segunda-feira, 13 de agosto de 2012

13 de agosto:
115 Anos de Alfred Hitchcock


Recentemente, a revista inglesa Sight and Sound, do Instituto Britânico de Cinema, como costuma fazer de 10 em 10 anos, publicou mais uma de suas enquetes sobre os melhores filmes de todos os tempos e, para surpresa geral, após mais de 50 anos de hegemonia de Cidadão Kane no topo da lista, eis que Um corpo que cai assume, pela primeira vez, a ponta (saiba mais lendo aqui e aqui)! Nenhum demérito à obra-prima absoluta e inovadora do genial Orson Welles (que ainda acho superior ao clássico Vertigo, apesar de este seguir como um dos meus favoritos), somente uma constatação "atualizada" de que a obra de Alfred Hitchcock, cujo nascimento, há exatos 115 anos, celebra-se hoje (nada mais "apropriado" para o mestre do medo: 13 de agosto!), continua excelente e será sempre digna de novas revisões...

Apesar de inglês e de ter começado sua carreira na terra da Rainha, meu primeiro contato com este genial diretor foi com o seu primeiro trabalho nos EUA: Rebecca - A Mulher Inesquecível não me apeteceu de cara, dadas algumas de suas feições afetadas e teatrais comuns a uma boa parte das produções norte-americanas da época, só vindo a ver as qualidades daquele filme anos depois, quando pude perceber o artista por trás daquele formato 'mainstream'... Noutras palavras: Alfred era tão genial que conseguiu fazer um ótimo filme sem desagradar os modelos convencionais que o Cinema estadunidense queria ao lhe dar as boas vindas ao Novo Mundo! Rebecca levou o Oscar de melhor filme, mas o diretor por trás do espetáculo acabou injustiçado, sem premiação - curiosamente, ele não só jamais levaria o prêmio da Academia, como também nem um outro trabalho seu ganharia novamente como melhor filme...

Entretanto, com o grande sucesso inicial em terras ianques, Hitchcock espertamente acabou por estabelecer um "modelo" para seus próprios filmes: com tudo em estúdio para ter mais controle (especialmente quanto à sempre excelente fotografia, com raras filmagens em locações), trilhas sonoras inesquecíveis (o magistral Bernard Hermann foi o seu principal colaborador, criando para o mestre inglês grandes "hinos" do Cinema, como os violinos estridentes de Psicose ou a pulsação vertiginosa de Um corpo que cai) e elencos sempre muito bem dirigidos (que, dizem as más línguas, especialmente as das atrizes com quem trabalhou, o diretor tratava como "gado"), foi muito além do subgênero Suspense, do qual se tornou um símbolo, para explorar outras faces da Comédia (O Terceiro Tiro e Interlúdio: sofisticado), do Drama ("O Homem Errado", baseado em história real, com o ótimo Henry Fonda), do Terror (Psicose e Os Pássaros) ou da Aventura (Intriga Internacional e Topázio) - todos pontuados por uma inigualável técnica de contar histórias...

E, falando em histórias, difícil falar de Hitchcock sem mencionar seu lado multimídia inovador na época: além do Cinema, o então já consagrado diretor transformou-se numa espécie de "marca" referente a Suspense e não só teve lançados vários livros de contos por si selecionados, com sua figura rechonchuda sempre a estampar as capas (tendo eu lido um deles, do qual não consigo lembrar-me agora o título, mas que me impressionou bastante aos 13 anos de idade...), como também apresentou uma bem-sucedida série televisiva, Alfred Hitchcock Presents, cujas tramas baseavam-se em histórias cheias de suspense e selecionadas, tal como se dava com os livros, entre vários autores literários do gênero - uma delas, considerada impraticável para a televisão da época, cativou o diretor/apresentador a ponto de querer trabalhá-la no Cinema por causa do potencial de um certo assassinato num chuveiro...

Longe de entregar as coisas com facilidade, Alfred Hitchcock sabia como poucos envolver o público em suas tramas: nada de chocar com a explosão de uma bomba; melhor revelar ao público sobre a bomba e nos tornar seus cúmplices diante dos personagens inocentes, sem saber de nada... Nada de mistérios ou sustos gratuitos, Suspense não é isso: "Interesso-me menos pelas histórias do que pela forma de contá-las", dizia o rechonchudo cineasta, com jeito bonachão, mas sempre com fina ironia e humor sarcástico muitas vezes incompreendido... Sem dúvida, um grande contador de histórias, com bom humor em cada detalhe, desde o excelente 39 Degraus, ainda na fase inglesa, onde manipulava, com bastante ação e humor, uma investigação de espionagem, até seu último filme, Trama Macabra, com um adoravelmente cômico time de escroques! "É inútil ver em mim intenções profundas; não estou nem um pouco interessado pela mensagem ou moral do filme - sou, digamos, um pintor de flores..." disse, certa feita, o mestre inglês, talvez autoparodiando-se por sua tradicional "veia comercial" - uma injustiça: poucos conseguiram imprimir marcas tão profundas nas telas, ainda que em trabalhos sucessos de público... Um exímio artista no antigo sistema de estúdios, num popular, porém criativo, Cinema de autor!

Como esquecer, por exemplo, a viagem pelo apartamento (e pelo brilhante jogo de diálogos entre os personagens assassinos e seu professor) da câmera-personagem de Festim Diabólico - fiquei embasbacado quando vi pela primeira vez num antigo Corujão da Globo, procurando o próximo "corte" de edição (tudo foi filmado continuamente, com cortes quase imperceptíveis somente para mudar o rolo de filme)? Ou o nada discreto cenário visualizado pelo fotógrafo 'voyeur' acidentado de Janela Indiscreta, que, do seu apartamento, fica confabulando mil teorias sobre os vizinhos que acompanha por meio da sua teleobjetiva? Ou ainda os sufocantes ataques de Os Pássaros, naqueles incríveis efeitos especiais? Impossível... Se hoje a maioria dos jovens só conhece sustos e horrores explícitos cheios de sangue nas telas, escorria um singelo achocolatado na banheira de Psicose ao final da famosa cena do esfaqueamento no chuveiro - detalhe: o impacto da cena ainda hoje é grande, mas não se vê uma perfuração sequer!

E o que dizer do filme em questão, Um corpo que cai (Vertigo)? Um James Stewart inspirado, num dos seus melhores trabalhos como o policial aposentado por sofrer vertigens de acrofobia e que é contratado por um amigo para uma estranha investigação; uma Kim Novak nunca antes tão linda e sedutora em seu "papel duplo"; um mergulho psicológico no amor e no medo humanos, bem como a obsessão por algo que não se pode ter; o desejo ambíguo entre o real e o imaginário; o suspense misturado a doses de terror entre o real e a possibilidade do sobrenatural; um final impactante que já entrou para os anais da História do Cinema mundial; uma San Francisco onírica, uma trilha inesquecível (Hermann outra vez)... Tantos elementos reunidos resultaram no trabalho mais completo de Hitchcock, não à toa sempre lembrado em qualquer lista dos 10 melhores de todos os tempos! Já quanto a ser o primeiro, a desbancar este ou aquele filme, considero questão muito pessoal, que foge a uma racionalidade etérea de um "pódio" seguro... Eu mesmo tenho os meus 50 melhores (lista na qual Vertigo figura em 9º lugar) e muitos diretores famosos têm os seus critérios para os seus favoritos (confira aqui os "Top10" de cineastas como Woody Allen, Martin Scorcese e Quentin Tarantino)! De qualquer forma, o fato de Hitchcock galgar a primeira posição só mostra o quanto sua obra é perene e segue admirada até hoje...

Fato: ele nunca levou um Oscar para casa... E, justamente por este prêmio ser quase um sinônimo para grandes injustiças, Alfred Hitchcock, apesar de morto há mais de 30 anos, segue incólume e indiferente a isso como um dos maiores mestres da Sétima Arte, na mente assustada de milhões de admiradores de sua Escola... Prova disso é a escalação de uma de suas obras-primas ao posto máximo pela  famosa  revista inglesa! E, aos jovens baseados no sangue 'gore' ou nos sustos em alto Dolby Surround que ainda não conhecem o mestre inglês, talvez passem a saber de alguma coisa depois que assistirem a Hitchcock, cinebiografia sobre o diretor interpretada por Anthony Hopkins, prevista para o ano que vem... Que seja tão bom quanto Um corpo que cai (tarefa quase impossível!): quem sabe não passa a figurar como melhor filme daqui a 10 anos?


Onde está Alfred? Marca registrada em seus trabalhos, os fãs aficionados sempre se divertiram em descobrir onde o diretor aparece ao longo de cada um dos seus filmes. E você? Sabe de todas as aparições do mestre? Confira neste 'site' e divirta-se!
 

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