Não, não se tratava do Vasco nem de Futebol – a paixão maior era outra...
O nome, por si só, parecia até tirado de algum clássico da Nouvelle Vague: ao mesmo tempo nababesco e cotidiano! Afinal, a ideia ia mesmo do simples a uma epopeia: sem sede física, o Clube seria a união de um grande número de associados – ouvintes do programa de rádio e assíduos das mostras que aqueles amigos e eu produziríamos –, com centros acadêmicos ou serviços sociais autônomos estruturados – entidades associadas (faculdades, SESC, SENAC etc.), onde seriam realizadas as exibições – e algumas empresas parceiras – responsável pelos patrocínios, apoios culturais (vídeos para as mostras, CDs para os programas de rádio etc.) e divulgação de nossos trabalhos (mídias locais)... Tudo assim seguiria até que, com o passar do tempo e se tudo desse certo, o Clube crescesse como um grande centro cultural, capacitor de recursos para a fomentação de novas produções locais e cursos profissionalizantes, para novos sonhadores do audiovisual...
Mas, como tudo tem que ter um começo, este se deu em 26 de março daquele conturbado 98 – e, modéstia à parte, de forma bem pouco modesta: de cara, Sérgio Roonie B. Ferreira e eu, juntamente a Lígia Calina F. Brito (que conhecemos graça à sessão de cartas da revista SET!), fizemos algum sucesso com o programa de rádio Estação Cinema, pioneiro no Maranhão só com trilhas sonoras e informações sobre a 7ª Arte (e em que, inicialmente, eu era o "locutor", mesmo afetado em minhas leituras de nosso texto ao microfone), na Universidade FM, e com uma mostra de clássicos no auditório do SESC-Deodoro, tudo bem divulgado nos jornais locais! A ideia inicial era realizar formação de plateia, com debates nos moldes dos antigos cineclubes, em exibições de genialidades como Amarcord, Meu Tio e Rio 40º, e se popularizar com a rádio – tudo isso na última semana do mês de março, com o gancho do Oscar, a midiática festa norte-americana do Cinema.
Cheguei até a redigir um estatuto de personalidade jurídica, a fim de oficializar tudo documentalmente, especialmente para captar recursos a órgãos públicos ou empresas, com a presença de um então terceiro amigo sócio-fundador... Porém, mesmo com certa popularidade e ampla divulgação na imprensa – matéria de primeira página dos cadernos culturais ludovicenses por várias vezes e participações noutros veículos de rádio –, dificuldades com a Rádio (sem patrocínio e ninguém do Clube na área de Comunicação, éramos pressionados pela emissora), nossa pouca disponibilidade de tempo e o amadorismo latente em tudo (sabe aquele estatuto? Pois é, nunca o registrei...) acabaram se somando e limando os nossos sonhos no peito: chamei os amigos, fui objetivo e percebi que o melhor seria interromper os trabalhos, exatamente seis meses depois, em setembro do mesmo ano.
Deixávamos, tristemente, a cena do espaço cultural, mas não sem antes termos feito História... Ah, Estação Cinema, quantas saudades daquele divertido processo de elaboração de cada programa: Sérgio e eu lembrávamos de algumas canções de filmes famosos; elaborávamos textos, pequenos e grandes, a depender do destaque que daríamos para cada filme ou trilha (com os textos intercalados entre os blocos de músicas tocadas); e eu gravava, ao lado de alguma locutora profissional (que possuía deixas e perguntas em nossos roteiros), horas antes de ir ao ar (somente alguns dos últimos foram ao vivo)...
Depois da ruptura, Lígia afastou-se um pouco dos holofotes, restando Sérgio e eu, sem mais compromissos com o Clube, a manter acesa a chama daquele sonho cada vez mais distante, sendo contratados esporadicamente para palestras e debates sobre Cinema em mostras e cursos realizados, em sua maioria, pelo SESC e pelo UniCEUMA... Até ensaiamos um "retorno" em 2001, meses antes de Sérgio ir para o Rio realizar o sonho de estudar Cinema, mas tudo não passou de um devaneio saudosista do Clube, frustrado depois de alguns dias de mostra num desorganizado evento de uma faculdade local. Até pensei mais uma vez, um dia, ser possível erguer novamente o Clube dos Amantes do Cinema, agora com uma forte parceria estatal, mas nada foi adiante...
Apesar de tudo, ainda hoje penso no Clube, tanto nas saudades de suas realizações como na chance de trabalhar nele outra vez, especialmente depois deste último domingo, 26, em que ele completou 8 anos de fundação: mesmo com as atividades realizadas de forma irregular ao longo de todos esses anos, gosto de pensar no C.A.C. como um sonho que nunca acabou realmente - e que, a qualquer momento, pode estourar novamente, em parceria com algum Amante de Cinema desgarrado...
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