domingo, 1 de setembro de 2019

90 Anos de Um Adorável
Marinheiro Fora de Seu Tempo...

S for Superman? No: for Spinach... O cômico Super-Homem do mar, criado por Elzie Segar,
 estreou nos Quadrinhos em 1929, como coadjuvante turrão das tiras Thimble Theatre
cujos protagonistas, dentre outros, eram os membros da Família da Olívia Palito.

O título original em Inglês do filme norte-americano Onde os fracos não tem vez (Ethan Cohen, 2014) é, na verdade, Este País não é para velhos (ou Sem lugar para os velhos, numa tradução mais livre), em referência direta ao velho xerife Bell, vivido por Tommy Lee Jones, e representa claramente o quão anacrônico sente-se o protagonista, em suas memórias de que o bem e a ordem sempre costumavam vencer, diante do sadicamente monstruoso assassino Anton Chigurh, vivido magistralmente por Javier Bardém, que parece representar os "novos e incontroláveis tempos"...

Parecem bonequinhos de vinil já prontos para vender!
Senti isso, só que de uma forma inversa, em relação ao que acabei de ver, numa dessas fuçadas de final de semana na internet pelo PC (pelo celular, só a velocidade das notícias): a nova série de desenhos animados do Popeye nada tem a ver com aquele antigo sujeito anárquico, feio (além dos braços deformadamente musculosos, era caolho e tinha a boca torta), grosseirão, briguento e que falava errado do passado, mais parecendo um comercial para vender brinquedos para crianças menores de 5 anos! Com visual fofinho e direito a "espinafre orgânico" (!), sem cachimbo (substituído por um apito - fumar é mau exemplo!) nem a deliciosa "ultraviolência" dos antigos cartoons, tudo soa bobo e sem alma, até o desfecho corrido com a expulsão de um Brutus sem barba (barba agora também é mau exemplo?) numa traquitana voadora, ao pôr-do-sol... 

Esqueça os "macacos me mordam" e "pelas barbas do camarão", saudosamente dublados por Orlando Drummond ao longo de quase toda a carreira televisiva do personagem - até porque a nova animação se desenrola em breves curtas sem diálogos e, atualmente, o maior dublador brasileiro se encontra aposentado e prestes a completar 100 anos agora em outubro... Nem se anime mais com o moderníssimo primeiro "trisal" dos Quadrinhos (muitas vezes o Brutus era vítima da sedução de Olívia, coisa que Popeye tinha que aceitar pacientemente...), ou ainda com as divertidas discussões acerca de eventuais "metáforas" contidas nas "laricas" do Dudu ou do próprio "verdinho enlatado" que deixava o protagonista alucinadamente forte (canábis?!)... Mesmo o nome do herói, pop eye, "olho estourado", pelo fato de ser ele caolho, já vinha sendo "remediado" ao longo de outras séries, em que se passou a ver somente um "olho fechado" (que, por muitas vezes, se abria)... A onda agora parece recondicionar tudo em pequenos videoclipes e 

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Que saudade do Robin Williams...
No entanto, eu me recuso a esquecer esse maravilhoso personagem, que viveu por tantos anos na minha infância: amo até hoje o Popeye feito para o Cinema nas animações dos Irmãos Fleischer, da década de 1930 (todos aqueles com a abertura na proa de um navio, abrindo-se uma escotilha para os créditos), que passavam já colorizados no Xou da Xuxa, bem como das últimas temporadas do Famous Studios, nos anos 1950 (sua melhor fase animada) - sem esquecer do preciosismo de fidelidade do filme live-action Popeye (Robert Altmann, 1981 - Disney), lindamente reproduzindo gags das primeiras tiras (em que a família da Olívia Palito era o destaque) e desenhos animados em meio a discretos números musicais, tudo com uma atuação soberba do saudoso Robin Williams - chegando a emular o andar e os famosos resmungos incompreensíveis do invocado marujo!

Até gosto um pouco, pelo saudosismo, de algumas outras tentativas de "corrigi-lo" e torná-lo politicamente correto desde os anos 60, na King Features Syndicate, com seus inúmeros personagens criados diretamente para a TV, como o chato Eugênio (o "Jeep" Mágico) e a Bruxa do Mar, e suas "desanimações" (animação bastante limitada com os orçamentos apertados) amplamente exibidas e repetidas no programa do Bozo... Mas minha paixão é pelas historinhas bem animadas do período clássico, em que ele oscilava entre um marrento cara brigão e o bom sujeito capaz de levar flores para Olívia e ensinar aos seus sobrinhos (outra criação televisiva que não existia nos Quadrinhos) as vantagens de se ter uma boa alimentação (e muita força!) comendo-se espinafre!

Tanto é que, mesmo antes de saber que o Popeye completa 90 anos nesse 2019 (comemorados em janeiro), escolhi o delicioso tema de abertura dos desenhos dos anos 60 para se tornar o meu despertador no celular no início desta semana, depois que o do meu relógio deixou de funcionar - e qual não foi a emoção ao acordar, às seis da manhã, com aquele famoso "pu-pu" do cachimbo, seguido da canção I'm Popeye The Sailorman (de Sammy Lerner, em 1933) - que usava, de forma intercalada, a tradicional música naval britânica The Sailor's Hornpipe (do século XVIII, que fez até a Rainha Elizabeth II dançar!)... Emoção que acabou tomando a casa toda naquele finzinho de madrugada que, pela primeira vez, entoou pela casa, mesmo para os meus filhos pequenos, que em nada conheciam o universo do divertido velho lobo do mar caolho... Assim, espero muito, de coração, duas coisas de agora em diante: muito em breve lhes mostrar o melhor do Popeye original; e não ficar a adorável canção de uma tão saudável nostalgia minha comprometida com a irritante rotina do despertar!

Tudo bem que ele soe mesmo ultrapassado por refletir tanto o seu tempo - comportamento extremamente machista em relação a Olívia (brigas por ciúmes possessivos; caçoava dela em algumas situações vexatórias); parecia só saber resolver seus problemas descendo o braço (e, estranhamente, parecia só atrair a Srta. Palito quando isso acontecia)... Mas ainda acho preocupante toda esta leva de "atualizações" de antigos personagens! Qualquer dia desses, além do Popeye, Pernalonga, Pica-Pau e toda uma geração de personagens "politicamente incorretos" se tornarão doces escoteiros fofinhos para agradar uma geração que se diverte com Baby Sharks no YouTube e zumbis nos videogames (santa contradição, Batman!)? Ou, de repente, atirar uma bigorna - ou, no caso, uma âncora - num desenho animado acabará sendo considerado crime - especialmente diante da possibilidade de alguma criança querer repetir em casa...
"Eu sou o que sou e isso é tudo o que sou"..!
 

+ voam pra cá

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