quinta-feira, 8 de março de 2012

Porque Há Mulheres e Mulheres...



Eu me lembro de ter ganho, certa feita, uma gincana cultural no colégio em que estudava, tendo sido feita a pergunta derradeira sobre a origem do Dia Internacional da Mulher. Respondi que se tratava de um reconhecimento tardio ao fato de que, casado a outros momentos de luta posteriores, em 8 de março de 1857, mais de 100 operárias novaiorquinas haviam morrido carbonizadas, trancafiadas numa fábrica, simplesmente por reivindicarem condições melhores de trabalho (como equiparação salarial e redução da jornada feminina de então, de 16 horas) - para a surpresa das professoras presentes, que, aparentemente, talvez por eu ser homem (ou talvez mesmo por desconhecerem este fato até ver a resposta nas fichas da gincana), davam como certa a minha ignorância a respeito do tema...

Decerto que hoje, na era da informação virtual em segundos, quase todo mundo já conheça as origens e a história por trás do marco do dia o8 de março... Mas, se naquela época, meados da década de 90, já se dava esse desconhecimento generalizado sobre as origens e a verdadeira razão de ser do Dia Internacional das Mulheres, uma data muito mais de luta e de debates do que de mera comemoração romântica, que dizer de hoje, quando a data se esvaziou quase por completo de sentido, sendo normalmente carregada pelo comercialismo do sentimentalismo barato, pelos comerciais setoriais e propagandas vagabundas e machistas na televisão ou pelas flores, em meio a "lanches especiais", no escritório para as "belas pobrezinhas"? Uma pena, sem dúvida, uma vez que não vejo como homenagear indiscriminadamente todas as mulheres pelo simples fato de serem do sexo feminino: do contrário, seria como enaltecer uma figura de "cota de homenagem para mulheres"!

Até já cantei esta data com ar trovador, tempos atrás, mas hoje estou mais para um merecidamente maior destaque a uma calejada quebradeira de coco babaçu de alguma região perdida do interior do Maranhão do que para o oba-oba da repetição das costumeiramente esvaziadas "mulheres-de-destaque" ou "vencedoras" televisivas de sempre, como Fernanda Montenegro, Gisele Bündchen, Hebe etc. Decerto que algumas, pelo passado, pelo trabalho ou pelas recentes conquistas, realmente marcaram época e merecem encômios, não só pela data de hoje, como sempre: mulheres como a presidenta Dilma e a ministra Eliana Calmon, do CNJ, para citar dois exemplos bem atuais de destaque para desafios na ala feminina - porém, mesmo elas, em meio à forte boa-vontade ou a alguns descuidados deslizes, precisam ainda muito fazer pelas mulheres a serem homenageadas, ocupantes que são de reconhecidos lugares de poder.

Porque há mulheres intelectuais, "princesas" e "cachorras"; mulheres políticas das lutas sérias e "governadoras guerreiras" de araque das propagandas coronelistas; donas de casa e executivas... Em resumo, há mulheres e mulheres: todas numa acirrada luta, cada uma ao seu modo (cada mulher que arranje suas armas e seu modo de lutar), pelo seu lugar ao sol no acirrado universo ainda muito masculinizado. E, na falta desta tal conscientização plena, geral e irrestrita, no tanto que se há de diminuir a glamurização da data e no quanto nós ainda devemos lutar por nossas irmãs esquecidas, hoje não teço odes às inúmeras Marias da Penha largadas à margem da Justiça, ou às Claras Charfs, Marinas Silvas ou ainda às distantes Irmãs Dorothy; tampouco me alongarei nas críticas às apenas "vencedoras" (que nada fizeram além da sua obrigação: que sirvam de exemplo, sem maiores delongas!); mas rendo-me à esperança futura: esta postagem é dedicada a minha doce filhinha Isabela, cujo longo caminho pela frente espero ser pleno de conscientização e de afazeres femininos por um amanhã melhor e mais doce para todos ("e todas")!
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9 comentários:

Gilberto Carlos on 8 de março de 2012 às 08:21 disse...

Eu já conhecia essa história do porque se comemora o dia da mulher no dia 08 de março. Um fato realmente chocante.

Marina Queiroz on 8 de março de 2012 às 09:48 disse...

Como pró eu conheço esta história... ensino sempre aos meus alunos... muito interessante o seu texto, porque o fato é que ainda temos um longo caminho pela frente. E que Ana Letícia e Isabela possam trilhar um caminho diferente!!!!

Unknown on 8 de março de 2012 às 16:39 disse...

Bravo, Dilberto!

As mulheres, que inclusive geram e alimentam os homens, aqulas podadas em seu direito de ir e vir, e outros tantos sofrimentos.

Agora ler este post ao som da Bachianas de Vila Lobos, enternece qualquer cimento que por aqui passar.

Beijos

Mirze

adriana on 8 de março de 2012 às 18:22 disse...

Parabéns pela resposta na gincana, sorte dos que jogavam no seu grupo, rsrs...

As tuas palavras, como sempre, são de extrema sensibilidade! Parabéns a todas as mulheres sensíveis, lutadoras e vitoriosas.

beijao especial para Jandira e Isabela!

Felipe Rocha on 8 de março de 2012 às 19:36 disse...

Já tinha ouvido mais ou menos a respeito dessa história... Mto legal saber disso...

Ótima postagem... As mulheres definitivamente têm seu posto fundamental na vida de todos nós! Seja historica ou culturalmente, devemos mto a elas!!!

Respondi lá ao seu comentário sobre meu post... rsrs.

Um abração!!

cineboy on 9 de março de 2012 às 01:08 disse...

Todo dia é dia das mulheres.Eu não vivo sem uma,em especial,minha eterna amada Ana Célia.Minha Deusa de ébano! Descobri desde bem novo que elas são tudo,são enebriantes,são viciantes,são ternas,são zangadas,aiai,são loucas,hehe,são apaixonantes demais,são o milagre maior do planeta,são respostas para a vida ter algum sentido,ok junto com o cinema também(hehe)e pra mim ao menos,são tudo e muito mais.
Mulheres são a metade melhor que me faz querer melhorar.Mulher me mata de prazer e são ótimas companhias nos momentos que nos sentimos sós.

ANTONIO NAHUD on 10 de março de 2012 às 13:32 disse...

Realmente "há mulheres e mulheres..."

O Falcão Maltês

Jota Effe Esse on 10 de março de 2012 às 15:53 disse...

Haverá de ser, haverá de ser... Cresça, Isabela, e apareça, o mundo precisa de você. Eu já conhecia a história dessa tragédia com as mulheres daquela fábrica, mas andava esquecido. Obrigado por me lembrar. Meu abraço.

Claudinha ੴ on 11 de março de 2012 às 16:46 disse...

Olá Dil!
Eu vi imagens deste dia num documentário do HC. Trouxas caindo de um prédio incendiado. Eram mulheres e suas roupas longas que se jogavam das janelas. Houve também, na mesma data um protesto na Rússia ou Alemanha em 1910 e outras atividades a que são atribuídas os possíveis motivos da escolha do dia 8 de março. Mas o mais famoso é mesmo este das novaiorquinas.
Gosto particularmente da homenagem, mas prefiro pensar que todo dia é nosso dia.
Lindo você pensar em Isabela e na mulher que ela vai ser um dia. Que o mundo esteja mais belo para ela, para minha Ana, para nossos descendentes! Um beijo!

 

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