
Parabéns a Martin Scorcese, o grande cineasta nova-iorquino, o esteta da violência e dos tipos perdidos e sem esperança, no crime ou na vida, que neste mês completa 62 anos. Infelizmente, o grande e inovador artista parece ter "falecido" faz um tempo, desde o brilhante Os Bons Companheiros, de 1990, último trabalho que parecia merecer a assinatura do mestre de obras-primas como Taxi Driver (76), Alice não mora mais aqui (75) e Touro Indomável (80), além de outros grandes filmes marcantes graças ao estilo autoral do Mestre, como Depois de Horas (85), A Cor do Dinheiro (86) e A Última Tentação de Cristo (88). Entretanto, mesmo sem nenhum grande feito desde 90 (a não ser o sensível A Época da Inocência), prestemos sempre nossas homenagens a este diretor que, ao lado de Spielberg, Brian DePalma e Coppola (e... George Lucas?), formou a última grande geração de inventividade do Cinema norte-americano, na década de 70.
(Dilberto Lima Rosa, trecho de Homenagem a um diretor violento, de 11 de novembro de 2004)
Falo com a saudade de ter visto uma verdadeira obra-prima do Cinema aos quatorze anos, quando eu ainda saía da poderosa e alienante influência 'hollywoodiana' que até então me dominava: era Amarcord, o meu filme predileto até hoje, a que assisti, pela televisão, com um estranho e inexplicável encantamento que poucas vezes se repetiu desde então, a não ser que estivesse diante de outras maravilhas da Sétima Arte, como A Doce Vida, Oito e Meio e Julieta dos Espíritos, todos verdadeiros espetáculos de uma visão única do Cinema, todos trabalhos de Federico Fellini, este bonachão amante das mulheres, da vida, da arte e dos sonhos – sonhos que nos levam a Rimini, cidade natal do cineasta italiano, por vezes mostrada numa forma sonhada (como no próprio Amarcord), por vezes realista (como em Os Boas Vidas, ainda de influência neorrealista), ou a Roma (no romântico, belo e puro Noites de Cabíria) ou nos levando ainda à própria Cineccitá, verdadeira Cidade do Cinema dentro de Roma, com seus gigantescos estúdios (como podemos ver, pelos seus bastidores, no interessante e também metalinguístico Entrevista) ou à própria fronteira entre o mar aberto e um mar de mentirinha em estúdio na espécie de Torre de Babel vista em E La Nave Va...
(...) Assim era Fellini: gênio da ilusão dos mares e dos navios de plástico de Amarcord, das emoções mais pungentes, como em La Strada, e de seu vigoroso "machismo-feminista" de Cidade das Mulheres... Graças a ele pude compreender mais do intangível no Cinema e sobre como esta arte realmente não tem limites, ainda que o maior nome dessa dimensão única entre a realidade e a forma de a vermos através da correspondente "mentira" das artes e dos sonhos tenha se despedido do "mundo real" há tristes dez anos, deixando a Sétima Arte menos fantástica...
(Dilberto Lima Rosa, trechos da crônica Vertebral, Dez Edições Depois - Saudosas Homenagens, de outubro de 2004)
(...) Cada vez com um maior período de tempo entre um filme e outro, Stanley Kubrick ficou mais de dez anos entre Nascido para Matar e o seu derradeiro trabalho, o hipnotizante suspense onírico De Olhos Bem Fechados (99), com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman, tamanho o seu preciosismo e suas cada vez mais exigentes manias de perfeccionismo, que acabaram lhe custando o fato de ter morrido, em 1999, sem ver seu último filme nos cinemas...
Tanta genialidade foi acumulada durante a mais consistente e coerente carreira cinematográfica de todos os tempos, apesar de ter experimentado os mais variados gêneros e formas de narrativa (embasada no seu costumeiro "estilo épico-teatral" de três atos para contar uma estória). Decididamente alguém com raras qualidades numa arte cada vez mais sem poesia nem originalidade, Kubrick se tornou obrigatoriedade para todos os que querem crescer no entender, ver e sentir o verdadeiro Cinema.
(Dilberto Lima Rosa, trecho da crônica Minhas Memórias Kubrickianas, de janeiro de 2005)
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