sábado, 28 de novembro de 2009

Eu tenho medo...


"Eu tenho medo. Também estou com medo de não poder dizer que estou com medo, de ser ameaçada de processo por discordar. Tenho medo de alguém que recorre a ofensas pessoais. Não tenho medo das atrizes mais jovens, a quem sempre dou minha ajuda"... Os caríssimos blogueiros de plantão se lembram deste discurso? É da veterana atriz Beatriz Segal em 2002, no horário político do então presidenciável José serra, em resposta às colocações de Paloma Duarte no horário do PT, por sua vez em resposta às declarações de uma Regina Duarte amedrontada com a então ascensão de Lula nas pesquisas - aquele famoso "Lula vai botar fogo no Brasil", alardeado à época também pelo inconstante-com-cara-de-idealista Ciro Gomes... Hoje, às vésperas de novas eleições presidenciais, depois de oito anos no Poder de intensas mudanças de um "Lulinha Paz-e-Amor" (que poderia ter sido tão melhor sem o PMDB...) não botou fogo em nada! Mas aquela declaração angustiada de Regina ainda repercute em minha cabeça, agora com outras vertentes...

Nada contra tribos ou o (mau) gosto de ninguém, mas parece que não há mais personalidade no ser, no vestir ou no portar-se... Livros e filmes, por exemplo, são lançados em série para um mercado de consumo em massa que hoje parece bem mais despreocupado com a qualidade, contanto que aquilo ali seja 'cool' para a imensa maioria... Saudades dos tempos em que um produto artístico era cultuado não porque "tinha que ser assim", mas por causa de seus atributos de qualidade: as listas de 'cult movies' iam então do 'trash' divertido de RepoMan - A Onde Punk e Rock Horror Picture Show ao classicismo e à respeitabilidade de um Casablanca ou de um Amarcord... Bons tempos que parecem não voltar mais...

Ainda me lembro de minha adolescência, onde meus amigos e eu sempre citávamos e imitávamos frases memoráveis como "Obi-Wan never told you what happened to your father?... No, I am your father!" ou "Deus me conceda o poder da vingança, Messala" de clássicos da Sétima Arte de diferente épocas e estilos, mas que guardavam entre si uma qualidade sempre rememorável... Este último, por exemplo, Ben-Hur, completou neste mês de novembro 50 anos de existência, ainda um clássico absoluto, definidor do gênero Aventura e divisor de águas do subgênero Épico (só a corrida das quadrigas, para citar apenas uma sequência marvilhosa, ainda tira o fôlego de quem assiste pela primeira vez nesses tempos em que edição de ação virou sinônimo de imagens irresponsável e sofridamente trêmulas à Michael Bay!), ao narrar a saga (isto, sim, e não aquela presepada sem graça daqueles vampirinhos metrossexuais de Crepúsculo ou aquele pirlimpimpim sem criatividade de Harry Potter...) de um rico judeu que é escravizado por capricho de seu amigo de infância Messala (e aqui vão aquelas eternas discussões homossexuais - não por acaso, Rock Hudson recusou o papel que acabou nas mãos de Charlton Heston por causa desta preocupação sexual...) e as reviravoltas que lhe dão a chance de se vingar, conquistando as bilheterias do mundo todo em 59/60 e arrebanhando merecidos 11 Oscars (feito só igualado posteriormente pelo tolo Titanic e pelo interessante O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei, recentemente).

Saudades dos tempos em que a personalidade dizia mais sobre o que viria a ser consumido - hoje, qualquer filme bem lançado e ricamente embalado arrecada milhões sem necessariamente apresentar qualquer qualidade (algo parecido com o sem-gosto hambúrguer do McDonald's)... Saudades dos tempos em que minorias eram realmente minorias e não estes verdadeiros sindicatos 'lobistas' e sem graça, que parecem pleiteiar-se como obrigatoriedades... Saudades do dublador daqueles geniais clássicos que passavam na Sessão da Tarde, sempre começando com uma "Versão Brasileira: Herbert Richers" (famoso produtor de cinema e dono do maior e mais famoso estúdio de dublagem brasileiro, morto na semana passada) - hoje tenho que aguentar o sono para ver um bom filme na TV, porque qualquer coisa produzida antes de 1995 é considerado "velho demais" para uma geração de adolescentes em sua maioria esvaziados artisticamente e que parecem adorar "sagas" pré-fabricadas...
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4 comentários:

Jens on 29 de novembro de 2009 às 16:22 disse...

Oi Dilberto.
Até onde me lembro, na aurora da minha vida os jovens também tinham um comportamento tribal no que diz rspeito à vestimenta e preferências culturais. Houve um tempo, por exemplo, em que a calça Lee, boca de sino, e o tênis Bamba, branco e de cano curto, era uniforme obrigatório; quem não houvesse lido os livros de Carlos Castañeda era um alienígena, da mesma forma os que não tivessem assistido O Exorcista. Da mesma forma, Do you wanna dance era audição obrigatória em todas as reuniões dançantes de garagem.
Quero crer que este comportamento é natural da juventude de todos os tempos, que busca na semelhança a afirmação e superação de dúvidas existenciais. Na minha opinião, Trata-se de um processo inerente à integração social. Quanto às opções de cada tribo, trata-se de uma questão de gosto, que pode ser bom ou mal, conforme o freguês.
O que me assusta, hoje em dia, são certas idéias que sociais que circulam por aí. Confio, no entanto, nas observações dos poetas, estas antenas da raça: o tempo não pára e o passado não volta.

Um abraço.

Игорь on 30 de novembro de 2009 às 19:16 disse...

Oi Dilberto

Post surpreendente .

O politicamente correto me assusta ...

Ele tem um pé muito facistóide .

Abraços e boa semana ( fiquei pensativo )

Anunciação on 30 de novembro de 2009 às 23:41 disse...

Nossa,eu só tinha dez anos?me parecia que eu já era grande e não esqueço.Viajei agora,foi no Roxy(não passava filme pornô nesse tempo,rs).

Scorpys on 1 de dezembro de 2009 às 16:28 disse...

Humm,o colega Jens,citou o bamba branco..rs eu lembro mas eu usava(e uso) all star,mas foi como ele disse,tudo é modismo,ja,ja passa.O que me assusta é essa violência gratuita que está por ai,isso eu espero que passe de uma vez,queremos Paz.Tenha uma semana deliciosa,
beijusssssss

 

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