Cruzes!
"Um encanador que sofria de dores crônicas no abdome e sangramento no umbigo finalmente resolveu o seu problema. E de um modo inusitado: o inglês "pariu" um gêmeo depois de 30 anos. Gavin Hyatt trazia na barriga, sem saber, restos embrionários do irmão que não nasceu.
'Foi como se fosse o filme Alien. Eu não acreditava em Gavin quando ele dizia que algo saía do seu umbigo até que eu vi', comentou o médico Joe Santos, que realizou a cirurgia para extração do pequeno irmãozinho do encanador de Oxfordshire." (extraído de Page not found: Fernando Moreira, publicada originalmente no The Sun)
Sei que esse tabloide inglês inventa muita coisa bizarra, já é de seu feitio, mas essa aí, de tão esdrúxula, acabou virando "verdade" de tão recontada em inúmeros outros 'sites' e rodada por 'e-mails'. O pior é o final da tal matéria: o tal inglês guarda agora o "maninho" (feto que cresceu 4 cm ao longo das 3 décadas) num pote (foto)!
O macabro... Ah... O macabro!
Por que isso chama tanta atenção? Por que junta tanta gente diante do 'freakshow' de alguém deformado pela natureza, para ganhar algumas moedas em praça pública? Por que uma batidinha de carros provoca um engarrafamento bem maior que a obstrução dos carros na pista? Pois eu lhes digo, amedrontados blogueiros de plantão: o ser humano adora o macabro, tanto o distante, num mero filme de Horror, como o imediato, os destroços de uma tragédia que poderia acontecer com você... Deformidade... Corpos no chão... Sangue... "Morreu alguém?" é a primeira coisa que se escuta no ar... "Não" "Aahhh..." Trágico...
Não me estico para ver ninguém inchado ou com duas cabeças ou ensanguentado à beira da morte à beira da estrada, não: viro a cara! Mas fico invocado com essa invocação humana, independente de raça, sexo, posição social ou credo... Na verdade, até as religiões têm seu pé no macabro: ou alguém aí já se esqueceu dos sacrifícios e dos assassinatos epopeicos bíblicos ou ainda do sangue animal derramado em rituais de alguns cultos africanos?
Contos da Cripta!
É legal sentir medo: o gostinho de algo maior que nós é estressante e inspira, até hoje, todo o entretenimento em nossa volta... Tinha medo dos filmes de Terror quando menino, mas depois o gostinho e a curiosidade tomaram conta e, mesmo com medo e com um dedo no 'pause' do controle, aprendi desde cedo a amar todas as fitas, de Zé do Caixão ao 'terrir' 'gore' da série Evil Dead, de Twilight Zone a Contos da Cripta, naquelas inspiradas estórias curtinhas e cheias de continuação... É, as Artes não se cansam de brincar com nossos medos e angústias: de Mary Shelley a Stephen King, de Greenway a Lars von Trier, as góticas e angustiantes artes do medo, do sangue e do incômodo visceral sempre reinaram! E eu, que recentemente ando relendo Sandman e passei a ter pesadelos (especialmente com a estória mais assustadora que já li, aquela de Sandman 6!)... E gostei de me assustar com o incômodo cru e feito na raça de O Massacre da Serra Elétrica, que adquiri recentemente... E me diverti com o sucesso de divertidas séries televisivas, como Supernatural... Coisa estranha...
O 'Halloweeeeen'... Não é aquiiiii...!
E tudo isso por quê? O fim dos dias está chegando...? Não necessariamente: é que se aproxima uma data que nós, colônias culturais, andamos importando dos anglo-saxões, o tal 'halloween', o Dia das Bruxas (que antecede o católico Dia de Todos Os Santos - 'halloween', na realidade, é uma versão encurtada de "All Hallows' Even", Noite de Todos os Santos, ou seja, véspera do Dia de Todos os Santos, 'All Hallows' Day'): antes restrita aos cursinhos de Inglês (época em que até eu participei das brincadeiras e comi os doces sem-gosto típicos dos EUA nessa época, nos idos de meus 13 para 14 anos), esta longínqua festa celta foi incorporada ao calendário Inglês, posteriormente ao estadunidense, graças à colonização, agora por aqui também, até em festinha de boate de quinta...
Acho mórbido esse negócio de importar coisa alheia porque a grama do vizinho é mais chique que a minha: morro de medo dessa invasão alienígena, mais do que num clássico 'trash' dos anos 50, como A Bolha! Misturemos culturas neste gostoso caldeirão modernamente globalizado, mas, poxa, logo a gente, que cresceu ouvindo estórias de arrepiar na fazenda de alguém próximo, com o boitatá, a mula-sem-cabeça e o Currupira, vai sair adorando bruxinhas celtas sem graça ou vampirinhos de filmes adolescentes panacas?! Qual o quê... Muito mais gostoso sentir medo em Português! E viva o Saci!
Em alguns lugares do País, já se realiza uma gostosa e criativa resposta de valorização do "produto nacional": em São Luís do Piaratininga (SP) se realizará no próximo fim de semana a segunda edição do Dia do Saci!