terça-feira, 29 de janeiro de 2019

De Roma a Wakanda,
Passando pelo Aranha-verso,
We will rock you!

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Pra todos os gostos, estilos e representatividades: belas escolhas!


Estava na dúvida se assistia primeiramente ao fraquinho BirdBox (entre essa insossa imitação do injustiçado Fim dos Dias, de Shyamalan, e o badalado sucesso recente da Netflix, prefiro o original de 2008) ou à mistura de Você Decide com Black Mirror, Bandersnatch (também da Netflix, que igualmente deixou a desejar...), mas acabei escolhendo ver um terceiro título, ainda em dezembro: o belíssimo Roma, filme autoral e de profunda sensibilidade para com as memórias afetivas do seu diretor, produtor e roteirista Alfonso Cuarón (o mesmo do instigante Gravidade) para com a sua rua da infância (cujo nome é o título do filme), seu País (México) e os mais marginalizados do seu povo no difícil início dos anos 70. 

E que bela escolha eu fiz: eis aí uma rara obra-prima que chamo de "filme em construção" - o que, a uma primeira vista, parece narrar nada acontecendo, aos poucos alinhava delicadas pequenas histórias, como, no caso de Roma, sobre a força da mulher numa sociedade machista, a dominação cultural estrangeira, a manipulação estatal de jovens sem futuro e a pureza da infância, todas sob o manto da narrativa principal, a estoica vida de uma empregada doméstica de origem indígena (Cléo, vivida à perfeição e com extrema pureza pela professora Yalitza Aparicio, nascida e criada na agreste Oaxaca), cujos dias em preto e branco (fotografia primorosa!) passam por sua quase anulação como pessoa diante da dedicação exclusiva a uma família de classe média alta em desestruturação.

E, diante de tão belos quadros, alternando entre as minúcias de dentro da casa burguesa e a amplitude das ruas mexicanas - percorridas sempre à correria pela humilde serva -, em meio a uma interessante e vasta gama de simbolismos (como, por exemplo, os aviões passando à profusão, a representar a transitoriedade das difíceis crônicas da vida), resta, ao final, um arrebatamento, como um grito emocionado travado na garganta, tanto de Cleo quanto nosso, e a profunda reminiscência de homenagem ao Neo-Realismo italiano (o título, não por acaso, evoca clássicos desse período, como Roma, Cidade Aberta), num retrato de rara sensibilidade cinematográfica, digna das maiores premiações (como o merecidamente recebido Leão de Ouro do último Festival de Veneza).

Falando nisso, que bom que o sempre comercial Oscardiferentemente de festivais mais artísticos (como o de Cannes), reconheceu os muitos méritos desta produção estrangeira para serviço de streaming (em bom Português: "corrente de transmissão"; aquela "locadora virtual", estilo YouTube, em que os assinantes escolhem a atração a ser vista na hora que desejar) e aceitou Roma em sua fileira de indicados (que, além da nascida-clássica produção mexicana, inclui muitos outros filmes com discussões políticas e representatividades de minorias, como Infiltrado na Klan e Green Book, que discutem o racismo contra negros), disputando em 10 categorias: melhores filme, diretor, atriz, atriz coadjuvante, roteiro original, fotografia, edição de som, mixagem de som, direção de arte e filme estrangeiro (sublinhamos nossas apostas). É claro que a Netflix teve que exibir Roma em cinemas estadunidenses ao longo de 2018 para cumprir a famosa determinação da premiação ianque - o que não diminui, entretanto, o feito histórico de reconhecimento da moderna plataforma.

E ainda falando em representatividade, a progressista maioria da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (A.M.P.A.S., responsável pelo Oscar e pelo fomento a avanços na tecnologia cinematográfica, cujos votantes são os seus próprios artistas-membros) mantém em constante crescimento a atenção e inclusão na premiação de obras com discussões político-sociais - ainda que tais questões nem sejam o mote principal do filme em tela. E, assim, interessantes surpresas como Pantera Negra, que, para além de um mero "filme de super-herói", concorre, dentre MUITAS outras, na principal categoria, a de melhor filme, graças ao belo discurso político progressista e dos destaques dos seus protagonismos de fortes representatividades negras e femininas (entremeados, obviamente, pela mais sortida variedade de absurdos pirotécnicos das atuais adaptações de Quadrinhos), e o gostoso, porém simplista e pouco fiel aos fatos vividos pelo vocalista, músico e compositor do Queen, Freddie Mercury, Bohemian Rhapsody (forte concorrente nas categorias de melhor ator, edição e som), que traz, ainda que em segundo plano, discussões sobre a homossexualidade e o surgimento da AIDS nos anos 80. 

Sem esquecer que, até nas produções infantis e animações, exclusões sociais também permearam os enredos concorrentes, como se deu com o pano de fundo das discussões trabalhistas e dos "desafortunados da Grande Depressão" do apenas bonito "musical da Broadway filmado" de O Retorno de Mary Poppins  (indicado nas categorias de melhores trilha sonora e canção originais, figurino e direção de arte) - que apesar do excesso de rasgadas homenagens ao original, deste fica indiscutivelmente aquém -; os "marginalizados super-heróis" (e, depois, instrumentos de bajulação midiática) de Os Incríveis 2; e os socialmente "excluídos personagens de videogame" de Wi-Fi Ralph: Quebrando a Internet (ambos os últimos concorrentes à melhor Animação e igualmente sem o brilho e a inteligência dos respectivos filmes originais).

E, pela primeira vez na história deste bloguinho, os Morcegos e eu já vimos muitos dos concorrentes (no caso, todos os filmes negritados até aqui, e ainda o encantador Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível, o equivocado Solo: Uma história Star Wars, ambos indicados para melhores efeitos visuais, e, por fim, Bao, da Pixar, favorito a melhor curta de animação) antes mesmo do anúncio dos indicados ao Oscar: dando-se normalmente o contrário, em que corremos para os cinemas, cheios de curiosidade, para ver algumas boas promessas após as indicações, desta vez a grande maioria já foi exibida e, por mero acaso, acabamos por não ter visto alguns títulos interessantes que restam esquecidos no streaming, como A balada de Buster Scruggs (Netflix), ou já saíram de cartaz e, por descuido, acabamos perdendo, como Infiltrado na Klan, a terceira refilmagem de Nasce Uma Estrela e Vingadores: Guerra Infinita. E, falando na enxurrada de super-heróis que invadiram o Oscar, e ainda no tema das minorias (o protagonista do filme é o negro hispano-americano e adolescente Miles Morales), resta o inteligente Homem-Aranha no Aranha-Verso, grande favorito ao Oscar de melhor animação (repleto de técnicas interessantes de animação e com edição ágil e repleta de deleites para os fãs do aracnídeo) e já laureado com o Globo de Ouro nessa categoria.

E assim vai se firmando a estatueta do careca dourado como um prêmio capitalista, sim, porém aberto a questões afirmativas, protagonismos de minorias e produções independentes com viés sociológico... E os Morcegos, que sempre torceram seus focinhos amassados para o Oscar, vêm se animando cada vez mais com as produções iluminadas pelos luxuosos holofotes de Los Angeles - uma pena que os sempre excluídos e marginalizados quirópteros das Artes em Geral ainda se mantenham longe das televisões abertas dos Big Brothers, que cortam pela metade a exibição exclusiva do canal inominável, bem como dos caros e irritantes canais pagos das tvs por assinatura, e tenham que se contentar com flashes e montagens vistas após a sempre divertida exibição ao vivo...
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Oscar 2019:
Agora com direito a super-heróis politicamente corretos de negros e mulheres empoderados, graças a Deus
- e à Marvel!
 

+ voam pra cá

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