quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Poemas-Umbrais

A Coluna Lateral, enfim, creio estar no seu lugar: a lateral (ainda que isso me custe o belo visual do abandonado Weblogger...)! Espero que enfim possam vê-la todos os meus queridos blogueiros de plantão, já que, nos últimos posts, a maioria andou reclamando de sua visualização. E, para hoje, basta um poema para encerrar o dia, para encerrar a noite ou, talvez, encerrar a vida de algum poeta perdido e amargurado... Farewell!
Poemas-umbrais

Todos dormem
E eu caminho, sem futuro,
Numa comiseração ilógica,
Na secura deslavada
De beber água da chuva
Represada
Por sobre a tumba
De meus perdidos poemas-umbrais...

(Dilberto Lima Rosa, 2004)

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

No fundo do aquário da sala...

Hoje faço uma espécie de "homenagem póstuma e tardia" a um pequeno ser que se foi há algumas semanas: um peixe da raça Acará-bandeira, do aquário daqui de casa... Calma, este blog não se despersonalizou ao nível de um diário virtual, não mesmo: o poema trata de algo muito maior que a vida de um peixe, e foi escrito bem antes, quando da sua vinda para cá! Mas a forma estoica como ele morreu fez-me aprender duas importantes lições: peixes não são bons animais de estimação (você a eles se apega, mas a recíproca não é verdadeira); certas doenças em peixes ornamentais ainda são desconhecidas (o que pode trazer muita agonia a estes animaizinhos mudos: uma aparente bacteriose corroeu suas nadadeiras)! 

Sobraram no aquário um peixinho dourado e um limpa-vidros deprimidos... 

O porte majestoso do falecido acará, aliado ao vazio que me passa a vida de um peixinho dentro de um aquário, trouxeram-me a inspiração para este poema de que gosto muito... Ao acará e à falta de comunicação do sofrimento que desconhecemos:
Imersos

Na televisão
A história da comunicação
Dos cabos telegráficos submarinos às fibras ópticas.
Na minha mente
Reverbera a poesia do mundo
Sob o peso da marginalidade da madrugada solitária e aflitiva pela repetência do dia seguinte
(Minha mente, ao contrário de meu corpo,
Nunca foi preguiçosa)
No fundo do aquário da sala
Meu acará-bandeira dorme de olhos abertos
(Os animais guardam um tanto da essência dos seus donos)
Com a consciência única e velada
De ser alimentado na mesma hora exata, mais tarde, pela manhã...

(Dilberto Lima Rosa)

domingo, 6 de novembro de 2005

Hoje tem Cinema brasileiro?
Tem, sim, senhor!

Encerrando a Semana Especial Cinema, nada melhor que falar da data de ontem, 5 de novembro, recentemente escolhida como o Dia da Cultura Nacional e do Cinema Nacional. Assim, neste "dia especial", não cabe aqui indagarmos a já batida questão "se temos algo para comemorar": o Cinema Brasileiro, independente de maiores investimentos ou políticas públicas, sempre fulgurou como um dos melhores do mundo.

É claro que a desleal concorrência com o cinema industrial norte-americano assusta e problemas com a distribuição dos títulos nacionais sempre foram uma dor de cabeça para a Sétima Arte Tupiniquim. Vide o exemplo do sonho de uma "Hollywood brasileira", a Vera Cruz, que, graças aos prejuízos financeiros e aos problemas entre brasileiros e estrangeiros que para cá vieram (como Adolpho Celi e Luciano Salce), foi à ruína menos de 6 anos depois da inauguração dos "maiores estúdios da América Latina", com apenas 18 longas-metragens, como os clássicos O Cangaceiro e Caiçara, e o sucesso popular de Mazzaropi, Sai da Frente. Ou, ainda, de outro estúdio contemporâneo, a Maristela, que, apesar de produções um pouco mais realistas com a realidade financeira brasileira, também foi à bancarrota depois de 7 anos, com pequenos clássicos como Simão, O Caolho, de Alberto Sordi (sucesso somente na Europa). 

Entretanto, mesmo com a extinção da estatal Embrafilme pelos desmandos do Governo Collor, o nosso Cinema nunca arrefeceu: entre o dito "cinema marginal" e a farta produção de curtas-metragens, com pérolas como O dia em que Dorival encarou o guarda, Barbosa e A Ilha das Flores, o "jeitinho brasileiro" acabou driblou muitas dificuldades e continuou a produzir filmes de qualidade! Por isso nunca dei muito crédito a essa coisa de "retomada do cinema nacional", que teria o seu "início" com o popular, porém apenas regular Carlota Joaquina, de Carla Camurati (redimida, depois, com o ótimo Copacabana): o Cinema Nacional nunca "parou"! 

Decerto que o nível de apuro técnico aumentou muito com a década de 90, com grandes melhorias no som e na fotografia, por exemplo, e que grandes filmes recentes já entraram para a história da cinematografia nacional, como Bicho de 7 Cabeças, Central do Brasil e Cidade de Deus, sendo mesmo os favoritos de quem despertou para produções nacionais só recentemente, como a minha noiva Jandira ou o meu amigo Ricardo, afora os sucessos de bilheteria das "hollywoodizações" da Globo Filmes há pouco tempo, mas nada disso significa que não houve qualidade antes, ou mesmo filmes excelentes, como assim reconheceu o Leste Europeu, na década de 80, sobre pérolas brasileiras como O Homem Que virou Suco ou A Hora da Estrela, premiadíssimos lá fora numa época recente, porém quase desconhecidos do grande público daqui.

Já para mim e meu amigo cofundador do Clube dos Amantes do Cinema, Sérgio Ronnie, o Cinema Novo (cuja melhor fase vai de 1955 a 1968) ainda é nossa maior escola: filmes como os geniais Rio 40 Graus e Vidas Secas, do mestre Nelson Pereira dos Santos, e os excelentes A Grande Cidade (66), de Cacá Diegues (que ainda nos brindaria na década de 70 com obras de fortes discussões sociais, como Bye Bye Brasil e Xica da Silva, também muito queridos), e Terra em Transe (67), do louco transgressor Glauber Rocha, ainda são os maiores filmes brasileiros de todos os tempos, assim como o são os seus diretores, os melhores vindos desta safra!

Mas é lógico que nunca poderia esquecer meus diletos São Paulo S/A, O Bandido da Luz Vermelha, Pixote, Eles não usam black-tie, Eu sei que vou te amar, Pra Frente Brasil, À Meia-noite Levarei Sua Alma, Amor Bandido, Os Paqueras, A Marvada Carne, Bar Esperança (O último que fecha), Limite, Ganga Bruta, O Homem da Capa Preta, Dona Flor e seus Dois Maridos, Macunaíma, Orfeu Negro, O Homem do Sputnik... Tampouco José Dumont, Jofre Soares, Sônia BragaOscarito, Grande Othelo, Carlos Manga, Tizuca YamasakiMarília PeraBetty Faria, a família Barreto, Arnaldo Jabor, Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Humberto Mauro, José Mojica MarinsAntônio Pitanga, Léa Garcia, Carlos Reichembach e tantos outros nomes que fizeram crescer esta arte tão com a nossa cara... 

Com uma história tão rica e farta assim, entre tantos outros títulos, temas e conquistas, com novas propostas de financiamento e com talentos nacionais cada dia mais reconhecidos mundialmente (como Fernando Meirelles, nome já estabelecido internacionalmente graças ao clássico instantâneo Cidade de Deus e que, recentemente, lançou o muito bom filme inglês O Jardineiro Fiel), eu só poderia terminar com entusiasmo: Viva o Cinema Nacional! Viva o Cinema na raça, sobre a raça brasileira!


sexta-feira, 4 de novembro de 2005

SEMANA ESPECIAL CINEMA

O que seria do Cinema sem os seus maiores artistas, os diretores? Ainda que seja esta uma arte indiscutivelmente coletiva, onde vários talentos se somam, é o diretor de um filme que normalmente imprime a sua marca pessoal de ver a vida, comandando toda a sua equipe, bem como milhões de espectadores no mundo inteiro e em diferentes épocas, a vivenciar sua magia na Sétima Arte... Por isso é que, para hoje, reuni trechos de três crônicas que escrevi sobre alguns dos maiores nomes deste mágico ofício: Federico Fellini, Stanley Kubrick e Martin Scorcese, gênios que, dentre vários outros (Billy Wilder, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Kurosawa, David Lean, Moniccelli, Lars Von Trier, Bergman, Woody Allen, Spielberg, Almodóvar...), imprimiram seus diferentes estilos nas retinas de ardorosos fãs ao longo deste pouco mais de um século de arte cinematográfica  grupo no qual me incluo, de carteirinha nas mãos!

Parabéns a Martin Scorcese, o grande cineasta nova-iorquino, o esteta da violência e dos tipos perdidos e sem esperança, no crime ou na vida, que neste mês completa 62 anos. Infelizmente, o grande e inovador artista parece ter "falecido" faz um tempo, desde o brilhante Os Bons Companheiros, de 1990, último trabalho que parecia merecer a assinatura do mestre de obras-primas como Taxi Driver (76), Alice não mora mais aqui (75) e Touro Indomável (80), além de outros grandes filmes marcantes graças ao estilo autoral do Mestre, como Depois de Horas (85), A Cor do Dinheiro (86) e A Última Tentação de Cristo (88). Entretanto, mesmo sem nenhum grande feito desde 90 (a não ser o sensível A Época da Inocência), prestemos sempre nossas homenagens a este diretor que, ao lado de Spielberg, Brian DePalma e Coppola (e... George Lucas?), formou a última grande geração de inventividade do Cinema norte-americano, na década de 70.
(Dilberto Lima Rosa, trecho de Homenagem a um diretor violento, de 11 de novembro de 2004)

Falo com a saudade de ter visto uma verdadeira obra-prima do Cinema aos quatorze anos, quando eu ainda saía da poderosa e alienante influência 'hollywoodiana' que até então me dominava: era Amarcord, o meu filme predileto até hoje, a que assisti, pela televisão, com um estranho e inexplicável encantamento que poucas vezes se repetiu desde então, a não ser que estivesse diante de outras maravilhas da Sétima Arte, como A Doce Vida, Oito e Meio e Julieta dos Espíritos, todos verdadeiros espetáculos de uma visão única do Cinema, todos trabalhos de Federico Fellini, este bonachão amante das mulheres, da vida, da arte e dos sonhos  sonhos que nos levam a Rimini, cidade natal do cineasta italiano, por vezes mostrada numa forma sonhada (como no próprio Amarcord), por vezes realista (como em Os Boas Vidas, ainda de influência neorrealista), ou a Roma (no romântico, belo e puro Noites de Cabíria) ou nos levando ainda à própria Cineccitá, verdadeira Cidade do Cinema dentro de Roma, com seus gigantescos estúdios (como podemos ver, pelos seus bastidores, no interessante e também metalinguístico Entrevista) ou à própria fronteira entre o mar aberto e um mar de mentirinha em estúdio na espécie de Torre de Babel vista em E La Nave Va... 

(...) Assim era Fellini: gênio da ilusão dos mares e dos navios de plástico de Amarcord, das emoções mais pungentes, como em La Strada, e de seu vigoroso "machismo-feminista" de Cidade das Mulheres... Graças a ele pude compreender mais do intangível no Cinema e sobre como esta arte realmente não tem limites, ainda que o maior nome dessa dimensão única entre a realidade e a forma de a vermos através da correspondente "mentira" das artes e dos sonhos tenha se despedido do "mundo real" há tristes dez anos, deixando a Sétima Arte menos fantástica...
(Dilberto Lima Rosa, trechos da crônica Vertebral, Dez Edições Depois - Saudosas Homenagens, de outubro de 2004)

(...) Cada vez com um maior período de tempo entre um filme e outro, Stanley Kubrick ficou mais de dez anos entre Nascido para Matar e o seu derradeiro trabalho, o hipnotizante suspense onírico De Olhos Bem Fechados (99), com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman, tamanho o seu preciosismo e suas cada vez mais exigentes manias de perfeccionismo, que acabaram lhe custando o fato de ter morrido, em 1999, sem ver seu último filme nos cinemas... 

Tanta genialidade foi acumulada durante a mais consistente e coerente carreira cinematográfica de todos os tempos, apesar de ter experimentado os mais variados gêneros e formas de narrativa (embasada no seu costumeiro "estilo épico-teatral" de três atos para contar uma estória). Decididamente alguém com raras qualidades numa arte cada vez mais sem poesia nem originalidade, Kubrick se tornou obrigatoriedade para todos os que querem crescer no entender, ver e sentir o verdadeiro Cinema.
(Dilberto Lima Rosa, trecho da crônica Minhas Memórias Kubrickianas, de janeiro de 2005)
 

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