sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Despedidas...

Hoje estava na casa de minha avó paterna, D. Marieta Guilhon Rosa, no Planalto-Anil, próximo ao Posto Pingão, célebre casa de minha infância, tantas as vezes que lá dormi, passei o dia. Conversava com vovó na cozinha, quando saímos por instantes para colocar o lixo na área ao lado, que dava para um longo corredor até o fundo da casa, no que ela me confidenciou, baixinho: "teu avô está te esperando lá no quartinho do fundo, ele quer conversar contigo. Vai lá...". Eu, sem questionar, segui a passos lentos aquele corredor estreito, de paredes cobertas pelo tempo e pelo limo, quando me lembrei de algo que irrompeu ao coração: "ei, mas vovô já morreu!". 

Então acordo e percebo que estou no meu quarto: tudo não passara de um sonho. E, assim como se dá na maioria das vezes, não sabia porque o havia tido... Na hora do almoço, em casa, com a televisão a dar as notícias, distraído acompanho as matérias. Até que enfim presto atenção numa em especial, sobre o feriado de hoje no Rio de Janeiro, por ser dia de São Sebastião. Meu avô, Sebastião Ribeiro Rosa: ele faria aniversário hoje!

Apesar de nunca ter sido dado a misticismos, não deixei de me surpreender com aquela estranha coincidência: sonhar com vovô, justo hoje? Há tempo nem falo sobre ele... Também me surpreendeu o "realismo" do sonho, até nos menores detalhes da casa: vovô Sebastião, por uma época, ouviu seus inesquecíveis LPs num quartinho que existia no fundo de sua casa, para onde levou o velho aparelho de som certa época. E eu, sempre que o visitava, para lá me dirigia a fim de acompanhar aqueles mestres da voz, como Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Jamelão, Ataulfo Alves... Em que pese o fato de, antes de morrer, ele passasse longe do quartinho do fundo (desde que sofrera uma amputação da perna direita, vivia tristemente deitado no seu quarto nos últimos meses de vida), o quartinho do fundo, o "quarto da bagunça", havia me marcado no fundo de minha memória perdida...

Especialmente neste dileto espaço virtual, muitas foram as homenagens que já fiz ao meu estimado avô, que morreu sofregamente num hospital, depois de várias internações, no dia 13 de junho de 2004 (dia de outro santo, Santo Antônio). Logo após o seu falecimento, minha avó vendeu a grande casa do Planalto e se mudou para a casa da minha tia. Nunca mais soube daquela casa, nem dos seus novos moradores, e fico me perguntando se meu avô não continua por lá, no quartinho dos fundos, repousando enquanto toca na vitrola antiga Lábios que beijei ou Juramento falso, silente e discreto como sempre viveu, sem chamar a atenção dos novos moradores, nem de forma espectral, nem de forma alguma... E me pergunto, mais ainda, sobre o que vovô Sebastião gostaria de conversar comigo hoje...
II
Na despedida da mão fria

Pouco testemunhei
a tristeza de meu avô
- corri com toda força
e ela não me pôde alcançar...

Na despedida da mão fria
ainda lhe pude sentir o calor
do sorriso elegante
ao som dos dissabores...

Ao som de sambas antigos
despedi-me, enfim,
da alegria congelada e completa
de um perdido domingo feliz...

(Dilberto Lima Rosa, 2004 Poemas, 2004)
 

+ voam pra cá

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