Como ele começou e como o conheci: se eu só ouviria Chega de Saudade já em minha juventude, foi na adolescência que tomei contato com João por meio da obra-prima João Gilberto interpreta Tom Jobim, LP de um vizinho que acabou passando para a minha coleção e hoje, infelizmente, "mora só no pensamento"...
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Um dos primeiros CDs que ganhei... |
Eu o conheci pela "ordem correta": como já havia me encantado com o canto operístico de Orlando Silva, Jamelão e Nelson Gonçalves por sobre rasgados sambas de dor-de-cotovelo, estranhei (mas um estranhamento bom e maravilhado) quando ouvi a fala baixa e introspectiva da
lenda João Gilberto (e suas
excentricidades)
em delicados e felizes sambas envolventes... Certo, nem todos eram felizes - algumas daquelas canções ainda traziam um "jeito Dolores Duran" por trás de tudo, mas, mesmo na melancolia de algumas músicas mais sofridas (
Triste;
Insensatez;
Amor em Paz), havia uma elegância distinta, um espírito novo a tudo envolvendo...
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Este, sim:
um mito de verdade! |
Aquele sujeito nada
desafinado entoava o novo estilo à perfeição, casado àquelas batidas ao violão que me faziam viajar para um Brasil perfeito - era 1959 e
Chega de Saudade anunciava um novo tempo progressista de Kubitscheck às margens de um Rio que se deixava Capital e se começava paraíso para um Romantismo concreto, unindo o morro aos apartamentos da Classe Média, de portas abertas para o Mundo. Sei que já havia algo antes em Johnny Alf e Dick Farney, porém, decididamente, foi João, de braços dados a Tom e Vinícius, que inaugurou o ritmo por causa do seu violão limpo e da sua voz marcantemente diferente de tudo já sentido até então.
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Eis aí uma bela reunião de família... |
Hoje, infelizmente, com sua partida no último dia 06 desse País mentiroso de pais e filhos, João sofreu, e muito (
também em família), no final da vida e depois dela - por exemplo, com a "homenagem póstuma" recebida do que se diz
governante da Nação: "Era conhecido. Nossos sentimentos à família (taoquei)" (enquanto o Mundo ainda o reverencia e, para comparsa calhorda dos seus, morto pouco tempo antes, o "Mito" da ignorância teceu loas como fosse "artista consagrado")! Deve ser porque João era nordestino e vinha de "família inimiga" do clã bolsonarista, os Buarque de Hollanda, casado que foi com Miúcha e, por conseguinte, cunhado de Chico... Por isso mesmo é que
Lula, nosso renovado JK, mesmo isolado por golpistas conspirações e "tenebrosas transações",
homenageou devidamente o ícone Nacional (cada época tem o líder que merece)!
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Wave: o Tom
imortalizado por João |
Se João não era o maior - em Terra de Pixinguinha, Noel, Chico e Villa Lobos, a concorrência é grande! - podia-se considerar, assim como Tom e Vinícius, um Deus capaz de milagres, como dividir águas entre antes e depois dele, na sua perfeccionista delicadeza cosmopolita com cara de
Jazz e levada de Samba. E, se não necessariamente criou a
Bossa Nova, foi seu arrematador, com seus gigantes sussurros no ouvido da amada - e, por tal razão, acabou como um "terceiro membro" que ora se junta à sua Santa Trindade bossanovista (
várias vezes homenageado
neste humilde espaço virtual)... À sua melancolia latente, ao seu charme reservado e à sua genialidade musical à perfeição, o meu obrigado como fã incondicional, cuja saudade só não será maior porquanto cantada, há exatos 60 anos, com um sonoro e devido "chega"...
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