domingo, 4 de novembro de 2012

Isso te lembra o quê?



Noutro dia, na vinda pra casa após uma cansativa noite de trabalho como professor, sintonizava eu uma rádio qualquer à cata de algum sucesso nostálgico naquele horário em que costumam pulular canções antigas nas melhores estações, quando fisguei, já pela metade, a deliciosa "Then he kissed me", com The Crystals, de 1963, e, subitamente, visualizei Elisabeth Shue, só de blusão e meias pretas, dançando num quarto... Calma, meus caros blogueiros de plantão: antes de me taxarem de pervertido fetichista ou algo assim, deixem que eu me explique melhor...

Espécie de "versão infanto-juvenil" de Depois de Horas (1985), do mestre Martin Scorcese, onde protagonista se envolve em mil situações de problemas por puro acaso, a subsidiária "filmes adultos-família" da Disney, Touchstone Pictures, lançou, em 1987, este pequeno clássico 'teen' dos anos 80, Uma Noite de Aventuras, com a então queridinha Elisabeth Shue (posteriormente indicada ao Oscar pelo ótimo Despedida em Las Vegas, em 95) como protagonista de uma inesqueível "Sessão da Tarde": jovem bacana de 17 anos (de bairro igualmente bacana), desprezada pelo namorado, decide ser babá de uma garotinha numa casa vizinha enquanto os pais vão para uma festa e, em socorro a uma amiga em frustrada tentativa de fuga de casa (Penelope Ann Miller, do recente O Artista), decide ir para a "cidade" (town ou o grande centro urbano das grandes cidades norte-americanas - no caso, Chicago, Illinois) e arrasta consigo a garotinha pajeada, seu irmão adolescente (e apaixonado pela protagonista, vivido pelo hoje sumido Keith Coogan) e o amigo engraçadinho deste - que, por sua vez, em função de uma Playboy em cuja capa se encontra uma espécie de "sósia" de Elisabeth Shue, acaba envolvendo todo mundo numa confusão ainda maior, com uma quadrilha especializada em roubos de carros.

Redondinho e feito para a família (não há violência, com tudo muito 'clean', tal como em outros clássicos da Touchstone, como Splash - Uma sereia em minha vida, Uma Linda Mulher e Cocktail), a comédia de aventura elitizada é cultuada até hoje por uma legião de saudosistas dos anos 80 e agrada a gregos e troianos com as situações vividas pelo grupo de jovens burgueses: pneu furado no meio de uma 'highway' e socorro por um mecânico estranho, porém bonzinho ("- Como é que vocês saem para a cidade sem estepe?"); escapadas de tiroteio; invasão de boate negra de 'blues' num bairro pobre; perseguição de criminosos etc. E, no final (como não poderia deixar de ser), todos aprendem valiosas lições, amadurecem um pouquinho e... Dá tudo certo, com todos ilesos, sem um arranhão!

Ainda me lembrei, já depois do fim da canção na rádio, de quando cheguei em casa, aos 12 anos, com este filme: marcou-me porque, junto ao vídeo, alugara outro lançamento da época, também um clássico adolescente da Touchstone, Namorada de Aluguel (com o hoje "Sr. Grey's Anatomy", Patrick Dempsey, e a linda, porém afastada do 'showbiz', Amanda Peterson) e minha mãe foi logo questionando se aquilo era filme pra mim, por causa daquele estranho título em Português (no original, a produção se chama Can't buy me love, canção dos Beatles que abre e fecha o filme)... O engraçado foi que mamãe depois não só viu seu equívoco, adorando aquela divertida comédia romântica sobre uma garota riquinha (ah, esses burguesinhos norte-americanos e suas adoráveis 'highschools') que "se vende" por mil dólares em troca de passar por namorada de um 'nerd' a fim de torná-lo popular, como também seguiu em "sessão dupla", deliciando-se também com Uma noite de aventuras, primeiro filme de Chris Columbus (o mesmo de Esqueceram de Mim)!

Engraçado como uma canção, quando bem empregada numa cena, pode remeter seu ouvinte, de imediato, a uma viagem pelo tempo a um filme muitas vezes já esquecido... E relembrar a deliciosa canção "Then he kissed me", clássico do início dos anos 60 que já apareceu em inúmeras interpretações e em diversos filmes - mas que foi com sua gravação original, com o ótimo grupo de cantoras negras The Crystals, que mais tocou no Cinema - me trouxe, no ato, meu amado ano de 1989, quando então era eu o maior rato das locadoras do São Francisco e adjacências, época em que aluguei Uma noite de aventuras...

Tudo bem que a igualmente clássica sequência de Os Bons Companheiros seja inesquecível (1990), com o famoso 'travelling' em que Ray Liotta e Lorraine Braco adentram o luxuoso Copacabana em seu primeiro encontro, seja igualmente memorável... Mas, para uma geração de pré-adolescentes oitentistas, Elisabeth Shue, só de blusão azul e meias pretas, dançando lindamente apaixonada em seu quarto enquanto se arrumava no fino da moda de 87 ao som de The Crystals, ainda é a melhor sequência com esta música... Para relembrar:


Ainda me lembro do amigo Henrique Spencer congelando a imagem no momento da levantada de pernas de Elisabeth Shue (pena que a Touchstone não deixava passar nada)... Bons tempos que não voltam mais!
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13 comentários:

Ricardo Campos disse...

Oi Dil,

Lembro perfeitamente deste filme. Marcou época. Realmente era um "Depois de Horas" infanto-juvenil, até no seu tom estilizado, meio non-sense também. Tinha uma garotinha que adorava o Thor! Muito legal mesmo! Fez bem você ter lembrado. Engraçado, seu espaço é o melhor em termos de relembrar uma época que não volta mais. Continue assim, mesmo que algumas lágrimas de nostalgia, de uma infância e adolescencia perdida, voltem a rolar!

Gilberto Carlos on 8 de novembro de 2012 às 09:44 disse...

Também adorava esses filmes tipo "Sessão da Tarde". Namorada de aluguel é muito querido. Já as músicas nostálgicas, eu adoro. Tem uma rádio, Saudade FM que só toca músicas desse tipo: www.saudadefm.com.br

Surto on 8 de novembro de 2012 às 14:22 disse...

Grande Dilberto,

Foi "Curtindo a vida adoidado" que fez minha cabeça nos anos 80, boas lembranças.

Grande Abraço

Sônia on 9 de novembro de 2012 às 07:56 disse...

Chora não...morcego...kkkk

Assim como o Surto, foi "Curtindo a vida adoidado" que me deixou doidinha...rs


Abraço Dilberto!

OBS: A Elfa mandou um beijo...rs

Jota Effe Esse on 9 de novembro de 2012 às 13:09 disse...

O que me impressiona, Dilberto, é tua capaciadade de escrever tudo isso de forma bem coordenada. Quanto ao tema nada posso falar porque, como já disse em outras ocasiões, tô msis por fora do que arco de barril. Meu abraço.

on 9 de novembro de 2012 às 18:07 disse...

Uma Noite de Aventuras tem tudo que a Sessão da Tarde pede!
Dos anos 80, gosto dos filmes de John Hughes, também no estilo matinê, como Curtindo a vida Adoidado e Clube dos Cinco.
Abraços!

Duarte on 11 de novembro de 2012 às 10:54 disse...

Acção, muita acção, como o ritmo que imprimes àquilo que expressas, até sensulaidade!
Agora posso começar a dizer que sei bastante mais de cinema, pois saio daqui aprendendo cada dia.
Agradecido quedo.
Aquele abraço

Celamar Maione on 11 de novembro de 2012 às 19:47 disse...

Muito boa a cena. Quantas lembranças, não ?
Eu gosto muito da cena de dança do filme Flashdance.
Cheiros, sons, cenas de filmes nos remetem a muitas lembranças da infância, adolescência e vai por aí.
Beijão

Luci on 11 de novembro de 2012 às 21:00 disse...

associação de idéias... e assim vamos mantendo nosso estoque de lembranças!
bj

Игорь on 12 de novembro de 2012 às 21:39 disse...

Puxa Dilberto mas que memória !!

Quando começei a ler o texto a primeira coisa que me lembrei foi da revista da "sósia". Há ! Os desejos juvenis dos anos 80 e suas musas ...

abraços !

Claudinha ੴ on 12 de novembro de 2012 às 22:20 disse...

Meu DILeto amigo!

Você também fez parte da safra de bons meninos e meninas que curtiam coisas boas na sessão da tarde... Nesta época, minhas tardes já estavam ocupadas com os estudos , a universidade e os estágios. Noivado, casamento e experiências outras, mas também tive meus dias assim nos anos 70. Mesmo assim, me lembro perfeitamente deste filme, visto talvez em algumas férias... Que boa lembrança! The Crystals fazem parte de uma época de ouro para meus pais e acabei incorporando aos meus bons momentos no futuro...
Adorei o post! Um beijo procê, pra Jandira e pra Isabela, suas 'mininas' lindas!

Elizabeth F. de Oliveira on 20 de novembro de 2012 às 12:42 disse...

Muito bom o teu texto, Dilberto! Veja o que uma simples canção pode suscitar... e realmente temos tudo dentro da nossa mente, basta um pequeno gatilho e pronto, está tudinho lá para nossa surpresa.
Claro que vi esse filme, sempre fui cinéfila, lembro-me quando as locadoras eram o 'must' do momento, vivia eu à cata de coisas novas, sobretudo na BZ vídeo, ali no Renascença, famosa por seu acervo diferenciado.
Eu mesma, ontem estava procurando um filme no youtube que assisti ainda menina, cuja cena me veio à mente do nada e me trouxe um saudosismo tão gostoso que quis revivê-lo nas cenas desse filme, que é 'Me, Natalie', cujo título em portguês é 'Uma garota avançada', com Patty Duke e James Farentino e a estreia de ninguém menos do que Al Pacino nas telinhas, produção de 1969.
Acho que os filmes não marcam épocas, nós é que a marcamos com as nossas vidas e toda a sorte de vivências, e, claro, que eles estão lá como testemunhas e expectadores desse tempo vivido.
Um grande abraço, meu caro!
By the way, tem postagem nova em meu blog e tua opinião é sempre importante, dá um passadinha por lá quando puderes.

Anônimo disse...

Precisei ouvir a música, já que não faz mesmo parte da minha vida e nunca havia a escutado antes, mas a curiosidade surge inevitável quando se continua lendo esse texto atenciosamente. Naturalmente as observações surgem e os detalhes tornam-se perceptíveis, concluindo ainda a grande rede que se forma com as correlações amarradas aqui, entre atores sumidos ou filmes recém estrelados (como O artista, for example). Gostei ainda mais de poder assistir um trecho ao final da leitura.

Abraços,
Sabrina

 

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