quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Tempo de voltar...

Ora, e o que sei eu do tempo para tergiversar a respeito...? Sei do tempo horrível que tive ao longo desse ano ruim, em que até os Morcegos pediram vênia sem maiores explicações e saíram de cena... Igualmente, não sei se é tempo de permanecer, mas quis mostrar os Morcegos uma última vez pra esse ano, talvez como alguma luz que se precise sentir antes de essa areia escoar por derradeiro... Só sei, no momento, que esta singela trilogia quis se oferecer ao tempo que permanece acima dos calendários, por sobre todas as dores e anseios sem precisão...

Canções ao Tempo
(e à hora...)

Poema que não para

Atravessa
Poema que não cessa
Como essas lágrimas
Dessa conversa
Que não acaba
- Porque sempre viaja
Pra trás dos olhos
Molhados
Que acessam
Os sorrisos
De surpresa
Daquele dia sem fim
Na foto que regressa
Daquele canto de pôr-de-sol
Posto a salvo
Da destruição
Do tempo que não para
Atravessa
Essas lágrimas
Que não cessam
Esse poema sem fim

(Dilberto L. Rosa, novembro de 2020)

Conversa

Naquele tempo, o tempo fechava
Em mim, em ciclos, no firmamento
Contra a parede, em mil pequenos pedaços
Nas horas em que não o suportava
O tempo que me sustentava
Desabou naquele tempo escuro
No quase se jogar da sacada
No quando o tempo eu vomitava
Para evitar morte certa ou coisa pior
De cama de tempo perdido
Mas antes daquele tempo tinha outro
Tempo que se brincava e se ria
No tempo de sol de quintal
E se fotografava
O tempo em que se ficava
Parado, abraçado, em preto-e-branco
sentindo o tempo
Caindo de leve sobre os ombros relaxados
Tempo cúmplice do tempo
Que conversava
Com o céu aberto e pleno
- Aquele tempo jamais despencava!
Agora esse tempo lá fora
Algo fechado, abafado, nublado
Conversa com meu tempo
Perdido, parado, suspenso,
Cá dentro desse quarto
(Esse mesmo tempo evasivo
Que fugia até outro dia)
Tempo de conversar com o tempo
Atrás do bom tempo que se guardava
Por trás do que o tempo ruim escondia

(Dilberto L. Rosa, novembro de 2020)



Pressa

No meu pesadelo
Os freios não funcionavam...
Assim despencava
O carro
E na ribanceira
Vinham velozmente
Aquela mesa
Onde te rias,
Aquelas fotos
Escondidas,
Cada dor tua
Fingida
E o outro a te esperar
Na ligação ao lado...
Cada grão de pó que cai
Incessantemente
E se acumula
Ao tempo inclemente,
Segue misturado
Sem mais chance
De puro se o repor...
E sobram só 
Essas camadas
Embaçadas
Onde o tempo já 
Não é quase nada
Na carreira
De minha dor...

(Dilberto L. Rosa, novembro de 2020)

sábado, 18 de abril de 2020

Rubem Fonseca desde os 14...

Rubem Fonseca: veja repercussão da morte do escritor | Pop & Arte | G1
Além do meu divisor de águas na Poesia com Morcegos, tive outro divisor naquele mesmo ano de 1991, só que na Prosa: graças a um antigo livro de Redação da 8.ª série, passei a usar muito dos meandros narrativos que me acompanhariam o resto da vida de escritor depois de ter lido (e feito os devidos exercícios de interpretação de texto passados pelo professor Sidney depois da leitura) Passeio Noturno, de Rubem Fonseca. Aquela Literatura me impactou não só pelo final inesperado como pela linguagem irônica por trás de sutis análises dos personagens num texto curto e conciso - que depois ficaria sabendo tratar-se de um conto (ou seria crônica?) -, porém perfeito na incrível narrativa de crescente suspense hitchcockiano (aquele de construção em cima de precisos detalhes: adorava, por exemplo, ler e reler a retirada dos carros de toda a família da garagem pelo ansioso protagonista/antagonista) sobre um entediado "cidadão de bem", que, depois de um estafante dia no escritório e do vazio diante de uma família alienada e desunida, tudo o que mais queria para espantar qualquer mal da alma era uma boa voltinha com seu carrão turbinado pela cidade vazia à noite e mostrar a sua verdadeira face...

E, com o tempo, veria muitas outras facetas naquele que se tornaria um dos meus autores favoritos... Do lado mais efervescente e policialesco dos submundos, dos personagens duros e amorais e das narrativas mais em tom épico de muitos dos seus romances eu li somente o brilhante Agosto (mescla de ficção e fatos históricos sobre tramas policiais e políticas em torno dos bastidores da morte de Getúlio Vargas, na mesma época em que foi lançada a minissérie homônima na Globo), o bom A Grande Arte (que apresenta um dos seus mais famosos personagens, Mandrake, espécie de advogado e detetive, também em razão de sua adaptação, desta vez para o Cinema, com o sucesso do filme homônimo de Walter Sales em vídeo) e o excepcional O Selvagem da Ópera (espécie de "cinebiografia literária" sobre a vida do compositor Carlos Gomes). Mas foi mesmo na prosa do Mestre Fonseca que me debrucei e afinei muito das minhas letras, devendo a ele - bem como a gentes do calibre de Machado de Assis, Lygia Fagundes Telles, Luiz Fernando Veríssimo e Rubem Braga- muito da minha narrativa contista e cronista que jamais me abandona até hoje (a propósito: não deixe, caríssimo e fiel blogueiro de plantão, de ler minha postagem especial de aniversário de 9 anos sobre esses dois meus diletos influenciadores: Os Rubens e Os Morcegos)

Porém, infelizmente, foi o "Zé Rubem" que nos abandonou essa semana... Viveu bem, 93 anos e muita força visceral na vida e nos seus papéis... Mas dá aquela sensação de perda no mundo cá das letras, que vai calando e cada vez mais caçando com uma lanterna um novo prodígio dessa envergadura literária e de emoções - especialmente um com todos aqueles arroubos entre a violência presente em cada esquina urbana, nas lutas entre ricos e pobres, e as paixões mais latentes e carnais... Rubem Fonseca resta presente em muito da minha obra - especialmente na minha crônica (ou seria conto?) mais voltada para sua influência/homenagem, escrita dois anos depois daquela descoberta rubenfonsequiana de escola: Amanhã é outro dia, com a amoralidade fria de um rico protagonista sem nome diante da vida e da morte numa quente noite dentro de um apartamento sofisticado olhando o mundo de dentro de sua seca redoma - tal como muitas características do sádico sujeito ao volante do extraordinário texto que tanto me marcou, encabeça este post e aprece em sua integridade logo abaixo. 

Curiosamente, tempos depois, pude ler Feliz Ano Novo, um dos seus mais célebres livros de contos - e em que originariamente fora publicado Passeio Noturno, em 1975 -, e descobri que aquele conto (crônica?!) era, na verdade, uma "Parte I", informação suprida no tal livro de Redação de minhas reminiscências... E, apesar da alegria ao descobrir que a Parte II constava do mesmo livro, qual não foi a minha decepção com a "continuação" daquela trama que tanto me marcara no início da adolescência... Tanto quanto me decepcionou nem tanto a segunda parte (de que gosto muito, a propósito), mas a terceira e última parte que eu mesmo escrevi para meu mais querido conto-crônica (na dúvida, vão os dois gêneros irmãos!): na verdade, não fiquei muito satisfeito com nenhuma das duas versões feitas para o encerramento de Amanhã é outro dia - e me pergunto, até hoje, se deveria ter havido um "desfecho" de encontro desses dois personagens infelizes que eu criara nas duas partes anteriores (assim como, de certa forma, de vez em quando elucubro se o velho e já saudoso Rubem se questionava sobre a desnecessidade da sua boa, porém fraca se comparada com a original "Parte II" de Passeio Noturno)... Por isso, na dúvida, fiquemos com o Passeio original... Boa viagem, Rubem...

Clube da Leitura » Post Topic » “Passeio noturno”, por Rubem Fonseca
Passeio Noturno (Parte I) 

Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa-de-cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando empostação de voz, a música quadrafônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala? Perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.

Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. Você não pára de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar servir o jantar?

A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescidos, eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher nada pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.

Vamos dar uma volta de carro?, convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens materiais, minha mulher respondeu.

Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o meu carro. Tirei o carro dos dois, botei na rua, tirei o meu e botei na rua, coloquei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico, Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na Avenida Brasil, ali não podia ser, muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou mulher?, realmente não fazia grande diferênça, mas não aparecia ninguém em condições, comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mail fácil. Ela caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada, de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande dose de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som das borrachas dos pneus batendo no meio-fio. Pequei a mulher acima dos joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda, um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma guinada rápida para a esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em onze segundos. Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de vermelho, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio.

Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas.

A família estava vendo televisão. Deu a sua voltinha, agora está mais calmo?, perguntou minha mulher, deitada no sofá, olhando fixamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia.


Rubem Fonseca
Feliz Ano Novo, 1975

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Acabou Chorare



Para Moraes Moreira, que se foi alegre e cantou brasilidades boas de ouvir - aqui, à João Gilberto, ele canta e toca a gostosa bossa do amor simples, bonito e quase pueril, música que ele mesmo compôs sobre o que havia escrito seu parceiro Luiz Galvão (todos muito novos e baianos)...
Para acompanhar esses poemas, para ouvir lendo esses versos - sem chorar...

Trilogia do Amor Genuíno 

Acabou o Chorar

Como é que a gente diz
Sem carregar na tinta
Quando a gente ama
Que a gente pinta
Cada lágrima feliz
Sem o exagero da saudade,
Sem o drama da agonia?
Como é que a gente ama
Sem passar o dia
Sem pensar poesia
Ou sem dizer te amo
Sem que o desengano
Quase nos pegue
Por um triz?
Como é que se traduz tanto sentimento
Se metáfora é nosso momento
E tanto se me diz...

Só me resta ser o mais sincero:
Sim, pra sempre te quero
Coração a se rasgar
- Acabou o chorar!
Pois que minha rima mais pobre
E adolescente
Acaba o verso mais vivo e quente
Que posso te dar...
E querer viver de qualquer outro jeito
Nem é assim direito
- É pior que morrer!

Só me resta amar...



Me Cria

Ela me mostra as fotos mais lindas
Com ela e seus ângulos, flores e poses
Mais bonitos e pueris

Ela me traça perfis
E dita trechos escritos de pura poesia
Coisa da gente mais rica e madura

Ela me atura...
E me brinca
Em cheio me acerta
A todo instante
Que me descreve,
Me desenha e me conserta

E ela ainda tem a coragem de dizer
Que não se sabe
Minha poetisa ou arquiteta


Genuíno

Sabe aquele último beijo,
O sabor que fica pela boca,
O abraço que ainda falta...
Acho que vou sentir eternamente essa necessidade derradeira em relação a ti.

Instantes que se bastam
Em dias que não se completam
Nesse mundo derradeiro
(Que não se define, só se sente)
- O muito é o que a gente vai criando
No pouco a pouco
Em torno da gente...

(Dilberto L. Rosa, 2018)


Abraça-me com as Palavras: O ÚLTIMO ABRAÇO…

domingo, 5 de abril de 2020

MINHA DISCOTECA - Parte V

Depois de encerrar a seção de Trilhas Sonoras Cinematográficas da minha dileta Coleção Particular de CDs no último post lançado em dezembro (em que os Morcegos aproveitaram para começar a mostrar também parte da nossa Coleção de Pôsteres - cuja última postagem se deu em fevereiro), passamos agora a falar de Música Clássica (ou de Câmara, de Conserto ou Erudita, como preferem alguns, de complexa definição, porquanto bastante abrangente), desde os gênios maiores do Classicismo propriamente dito (séculos XVIII e XIX), como Beethoven, Mozart e Bach, até os exponenciais mais voltados para o Jazz Clássico ou Instrumental, como Gershwin e Berlin. Nesta primeira parte, 6 exemplares antigos (1995...), alguns deles oriundos da coleção Os Grandes Clássicos, diretamente das bancas (onde tudo daqui desse escritório parece mesmo emanar...).

COLEÇÃO PARTICULAR DE CDs:
MÚSICA CLÁSSICA
Parte I

22. "Oh! That Cello" - Music by Charlie Chaplin;
23. As Mais Belas Valsas;
24. Johann Strauss - Valsas, Polcas e Marchas de Viena Col. Os Grandes Clássicos;
25. Festival Clássico Col. Os Grandes Clássicos;
26. Ludwig Van Beethoven - Sinfonia n.º 6 "Pastoral" "As criaturas de Prometheus" "As ruínas de Athenas" - Col. Os Grandes Clássicos;
27. Ludwig Van Beethoven - Concerto para violino e orquestra Op. 61 Romanças para violino e orquestra Col. Os Grandes Clássicos;


Primeiramente, fazendo uma espécie de passagem das trilhas instrumentais para os clássicos (gosto de organizar minhas prateleiras por gênero), começo esta parte da discoteca com um disco de alguém que imortalizou sua imagem como um ícone do Cinema, mas que também compôs inúmeras músicas para seus filmes - embora este disco não contenha somente tais composições (e, por isso, acabou "catalogado" na seção Clássicos). Falo do brilhante ator, escritor, produtor, diretor - e também excelente compositor e musicista - Charles Chaplin: em Oh, That Cello podemos ouvir interpretações ao piano e ao violoncelo feitas por Johanne Cernota e Thomas Beckman de alguns inesquecíveis temas de filmes do genial comediante inglês, como Limelight ("Luzes da Ribalta") e Falling Star (de "O Grande Ditador"), além de belíssimas composições jamais usadas na tela e mais desconhecidas do grande público, como a faixa-título do disco, primeira composição sua lançada em 1916, numa empreitada não muito bem sucedida de ter sua própria gravadora.

Segue-se do Jazz Clássico, então, para o lado "popular" do Clássico - popular, ao menos, em parte da Europa: as valsas acabaram formando um capítulo à parte dentro do formalismo concreto do Classicismo. Afinal, eram "músicas de dança" e, à exceção de algumas operetas, acabavam feitas para os salões e longe dos concertos de câmara. É desse período mais popular que se sobressai o inegável talento de Johann Strauss II, o sujeito por trás de O Danúbio Azul tão conhecido das moçoilas de 15 anos, terceira geração de uma família de compositores, que marcou época tanto na tradição da Música austríaca ligeira quanto em ballets e operetas. Assim, ambos os discos As Mais Belas Valsas (que também conta com excertos de grandes obras de outros Mestres, como Tchaikovski e Puccini) e Johann Strauss - Valsas, Polcas e Marchas de Viena são prenhes das composições do famoso vienense e de seu estilo. Valsas me acalmam; marchas e operetas muitas vezes me irritam com seus excessos de pompa e circunstância... Mas os Morcegos têm predileção pelo moço de Viena: afinal, quem mais escreveria uma opereta chamada O Morcego?!

Meu segundo disco da coleção Os Grandes Clássicos é uma "coletânea de luxo", com trechos selecionados mais populares de óperas famosas - como é o caso de Carmen, de Bizet, aqui com suas famosas duas suítes completas, arranjadas após a morte do seu compositor - ou mesmo peças famosas individualmente - como são os casos da Marcha Nupcial, de Mendelssohn (composta originariamente como abertura para uma suíte de Sonho de uma noite de verão) e do Intermezzo da ópera Cavalleria Rusticana (aqui, somente instrumental), de Pietro Mascagni, trecho bastante famoso por ter brilhantemente encerrado o filme O Poderoso Chefão III, bem como, aqui no Brasil, por sua execução na novela global Terra Nostra - e que se ouve, ao final deste post, lindamente executado pela Filarmônica Weiner, capaz de nos fazer viajar...

Por fim, os dois últimos discos que tenho desta coleção interessante reúnem expressões mais românticas e leves de Ludwig Van Beethoven, em andamentos mais longos que os dramáticos motivos mais breves e pungentes da sua sinfonia anterior, a 5.ª (e seus solenes e pungentes "tan-tan-tantaaaan") e bem distanciados de seus trabalhos mais maduros e completos (como a sua 9.ª Sinfonia), tanto no primeiro CD, contendo a sua 6.ª Sinfonia, quanto nos seus concertos para violinos e orquestras e romanças (composições instrumentais mais sentimentais) do segundo. Um belo apanhado pra começar nesse tão rico universo da Música Clássica e dos seus grandes compositores, que muito antes do mundo das canções populares que hoje nos marcam, já enveredavam por viagens de emoções e sentimentos dos mais profundos simplesmente com as notas exatas e os instrumentos mais alinhados com o restante da orquestra...


terça-feira, 31 de março de 2020

Em tempos amargos...

"Algodão doce pra você"!

O traço inconfundível e as revistinhas de atividades e quadrinhos foram algumas
das marcas da minha infância - eu adorava seguir suas dicas de desenho pela TV
e até ganhei lembranças de festinhas com seus personagens...

Morre o apresentador e artista plástico Daniel Azulay
Carreira longeva e sempre jovem!
Havia esse rapaz prenhe de talentos e sem idade na televisão da minha infância e seu nome era visualmente muito fácil de lembrar, por sempre estar com sua cara de menino de grandes óculos redondos, gravatinha borboleta e suspensórios, tudo com um dentuço sorriso indefectível e um pincel atômico na mão direita - bastava se dizer Daniel Azulay para se imaginar a figura! Confesso não me lembrar bem em qual canal, se na Bandeirantes ou se na TVE/Cultura (ou nos dois, em diferentes momentos da sua carreira, talvez), mas me lembro de alguns formatos que ele apresentou: nalguns programas, seus personagens da Turma do Lambe-Lambe (a antiga máquina fotográfica, coisa dentre as quais ele gostava de fazer: mostrar equipamentos antigos para os pequenos e explicar pra que serviam), com atores vestidos de Pita, Gilda, Xicória, Ritinha, Prof. Pirajá, dentre outros, apresentavam-se interagindo com ele, em curtas historinhas divertidas ou acompanhando um momento de contamento de história ao violão ou de desenho do seu criador; noutros eu já me lembro de ver alguns deles como bonecos de mão em meio a algumas crianças no palco com o artista. O que jamais mudou, mesmo décadas depois em que o vi sozinho se apresentando em canais virtuais, foi ele mesmo: aquele amigo desenhava, cantava, brincava, falava como criança sem ser chato e nunca envelheceu em meio aos desenhos e brinquedos e brincadeiras que ensinava a fazer.

dedemontalvao: Post de Carlos Bolsonaro citando queixa de Moro é ...
O "pitbull" Zero-Dois... Seu talento? Atacar!
Agora há esse rapaz, despreparado, com cara séria sem ser sério, filhote de miliciano armado e com discurso de ódio, mentira e confusão de desinformação: ele lembra muito a "cara-rúim" e todo o arsenal de ardilosidade e amoralidade do seu pai, porém é menos lembrado por seu prenome do que por uma numeração, tal qual um Irmão Metralha do mundo do crime das revistas em Quadrinhos - só que, infelizmente, nada inofensivo: ele é o "Número 02" dos três filhos maus de uma família nefasta e usurpadora do Poder (vereador eleito no Rio, "acumula funções" bem distantes de lá, tendo até sala no Planalto pra despachar com o papai - que segue transformando a Coisa Pública em sua Privada e a Presidência, em seu quintal): Carlos Bolsonaro, o "Carluxo", literalmente um "filhinho de papai" sem qualquer atributo além disto! E ele resolveu, depois de tantos limites já ultrapassados, ultrapassar mais alguns derradeiros ao acusar a Família Azulay, em momento de luto, de mentir sobre a recente morte do genial artista, no último sábado, 28 de março: em mais uma desastrosa declaração numa rede social (legítimo pleonasmo, em se tratando de Bolsonaros), o sempre impunemente irresponsável afirmou ser "muito difícil para estes dizer a verdade em algum momento… ele tinha leucemia!", desrespeitando acintosamente a memória de um grande brasileiro e bradando contra a declaração do canal oficial do genial desenhista, onde seus familiares e amigos declaravam que Azulay "Estava tratando uma leucemia e contraiu coronavírus". 

Gripezinha": Menosprezo de Bolsonaro por coronavírus o tornou ...
O mito cego e a "Gripezinha"...
Pois é, meus queridos blogueiros de plantão: mais uma pessoa teve seus problemas de saúde agravados pela séria pandemia mundial pôde ser tratado por um velhaco como uma "mentira" ("esse vírus é uma histeria!") ou somente "mais um idoso" ou "pessoa com problemas prévios de saúde" - exatamente o que era o Mestre Azulay: um idoso de 72 anos com câncer, mas que jamais poderia fazer parte das sujas "estatísticas" desumanas das "gentes de bem" da abastada curriola bolsonarista (sim, porque os imundos a surrupiar Brasília contam também com a "outra ala", arrastando multidões humildes pelas suas diariamente plantadas fake news, a concordar cegamente com o seu líder "mito" - um mito, realmente, que a Besta-Fera Jair Bolsonaro seja um líder!). Não satisfeitos, a ideia agora é que "O Brasil não pode parar" e, isolando-se "apenas os idosos e os doentes" (hã?!), aquele que se diz Presidente da República (ainda tenho dificuldades de chamar seu nome ao lado de cargo tão nobre), como um caótico e absurdo Coringa sem graça e não satisfeito em ter trazido consigo e sua comitiva ainda mais COVID-19 pra cá, manda as precauções com seus abobalhados seguidores, com os mais humildes e com quaisquer escrúpulos às favas, contradiz o próprio Governo, que segue, por meio do seu Ministério e Secretarias da Saúde, as determinações da OMS, e quer porque quer mandar a massa de manobra para fora dos seus confinamentos prévios de quarentena! É o dizer "estamos salvando vidas, mas matando outras não-oficialmente em nome da Economia"! Ou, melhor dizendo, Economia dos malafaias, cuja renda dizimal caiu sem seus cultos de exploração; ou dos Durskis, Justus e Hangs, para os quais as mortes de algumas dezenas de milhares de pessoas ("só velho" e "favelado" seria "justificável"?!) não seria motivo para histeria...

Morre no Rio, aos 72 anos, o desenhista, pintor e cartunista ...
Ainda na ativa e com tanto pra oferecer, Daniel vai fazer falta...
Especialmente nesse País doente em todos os sentidos...
Eu olho para os meus filhos e me preocupo com as recentes mutações desta praga viral, que, mesmo com todos os cuidados quanto aos fechamentos de escolas, parques e escritórios, tem alcançado, adoecido e até matado as faixas etárias mais jovens... E, não só por isso, lamento que eles cresçam numa época tão perigosa e acéfala, em que pestes assolam a saúde, a vida de bilhões e o Executivo Federal brasileiro (além dos EUA, da Espanha, da Inglaterra...)... Lamento também vê-los crescer em meio a tantas opções de canais e jogos online, mas sem atrações do calibre de um Daniel Azulay... Esse artista plástico de renome que se despedia, desde a TV em preto-e-branco, puxando a orelha, assobiando e ofertando "um algodão-doce pra vocês", compositor e musicista de muitos discos e precursor de programas educativos conscientes e estimuladores da criatividade por sobre o lixo doméstico muito antes das ondas ambientalistas e dos desenfreados Mister Makers dos canais pagos de hoje em dia... Por fim, creio lamentar por mim mesmo, um aprendiz daquele rapaz sem idade (e, assim como ele, um artista ex-advogado), há tanto tempo sem encontrar motivação para criar carrinhos a partir de caixas de pasta de dentes ou fazer mil desenhos inventivos com as mais diversas técnicas para os meus filhos como cresci fazendo diante de um televisor, na infância de meus anos 80... Talvez porque todos realmente nos acomodamos com "males de saúde prévios" e nada fizemos para colorir a vida com criatividade ou recriar as sucatas em lúdico, subestimando os verdadeiros males em volta... Ainda bem que existiram Azulays para nos lembrar o que fazer: pintar o 7, acreditar... E persistir!
Geuvar (@GeuvarGeuvar) | Twitter
Da série "Quadrinhos que não gostaríamos de ler" ou "Seria cômico se não fosse trágico"...
Obra do artista "nascido na Esquerda" Geuvar Oliveira.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Eu queria viver
Os Morcegos, sorrir,
Então resolvemos escrever...


Resultado de imagem para O MAR


Canção das Certezas

Tu me dizes, arrependida,
Que o nosso amor
Nunca vai nos faltar
E que, aos poucos,
Tudo o que nos pertencia
Há de nos voltar
Eu grito por pressa, irrompo acabado com nosso verso ferido, de dor engasgada
Tu choras baixo,
Manténs a mão estendida
E me mostras o mar...


(Dilberto L. Rosa, 2017)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Mais Pôsteres...

 COLEÇÃO PARTICULAR DE PÔSTERES DE CINEMA:
Estojo 2


E mais um estojo de tubo foi reordenado na longa e interminável arrumação do meu escritório em casa (uma ajudinha cairia tão bem...): agora, ao contrário dos pôsteres da última postagem, eis que estes 4 exemplares estão tão reluzentes como se houvessem saído hoje mesmo do tradicional quadro de vidro iluminado do seu cinema de origem - no caso, o antigo multiplex do Shopping São Luís, Box Cinemas (cadeia espanhola, posteriormente comprada pela brasileira rede Cinépolis). No entanto, já contam todos com mais de 10 anos, uma vez que o do filme mais velho, o divertidíssimo Lilo e Stich, uma das últimas animações tradicionais da Disney, teve seu lançamento em 2002, e o mais derradeiro, a boa Animação de Aventura As Tartarugas Ninja - O Retorno, data de 2007!

Outra curiosidade em comum: porquanto sempre tenha gostado muito de animações (os antigos "filmes infantis"), os 4 pôsteres desta leva são de filmes deste subgênero, que vi naquelas salas e me foram doados por aquele gerente amigo de quem já comentei - constam, além dos dois já citados, mais duas animações digitais, também chamadas "em 3D": o excelente Procurando Nemo, da Pixar (antes da incorporação à Disney) e o só simpático e charmoso O Expresso Polar (a técnica de captura de movimento, até então insistentemente usada por Robert Zemeckis, sempre foi bela, porém artificial - vide os posteriores Beowulf e Scrooge, ambos com os mesmos problemas e do mesmo diretor).

Belos pôsteres esses, usados muito pouco no meu antigo endereço, quarto do apartamento da minha mãe... Bem que poderiam ser emoldurados e ilustrar outro quarto atualmente, o dos meus 3 filhos -  problema é achar lugar pra colocar... Além do quê, eles ainda nem conhecem todos esses filmes "antigos", de antes de eles terem nascido - títulos esses que vou, gradativamente, apresentando a eles...

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Oscarflix
e os coringas e parasitas que ainda se sobressaem num Cinema cada vez mais mediano...

Como a ordem, nesta montagem, dos candidatos ao Oscar de Melhor Filme deste ano não representa uma real "ordem de qualidade", os Morcegos, devidamente atualizados em seu raro dever de casa de ter visto todos eles, resolveram traçar o seu próprio rol, do pior para o melhor dessa lista: na categoria dos medianos, 1917 («/); Adoráveis Mulheres (««); História de Um Casamento (««/)Jojo Rabbit (««/); e Ford vs. Ferrari («««); já na categoria dos muito bons para excelentes; O Irlandês («««/); O Parasita («««/); Era uma vez em Hollywood (««««); e o melhor do ano passado (depois de Bacurau, é claro!), Coringa (««««/).

Resultado de imagem para a primeira tentação de cristo
Duvivier como um Jesus indeciso e Porchat como um Satanás
gay: divertido, mas longe da qualidade que a trupe de Porta
dos Fundos 
costuma apresentar em sketches curtas na internet

(como a inteligentíssima "continuação" em resposta a todas
as absurdas polêmicas com seu filme natalino da Netflix).
Nem só de polêmicas sem cabimento ou de últimos capítulos de adoradas séries vive a Netflix - como, respectivamente, deu-se com o só razoável Especial de Natal Porta dos Fundos - A Primeira Tentação de Cristo (mesmo pouco engraçado e sem maiores deboches que uma Maria safadinha com um Deus similar aos libertinos deuses gregos e um Jesus "se descobrindo", despertou a "ira" de alguns cristãos brasileiros desocupados) e com o bom The Good Place (que, se há muito perdeu a genialidade e só se esticava em temporadas sem graça e de situações repetidas, ao menos foi concluída com alguma criatividade carismática). Como parece estar se tornando tradição, o famoso canal virtual, até o final do ano passado, produziu e lançou várias superproduções próprias que vêm colecionando indicações e prêmios internacionais, inclusive o tão badalado Oscar: foi assim, no ano passado, com a pequena obra-prima Roma (2018), que arrebatou nada menos que 3 prêmios importantes da Academia, e, recentemente, com vários filmes que, no mínimo, devem ser vistos!

Resultado de imagem para klaus
Favorito ao Oscar na categoria melhor 
longa de animação, Klaus foi uma 
grata surpresa no Natal aqui de casa, 
com sua inteligente releitura da lenda
de Papai Noel para todas as idades.
E, assim, após colocar em dia, desde dezembro até o começo desse ano, um bom número de filmes produzidos pela maioral do streamming que acabaram passando batido por mim em 2019 (como os indicados ao Oscar Klaus e Perdi meu corpo, ótimas animações para fugir da Pixar de sempre e seu ainda muito bom Toy Story 4, e também ao Globo de Ouro, como Meu Nome é Dolemite, com Eddie Murphy vivendo um personagem real), finalmente assisti aos "medalhões" da casa, aqueles com maior destaque de lançamento recente e inúmeras premiações importantes e indicações ao Oscar: um Scorsese muito bom em O Irlandês (mesmo longe dos maiores trabalhos do Mestre Novaiorquino, mereceu suas 9 indicações, especialmente nas excelentes direção, edição e efeitos visuais - o rejuvenescimento digital dos já enrugados astros do filme); um superestimado, porém fraco História de Um Casamento (Adam Driver, concorrendo como Melhor Ator, é a única justiça das 6 indicações desse inexplicavelmente badalado projeto pessoal de Noah Cumbatch, também indicado como roteirista e diretor – o chato Kramer Vs. Kramer era bem melhor!); e o muito interessante Dois Papas (o passeio de Fernando Meirelles pelo Vaticano, porém sem devassar para além dos ricos diálogos entre o reacionário renunciante Bento XVI/Hopkins e o progressista Francisco/Pryce - excepcional da interpretação à semelhança com nosso hermano Bergoglio!).

Resultado de imagem para democracia em vertigem
Assim como seu principal concorrente 
Indústria Americana (que peca por não 
costurar bem as histórias pessoais mostradas 
e tende para o óbvio dos "vilões capitalistas 
chineses"), Democracia em Vertigem,
apesar do excesso de "bastidores petistas" 
e de ter desperdiçado a chance de melhor
analisar a conjuntura para além da 
"polarização", mostra-se um sensível retrato
 de um País perdido e dividido...
Desde o pungente Ícaro (2017), que desbaratou um complexo de pesadas denúncias contra o Governo russo em relação a uma política de dopping com seus atletas, fato repercutido até hoje (a Rússia acabou banida das próximas Olimpíadas) e rendeu à Netflix o seu primeiro Oscar, mais uma vez são fortes as chances de o canal arrebatar outro careca dourado na categoria de Melhor Documentário! Afinal, além do sensivelmente impactante A Vida em Mim (indicado para Melhor Documentário em Curta-Metragem), a denunciar uma assombrosa nova doença psicológica infanto-juvenil gerada pelas desumanas políticas públicas de países europeus (no caso, a Suécia atual) contra famílias de refugiados, a Netflix ainda concorre nessa área com dois longas muito interessantes: o favorito (especialmente por ter sido produzido pelo progressista casal Obama) Indústria Americana, que levanta diversos choques culturais e impactos sociais no caso de uma fábrica automotiva estadunidense comprada por um rígido conglomerado chinês, e também seu principal "oponente sócio-político", o brasileiro Democracia em Vertigem, sensível abordagem pessoal da diretora Petra Costa (covardemente bombardeada pela censura fascista dominante no País, desde a SECOM do Planalto até os jornalistas da Grande Mídia, como o "cineasta" Pedro Bial) sobre as situações políticas nacionais que conduziram ao golpe de impeachment da Presidenta Dilma Roussef e à ascensão da acéfala ultradireita capitaneada com a eleição de Bolsonaro como Presidente (ainda hoje tenho sérias dificuldades de chamá-lo assim...), em meio ao microcosmo de sua família burguesa dividida entre grandes empreiteiros e militantes da Esquerda desde a luta contra a Ditadura Militar.

À exceção do bom Toy Story 4, os indicados Disney deste ano
 clamam por melhorias urgentes nas qualidades criativas de seus 
principais blockbusters: a começar pelo sem emoção Rei Leão
passando pelos cansativos mais-do-mesmo Star Wars IX e
Vingadores: Ultimato até o escuro e clichê ("elementais da
natureza"?!) Frozen 2, parcas indicações para a Casa do Mickey!
Em decorrência de sérias razões de ordem pessoal (ainda não desceu pela garganta nem o Golpe nem as reacionárias eleições das fake news...), só agora em janeiro consegui ver esse ótimo documentário nacional. Tal como se deu com outros elogiados filmes de 2019, fora do eixo Netflix, que finalmente pude ver nas últimas semanas – na verdade, nem tão elogiáveis assim nas minhas retinas já fatigadas pelo mediano da maioria das produções atuais: Dor e Glória (indicado para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Ator, com o excelente Banderas), fraquíssima narrativa de Almodóvar como seu autobiográfico retrato cinematográfico e metalinguístico; Rocketman (finalista em Melhor Canção), alegoria musical interessante, esquecido pela Academia, mas com potencial imenso para outras indicações (como a de Melhor Ator para Taron Egerton no papel de Elton John, que também produziu essa cinebiografia); Frozen 2 (concorrendo apenas como Melhor Canção) que vi recentemente com minhas filhas num cinema nitidamente entediado com a escuridão e os clichês da trama, a evidenciar que a Fórmula Disney de Franquias de Sucesso está extremamente desgastada – assim como já mostrado aqui no bloguinho quando tratamos de outros oscarizáveis deste ano: Vingadores: Ultimato (indicado para Melhores Efeitos Visuais), Star Wars - Episódio IX: A Ascensão Skywalker (Efeitos Visuais, Trilha Original e Edição de Som - os antigos "efeitos sonoros"); e O Rei Leão (da "franquia das refilmagens de clássicos da animação", favorito para Melhores Efeitos Visuais), desnecessária "Versão Animal Planet" igualmente cansativa por não mudar nada do original, mas somente piorá-lo!

Como votado só por artistas da Animação,
Mémorable tem chances de levar o Oscar
para a França.
E, falando na Disney/Pixar e suas sempre oscarizadas produções (geralmente, os prêmios de Melhor Animação vão para elas), neste ano, além dos já citados longas, elas também disputam como Melhor Animação em Curta-Metragem com o bonitinho Kitbull, sobre a amizade entre um doce pitbull treinado para as rinhas e um arisco gatinho de rua, disponível no YouTube – assim como seu principal concorrente, o favorito Hair Love, sensível retrato de uma família negra em torno de um penteado no cabelo afro de uma linda garotinha, nascido de uma vaquinha virtual (os Morcegos andam doidos para pleitear um crowdfunding para editar o romance Você ainda vai me amar amanhã, desse blog...). No entanto, nosso preferido para este Oscar é o tocante Memorable, produção francesa bastante inovadora em técnicas de animação na sensível abordagem do Mal de Alzheimer na vida e na visão artística de mundo de um pintor.

Resultado de imagem para 1917
Escorrega daqui, cai acolá, refrega, mergulha na cachoeira e... 
Voilá: sujeito sem mapa nem bússola cai certo no seu destino
e missão cumprida na 1ª Guerra! Espécie de "continuação de 
O Fugitivo",  só que sem emoção e num cansativo e único 
plano-sequência (os cortes existem, mas são maquiados)!
Eis o superestimado e multipremiado 1917!
E, graças às maravilhas do Torrent, trouxe o streaming para dentro do meu HD portátil baixando inúmeros filmes ainda em exibição. E, economizando uma baba ao não ter que aguentar os altos preços das tais "Salas VIPs" em péssimas projeções dos multiplexes da vida somente para supervalorizar um filme oscarizável ou sua exibição legendada, pude ver em casa outros filmes igualmente medianos concorrentes nas categorias principais - como o supervalorizado "Cinema Videogame" à lá "Medal of Honnor" 1917 (estéril e técnico, à exceção de uma ou duas cenas mais emocionais, não passa de uma montanha russa de situações que jogam o protagonista pra lá e pra cá até cair perfeitamente na trincheira da sua missão), a "polêmica" comédia dramática sem ter muito o que contar além de algumas piadinhas com um Hitler bobão e afrescalhado como amigo imaginário de um garotinho da Juventude Nazista em Jojo Rabbit (o melhor dessa imitação do estilo Wes Anderson é, sem dúvida, o personagem esquecido de Sam Rockwell) e a chatinha nova versão "atualizada" e "empoderada" de Adoráveis Mulheres, narrativa pobre, exageradamente autoexplicativa de idas e vindas no tempo, num filme que nunca engrena (preferível sua última versão cinematográfica, de 1994, com Wynona Ryder). Curiosamente, os três despontam como fortes candidatos a várias estatuetas douradas, o que demonstra que o comercialismo do cinemão industrial ainda prefere premiar o óbvio ululante – situação costumeiramente presente no Oscar em relação a filmes bem fracos como O Discurso do Rei ou Crash - No Limite! Dessa leva se sobressai somente a deliciosa Sessão da Tarde às antigas Ford Vs. Ferrari, graças à inspirada dupla de protagonistas (Bale e Damon) e às excelentes edições de montagem e som, levando a audiência para dentro das ótimas cenas de corrida!

Se faltou mais "algo na veia" para suas viradas,
o drama cômico Parasita apresenta algo novo
em seu estilo farsa simbolista - enfim, um filme
acima da média nesse Oscar modorrento...
Mas nem só de produções ruinzinhas vive o Cinema atual: ainda é possível surpreender no mainstream! E, assim, produções já analisadas por aqui no ano passado, Coringa (pra mim e os Morcegos, o melhor do ano passado) e Era uma vez em... Hollywood, consagraram-se mesmo como os melhores de 2019, tiveram seus merecidos reconhecimentos com indicações em vários festivais pelo mundo e já vêm recebendo vários prêmios, com fortes probabilidades de Oscars em várias categorias - com destaque para as já laureadas interpretações do incrível ator e ativista superconsciente Joaquín Phoenix na sua "versão adulta" do Palhaço do Crime e Brad Pitty "sendo Brad Pitty" mais uma vez, de forma competente,  no último (e ótimo) trabalho de Tarantino. De destacar, por fim, o mais novo queridinho oriental, o diretor Bong Joon Ho (forte concorrente a Melhor Diretor), e o seu Palma de Ouro em Cannes Parasita: não é nenhum Bacurau (ou O Som ao Redor, trabalho de Júlio Mendonça Filho de temática mais próxima) ou qualquer outra obra de crítica social do Cinema nacional, mas quebra o galho no meio de tanta mesmice - a(s) inusitada(s) reviravolta(s) final(is) pode(m) até fazer o filme soar como algo forçado, uma vez que mais da primeira metade segue em tom farsesco de comédia; o fato é, porém, que tal virada é necessária para contrapor os extremos e apresentar uma fábula moderna inteligente e simbolista sobre classes sociais, suas visões e seus lugares no mundo.

Se levasse, seria mais que merecido... Ao contrário do que
quer apregoar boa parte da "mídia dos releases", Coringa
nada tem a ver com um "filme de vilão de Quadrinhos",
mas, sim, de uma bela e sensível visão político-social
dos excluídos, da loucura e, de quebra, uma homenagem
cinematográfica ao famoso personagem das HQs do
Batman e a filmes de temática similar dos anos 70 e 80,
em especial a Taxi Driver e O Rei da Comédia, ambos
do Mestre Scorsese.
Em suma, o Oscar vai para... a Netflix, é claro: independentemente do resultado desta noite, o canal virtual se consolida, por meio de seus 8 filmes concorrendo em 24 categorias, como a "nova revolução do Cinema e da mídia", no dizer do veterano Martin Scorsese, que, ao contrário de muitos diretores e produtores paternalistas do velho esquema das grandes salas de exibição, ficou muito feliz em poder ter feito seu filme nessa plataforma – com uma única ressalva: depois de causar "polêmica" ao dizer que os filmes de super-heróis da Marvel não são Cinema (no que concordo plenamente!), fez um apelo a todos os espectadores da Netflix para não verem seu O Irlandês nos celulares! Faz muito sentido pra mim: grandes filmes pedem uma tela grande - no mínimo, uma de 50'' em casa, nas populares smartvs de hoje em dia... A verdade é que os tempos mudaram, o streaming veio pra ficar – e para apresentar algo a mais que a mesmice autovangloriada dos grandes estúdios hollywoodianos – e a Academia parece estar aprendendo a equilibrar melhor essas equações neste que muito bem se poderia chamar de Oscarflix! Que vençam os melhores (ou os que arrecadaram maiores bilheterias...) e democracia em Vertigem nos redima! E, mesmo dando aquela rotineira entortada de boca e aquele dar de ombros de indiferença a essas premiações-eventos norte-americanas, eu vou dar uma olhada (no que a Globo deixar) e farei minhas apostinhas, como de praxe todo ano... Seguem abaixo as previsões dos Morcegos na seguinte legenda: azul para quem deve ganhar o prêmio; laranja para quem tem grandes chances de também levar; e verde para quem, na nossa cinéfila e modesta opinião, é que faria justiça sendo oscarizado!
Que Democracia em Vertigem nos redima... E Temer não nos roube novamente, amém!
(ATUALIZADO: após a cerimônia do último domingo, 9, os filmes vencedores foram sublinhados - independentemente da cor apresentada na legenda original da aposta - e os demais, riscados, sendo ainda apostos de vermelho os concorrentes originariamente não cotados nas previsões dos Morcegos)

Melhor filme
O Irlandês
Adoráveis Mulheres
Era Uma Vez em… Hollywood
Parasita
História de um Casamento
1917
Coringa
Ford vs Ferrari
Jojo Rabbit
Melhor Diretor
Bong Joon-Ho, por Parasita
Martin Scorsese, por O Irlandês
Sam Mendes, por 1917
Todd Phillips, por Coringa
Quentin Tarantino, por Era Uma Vez em… Hollywood
Melhor Ator
Antonio Banderas, por Dor e Glória
Leonardo DiCaprio, por Era Uma Vez em… Hollywood
Adam Driver, por História de um Casamento
Joaquin Phoenix, por Coringa
Jonathan Pryce, por Dois Papas
Melhor Atriz
Saoirse Ronan, por Adoráveis Mulheres
Charlize Theron, por O Escândalo
Scarlett Johansson, por História de um Casamento
Renée Zellweger, por Judy – Muito além do Arco-Íris
Cynthia Erivo, por Harriet
Melhor Ator Coadjuvante
Brad Pitt, por Era Uma Vez em… Hollywood
Joe Pesci, por O Irlandês
Al Pacino, por O Irlandês
Anthony Hopkins, por Dois Papas
Tom Hanks, por Um Lindo Dia na Vizinhança
Melhor Atriz Coadjuvante
Kathy Bates, por O Caso Richard Jewell
Laura Dern, por História de um Casamento
Scarlett Johansson, por Jojo Rabbit
Florence Pugh, por Adoráveis Mulheres
Margot Robbie, por O Escândalo
Roteiro Adaptado
O Irlandês
Jojo Rabbit
Coringa
Adoráveis Mulheres
Dois Papas
Roteiro original
Entre Facas e Segredos
História de um Casamento
1917
Era Uma Vez em… Hollywood
Parasita
Melhor filme internacional
Corpus Christi (Polônia)
Honeyland (Macedônia do Norte)
Os Miseráveis (França)
Dor e Glória (Espanha)
Parasita (Coreia do Sul)
Animação
Como Treinar o Seu Dragão 3
Perdi Meu Corpo
Klaus
Link Perdido
Toy Story 4
Fotografia
1917
O Irlandês
O Farol
Coringa
Era Uma Vez em… Hollywood
Figurino
O Irlandês
Jojo Rabbit
Adoráveis Mulheres
Era Uma Vez em… Hollywood
Coringa
Trilha sonora original
Coringa
Adoráveis Mulheres
História de Um Casamento
1917
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Efeitos Visuais
Vingadores: Ultimato
O Irlandês
O Rei Leão
1917
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Documentário
Indústria Americana
The Cave
Democracia em Vertigem
Honeyland
For Sama
Montagem
Ford vs Ferrari
O Irlandês
Jojo Rabbit
Coringa
Parasita
Canção Original
I Can’t Let You Throw Yourself Away, por Toy Story 4
(I’m Gonna) Love Me Again, por Rocketman
Into The Unknown, por Frozen 2
I’m Standing With You, por Superação – O Milagre da Fé
Stand Up, por Harriet
Direção de arte
1917
O Irlandês
Jojo Rabbit
Parasita
Era Uma Vez em… Hollywood
Mixagem de Som
Ad Astra
Ford Vs Ferrari
Coringa
1917
Era Uma Vez em… Hollywood
Edição de som
1917
Coringa
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Era Uma Vez em… Hollywood
Ford Vs Ferrari
Maquiagem e Penteado
Malévola: Dona do Mal
1917
O Escândalo
Coringa
Judy: Muito Além do Arco-Íris
Curta-metragem
Brotherhood
Nefta Footbal Club
The Neighbors’ Window
Saria
A Sister
Animação em curta-metragem
Dcera (Daughter)
Hair Love
Kitbull
Memorable
Sister
Documentário de curta-metragem
In the Absence
Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
A Vida em Mim
St. Louis Superman
Walk Run Cha-Cha
 

+ voam pra cá

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!

Quem linkou

Twingly Blog Search http://osmorcegos.blogspot.com/ Search results for “http://osmorcegos.blogspot.com/”
eXTReMe Tracker
Clicky Web Analytics

VISITE TAMBÉM:

Os Diários do Papai

Em forma de pequenas crônicas, as dores e as delícias de ser um pai de um supertrio de crianças poderosas...

luzdeluma st Code is Copyright © 2009 FreshBrown is Designed by Simran