Olhando-a assim
Ao longe e por cima
Ela até parece um coração
Pulsação antiga
Quase ilha menina
Amor-Açu
Ao longe e por cima
Ela até parece um coração
Pulsação antiga
Quase ilha menina
Amor-Açu
Pequena de grandes proporções
De curvas e reentrâncias
Tão ela
Paixão escondida em cada esquina
Mais parece enorme caravela
Pronta para desbravar
Pelo mar
À deriva
Adoece de perdida
Sua doce e pobre loucura suspensa
A me perturbar
Por sobre telhados
Pesa o ar em volta e congela
O passado
Às vezes volta
Para assombrar
De carruagem, por galerias
Pronto para apertar ainda mais
Cada viela
E me sufocar
Pelas ruas esquecidas
Faz amor encantada
O que foi isso
Canto de praia
Volta lagoa com vista pro mar
Entorpecida Cantaria
Cada delícia de gesto dela
É gostoso de lembrar
Terra de pele macia
Branca areia gostosa
De frutos e gostos e nomes
Só dela
Tão meus
Só daqui
Isolados pelo vento:
Beiju de cuxá
Beijos de buriti e cupuaçu
Moqueca de juçara
Caranguejo no azulejo
Sexo doce de bacuri
Camarão ante o babaçu
Torta de amadurecimento
Moqueca de contemplação
Hidratante esfoliante de murici
Olhando-a assim
En passant
Crescendo e crescida
Até parece um croissant
Que, desinibida e à francesa
Nasceu pra ser
Certeza
Que ela é toda diferente
É japonesa gueixa
Bunda negra regueira
Musa italiana
Esfirra árabe com alho e sal
Tantas é como gente
Entre horizontes e pontes
Da periferia ao Centro
Em fins de tarde quentes
Renascendo do olho d'água
Pelos calhaus refinados
Catacumbas lambadas de serpente
Até o fim cemitério
Choro nas mãos da Mãe de Deus
Eu a conheço por inteiro
Cada recôndito
Segredo e mistério
São meus
Não mente
Simplesmente são
Olhando-a assim
Parece até o punho fechado
De minha mão
(Dilberto
L. Rosa, setembro de 2019)
Ilha que cresce mulher e amor em cada
canto: uma pequena homenagem aos 407 anos de São
Luís.
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