega, mas a recíproca não é verdadeira); certas doenças em peixes ornamentais ainda são desconhecidas (o que pode trazer muita agonia a estes animaizinhos mudos: uma aparente bacteriose corroeu suas nadadeiras)! 

Sobraram no aquário um peixinho dourado e um limpa-vidros deprimidos... 

O porte majestoso do falecido acará, aliado ao vazio que me passa a vida de um peixinho dentro de um aquário, trouxeram-me a inspiração para este poema de que gosto muito... Ao acará e à falta de comunicação do sofrimento que desconhecemos:
Imersos

Na televisão
A história da comunicação
Dos cabos telegráficos submarinos às fibras ópticas.
Na minha mente
Reverbera a poesia do mundo
Sob o peso da marginalidade da madrugada solitária e aflitiva pela repetência do dia seguinte
(Minha mente, ao contrário de meu corpo,
Nunca foi preguiçosa)
No fundo do aquário da sala
Meu acará-bandeira dorme de olhos abertos
(Os animais guardam um tanto da essência dos seus donos)
Com a consciência única e velada
De ser alimentado na mesma hora exata, mais tarde, pela manhã...

(Dilberto Lima Rosa)

domingo, 6 de novembro de 2005

Hoje tem Cinema brasileiro?
Tem, sim, senhor!

Encerrando a Semana Especial Cinema, nada melhor que falar da data de ontem, 5 de novembro, recentemente escolhida como o Dia da Cultura Nacional e do Cinema Nacional. Assim, neste "dia especial", não cabe aqui indagarmos a já batida questão "se temos algo para comemorar": o Cinema Brasileiro, independente de maiores investimentos ou políticas públicas, sempre fulgurou como um dos melhores do mundo.

É claro que a desleal concorrência com o cinema industrial norte-americano assusta e problemas com a distribuição dos títulos nacionais sempre foram uma dor de cabeça para a Sétima Arte Tupiniquim. Vide o exemplo do sonho de uma "Hollywood brasileira", a Vera Cruz, que, graças aos prejuízos financeiros e aos problemas entre brasileiros e estrangeiros que para cá vieram (como Adolpho Celi e Luciano Salce), foi à ruína menos de 6 anos depois da inauguração dos "maiores estúdios da América Latina", com apenas 18 longas-metragens, como os clássicos O Cangaceiro e Caiçara, e o sucesso popular de Mazzaropi, Sai da Frente. Ou, ainda, de outro estúdio contemporâneo, a Maristela, que, apesar de produções um pouco mais realistas com a realidade financeira brasileira, também foi à bancarrota depois de 7 anos, com pequenos clássicos como Simão, O Caolho, de Alberto Sordi (sucesso somente na Europa). 

Entretanto, mesmo com a extinção da estatal Embrafilme pelos desmandos do Governo Collor, o nosso Cinema nunca arrefeceu: entre o dito "cinema marginal" e a farta produção de curtas-metragens, com pérolas como O dia em que Dorival encarou o guarda, Barbosa e A Ilha das Flores, o "jeitinho brasileiro" acabou driblou muitas dificuldades e continuou a produzir filmes de qualidade! Por isso nunca dei muito crédito a essa coisa de "retomada do cinema nacional", que teria o seu "início" com o popular, porém apenas regular Carlota Joaquina, de Carla Camurati (redimida, depois, com o ótimo Copacabana): o Cinema Nacional nunca "parou"! 

Decerto que o nível de apuro técnico aumentou muito com a década de 90, com grandes melhorias no som e na fotografia, por exemplo, e que grandes filmes recentes já entraram para a história da cinematografia nacional, como Bicho de 7 Cabeças, Central do Brasil e Cidade de Deus, sendo mesmo os favoritos de quem despertou para produções nacionais só recentemente, como a minha noiva Jandira ou o meu amigo Ricardo, afora os sucessos de bilheteria das "hollywoodizações" da Globo Filmes há pouco tempo, mas nada disso significa que não houve qualidade antes, ou mesmo filmes excelentes, como assim reconheceu o Leste Europeu, na década de 80, sobre pérolas brasileiras como O Homem Que virou Suco ou A Hora da Estrela, premiadíssimos lá fora numa época recente, porém quase desconhecidos do grande público daqui.

Já para mim e meu amigo cofundador do Clube dos Amantes do Cinema, Sérgio Ronnie, o Cinema Novo (cuja melhor fase vai de 1955 a 1968) ainda é nossa maior escola: filmes como os geniais Rio 40 Graus e Vidas Secas, do mestre Nelson Pereira dos Santos, e os excelentes A Grande Cidade (66), de Cacá Diegues (que ainda nos brindaria na década de 70 com obras de fortes discussões sociais, como Bye Bye Brasil e Xica da Silva, também muito queridos), e Terra em Transe (67), do louco transgressor Glauber Rocha, ainda são os maiores filmes brasileiros de todos os tempos, assim como o são os seus diretores, os melhores vindos desta safra!

Mas é lógico que nunca poderia esquecer meus diletos São Paulo S/A, O Bandido da Luz Vermelha, Pixote, Eles não usam black-tie, Eu sei que vou te amar, Pra Frente Brasil, À Meia-noite Levarei Sua Alma, Amor Bandido, Os Paqueras, A Marvada Carne, Bar Esperança (O último que fecha), Limite, Ganga Bruta, O Homem da Capa Preta, Dona Flor e seus Dois Maridos, Macunaíma, Orfeu Negro, O Homem do Sputnik... Tampouco José Dumont, Jofre Soares, Sônia BragaOscarito, Grande Othelo, Carlos Manga, Tizuca YamasakiMarília PeraBetty Faria, a família Barreto, Arnaldo Jabor, Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Humberto Mauro, José Mojica MarinsAntônio Pitanga, Léa Garcia, Carlos Reichembach e tantos outros nomes que fizeram crescer esta arte tão com a nossa cara... 

Com uma história tão rica e farta assim, entre tantos outros títulos, temas e conquistas, com novas propostas de financiamento e com talentos nacionais cada dia mais reconhecidos mundialmente (como Fernando Meirelles, nome já estabelecido internacionalmente graças ao clássico instantâneo Cidade de Deus e que, recentemente, lançou o muito bom filme inglês O Jardineiro Fiel), eu só poderia terminar com entusiasmo: Viva o Cinema Nacional! Viva o Cinema na raça, sobre a raça brasileira!


sexta-feira, 4 de novembro de 2005

SEMANA ESPECIAL CINEMA

O que seria do Cinema sem os seus maiores artistas, os diretores? Ainda que seja esta uma arte indiscutivelmente coletiva, onde vários talentos se somam, é o diretor de um filme que normalmente imprime a sua marca pessoal de ver a vida, comandando toda a sua equipe, bem como milhões de espectadores no mundo inteiro e em diferentes épocas, a vivenciar sua magia na Sétima Arte... Por isso é que, para hoje, reuni trechos de três crônicas que escrevi sobre alguns dos maiores nomes deste mágico ofício: Federico Fellini, Stanley Kubrick e Martin Scorcese, gênios que, dentre vários outros (Billy Wilder, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Kurosawa, David Lean, Moniccelli, Lars Von Trier, Bergman, Woody Allen, Spielberg, Almodóvar...), imprimiram seus diferentes estilos nas retinas de ardorosos fãs ao longo deste pouco mais de um século de arte cinematográfica  grupo no qual me incluo, de carteirinha nas mãos!

Parabéns a Martin Scorcese, o grande cineasta nova-iorquino, o esteta da violência e dos tipos perdidos e sem esperança, no crime ou na vida, que neste mês completa 62 anos. Infelizmente, o grande e inovador artista parece ter "falecido" faz um tempo, desde o brilhante Os Bons Companheiros, de 1990, último trabalho que parecia merecer a assinatura do mestre de obras-primas como Taxi Driver (76), Alice não mora mais aqui (75) e Touro Indomável (80), além de outros grandes filmes marcantes graças ao estilo autoral do Mestre, como Depois de Horas (85), A Cor do Dinheiro (86) e A Última Tentação de Cristo (88). Entretanto, mesmo sem nenhum grande feito desde 90 (a não ser o sensível A Época da Inocência), prestemos sempre nossas homenagens a este diretor que, ao lado de Spielberg, Brian DePalma e Coppola (e... George Lucas?), formou a última grande geração de inventividade do Cinema norte-americano, na década de 70.
(Dilberto Lima Rosa, trecho de Homenagem a um diretor violento, de 11 de novembro de 2004)

Falo com a saudade de ter visto uma verdadeira obra-prima do Cinema aos quatorze anos, quando eu ainda saía da poderosa e alienante influência 'hollywoodiana' que até então me dominava: era Amarcord, o meu filme predileto até hoje, a que assisti, pela televisão, com um estranho e inexplicável encantamento que poucas vezes se repetiu desde então, a não ser que estivesse diante de outras maravilhas da Sétima Arte, como A Doce Vida, Oito e Meio e Julieta dos Espíritos, todos verdadeiros espetáculos de uma visão única do Cinema, todos trabalhos de Federico Fellini, este bonachão amante das mulheres, da vida, da arte e dos sonhos  sonhos que nos levam a Rimini, cidade natal do cineasta italiano, por vezes mostrada numa forma sonhada (como no próprio Amarcord), por vezes realista (como em Os Boas Vidas, ainda de influência neorrealista), ou a Roma (no romântico, belo e puro Noites de Cabíria) ou nos levando ainda à própria Cineccitá, verdadeira Cidade do Cinema dentro de Roma, com seus gigantescos estúdios (como podemos ver, pelos seus bastidores, no interessante e também metalinguístico Entrevista) ou à própria fronteira entre o mar aberto e um mar de mentirinha em estúdio na espécie de Torre de Babel vista em E La Nave Va... 

(...) Assim era Fellini: gênio da ilusão dos mares e dos navios de plástico de Amarcord, das emoções mais pungentes, como em La Strada, e de seu vigoroso "machismo-feminista" de Cidade das Mulheres... Graças a ele pude compreender mais do intangível no Cinema e sobre como esta arte realmente não tem limites, ainda que o maior nome dessa dimensão única entre a realidade e a forma de a vermos através da correspondente "mentira" das artes e dos sonhos tenha se despedido do "mundo real" há tristes dez anos, deixando a Sétima Arte menos fantástica...
(Dilberto Lima Rosa, trechos da crônica Vertebral, Dez Edições Depois - Saudosas Homenagens, de outubro de 2004)

(...) Cada vez com um maior período de tempo entre um filme e outro, Stanley Kubrick ficou mais de dez anos entre Nascido para Matar e o seu derradeiro trabalho, o hipnotizante suspense onírico De Olhos Bem Fechados (99), com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman, tamanho o seu preciosismo e suas cada vez mais exigentes manias de perfeccionismo, que acabaram lhe custando o fato de ter morrido, em 1999, sem ver seu último filme nos cinemas... 

Tanta genialidade foi acumulada durante a mais consistente e coerente carreira cinematográfica de todos os tempos, apesar de ter experimentado os mais variados gêneros e formas de narrativa (embasada no seu costumeiro "estilo épico-teatral" de três atos para contar uma estória). Decididamente alguém com raras qualidades numa arte cada vez mais sem poesia nem originalidade, Kubrick se tornou obrigatoriedade para todos os que querem crescer no entender, ver e sentir o verdadeiro Cinema.
(Dilberto Lima Rosa, trecho da crônica Minhas Memórias Kubrickianas, de janeiro de 2005)

sábado, 29 de outubro de 2005

Begin The Beguine

Olá, queridos blogueiros de plantão e amigos dos quirópteros! Voltando a publicar textos inéditos neste dileto espaço virtual, tirei a tarde de sábado para preparar esta super-homenagem à Sétima Arte: ao longo desta semana, vocês terão a SEMANA ESPECIAL - Cinema, começando hoje com uma crítica sobre o filme Batman Begins, recentemente lançado em vídeo, juntamente com um breve esboço sobre as adaptações de heróis dos Quadrinhos para o Cinema que vêm por aí...
O menino que vê seus pais serem assassinados em sua frente e, depois de crescido, treina para combater o crime na caótica Gotham City onde cresceu, vestindo-se de morcego e se tornando o herói mais completo das HQs... Essa história todos já conhecem dos quadrinhos do Batman, que, desde 1939, já passou por inúmeras transformações e adaptações, com sua mais recente versão cinematográfica, Batman Begins (algo como "Batman começa", em tradução livre: o estrangeirismo do título original prevaleceu!), tendo chegado às locadoras desde o último dia 6. Entretanto, apesar de presentes todos aqueles elementos de origem mencionados, alguma coisa parece ter faltado nesta superprodução...

Quase tão longo quanto a melhor adaptação dos Quadrinhos, Superman - O Filme, de 78, e seus 143 minutos, Batman Begins é minucioso em cada detalhe de suas 2 horas e 20 minutos de filme: de acordo com o diretor e corroteirista Christopher Nolan (do cult Amnésia), buscou-se embasar tudo o que levaria um menino de 9 anos, traumatizado com o assassinato dos pais, a tornar-se o maior detetive do mundo depois de adulto. Falo "de acordo com" Nolan, porque o diretor, no afã de deixar sua marca mais autoral e "realista", tomou algumas liberdades criativas que acabaram modificando bastante o universo original do herói na transposição para as telas... O que gerou certa dose de polêmica entre os ardorosos fãs do Morcego (entre os quais me incluo)!

Sem querer entregar muitos spoillers, vamos às tais "polêmicas"... Primeiro, a história "recontada": Bruce Wayne (Christian Bale em excelente caracterização) "desce aos infernos" desde o trauma, chegando a cometer crimes em sua fuga pelo mundo a fim de "entender a mente dos criminosos" (!); conhece um misterioso Ra's Al Ghul asiático (famoso vilão árabe fantasioso, nas HQs), que tenciona destruir "grandes metrópoles corruptas", como Gotham, com sua Liga das Sombras; eis que Bruce acorda de sua letargia ética e percebe o que precisa tornar-se para realmente fazer justiça; então, valendo-se de apetrechos tecnológicos desenvolvidos por Lucius Fox (o sempre bom Morgan Freeman) na WayneTech e auxiliado por seu mordomo Alfred (Michael Caine: definitivo), transforma-se num "símbolo" para defender sua cidade de criminosos como o mafioso Carmine Falcone (Tom Wilkinson), o louco Espantalho (Cillian Murphy), além da volta de Ras.

A ênfase em Bruce, em detrimento do próprio Batman (que só aparece depois de uma hora de projeção e em menos cenas que o habitual para filmes do gênero), acompanhada de um olhar mais realista, eliminando certos elementos icônicos do personagem: questões como a ausência de um herói mais engenhoso (nas HQs, o próprio homem-morcego cria todos os seus equipamentos, com seus conhecimentos de Física e Química), a descaracterização de vilões e uma Gotham City bem "menos gótica" (praticamente Chicago, com algumas modificações em CGI), fizeram muita gente torcer o nariz para o filme – o que parece ter ajudado no seu desempenho nas bilheterias: Batman Begins, apesar dos lucros, gerou 373 milhões de dólares, um tanto abaixo do esperado.

O que muita gente parece esquecer, porém, é que o diretor foi amplamente auxiliado por um roteirista e fã dos quadrinhos da DC Comics, Charles Goyer, que injetou, sim, bastante fidelidade ao adaptar trechos de clássicos arcos e famosas histórias, como Batman Ano Um (história de origem pós-Crise nas Infinitas Terras), como a Gotham corrupta e a clássica cena do chamamento dos morcegos, O homem que cai, com elementos como a queda no poço quando criança e a fobia de morcegos, Batman Xamã, enfatizando seu treinamento numa região gelada e o desenvolvimento das habilidades como detetive, e O Cavaleiro das Trevas, de onde se inspirou para o batmóvel no estilo "tanque militar" da história de Frank Miller, de 1986. 

Por isso, longe de uma adaptação ruim, apesar de tais "excessos de realismos", bem como do excesso de situações e personagens e de algumas concessões a soluções clichês, Batman Begins é uma experiência imprescindível, verdadeiramente um ótimo filme que, embora tenha praticamente banido a meninada da frente da telona com seu tom sisudo e muito sombrio (situação que pode ser corrigida com o lançamento em vídeo), certamente marcará o personagem como uma boa referência para os futuros filmes do herói neste novo século, cada vez mais distantes da magia impregnada por Tim Burton no primeiro filme, de 1989, com seu clássico sombrio, porém infantojuvenil (e seus toscos derivados, nas continuações absurdas de Joel Schumacher!). 

De qualquer forma, quem quiser optar pela nostalgia e pelo tom mais ameno e colorido das revistinhas da infância, fugindo do realismo mais impactante de Nolan, talvez seja melhor esperar pelo retorno de outro herói da DC, que começará a voar novamente nos cinemas a partir de junho do ano que vem e promete resgatar os dois primeiros clássicos com Cristopher Reeve... Ou, ainda, aguardar um pouquinho mais e descobrir se novas adaptações de Quadrinhos renderão o mesmo encanto de outros famosos heróis dos gibis...



quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Relembrando Futebol

Exatamente na semana em que Pelé comemora 65 anos de idade (último domingo, 23, mesma data da minha mãe e da amiga Lelinha), nada mais justo que relembrar esta pequena homenagem ao Rei do Futebol no ano passado, no antigo Weblogger, quando da comemoração dos 35 anos do milésimo gol, que adaptei para os dias atuais...

Em tempos de futebol brasileiro em baixa e à venda, nada melhor do que forçar um pouco pela memória e relembrarmos uma época maravilhosa e em preto-e-branco, em que, há trinta e seis anos, um Rei único, o mais completo com a bola no pé (ou na cabeça ou no peito ou na coxa...), chorava pelas criancinhas, pelo milésimo gol e pela plenitude, a alimentar-se, posteriormente, da eterna magia de suas 1.282 bolas na rede!

O ano era 1969. O Presidente, o General Costa e Silva, com o País vivendo sob a infame sombra do AI-5 e o início dos anos de chumbo; com o fim da inocência do iê-iê-iê da Jovem Guarda (e o também iminente fim dos Beatles)... As imagens da TV eram em preto-e-branco. E branco e preto também eram as cores de um time então tricampeão paulista (além de dois títulos mundiais interclubes, três Torneios Rio-São Paulo e mais seis campeonatos paulistas naquela década), graças, em particular, a ele (e em grande parte, também, a outras duas lendas santistas: Coutinho e Pepe): Pelé, o já consagrado Rei do Futebol (antes mesmo da consagração com o tri de 1970), e que, naquele ano em especial, marcaria o Mundo do Futebol com o famoso milésimo gol, de pênalti (pênalti seria menos gol?), contra o Vasco da Gama (logo o Vasco?), na histórica partida da também histórica Taça de Prata (antecessora do atual Campeonato Brasileiro)...

Logicamente, aquele jogo não marcaria ninguém pelo placar (2x1 para o time paulista) ou por qualquer "caráter decisivo" (o Fluminense venceria aquele torneio): todos voltavam suas atenções para o Maracanã, naquele 19 de novembro, pelo que poderia ser "o jogo do milésimo gol". E o foi mesmo, mas depois de mais uma "arte" do futebol arte do Rei (parece que ele se jogou, não?): jogo interrompido; Andrada de um lado e bola do outro; Sua Majestade erguida nos ombros! Discursando pelo social e por ele mesmo, Pelé chorava feito criança, tal como aquele moleque de 17 anos sensação na Copa de 58, quando se debulhou em lágrimas na vitória contra a Suécia, naquela inesquecível Final.

Várias faces de um mesmo homem: menino, Rei ou Deus do Futebol (ou Soccer, vez que se aposentou no New York Cosmos)! O mesmo que criou a "paradinha" na hora do pênalti, o soquinho no ar na comemoração de um gol e incríveis jogadas geniais na sua completude como jogador (centroavante, ponta, meia-armador... e até goleiro!), tendo pecado somente fora da arte da bola, quando pensou que poderia ser ator, compositor, empresário e até político... Ou, quem sabe ainda, "formador de opinião" (sem noção da Raça nem da Ditadura)!

Mas, enfim, a justiça foi feita: o ano era 1969, o capitão Lamarca desertava contra seu próprio Exército para lutar contra o Terror Militar; Woodstock mostrava ao mundo Rock, paz e amor; o homem voava para a Lua... O Mundo, de repente, ficara pequeno. E a bola era o mundo do preto mais famoso do planeta, preto ou branco, no branco e preto do Alvinegro Praiano, do preto rei na bola branca mil vezes (pelo menos, em sua contagem pessoal), no preto e branco das já desgastadas imagens de arquivo e do fundo de milhões de retinas felizes. Um momento que não vivi, mas que posso reviver. O gol de número mil para as criancinhas do Brasil...

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Desarma, Comade!

"Você está se sentindo com sorte, hein, punk?"

O engraçado foi mamãe tentando ensinar sobre o Referendo do Desarmamento para a diarista que presta serviços à nossa casa há mais de 20 anos, a estimada "Comade" Cristina, uma senhora semianalfabeta tão carinhosa comigo desde minha infância, mas que nunca está muito a par do "Brasil Oficial":

- A Comade vai ter que votar no próximo domingo se é a favor ou contra o comércio de armas no Brasil!
- Como é que é, Senhora?
- Vai ter que votar sobre as armas! - quase aos gritos, porque ela tem um probleminha de audição.
- Eu não gosto de arma. No bairro onde eu moro tem muito bandido!
- Pois é, então a senhora vai dizer se quer ou não um Brasil sem armas, votando "sim" ou "não"!
- Então eu sou "não", Senhora, não quero arma com ninguém!
- Não, a Comade vai votar "sim"!
- Não, Senhora, eu quero é "não", não gosto de arma!
- Por isso mesmo, é "sim", porque a senhora vai dizer sim ao desarmamento!
- Ai, Senhora, isso é muito complicado!

A mais pura verdade, Comade Cristina: esse Brasil não é para amadores... Mas com menos armas, fazendo favor!

sábado, 22 de outubro de 2005

ANIVERSÁRIOS

Quis o destino que os dois nascessem quase na mesma data, para que os tolos defensores do zodíaco torcessem o nariz: afinal, ele é do fianalzinho de Libra, e ela, do início de Escorpião, dois signos tidos como incompatíveis, porquanto totalmente diferentes...

Decerto que ela, mais romântica e sonhadora, contrasta com a figura dele, mais desligado, e que alguns tristes vieses da longa vida a dois, casados há mais de trinta anos, trouxeram diferentes lições para cada um...

Quis o destino também que dois filhos de comerciantes de cidades tão díspares no Maranhão – ele, de São Luís; ela, de Pinheiro – se encontrassem e se casassem, trazendo ao mundo o meu irmão e eu...

Ele, ontem, 21; ela, amanhã, 23. A eles, esta singela homenagem atemporal  – porque os pais jamais envelhecem...

sábado, 15 de outubro de 2005

O Super-Homem morreu...

Pelo antes combinado, o previsto era para que eu publicasse ontem, como venho fazendo toda sexta com um novo capítulo das Novas Cartas Chilenas... Entretanto, pela absoluta impossibilidade de tempo e diante da total falta de atenção de meus blogueiros de plantão quanto à minha novela virtual, resolvi cancelar as Novas Cartas mais uma vez, por total insucesso, e decidi republicar um texto que fiz em 2004, quando da morte de um grande ídolo da infância, Cristopher Reeve, encarnação maior do Super-Homem, que morreu no dia 10 de outubro do ano passado...

Super-Homem Morreu...

Era março de 1984 e eu dava os meus primeiros passos de 7 anos de idade na nova escola em busca de novas interações sociais: "Tu viste o filme de ontem?", "Vocês viram o Super-homem?" "Viram aquela cena em que ele gira o mundo ao contrário?"... Desta vez o assunto era muito melhor que o da semana anterior, onde prevaleceu apenas "qual o teu nome?" ou "qual o teu signo?": agora, os primeiros contatos com um super-herói cinematográfico, ainda que pela televisão, eram mais do que suficientes para o meu definitivo entranhamento social no colégio do novo bairro para onde então acabara de mudar-me, tantos eram os detalhes a compartilhar com meus novos amiguinhos...

Mais ou menos um ano depois foi a vez de a continuação passar na TV. E mais uma vez assunto não iria faltar, mais uma vez no desafio de numa nova escola (agora a definitiva, até o fim do 2º grau): os duelos no ar com os três vilões de Krypton, os efeitos especiais... "E o Super-homem se casou?"... "É, acho que sim"... "Mas, no final, parece que se separaram e ele salvou o mundo mais uma vez"...

Super-Homem, o mais completo dos super-heróis, criado em 1938 por Jerry Siggel e Joe Shuster (à época dois jovens estudantes, ambos terminaram seus dias em velhices pobres, lutando contra a DC por reconhecimento), naqueles idos dos anos 1980, já passara por duas felizes adaptações para o Cinema (uma em 78, outra em 80), ambas com exorbitantes êxitos de bilheteria, mas nada disso era de meu conhecimento: o que importava mesmo era que a Globo, pela primeira vez - e em sua então única sessão de inéditos, Supercine - exibia cada uma das fantásticas aventuras daquele personagem maravilhoso que marcaria a minha vida.

Tampouco importava se Marlon Brando - "quem era Marlon Brando?" - ganhara mais de três milhões de dólares por apenas alguns minutos de participação no primeiro longa ou se, nos créditos iniciais, o nome de Gene Hackman surgia primeiro que o de Christopher Reeve - e quem era Christopher Reeve afinal, já que, estreando com 24 anos com aquele filme, nem mesmo os nossos pais conheciam aquele jovem e carismático ator, com a cara do personagem nos Quadrinhos?

Ele era aquele que voava e era indestrutível. Que, quando surgia, vinha com uma música maravilhosa de se assobiar. Ele era aquele vindo de Krypton para nos salvar e de Hollywood para nos tirar da mesmice sem fantasia em que vivíamos, então órfãos de heróis bem antes do anabolizado e marqueteiro He-Man e seus similares. Ele era o Super-Homem: tanto que, apesar de saber que ele só existia dentro do filme (na época os únicos quadrinhos que eu lia eram os da Disney), se um dia ele viesse nos salvar, na realidade, do jugo de um coronel déspota então Presidente e nos restituir a glória, como Gil cantou certa vez, quem apareceria na imaginação de todos seria aquele homem bonito que sorria para a câmera - porque, de fato, ele era o Super-Homem...

Aos poucos eu fui crescendo. Vieram os outros dois filmes, Superman III e Superman IV - Em busca da paz, ambos ruins e sem magia; outros heróis também invadiram as telas, incluindo Batman, em 1989, que acabou se tornando o meu favorito porque só a partir de então passei a colecionar gibis de super-heróis. Vieram os novos heróis criados por mim em meus quadrinhos caseiros na passagem da infância para a adolescência, época em que eu gravava cada reprise desses filmes na Globo. Então vieram os primeiros namoros e as primeiras responsabilidades, junto com novas atuações de Reeve em tantos outros filmes, na busca desenfreada para fugir do seu eterno estigma... Não adiantava: ele era o Super-Homem, apesar de competente e versátil também em outros papéis.

Foi então que mataram, pela primeira vez, o Super-Homem: a fim de aumentar as vendas do personagem que andava um pouco esquecido nos quadrinhos, os mercenários desenhistas e redatores da editora DC Comics criaram um vilão meia-boca para destruir o herói numa estória que vendeu milhões - e repetiram a presepada milionária para "ressuscitar" o azulão, "modernizando" assim o herói nas revistinhas... A frustração continuou na TV, onde terminaram de "enterrar" o Super-Homem: um ator medíocre e "com cara de mexicano", como dizia um preconceituoso amigo que adorava o Reeve, então passou a vestir o uniforme de maior prestígio dos quadrinhos numa ridícula série televisiva...

E, em 1995, o Super-Homem se feriu mortalmente: foi quando Christopher Reeve, grande desportista e adepto do hipismo, mesmo com os seus eternos poderes sobre-humanos e equipamentos de segurança, ficou tetraplégico após cair do seu cavalo... Foi então que passou a encarar uma luta diferente: longe dos mísseis atômicos e supercriminosos, agora seus esforços eram em prol das pesquisas com células-tronco, que, assim como numa estória de ficção, poderiam ajudá-lo a movimentar-se novamente... Porque era um homem super! E, mesmo sem movimentar mais nada abaixo da cabeça, seguiu em ação - chegando a atuar novamente e mesmo a dirigir, de sua cadeira de rodas, uma refilmagem para a TV do clássico Janela Indiscreta... Tudo isso até sua morte, neste último domingo, de insuficiência cardíaca.

Fellini, Jobim, Kubrick, Sinatra, Nelson, Mastroianni, Brando, Quintana... Todos eu vi morrer, à distância, deixando em mim diferentes matizes de tristeza pela sensação de perda como que de alguém próximo, tamanha a intimidade e a cumplicidade com seus filmes, músicas e livros... Mas o contato que aprendi a ter com cada um deles foi já pela adolescência. Com o Homem de Aço foi diferente: mesmo Reeve jamais tendo sido um gênio da interpretação no Cinema, ele simplesmente foi o maior super-herói de todos os tempos no meu tempo de criança, marcado pela magia em fuga da sua eternizada figura de 'collant' colorido, que permanecerá em pleno movimento nalguma cena da minha infância, quando acompanhava com entusiasmo, em frente ao televisor, as aventuras do herói que nunca morre...

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Sejam bem-vindos, queridos blogueiros de plantão, ao meu "novo" espaço virtual: na prática, continuam os mesmos Morcegos, só que em casa nova, por tempo indeterminado! Continuem a acompanhar a Coluna Lateral, com a Imagem da Semana, o Blog Destaque da Família Morcegos e a republicação, abaixo, dos três primeiros capítulos das Novas Cartas Chilenas, a mais "maldita" das novelas virtuais, já publicados no Weblogger...

Hoje mais uma vez peço licença para entrar na ROTATÓRIA, onde tantos amigos já desfilaram seus talentos, por ocasião de mais uma picareta, digo, micareta. No caso, o Marafolia, que se realizará nestas terras a partir da quinta, dia 13. Este texto fez parte da coluna Vertebral do ano passado (quando do aniversário de 10 anos deste tosco evento), mas continua extremamente atual, como se tivesse sido escrito há alguns minutos... Também, o que esperar da imutável e insuportável "Axé Music"?...

VERTEBRAL

Marafolia... Dez anos de Marafolia... Desculpe-me, leitor incauto, pelo ruminar alto de meus pensamentos, mas é que estou um tanto quanto bestificado diante do tempo em que reina esta absurdice chamada Marafolia, mais uma das várias micaretas deste país tropical que teima em ser carnaval o ano inteiro...

Por aqui, terra de coronel, até folia tem dono, que é o mesmo do Maranhão - tanto que uma tal "Sanfolia", tentativa de furar o "eixo", vingou apenas um ano... "Tá procurando sarna pra se coçar", pergunta a canção de Bel Marques e seu Chiclete: não, obrigado, nós já temos sarna demais pra todo lado... E assim o grupo do bigode estende os seus desmandos pela área das "festas populares" - que de popular só tem a tal "pipoca", onde os foliões mais desafortunados pulam ao som distante dos blocos oficiais, onde varia de 150 a 400 reais um abadá!

Falando em abadá, curioso o simbolismo desse pedaço de tecido sintético que, customizado em outras peças como 'tops' ou "micro-saias", e somado a outras tiras de roupa, como os ínfimos 'shorts' atochados, compõe o "figurino" oficial do corredor polonês da Avenida Litorânea (esbórnia na praia: nada mais brasileiro!).

Não sei bem onde esta "tradição" de micaretagem começou, mas parece se estar diante de algo tribal soteropolitano, onde proliferam termos africanos como "bandanas" e "axés"... Até mesmo este estranho nome, micareta, assemelha-se a algum dialeto sudanês, do qual também não tenho a mínima idéia do significado, mas cuja noção já está perfeitamente sedimentada como um "carnaval fora de época", com épocas previamente organizadas de forma harmoniosa com todas as outras folias extemporâneas do País.

E parece que foi mesmo no Nordeste que tudo começou, quando, no Ceará, abriram o tal Fortal e todas as bestas-feras da picaretagem axé-babá passaram a acumular uns trocados com o então boom da marqueteira música baiana - se estiver errado quanto à origem, perdoe-me: além de não ter feito nenhuma pesquisa de campo, não tenho a menor intenção de ser experto no assunto...

E tome Carnatal, Recifolia, Micarina, Carnabelô, para citar só algumas das "geniais" combinações de nomes de capitais brasileiras com a tal folia ou micareta carnavalesca - tantas que um amigo desocupado da Faculdade agendava-se de acordo com os luxuriosos folguedos: "Nesse final de semana eu estive no Fortal; daqui a alguns dias vou para a Micarina, no Piauí... Vou a todas, não perco uma!"

E seguem as coisas esdrúxulas (Micarecandanga, em Brasília?!): bobagens como as "danças da manivela" ou "da boquinha da garrafa", além de nomes de bandas como Babado Novo, tudo parece já ultrapassado de tão brega, já que o duvidoso Axé parece não agüentar mais que a moda de apenas uma estação - até nas rádios o "fenômeno" aos poucos vem sendo substituído, pelo menos no Nordeste, pela peste do "New Forró" eletrônico e do "Apokalypso" do tecnobrega paraense... 

Talvez por isso as "mentes criativas" do "estilo" baiano vêm apelando para pais de santo e cânticos de macumba: só assim para justificar os "maimbê, maimbê-bá-bá", os "zum zum zumbaba" e os "mugegé-mugegé" que vêm tomando o lugar das antigas exacerbações vocálicas "a ê, a ê, aê, ô ô ô ô ô ô" das composições afro-arretadas... Só a pomba-gira salva!

E assim, ainda que somente num grande e agressivo jogo de 'marketing' saudosista, onde, a ferro e fogo, sobrevivem os ritmos assim chamados de Axé Music, micaretas como a Marafolia e tantas outras resistem com um relativamente cativo e abobalhado público que ainda as sustenta, numa repetição do mau gosto que continua a contrariar as mais concretas e otimistas previsões de que aquela explosão de carnavais fora de época do início da década de 90 duraria pouco... 

Que pena! Só sei "que o corpo estremece" de desgosto ao ouvir a turba "levantar poeira", com uma "mãozinha na cinturinha" e a "outra no ombro", numa vagabundagem esticada demais para um Brasil só, onde a efêmera e vazia sensação de orgia tropical, além de nunca saciar o nosso povo pagão por natureza, parece jamais ter fim...
 

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