Era uma vez uma igreja que inventou o Natal... A ideia até era boa (e serviu bem tanto como dominação quanto como inspiração): criando-se uma mágica meia-noite de um 25 de dezembro qualquer, conte-se a história de um pobre menino-deus, que, nascido entre bichinhos de um presépio de São Francisco de Assis, cresceu pra falar de um Comunismo espiritual - até que alguns judeus do mal, da religião dos comércios em geral, juntaram-se aos ditadores romanos pra botar o tal homem na cruz (exatos 40 dias depois do carnaval!)... Muito tempo depois, grandes empresários judeus americanizados usaram um avermelhado Papai Noel da Coca-Cola para expurgar Jesus desse feriado, fazendo do Natal um festivo comércio lucrativo, sem presépio ou estrela-guia, mas com toques de "magia" - que, por sua vez, no seu Cinemão, santificou reconciliações de famílias disfuncionais, ao som de alta trilha xaroposa, com o Bom Velhinho, muita neve pelo ar e pinheiros e renas e elfos de brinquedo... para todo mundo comprar!
Tanto que, por aqui, não ficamos muito atrás - e tome barbas de nylon de papais noéis morenos e cheios de enchimentos pelos shoppings insuportáveis de neves de espuma barata em meio a 'sales' e 'offs' importados juntamente a "árvores" de plástico que somos obrigados a aguentar... das vitrines ao nosso lar! E viva o tal Natal - na medida do possível: da felicidade vazia das compras abissais às confraternizações perfeitas das famílias dos comerciais... Todos se encham de comida e de bebida, a sorrir para as fotos da noite cheia de "magia" - que, depois de sete dias e mais esbórnia ainda, de tudo se valham, como desculpa, na "passagem" para um novo ano (e tudo de novo recomeçar)...
Mas nem tudo está perdido: existem uns cantos que arrumamos, singelos, mas tão bonitos, onde guardamos nossos mais caros relicários... São pertences de priscas eras, um amor perdido de quimera, livros e revistas empoeiradas, miniaturas das mais juvenis... Brinquedos de uma fábrica que criamos, de refúgio, ao longo dos anos, purgando pequenas, porém doces transformações! Um canto da casa, do ano, da vida, onde nos isolamos para escapar de tantos mundos perdidos, do que ainda não deu para conquistar... Aí, de alma mais lavada, cá entre nós, parece que nem toda igreja se quedava errada - e aquele ilustre Camarada ainda pode, e muito, nos inspirar! E, por que não, deixando aflorar um traço mais judeu, cada um compre o que é seu e alegre um ou outro que lhe são caros... Decidi arrumar melhor esses tantos dos meus cantos - e, quem quiser, que me compre um belo relicário!
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