terça-feira, 19 de junho de 2007

É Guarnicê!


Estive no encerramento do 30º Festival Guarnicê de Cine-Vídeo (17/11, promovido pelo DAC da UFMA), antigo "Jornada Maranhense de Super-8" dos anos 70, quando então despontavam nomes como o do mestre maranhense Murilo Santos (diretor, fotógrafo, editor etc.), merecidamente laureado com um prêmio pelo belo documentário O Caso da Ulen, que não só revive um dos mais famosos crimes do Maranhão (o assassinato de um possível "tio" do Presidente Kennedy, representante comercial da multinacional Ulen, responsável pela companhia energética do Estado na década de 30) como também cobre um rico panorama de nossas raízes étnico-sociais e culturais, o único filme a que assisti (exibido no DocTV do último dia 17, na TVE), uma vez que uma virose e uma dor de coluna, somados à correria do dia-a-dia, só me permitiram comparecer antes um dia no Festival, vendo o só razoável A Máquina, numa mostra de vídeos.

E lá estive em razão da possibilidade de o vídeo Nós, do dileto amigo Henrique Spencer, vir a ganhar algum troféu Guarnicê (de "guarnecer", momento em que a "guarnição" do bumba-meu-boi prepara os pandeirões nas fogueiras), um belo boizinho dourado. Abertura com 'making-of' do filme Ouro Negro, de Isa Albuquerque, as costumeiras apresentações de canto lírico com artistas locais, a já tradicional índia-roliça-decorativa, os micos gigantes pagos pela dublê de atriz-e-apresentadora Amélia Cristina (cuja insistência na apresentação há tantas edições irrita: como alguém não se prepara a respeito do roteiro sobre o que será apresentado?!), geradores de gargalhadas da platéia, especialmente quando no palco a ótima e tresloucada Marcela Cartaxo, e muitas horas depois de agradecimentos/homenagens aos patrocinadores (algumas fidelidades garantidoras da continuidade de tudo, como os prêmios em dinheiro), nada de eu subir ao palco do luxuoso Teatro Arthur Azevedo para agradecer em nome do Henrique e dizer que ele estava em Amsterdã, mas que nunca esquecera esta terra onde passou parte da infância e da adolescência (na verdade, ele estava em Recife mesmo e não pôde vir!) – fica para a próxima!

De louvarem-se as oficinas abertas ao público e a organização e o entrosamento que encantam os jornalistas e atores convidados (como os sempre presentes Norton Nascimento e Leona Cavalli), com seus requintados passeios turísticos, bem como a diversidade de atrações folclóricas, o que torna o festival algo mais completo em termos culturais; mas de lamentar-se a desorganização para o público em geral, que ainda fica perdido com tanta desinformação, mesmo com o maior número de funcionários deste ano, somada a uma preguiçosa divulgação nos meios de comunicação... Nada que proíba a inteligente e sempre simpática Aurora Miranda Leão (presença já carimbada), do 'site' Argumento.Net, assim avalizar esta festa que tem a minha idade: "O Guarnicê é uma autêntica celebração de cores, raças, simpatias e audiovisual de todos os matizes"...

Ao Mestre, com Carinho,
com Açúcar e com Afeto!



Este 'post' "em edição extraordinária" vem, de fato, para homenagear o mais completo nome da Música Popular Brasileira, tanto em suas obras-primas absolutas de canções, verdadeiras aulas de como aliar poesia e música de qualidade num só produto (o que me fez despertar, nos idos de meus treze anos), quanto em sua diversidade de talentos – ainda que talvez não tenha havido a mesma genialidade na Literatura como a gerada no Teatro (porém, com uma produção muito acima da média, como o belo Budapeste) –, sem esquecer o dono da famosa "alma feminina", capaz de ir aos "úteros" de cantoras consagradas e de inúmeras tietes de todas as idades (mães e filhas que até hoje veneram os tais "olhos de ardósia" e o charme meio tímido, meio reservado e um tanto cínico) e o dono da voz perfeita em timbre (infelizmente não-unanimidade...), afinação e paixão: Francisco Buarque de Hollanda, felizes 63 anos!

Meu caro Chico, muito te admiro, meu chapéu te tiro, muito humildemente: a ti, que já amaste de todas as maneiras que há de amar, pelas rodas vivas de tantas obras inesquecíveis (tantas "canções favoritas", como Construção, Acorda Amor, O que será, Cotidiano, Cara a Cara, Almanaque, Iracema, Samba e Amor, A Ostra e O Vento...; sem esquecer Estorvo, A Ópera do Malandro...) e pelas tantas piruetas que ainda haverá, bravo, bravo! Agora falando sério: que outro gênio, o também eterno Tom Jobim, diga por mim tudo que eu queria lhe falar...

Carta ao Chico

Chico Buarque meu herói nacional
Chico Buarque gênio da raça
Chico Buarque salvação do Brasil

A lealdade, a generosidade, a coragem. Chico carrega grandes cruzes, sua estrada é uma subida pedregosa. Seu desenho é prisco, atlético, ágil, bailarino. Let's dance! Eterno, simples, sofisticado, criador de melodias bruscas, nítidas, onde a Vida e a Morte estão sempre presentes, o Dia e a Noite, o Homem e a Mulher, Tristeza e Alegria, o modo menor e o modo maior, onde o admirável intérprete revela o grande compositor, o sambista, o melo inventivo, o criador, o grande artista, o poeta maior, Francisco Buarque de Hollanda, o jogador de futebol, o defensor dos desvalidos, dos desatinados, das crianças que só comem luz, que mexe com os prepotentes, que discute com Deus e mora no coração do povo.

(...)
Chico Buarque homem do povo
Fla Flu, calça Lee, carradas de razão
Mamão, Jacarandá, Surubim
Macuco não, Pierrot e Arlequim
Você é tanta coisa que nem cabe aqui
Inovador, preservador, reencarnado, redivivo
Mestre da língua
Cabelos negros
Olhos de gatão selvagem
Dos grandes gatos do mato
Olhos glaucos, luminosos
Teu sorriso inesquecível
Ó, Francisco, nosso querido amigo!

(Tom Jobim, Nova Iorque, outubro de 1969)
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1 comentários:

Anônimo disse...

O ano correto de referência do manuscrito do Tom Jobim é [b]1989[/b] e não 1969, como foi digitado acima.

 

+ voam pra cá

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