
Nasci e me criei em São Luís do Maranhão. Cresci assistindo a uma bela e rica cultura, em todos os sentidos, advinda de um povo em sua maioria pobre, mas rico em misturas raciais e tradições culturais. Se bem que nos meus tempos de criança não havia esse boom de arraiais de hoje, de "São João pra inglês ver", de "São Luís Patrimônio da Humanidade" nem qualquer outro merchandising barato para promover ainda mais os governos oligárquicos que de pão e circo se alimenta há mais de 40 anos...
Por aqui circulam tantos ritmos e estilos incríveis, que dá pra fundir um pouco do Reggae (vindo da Jamaica para cá na década de 70), com pitadas de danças e brincadeiras regionais, à tradição maior do Bumba-meu-boi e das percussões dos tambores negros. Sem esquecer das marchinhas que o nosso carnaval costumava apresentar -- apesar do mau gosto cultural dominante no atual cenário maranhense... Porque todos aprendemos na escola que o Maranhão e o Piauí estão no Meio-Norte, sendo mesmo o Estado do Maranhão parte da Amazônia legal. Assim, neste pequeno "rego" entre o Pará, o Ceará e a Bahia, estamos sujeitos a praticamente todo tipo de influência musical existente no País ― dos bons aos Calipsos e Arrochas!
Sei que muita coisa precisa mudar na "terra das palmeiras", especialmente no aspecto político... Afinal, do contrário, nossas belas lendas, histórias e tradições (coisas que realmente fazem uma terra pertencer a um povo) servirão apenas para enternecer os turistas cegos de câmera na mão! Uma dessas lendas reza que existe uma gigantesca serpente dormindo por baixo de nossa ilha, e que, caso a dita acorde, toda a cidade afundará: parece até metáfora sobre o povo ludovicense, que dorme distraído enquanto é subtraído em temerosas transações, a manter-se acomodado na mesmice deste chão por mais séculos e séculos... Mas sigo a amar esta "Cidade dos Azulejos", "Ilha do Amor", antiga "Atenas Brasileira" por seu berço cultural de outrora (hoje ironicamente chamada de "Apenas Brasileira") e tantos mais epítetos poéticos e românticos desta ilha com seus belos mirantes e sobradões, praias maravilhosas e seus becos fedidos a urina... Sigo a amar esta cidade quente e seu povo mestiço e misturado, a ver poesia nos seus prós e nos seus contras.
E do alto da ribanceira da Reserva Ambiental do meu Maranhão Novo onde cresci dá para ver, ao longe, tanto o Centro Histórico como o Renascença dos prédios modernos, com o rio Anil a separá-los e o sol a pôr-se ao fundo... Mantenho meu coração equidistante entre este velho e aquele novo, na certeza de que, num pulo de 15 minutos, saio da Daniel de La Touche e chego à 7 de Setembro e, com disposição, posso caminhar por entre suas esquinas cheias de ambulantes, a sentir a riqueza dos detalhes de seus azulejos seculares, das suas belas igrejas e dos seus casarios, em sua maioria, descuidadamente lindos, a subir e a descer suas intermináveis ladeiras até poder avistar a Ponta d'Areia no horizonte e, atravessando a ponte, chegar aonde a ilha tem seu "fim" ― com o carro deixado lá no "começo"...
(Compilação e adaptação de trechos das crônicas "Arraial Oficial", "Vertebral: São Luís do Maranhão", "Ligeirinhas: Arrocha O Meio!" e "Independência, São Luís!")
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