Encerrando a
Semana Especial Cinema, nada melhor que falar da data de ontem, 5 de novembro, recentemente escolhida como o Dia da Cultura Nacional e do Cinema Nacional. Assim, neste "dia especial", não cabe aqui indagarmos a já batida questão "se temos algo para comemorar": o Cinema Brasileiro, independente de maiores investimentos ou políticas públicas, sempre fulgurou como um dos melhores do mundo.
É claro que a desleal concorrência com o cinema industrial norte-americano assusta e problemas com a distribuição dos títulos nacionais sempre foram uma dor de cabeça para a Sétima Arte Tupiniquim. Vide o exemplo do sonho de uma "Hollywood brasileira", a
Vera Cruz, que, graças aos prejuízos financeiros e aos problemas entre brasileiros e estrangeiros que para cá vieram (como Adolpho Celi e Luciano Salce), foi à ruína menos de 6 anos depois da inauguração dos "maiores estúdios da América Latina", com apenas 18 longas-metragens, como os clássicos
O Cangaceiro e
Caiçara, e o sucesso popular de Mazzaropi,
Sai da Frente. Ou, ainda, de outro estúdio contemporâneo, a
Maristela, que, apesar de produções um pouco mais realistas com a realidade financeira brasileira, também foi à bancarrota depois de 7 anos, com pequenos clássicos como
Simão, O Caolho, de Alberto Sordi (sucesso somente na Europa).
Entretanto, mesmo com a extinção da estatal Embrafilme pelos desmandos do Governo Collor, o nosso Cinema nunca arrefeceu: entre o dito "cinema marginal" e a farta produção de curtas-metragens, com pérolas como O dia em que Dorival encarou o guarda, Barbosa e A Ilha das Flores, o "jeitinho brasileiro" acabou driblou muitas dificuldades e continuou a produzir filmes de qualidade! Por isso nunca dei muito crédito a essa coisa de "retomada do cinema nacional", que teria o seu "início" com o popular, porém apenas regular Carlota Joaquina, de Carla Camurati (redimida, depois, com o ótimo Copacabana): o Cinema Nacional nunca "parou"!
Decerto que o nível de apuro técnico aumentou muito com a década de 90, com grandes melhorias no som e na fotografia, por exemplo, e que grandes filmes recentes já entraram para a história da cinematografia nacional, como Bicho de 7 Cabeças, Central do Brasil e Cidade de Deus, sendo mesmo os favoritos de quem despertou para produções nacionais só recentemente, como a minha noiva Jandira ou o meu amigo Ricardo, afora os sucessos de bilheteria das "hollywoodizações" da Globo Filmes há pouco tempo, mas nada disso significa que não houve qualidade antes, ou mesmo filmes excelentes, como assim reconheceu o Leste Europeu, na década de 80, sobre pérolas brasileiras como O Homem Que virou Suco ou A Hora da Estrela, premiadíssimos lá fora numa época recente, porém quase desconhecidos do grande público daqui.
Já para mim e meu amigo cofundador do Clube dos Amantes do Cinema, Sérgio Ronnie, o Cinema Novo (cuja melhor fase vai de 1955 a 1968) ainda é nossa maior escola: filmes como os geniais Rio 40 Graus e Vidas Secas, do mestre Nelson Pereira dos Santos, e os excelentes A Grande Cidade (66), de Cacá Diegues (que ainda nos brindaria na década de 70 com obras de fortes discussões sociais, como Bye Bye Brasil e Xica da Silva, também muito queridos), e Terra em Transe (67), do louco transgressor Glauber Rocha, ainda são os maiores filmes brasileiros de todos os tempos, assim como o são os seus diretores, os melhores vindos desta safra!
Mas é lógico que nunca poderia esquecer meus diletos São Paulo S/A, O Bandido da Luz Vermelha, Pixote, Eles não usam black-tie, Eu sei que vou te amar, Pra Frente Brasil, À Meia-noite Levarei Sua Alma, Amor Bandido, Os Paqueras, A Marvada Carne, Bar Esperança (O último que fecha), Limite, Ganga Bruta, O Homem da Capa Preta, Dona Flor e seus Dois Maridos, Macunaíma, Orfeu Negro, O Homem do Sputnik... Tampouco José Dumont, Jofre Soares, Sônia Braga, Oscarito, Grande Othelo, Carlos Manga, Tizuca Yamasaki, Marília Pera, Betty Faria, a família Barreto, Arnaldo Jabor, Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Humberto Mauro, José Mojica Marins, Antônio Pitanga, Léa Garcia, Carlos Reichembach e tantos outros nomes que fizeram crescer esta arte tão com a nossa cara...
Com uma história tão rica e farta assim, entre tantos outros títulos, temas e conquistas, com novas propostas de financiamento e com talentos nacionais cada dia mais reconhecidos mundialmente (como Fernando Meirelles, nome já estabelecido internacionalmente graças ao clássico instantâneo Cidade de Deus e que, recentemente, lançou o muito bom filme inglês O Jardineiro Fiel), eu só poderia terminar com entusiasmo: Viva o Cinema Nacional! Viva o Cinema na raça, sobre a raça brasileira!