sábado, 29 de outubro de 2005

Begin The Beguine

Olá, queridos blogueiros de plantão e amigos dos quirópteros! Voltando a publicar textos inéditos neste dileto espaço virtual, tirei a tarde de sábado para preparar esta super-homenagem à Sétima Arte: ao longo desta semana, vocês terão a SEMANA ESPECIAL - Cinema, começando hoje com uma crítica sobre o filme Batman Begins, recentemente lançado em vídeo, juntamente com um breve esboço sobre as adaptações de heróis dos Quadrinhos para o Cinema que vêm por aí...
O menino que vê seus pais serem assassinados em sua frente e, depois de crescido, treina para combater o crime na caótica Gotham City onde cresceu, vestindo-se de morcego e se tornando o herói mais completo das HQs... Essa história todos já conhecem dos quadrinhos do Batman, que, desde 1939, já passou por inúmeras transformações e adaptações, com sua mais recente versão cinematográfica, Batman Begins (algo como "Batman começa", em tradução livre: o estrangeirismo do título original prevaleceu!), tendo chegado às locadoras desde o último dia 6. Entretanto, apesar de presentes todos aqueles elementos de origem mencionados, alguma coisa parece ter faltado nesta superprodução...

Quase tão longo quanto a melhor adaptação dos Quadrinhos, Superman - O Filme, de 78, e seus 143 minutos, Batman Begins é minucioso em cada detalhe de suas 2 horas e 20 minutos de filme: de acordo com o diretor e corroteirista Christopher Nolan (do cult Amnésia), buscou-se embasar tudo o que levaria um menino de 9 anos, traumatizado com o assassinato dos pais, a tornar-se o maior detetive do mundo depois de adulto. Falo "de acordo com" Nolan, porque o diretor, no afã de deixar sua marca mais autoral e "realista", tomou algumas liberdades criativas que acabaram modificando bastante o universo original do herói na transposição para as telas... O que gerou certa dose de polêmica entre os ardorosos fãs do Morcego (entre os quais me incluo)!

Sem querer entregar muitos spoillers, vamos às tais "polêmicas"... Primeiro, a história "recontada": Bruce Wayne (Christian Bale em excelente caracterização) "desce aos infernos" desde o trauma, chegando a cometer crimes em sua fuga pelo mundo a fim de "entender a mente dos criminosos" (!); conhece um misterioso Ra's Al Ghul asiático (famoso vilão árabe fantasioso, nas HQs), que tenciona destruir "grandes metrópoles corruptas", como Gotham, com sua Liga das Sombras; eis que Bruce acorda de sua letargia ética e percebe o que precisa tornar-se para realmente fazer justiça; então, valendo-se de apetrechos tecnológicos desenvolvidos por Lucius Fox (o sempre bom Morgan Freeman) na WayneTech e auxiliado por seu mordomo Alfred (Michael Caine: definitivo), transforma-se num "símbolo" para defender sua cidade de criminosos como o mafioso Carmine Falcone (Tom Wilkinson), o louco Espantalho (Cillian Murphy), além da volta de Ras.

A ênfase em Bruce, em detrimento do próprio Batman (que só aparece depois de uma hora de projeção e em menos cenas que o habitual para filmes do gênero), acompanhada de um olhar mais realista, eliminando certos elementos icônicos do personagem: questões como a ausência de um herói mais engenhoso (nas HQs, o próprio homem-morcego cria todos os seus equipamentos, com seus conhecimentos de Física e Química), a descaracterização de vilões e uma Gotham City bem "menos gótica" (praticamente Chicago, com algumas modificações em CGI), fizeram muita gente torcer o nariz para o filme – o que parece ter ajudado no seu desempenho nas bilheterias: Batman Begins, apesar dos lucros, gerou 373 milhões de dólares, um tanto abaixo do esperado.

O que muita gente parece esquecer, porém, é que o diretor foi amplamente auxiliado por um roteirista e fã dos quadrinhos da DC Comics, Charles Goyer, que injetou, sim, bastante fidelidade ao adaptar trechos de clássicos arcos e famosas histórias, como Batman Ano Um (história de origem pós-Crise nas Infinitas Terras), como a Gotham corrupta e a clássica cena do chamamento dos morcegos, O homem que cai, com elementos como a queda no poço quando criança e a fobia de morcegos, Batman Xamã, enfatizando seu treinamento numa região gelada e o desenvolvimento das habilidades como detetive, e O Cavaleiro das Trevas, de onde se inspirou para o batmóvel no estilo "tanque militar" da história de Frank Miller, de 1986. 

Por isso, longe de uma adaptação ruim, apesar de tais "excessos de realismos", bem como do excesso de situações e personagens e de algumas concessões a soluções clichês, Batman Begins é uma experiência imprescindível, verdadeiramente um ótimo filme que, embora tenha praticamente banido a meninada da frente da telona com seu tom sisudo e muito sombrio (situação que pode ser corrigida com o lançamento em vídeo), certamente marcará o personagem como uma boa referência para os futuros filmes do herói neste novo século, cada vez mais distantes da magia impregnada por Tim Burton no primeiro filme, de 1989, com seu clássico sombrio, porém infantojuvenil (e seus toscos derivados, nas continuações absurdas de Joel Schumacher!). 

De qualquer forma, quem quiser optar pela nostalgia e pelo tom mais ameno e colorido das revistinhas da infância, fugindo do realismo mais impactante de Nolan, talvez seja melhor esperar pelo retorno de outro herói da DC, que começará a voar novamente nos cinemas a partir de junho do ano que vem e promete resgatar os dois primeiros clássicos com Cristopher Reeve... Ou, ainda, aguardar um pouquinho mais e descobrir se novas adaptações de Quadrinhos renderão o mesmo encanto de outros famosos heróis dos gibis...



quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Relembrando Futebol

Exatamente na semana em que Pelé comemora 65 anos de idade (último domingo, 23, mesma data da minha mãe e da amiga Lelinha), nada mais justo que relembrar esta pequena homenagem ao Rei do Futebol no ano passado, no antigo Weblogger, quando da comemoração dos 35 anos do milésimo gol, que adaptei para os dias atuais...

Em tempos de futebol brasileiro em baixa e à venda, nada melhor do que forçar um pouco pela memória e relembrarmos uma época maravilhosa e em preto-e-branco, em que, há trinta e seis anos, um Rei único, o mais completo com a bola no pé (ou na cabeça ou no peito ou na coxa...), chorava pelas criancinhas, pelo milésimo gol e pela plenitude, a alimentar-se, posteriormente, da eterna magia de suas 1.282 bolas na rede!

O ano era 1969. O Presidente, o General Costa e Silva, com o País vivendo sob a infame sombra do AI-5 e o início dos anos de chumbo; com o fim da inocência do iê-iê-iê da Jovem Guarda (e o também iminente fim dos Beatles)... As imagens da TV eram em preto-e-branco. E branco e preto também eram as cores de um time então tricampeão paulista (além de dois títulos mundiais interclubes, três Torneios Rio-São Paulo e mais seis campeonatos paulistas naquela década), graças, em particular, a ele (e em grande parte, também, a outras duas lendas santistas: Coutinho e Pepe): Pelé, o já consagrado Rei do Futebol (antes mesmo da consagração com o tri de 1970), e que, naquele ano em especial, marcaria o Mundo do Futebol com o famoso milésimo gol, de pênalti (pênalti seria menos gol?), contra o Vasco da Gama (logo o Vasco?), na histórica partida da também histórica Taça de Prata (antecessora do atual Campeonato Brasileiro)...

Logicamente, aquele jogo não marcaria ninguém pelo placar (2x1 para o time paulista) ou por qualquer "caráter decisivo" (o Fluminense venceria aquele torneio): todos voltavam suas atenções para o Maracanã, naquele 19 de novembro, pelo que poderia ser "o jogo do milésimo gol". E o foi mesmo, mas depois de mais uma "arte" do futebol arte do Rei (parece que ele se jogou, não?): jogo interrompido; Andrada de um lado e bola do outro; Sua Majestade erguida nos ombros! Discursando pelo social e por ele mesmo, Pelé chorava feito criança, tal como aquele moleque de 17 anos sensação na Copa de 58, quando se debulhou em lágrimas na vitória contra a Suécia, naquela inesquecível Final.

Várias faces de um mesmo homem: menino, Rei ou Deus do Futebol (ou Soccer, vez que se aposentou no New York Cosmos)! O mesmo que criou a "paradinha" na hora do pênalti, o soquinho no ar na comemoração de um gol e incríveis jogadas geniais na sua completude como jogador (centroavante, ponta, meia-armador... e até goleiro!), tendo pecado somente fora da arte da bola, quando pensou que poderia ser ator, compositor, empresário e até político... Ou, quem sabe ainda, "formador de opinião" (sem noção da Raça nem da Ditadura)!

Mas, enfim, a justiça foi feita: o ano era 1969, o capitão Lamarca desertava contra seu próprio Exército para lutar contra o Terror Militar; Woodstock mostrava ao mundo Rock, paz e amor; o homem voava para a Lua... O Mundo, de repente, ficara pequeno. E a bola era o mundo do preto mais famoso do planeta, preto ou branco, no branco e preto do Alvinegro Praiano, do preto rei na bola branca mil vezes (pelo menos, em sua contagem pessoal), no preto e branco das já desgastadas imagens de arquivo e do fundo de milhões de retinas felizes. Um momento que não vivi, mas que posso reviver. O gol de número mil para as criancinhas do Brasil...

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Desarma, Comade!

"Você está se sentindo com sorte, hein, punk?"

O engraçado foi mamãe tentando ensinar sobre o Referendo do Desarmamento para a diarista que presta serviços à nossa casa há mais de 20 anos, a estimada "Comade" Cristina, uma senhora semianalfabeta tão carinhosa comigo desde minha infância, mas que nunca está muito a par do "Brasil Oficial":

- A Comade vai ter que votar no próximo domingo se é a favor ou contra o comércio de armas no Brasil!
- Como é que é, Senhora?
- Vai ter que votar sobre as armas! - quase aos gritos, porque ela tem um probleminha de audição.
- Eu não gosto de arma. No bairro onde eu moro tem muito bandido!
- Pois é, então a senhora vai dizer se quer ou não um Brasil sem armas, votando "sim" ou "não"!
- Então eu sou "não", Senhora, não quero arma com ninguém!
- Não, a Comade vai votar "sim"!
- Não, Senhora, eu quero é "não", não gosto de arma!
- Por isso mesmo, é "sim", porque a senhora vai dizer sim ao desarmamento!
- Ai, Senhora, isso é muito complicado!

A mais pura verdade, Comade Cristina: esse Brasil não é para amadores... Mas com menos armas, fazendo favor!

sábado, 22 de outubro de 2005

ANIVERSÁRIOS

Quis o destino que os dois nascessem quase na mesma data, para que os tolos defensores do zodíaco torcessem o nariz: afinal, ele é do fianalzinho de Libra, e ela, do início de Escorpião, dois signos tidos como incompatíveis, porquanto totalmente diferentes...

Decerto que ela, mais romântica e sonhadora, contrasta com a figura dele, mais desligado, e que alguns tristes vieses da longa vida a dois, casados há mais de trinta anos, trouxeram diferentes lições para cada um...

Quis o destino também que dois filhos de comerciantes de cidades tão díspares no Maranhão – ele, de São Luís; ela, de Pinheiro – se encontrassem e se casassem, trazendo ao mundo o meu irmão e eu...

Ele, ontem, 21; ela, amanhã, 23. A eles, esta singela homenagem atemporal  – porque os pais jamais envelhecem...

sábado, 15 de outubro de 2005

O Super-Homem morreu...

Pelo antes combinado, o previsto era para que eu publicasse ontem, como venho fazendo toda sexta com um novo capítulo das Novas Cartas Chilenas... Entretanto, pela absoluta impossibilidade de tempo e diante da total falta de atenção de meus blogueiros de plantão quanto à minha novela virtual, resolvi cancelar as Novas Cartas mais uma vez, por total insucesso, e decidi republicar um texto que fiz em 2004, quando da morte de um grande ídolo da infância, Cristopher Reeve, encarnação maior do Super-Homem, que morreu no dia 10 de outubro do ano passado...

Super-Homem Morreu...

Era março de 1984 e eu dava os meus primeiros passos de 7 anos de idade na nova escola em busca de novas interações sociais: "Tu viste o filme de ontem?", "Vocês viram o Super-homem?" "Viram aquela cena em que ele gira o mundo ao contrário?"... Desta vez o assunto era muito melhor que o da semana anterior, onde prevaleceu apenas "qual o teu nome?" ou "qual o teu signo?": agora, os primeiros contatos com um super-herói cinematográfico, ainda que pela televisão, eram mais do que suficientes para o meu definitivo entranhamento social no colégio do novo bairro para onde então acabara de mudar-me, tantos eram os detalhes a compartilhar com meus novos amiguinhos...

Mais ou menos um ano depois foi a vez de a continuação passar na TV. E mais uma vez assunto não iria faltar, mais uma vez no desafio de numa nova escola (agora a definitiva, até o fim do 2º grau): os duelos no ar com os três vilões de Krypton, os efeitos especiais... "E o Super-homem se casou?"... "É, acho que sim"... "Mas, no final, parece que se separaram e ele salvou o mundo mais uma vez"...

Super-Homem, o mais completo dos super-heróis, criado em 1938 por Jerry Siggel e Joe Shuster (à época dois jovens estudantes, ambos terminaram seus dias em velhices pobres, lutando contra a DC por reconhecimento), naqueles idos dos anos 1980, já passara por duas felizes adaptações para o Cinema (uma em 78, outra em 80), ambas com exorbitantes êxitos de bilheteria, mas nada disso era de meu conhecimento: o que importava mesmo era que a Globo, pela primeira vez - e em sua então única sessão de inéditos, Supercine - exibia cada uma das fantásticas aventuras daquele personagem maravilhoso que marcaria a minha vida.

Tampouco importava se Marlon Brando - "quem era Marlon Brando?" - ganhara mais de três milhões de dólares por apenas alguns minutos de participação no primeiro longa ou se, nos créditos iniciais, o nome de Gene Hackman surgia primeiro que o de Christopher Reeve - e quem era Christopher Reeve afinal, já que, estreando com 24 anos com aquele filme, nem mesmo os nossos pais conheciam aquele jovem e carismático ator, com a cara do personagem nos Quadrinhos?

Ele era aquele que voava e era indestrutível. Que, quando surgia, vinha com uma música maravilhosa de se assobiar. Ele era aquele vindo de Krypton para nos salvar e de Hollywood para nos tirar da mesmice sem fantasia em que vivíamos, então órfãos de heróis bem antes do anabolizado e marqueteiro He-Man e seus similares. Ele era o Super-Homem: tanto que, apesar de saber que ele só existia dentro do filme (na época os únicos quadrinhos que eu lia eram os da Disney), se um dia ele viesse nos salvar, na realidade, do jugo de um coronel déspota então Presidente e nos restituir a glória, como Gil cantou certa vez, quem apareceria na imaginação de todos seria aquele homem bonito que sorria para a câmera - porque, de fato, ele era o Super-Homem...

Aos poucos eu fui crescendo. Vieram os outros dois filmes, Superman III e Superman IV - Em busca da paz, ambos ruins e sem magia; outros heróis também invadiram as telas, incluindo Batman, em 1989, que acabou se tornando o meu favorito porque só a partir de então passei a colecionar gibis de super-heróis. Vieram os novos heróis criados por mim em meus quadrinhos caseiros na passagem da infância para a adolescência, época em que eu gravava cada reprise desses filmes na Globo. Então vieram os primeiros namoros e as primeiras responsabilidades, junto com novas atuações de Reeve em tantos outros filmes, na busca desenfreada para fugir do seu eterno estigma... Não adiantava: ele era o Super-Homem, apesar de competente e versátil também em outros papéis.

Foi então que mataram, pela primeira vez, o Super-Homem: a fim de aumentar as vendas do personagem que andava um pouco esquecido nos quadrinhos, os mercenários desenhistas e redatores da editora DC Comics criaram um vilão meia-boca para destruir o herói numa estória que vendeu milhões - e repetiram a presepada milionária para "ressuscitar" o azulão, "modernizando" assim o herói nas revistinhas... A frustração continuou na TV, onde terminaram de "enterrar" o Super-Homem: um ator medíocre e "com cara de mexicano", como dizia um preconceituoso amigo que adorava o Reeve, então passou a vestir o uniforme de maior prestígio dos quadrinhos numa ridícula série televisiva...

E, em 1995, o Super-Homem se feriu mortalmente: foi quando Christopher Reeve, grande desportista e adepto do hipismo, mesmo com os seus eternos poderes sobre-humanos e equipamentos de segurança, ficou tetraplégico após cair do seu cavalo... Foi então que passou a encarar uma luta diferente: longe dos mísseis atômicos e supercriminosos, agora seus esforços eram em prol das pesquisas com células-tronco, que, assim como numa estória de ficção, poderiam ajudá-lo a movimentar-se novamente... Porque era um homem super! E, mesmo sem movimentar mais nada abaixo da cabeça, seguiu em ação - chegando a atuar novamente e mesmo a dirigir, de sua cadeira de rodas, uma refilmagem para a TV do clássico Janela Indiscreta... Tudo isso até sua morte, neste último domingo, de insuficiência cardíaca.

Fellini, Jobim, Kubrick, Sinatra, Nelson, Mastroianni, Brando, Quintana... Todos eu vi morrer, à distância, deixando em mim diferentes matizes de tristeza pela sensação de perda como que de alguém próximo, tamanha a intimidade e a cumplicidade com seus filmes, músicas e livros... Mas o contato que aprendi a ter com cada um deles foi já pela adolescência. Com o Homem de Aço foi diferente: mesmo Reeve jamais tendo sido um gênio da interpretação no Cinema, ele simplesmente foi o maior super-herói de todos os tempos no meu tempo de criança, marcado pela magia em fuga da sua eternizada figura de 'collant' colorido, que permanecerá em pleno movimento nalguma cena da minha infância, quando acompanhava com entusiasmo, em frente ao televisor, as aventuras do herói que nunca morre...

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Sejam bem-vindos, queridos blogueiros de plantão, ao meu "novo" espaço virtual: na prática, continuam os mesmos Morcegos, só que em casa nova, por tempo indeterminado! Continuem a acompanhar a Coluna Lateral, com a Imagem da Semana, o Blog Destaque da Família Morcegos e a republicação, abaixo, dos três primeiros capítulos das Novas Cartas Chilenas, a mais "maldita" das novelas virtuais, já publicados no Weblogger...

Hoje mais uma vez peço licença para entrar na ROTATÓRIA, onde tantos amigos já desfilaram seus talentos, por ocasião de mais uma picareta, digo, micareta. No caso, o Marafolia, que se realizará nestas terras a partir da quinta, dia 13. Este texto fez parte da coluna Vertebral do ano passado (quando do aniversário de 10 anos deste tosco evento), mas continua extremamente atual, como se tivesse sido escrito há alguns minutos... Também, o que esperar da imutável e insuportável "Axé Music"?...

VERTEBRAL

Marafolia... Dez anos de Marafolia... Desculpe-me, leitor incauto, pelo ruminar alto de meus pensamentos, mas é que estou um tanto quanto bestificado diante do tempo em que reina esta absurdice chamada Marafolia, mais uma das várias micaretas deste país tropical que teima em ser carnaval o ano inteiro...

Por aqui, terra de coronel, até folia tem dono, que é o mesmo do Maranhão - tanto que uma tal "Sanfolia", tentativa de furar o "eixo", vingou apenas um ano... "Tá procurando sarna pra se coçar", pergunta a canção de Bel Marques e seu Chiclete: não, obrigado, nós já temos sarna demais pra todo lado... E assim o grupo do bigode estende os seus desmandos pela área das "festas populares" - que de popular só tem a tal "pipoca", onde os foliões mais desafortunados pulam ao som distante dos blocos oficiais, onde varia de 150 a 400 reais um abadá!

Falando em abadá, curioso o simbolismo desse pedaço de tecido sintético que, customizado em outras peças como 'tops' ou "micro-saias", e somado a outras tiras de roupa, como os ínfimos 'shorts' atochados, compõe o "figurino" oficial do corredor polonês da Avenida Litorânea (esbórnia na praia: nada mais brasileiro!).

Não sei bem onde esta "tradição" de micaretagem começou, mas parece se estar diante de algo tribal soteropolitano, onde proliferam termos africanos como "bandanas" e "axés"... Até mesmo este estranho nome, micareta, assemelha-se a algum dialeto sudanês, do qual também não tenho a mínima idéia do significado, mas cuja noção já está perfeitamente sedimentada como um "carnaval fora de época", com épocas previamente organizadas de forma harmoniosa com todas as outras folias extemporâneas do País.

E parece que foi mesmo no Nordeste que tudo começou, quando, no Ceará, abriram o tal Fortal e todas as bestas-feras da picaretagem axé-babá passaram a acumular uns trocados com o então boom da marqueteira música baiana - se estiver errado quanto à origem, perdoe-me: além de não ter feito nenhuma pesquisa de campo, não tenho a menor intenção de ser experto no assunto...

E tome Carnatal, Recifolia, Micarina, Carnabelô, para citar só algumas das "geniais" combinações de nomes de capitais brasileiras com a tal folia ou micareta carnavalesca - tantas que um amigo desocupado da Faculdade agendava-se de acordo com os luxuriosos folguedos: "Nesse final de semana eu estive no Fortal; daqui a alguns dias vou para a Micarina, no Piauí... Vou a todas, não perco uma!"

E seguem as coisas esdrúxulas (Micarecandanga, em Brasília?!): bobagens como as "danças da manivela" ou "da boquinha da garrafa", além de nomes de bandas como Babado Novo, tudo parece já ultrapassado de tão brega, já que o duvidoso Axé parece não agüentar mais que a moda de apenas uma estação - até nas rádios o "fenômeno" aos poucos vem sendo substituído, pelo menos no Nordeste, pela peste do "New Forró" eletrônico e do "Apokalypso" do tecnobrega paraense... 

Talvez por isso as "mentes criativas" do "estilo" baiano vêm apelando para pais de santo e cânticos de macumba: só assim para justificar os "maimbê, maimbê-bá-bá", os "zum zum zumbaba" e os "mugegé-mugegé" que vêm tomando o lugar das antigas exacerbações vocálicas "a ê, a ê, aê, ô ô ô ô ô ô" das composições afro-arretadas... Só a pomba-gira salva!

E assim, ainda que somente num grande e agressivo jogo de 'marketing' saudosista, onde, a ferro e fogo, sobrevivem os ritmos assim chamados de Axé Music, micaretas como a Marafolia e tantas outras resistem com um relativamente cativo e abobalhado público que ainda as sustenta, numa repetição do mau gosto que continua a contrariar as mais concretas e otimistas previsões de que aquela explosão de carnavais fora de época do início da década de 90 duraria pouco... 

Que pena! Só sei "que o corpo estremece" de desgosto ao ouvir a turba "levantar poeira", com uma "mãozinha na cinturinha" e a "outra no ombro", numa vagabundagem esticada demais para um Brasil só, onde a efêmera e vazia sensação de orgia tropical, além de nunca saciar o nosso povo pagão por natureza, parece jamais ter fim...
 

+ voam pra cá

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!

Quem linkou

Twingly Blog Search http://osmorcegos.blogspot.com/ Search results for “http://osmorcegos.blogspot.com/”
eXTReMe Tracker
Clicky Web Analytics

VISITE TAMBÉM:

Os Diários do Papai

Em forma de pequenas crônicas, as dores e as delícias de ser um pai de um supertrio de crianças poderosas...

luzdeluma st Code is Copyright © 2009 FreshBrown is Designed by Simran