
Nunca fui de carnaval, mesmo ainda bem criança, quando, nas vesperais do Clube do Lítero, percebia outros meninos que, como eu, não sabiam o que ali estavam fazendo a não ser que para agradar os desejos foliões dos pais... Gostava menos ainda da batida forte das colossais caixas de som, que fazia vibrar o chão e que me incomoda até hoje, parecendo agressão ― especialmente pelas costumeiras músicas de péssimo gosto da época, da Xuxa, passando pela explosão do "axé" baiano até as atuais marchinhas maranhenses com suas tosquices explícitas...
Gostava, entretanto, quando podia ser, mais tarde, ainda na infância, o super-homem, o pirata ou o fofão., porque podia ser qualquer dessas coisas em qualquer lugar. Como no refúgio da casa de meus avós, onde era deixado para que meus pais e o meu irmão pudessem "pular" carnaval: lá eu pude começar a admirar meu avô a ouvir sambas de qualidade, brincar com confete, talco (ou maisena) e serpentina com meus primos menores e assistir aos desfiles pela TV, que iam até quase às 9 da manhã do dia seguinte (Mangueira, que sempre admirei, de dia, quase apagada)...
Apesar de nunca ter visto com bons olhos a volúpia latente à flor da pele, o "ninguém é de ninguém" e o "fica-fica" de beijo e sexo gratuitos, com as passarelas repletas das "modelos" a desfilar para a primeira revista masculina como carne em exposição, sempre apreciei a nudez das esculturais mulheres, com seus maravilhosos seios e bundas cobertos apenas de purpurina ― com certeza, minhas primeiras experiências como "menino-homem" diante da televisão...
Gostava ainda dessa época de Momo em que, na casa do amigo Ricardo Alexandre, alguns anos depois, seus pais e tios faziam da garagem da frente da casa um grande galpão para a confecção de fantasias para os desfiles locais, enquanto Ricardo e eu aproveitávamos para desfrutar, com suas lindas primas e vizinhas, de secretos "cai-no-poço" e "salada mista", nos quartos dos fundos... Vivia então o carnaval de meus 11 pra 12 anos pelas ruas do Maranhão Novo, bairro que, além de acompanhar nossas divertidas batalhas com "bazucas de cano" (pelas poças das "chuvas de carnaval" da noite anterior), presenciou também a "evolução" daqueles ateliês improvisados até a formação do bloco Jeguefolia, do pai de Ricardo, S. Raimundo, capaz de "criar", dentre outras atrocidades, a Dança do Jeguerê, a mandar os foliões abrir as pernas e levantar a "tromba" (e, pior de tudo, por cima da bela marchinha Coração Corintiano).
O último carnaval que "brinquei" aconteceu há 10 anos, no hoje extinto Clube Jaguarema: desiludido com a namorada da época (as eternas separações da folia...), simplesmente "fui" para o baile da "segunda-feira gorda". Com meu peito doído pelo amor pisado, acabei acompanhando tudo como um observador distante: a maioria das pessoas bebendo, cheirando loló ou fazendo as ousadas coreografias e eu assistindo a tudo como se fosse a última vez... Ali ainda pude presenciar o porre do amigo Flávio Augusto, a "dança do saci" de Sérgio Ronnie (pulando com o pé torcido após uns amassos com minha prima nos fundos do clube!) e terminei a noite conversando sobre assuntos de outros mundos (incluindo Religião!) com amigos de velhos carnavais, enquanto apreciávamos a bela fauna feminina do local.
Enfim, nunca mais gostaria dessa festa, especialmente o atual, quando carnaval é todo dia e o oba-oba em torno de gigantescos e lotados shows de "axé" e de "forró" são constantes o ano inteiro... E, com a folia e as canções todas iguais, nenhum carnaval, para o bem ou para o mal, parece marcar mais ninguém...
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