quarta-feira, 4 de abril de 2012

Minhas Lembranças Cristãs em Cinemascope


Semana Santa. Fiz minha Primeira Comunhão, mas hoje meu Catolicismo se resume a manter a tradição de não comer carne vermelha nos dias que antecedem a Paixão do Cristo e a, uma vez ou outra, seguir com minha esposa para alguma igreja franciscana assistir a uma missa (faz tempo...). E, apesar de ter feito "papel duplo" (ou, talvez, por isso), aos 8 anos de idade, numa peça da escola ("figurante", fui escalado para, além de um dos apóstolos sem fala, cobrir a falta de um coleguinha como um dos soldados romanos que crucificavam Jesus!), jamais apreciei representações teatrais sobre o Filho de Deus - acho tudo muito 'fake', com representações fracas a querer agradas a gregos e troianos, desde a peça onde atuava a mãe de uma ex-namorada, a que fui meio "obrigado" a ir na adolescência, até a famosa encenação da cidade pernambucana de Nova Jerusalém, hoje global, que achei risível em suas dublagens e exageros gestuais quando acompanhei, certa feita, pela TV.

Não me entendam mal, amo seguir com fé tudo o que ensinou o Homem de Nazaré - como diria a canção... Mesmo não tendo Religião passando por igreja (no que não vou entrar no mérito agora), minha boa ligação com Deus e seu Filho seguem desde os ensinamentos da minha querida mãe até hoje. Lembro-me, com exatidão, do meu irmão mais velho ao meu lado, ouvindo aquelas lindas passagens dos milagres do Cristo resumidas por D. Dilena (não tínhamos o costume de ler a Bíblia, este "complexo" livro cheio de contradições...) até um pequeno, porém solene, silêncio por volta das 15 horas, horário marcado como da Sua morte na cruz - tudo tão real que, nas minhas lembranças, aquelas sextas "fúnebres" eram sempre nubladas, com fortes chuvas naquele "horário santo", tudo fruto da ira divina em reposta ao ato desumano de milhares de anos antes...

As únicas "quebras" a esta estrutura mais séria de integração pascoal eram o prévio e ruidoso almoço farto com bacalhau (cozido e na forma das muito aguardadas bolinhas fritas), a abertura do ovo de Páscoa (dos grandes, com uma banda pra cada irmão - mamãe antecipava do domingo, a fim de não haver brigas por ansiedade) e a costumeira Sessão da Tarde, que, por muitos anos, exibiu o clássico Rei dos Reis, a que todos, sem exceção, assistiam... Não havia, pois, como minha Páscoa não ser muito mais marcada pelo Cinema!

Vários foram os atores que já viveram o Cristo, nas telas, desde o famoso diretor pioneiro Georges Meliès (1899), passando por aquela quase assustadoramente etérea (e um tanto vazia de sentimento) personificação do ator inglês Robert Powell no bom e fiel Jesus de Nazaré (1977) - filme preferido dos diabólicos pastores da Universal, em seu canal televisivo -, até atores que jamais alguém imaginou (ou que muita gente não viu) vivendo o nazareno: o famoso vampiro de A Hora do Espanto, Chris Sarandon (The Day Christ Died, 1980, para a TV); Williem Dafoe, na excelente discussão filosófica mais que polêmica de Scorcese, A Última Tentação de Cristo (1988); Ralph Fiennes (voz do Filho de Deus em The Miracle Maker, animação de 2000); e, o mais inusitado, Christian Bale, além de "Batman", já encarnou Jesus em Maria em Nome da Fé (1999, para a TV)!

Também gosto, ainda, de lembrar-me da poderosa voz do Cristo de Max von Sidow no esquecido A Maior História de Todos os Tempos, mas, para mim, uma das melhores interpretações de Jesus é mesmo a do ótimo Jim Caviezel no recentemente polêmico, porém mais realista e "de arte", A Paixão do Cristo, de Mel Gibson. Porém, como neste filme houve uma centralização nas últimas e sofridas 12 horas da vida do Messias, ainda prefiro lembrar Jeffrey Hunter, da minha infância, aquele Jesus loiro, de olhos azuis e rosto de galã nada realista, porém com um ar santo e com um princípio de amável sorriso sempre a surgir, na bela superprodução de Nicholas Ray, de 1961, com aquela belíssima trilha pomposa de Miklos Rózsa (que se ouve ao fundo)... Lembro-me, certa feita, de ter cometido o "pecado" de não seguir com meus pais para a casa dos meus avós numa perdida sexta-feira da Paixão dos meus então 13 anos... "Mas eu estava gravando Rei dos Reis, vovó Marieta..." - "Ah, aquele filme lindo...? Eu também estava vendo! Tudo bem, então, meu filho..."

Por um bom tempo, entre minha adolescência e início da fase adulta, as Sextas-Feiras Santas ficaram órfãs da sua "principal atração": a tonta emissora global começou a passar filmes que nada guardavam daquelas memórias sagradas de outrora - até Loucademia de Polícia 3 foi exibido logo após um antigo almoço na casa de mamãe! Porém, de uns tempos pra cá, com outros canais abertos passando a exibir épicos bíblicos, eis que a Sessão da Tarde voltou, nessa época pascal, com alguns filmes cristãos mais novos (para a imbecil vênus platinada, qualquer coisa abaixo de 1999 já é antiga e só pode passar de madrugada, nos Corujões da vida), como a fraca série televisiva Jesus (1999), editada e resumida no formato dum filme ou as mais recentes e pífias produções nacionais com o padre-mídia Marcelo Rossi - nada mais esvaziado, se comparado com as minhas doces lembranças cristãs cinematográficas em Cinemascope, cheias do lirismo prévio dos resumos bíblicos da minha mãe sobre aquele Homem-Deus maravilhoso...
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13 comentários:

Ricardo Campos disse...

Oi Dil,

Para os católicos, praticantes ou não, a Semana Santa celebra um momento de reflexão, comunhão e arrependimento, mesmo que no sábado de Aleluia, tudo acabe em uma festa de forró, pagode ou sertanejo (e no Domingo, em ovos de chocolates, rsrsrs! É o paganismo ao lado do sagrado...Enfim, é o catolicismo secular. Enquanto para os protestantes, o ascetismo é para todos os dias do ano, mas a Páscoa também é celebrada, menos pomposo do que para os católicos, mas cheio de signficados também. E com minha fé evangélica também sem ser muita praticada nos últimos anos, mas é bom nesse período relembrar do sacrífico de Jesus na cruz. Por isso tudo, te desejo Feliz Páscoa!

Luci on 6 de abril de 2012 às 20:03 disse...

presentão!
depois que assumi minha vida, a Páscoa mudou um pouco de tom. mas as 3 da tarde é algo que mexe comigo. ainda. e salve d. Dilena!
tentei fazer um jejum qualquer, mas sou fraca e hoje comi frango!
Jeffrey Hunter, o lindo!
Feliz Páscoa, Dil e que não nos esqueçamos dEle!
bj

cineboy on 7 de abril de 2012 às 01:11 disse...

Feliz Páscoa Dilberto! E Rei dos Reis é lindo.Até hoje me emociono sempre com o tom épico e a leitura de Deus do Amor feita por Nicholas Ray(ainda que ele dê privilégios para um Barrabás ultra esquerdista e revolucionário,quase um Che hehe)e encher meus olhos de emoção é quase sempre fácil para esse filme.
Repito ótima páscoa para vc e família,em especial sua mulher e sua filhota linda Isabela!!!

ANTONIO NAHUD on 7 de abril de 2012 às 14:25 disse...

Minha religião é muito pessoal, não tenho ícones, mas não nego que Cristo foi uma figura especial (pelo menos como foi traduzido via bíblia). Gosto do Powell como Cristo, para mim supera todos os outros. Mas a melhor versão da história cristã é a de Pasolini.

O Falcão Maltês

Paulo Telles on 8 de abril de 2012 às 08:31 disse...

Saudosas reminiscências, amigo! Somos de uma geração que já pegou grande parte destes clássicos na TV.

O Primeiro que assisti foi JESUS DE NAZARÉ, que estreou na Rede Globo em 1981 em forma de mini-série que durou duas semanas, sempre as dez da noite, e no mesmo ano, se reprisou no Natal. Dai nunca mais uma emissora de Tv reprisou esta obra de Zeffirelli até que em 1993, a TOP-TAPE HOME VÍDEO lançou este clássico em VHS, e três anos depois, a Record reestreou até com uma nova dublagem.

REI DOS REIS, como belo Jeffrey Hunter, que passei a conhece-lo através desta fita, estreou na TV Globo em 21 de abril de 1984, sábado de aleluia, na Sessão SUPERCINE. Entre todos os clássicos extraídos dos evangelhos este é o meu preferido, sem contar a extraordinária partitura do Mestre Miklos Rozsa.

Esplendido post!

Um forte abraço, Dil, e uma ótima páscoa para vc e a família.

Paulo Néry

Jota Effe Esse on 8 de abril de 2012 às 09:31 disse...

Dilberto, minhas lembranças cristãs são parecidas com as tuas. Lembro que na década de 50 as estações de rádio só tocavam música sacra na Sexta-Feira-Santa. Hoje tocam qualquer coisa. Não sei dizer qual o certo, mas que mudou para pior não há nenhuma dúvida. Meu abraço.

Claudinha ੴ on 8 de abril de 2012 às 15:04 disse...

Dil, meu dileto amigo, em primeiro lugar desejo Feliz Páscoa para você e suas meninas lindas! Fui roubar um pedacim do ovim de Isabela lá no Papai, mas não tem mais comentários... :(

Compartilho de sua opinião sobre as representações e encenações bíblicas. Fui acostumada com todo o exagero nas vias sacras e apresentações em cidades históricas. Naqueles tempos, me arrepiava e enojava o cheiro de galinha morta das penas das asas daquelas moças vestidas de anjos, com 17 anos. Como podiam se prestar a isso? Jesus está bem aqui dentro de mim e assim é mais digno. Porém, o cinema nos traz um pouco dos costumes e nos faz (sempre ) sonhar com sua magia e tem o seu lugar. Não gosto de ver nenhum destes filmes, mas adoro ver documentários que passam nos canais pagos.
Antigamente, na sexta santa, a gente falava baixo, as rádios só tocavam música clássica e meu pai, só permitia clássica em casa também. Não comíamos carne e nenhum barzinho abria na quaresma. Não sei se isso é mau, sei que os tempos mudaram. Tenho vontade de assistir o espetáculo em Nova Jerusalém, viu que o realismo é tanto que noutra cidade um ator quase morreu enforcado??? Ninguém percebeu que ele estava em apuros?
De qualquer maneira, que Cristo esteja com você, assim como a Força, amigo Jedi! Beijos!

Ruby on 9 de abril de 2012 às 09:07 disse...

Sabe que a primeira vez que fui ao cinema foi pra assistir a paixão de Cristo? Era criança e tinha um amiguinho e vizinho que era um pouco maior e ele nos levou, eu e mais algumas crianças, pegou a $$$ com cada um dos pais e foi conduzindo o rebanhinho de guris. Pra mim foi algo inesquecível, os tempos eram outros. Na TV era uma festival de filmes durante toda semana, várias versões da vida de Jesus. Sou cristã, mas não tenho restrição com comidas, carne, peixe, frango, fast food, o que vier, como sem culpa. A última tentação foi polêmico, já a versão de Mel Gibson pra mim foi super fiel, de fazer chorar mesmo. Mas hoje as pessoas encaram de outra maneira essa data que outrora era bem mais respeitada. Os tempos...

Ruby on 9 de abril de 2012 às 09:09 disse...

Ah, sobre a "gracinha" lá no post, não virou o chato da vez não, moço. Só quis bricar, mas sei que vc entendeu. Obrigada pelas palavras lá.

adriana on 9 de abril de 2012 às 20:13 disse...

lindo post, tenho saudade dessa época em que datas como a Páscoa tinham grande significado e eram respeitadas... Hj os coelhinhos dominaram a dtaa, é triste, rs...

recebeste minha mensagem de Páscoa no seu email?

Beijao, amigo!!!

Felipe Rocha on 10 de abril de 2012 às 21:26 disse...

Minha historia eh mto parecida tb... Sou catolico, mas apenas por ter sido batizado e feito primeira comunhao. Nao sou mto praticante nao... Acredito em Deus acima de td, antes de qualquer religiao...
E em relação aos filmes, a semana santa acabou sendo marcada por milhares de filmes todos os anos encenando a historia de Jesus, Maria, José,.... Virou tradição, mto além de se chegar a uma conclusão se eh bom ou nao...

Gilberto Carlos on 11 de abril de 2012 às 08:38 disse...

São muitos os filmes sobre a Paixão de Cristo que merecem ser conhecidos, como A maior história de todos os tempos, Jesus de Nazaré e até Jesus Cristo Superstar (que eu adoro).

Quanto à religião, eu sou católico, apesar de não concordar com algumas coisas que a igreja prega (mas isso é um detalhe).

Abraços.

on 11 de abril de 2012 às 10:34 disse...

É mesmo uma pena a TV aberta se voltar para filmes ruins num feriado como a Páscoa, esquecendo completamente os grandes clássicos. Meu filme favorito para essa época é Ben-Hur, que, apesar de não mostrar o rosto de Jesus, deixa claro o poder Dele.
Abraços!

 

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