Minhas mãos, estranhamente, começam a suar vermelho - como se derretessem... Discretamente, corro cabisbaixo para o banheiro e me tranco para descobrir o que receava: da face já escorre, por baixo da barba, um caldo lilás, e não há papel higiênico que absorva ou controle o tanto que se esvai! Eu sabia - e já me haviam alertado num meme que sempre recebia, a essa época, mas ignorava: tanto poderia ter sido o forçado ouvir da "Palavra", quanto o excesso de sorrisos e efusivos apertos de mãos ou ainda o sem-número de fotos de cada confraternização... O certo é que agora não havia mais saída: logo seria meia-noite, tudo se concentraria e eu poderia não sobreviver! O estranho é que, pra mim, antes de começar a deixar de ser, poderia jurar que faltava pouco para o Natal e, agora, torcendo para que o corredor silenciasse e eu, afinal, pudesse fugir pela área de serviço direto pelas escadas, só ouço "feliz ano novo" aos gritos e risadas, a me atormentar meu resto de lucidez - Há quanto tempo estou aqui, meu Deus?...
Fiando Sim, eu me encontro exaurido
neste ano, mais do que perdido,
Às portas das alegrias emolduradas,
Presenteadas e muito bem editadas
De qualquer Natal de rede social
- Ando sem apetite, não quero ceia,
Só em saber que por aí gorjeias
Pelos shoppings da Capital...
Acho que peguei uma distensão,
Diarreia de sonhos e imaginação
Só de olhar salpicão e pavê
(Medo mesmo de tudo isso ser contagioso
Nesse tempo lucrativo de gosto duvidoso
Em que nada recebi de você...)!
(Dilberto L. Rosa)
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