Há 124 anos nascia este pintor, tradutor, promotor público, fazendeiro filho de Taubaté, jornalista, editor e escritor lutador incansável por um Brasil para os brasileiros, vítima da ditadura de Vargas ("Só serei 'imortal' se puserem esse grande gênio fora de lá a pontapés", diria, referindo-se a Getúlio Vargas) e árduo combatente pela Democracia, o pai de Urupês, do Jeca Tatu, de Narizinho, de Emília e de tantos sincretismos culturais que tão brilhantemente criou, Lobato foi um injustiçado não só ao longo de sua vida, como ao longo também da minha: li apenas Emília no País da Gramática, uma de suas obras-primas e o mais original de quantos livros se escreveram até hoje, graças às inventivas metalinguagens, onde a língua é representada como uma cidade, a cidade da Gramática, para onde segue o pessoal do sítio, montado no rinoceronte! Ainda volverei à sua obra e voltarei a ser criança, com certeza, como o menino maravilhado com as estórias de D. Benta e de todo o sítio na Grécia, diante da televisão, nos longínquos anos 70...
Hoje, na ROTATÓRIA ESPECIAL, transcrevo alguns trechos de uma página maravilhosa a este mestre dedicada, a www.lobato.globo.com, onde, dentre outras coisas, você poderá saber mais sobre seus múltiplos talentos, bem como conhecer a refinado humor contido em muitas de suas célebres frases, algumas aqui também apostas...
Na sua maior parte, a obra de Monteiro Lobato é o resultado da reunião de textos escritos para jornais ou revistas. Comprometido com as grandes causas de seu tempo, o criador do Jeca Tatu engajou-se em campanhas por saúde, defesa do meio-ambiente, reforma agrária e petróleo, entre outros temas que continuam atuais. Ele arrebatava o público com artigos instigantes, que hoje, vistos de longe, constituem um precioso retrato de época, um painel socioeconômico, político e cultural do período. Dono de estilo conciso e vigoroso, com forte dose de ironia, utilizava uma linguagem clara e objetiva, compreensível ao grande público. Lobato revelou o mundo rural, então ignorado pelos escritores de gabinete que ele tanto criticava. "A nossa literatura é fabricada nas cidades", dizia, "por sujeitos que não penetram nos campos de medo dos carrapatos".
Monteiro Lobato jamais escondeu sua paixão pela pintura e gostaria de ter cursado uma escola de Belas Artes. Por imposição do avô, seu tutor após a morte dos pais, acabou entrando para a Faculdade de Direito. Desistiu das artes plásticas e se fez escritor, numa transposição vocacional com reflexos em toda sua obra. Mas nunca se conformou com isso: "No fundo não sou literato, sou pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério (...) arranjei este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito senão pintar com palavras". Em 1909 chegou a participar de um concurso de cartazes no Rio de Janeiro, colaborando com desenhos para revistas como Fon-Fon e Vida Moderna, além de ilustrar a primeira edição do livro Urupês. Na década de 1910 tornou-se um dos mais importantes críticos de arte na cidade de São Paulo. Pintou até os últimos dias de vida, e nos legou histórias cheias de cores e de formas como se fossem quadros.
"Tentei arrancar de mim o carnegão da literatura. Impossível. Só consegui uma coisa: adiar para depois dos 30 o meu aparecimento. Literatura é cachaça. Vicia. A gente começa com um cálice e acaba pau d'água na cadeia". São Paulo, 16/6/1904.
"Ando com idéias dumas coisas a Wells, em que entrem imaginação, a fantasia possível e vislumbres do futuro - não o futuro próximo de Júlio Verne, futurinho de 50 anos, mas um futuro de mil anos. (...) Se a terra dos meus canteiros mentais não for propícia a essas sementinhas, então é que não estou destinado a ser o H. G. Wells de Taubaté, e paciência". Taubaté, 17/12/1905.
"A maior delícia da minha vida de roça é justamente lidar com pintos, com perus, com bois e cavalos, e do bípede humano só me meter com esta insuficiência mitral que é o caboclo da roça. Mesmo assim, só lido com eles através do "administrador", a ponte de ligação. E o caboclo ainda é a melhor coisa da nossa terra, porque analfabeto, simples, muito mais próximo do avô Pitecantropo do que os que usam dragonas ou cartola, e se dão ao luxo de ter idéias na cabeça, em vez de honestíssimos piolhos". Fazenda, 19/9/1912.
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