![]() |
Todas as fotos desta postagem: Dilberto L. Rosa |
Seminário de História da Arquitetura, para dali a dois dias - e logo trabalho de equipe, que ela detestava: sozinha, garantia-se, não precisava fazer o social, ainda mais naquele estado em que se encontrava ("Não tinha seis meses..."). Mas até ficou contente com a parte que lhe coube: bastariam umas fotos pelo Centro Histórico, levar os negativos pra imprimir e catalogar no básico, de acordo com aquele livro emprestado da biblioteca. Não queria escrever nada... Senão acabaria cronicizando toda aquela caminhada de tarde inteira de saltinho já quebrado pelas fendas dos paralelepípedos soltos das infelizes ladeiras que a esgotavam fisicamente. E não eram nem cinco horas e os restos de comércios e serviços burocráticos remanescentes já se viam trocados por casaizinhos à procura do melhor lugar para curtir o pôr do sol ("Curtir o quê, meu Deus? Sol se põe todo santo dia!")...


De repente, o "tijolinho" em sua bolsa vibrava: era aquele bendito celular, coisa insuportável de invasão de privacidade que sua mãe insistia que carregasse - pra ser encontrada, controlada, socializada... A curiosidade foi maior e ela abriu o flip, confirmando o "torpedo" que acabara de chegar: na mensagem de texto, enviada por uma antiga conhecida do colégio, logo abaixo de uma piadinha de duplo sentido, um convite para aquela noite: "Grande Reencontro do Terceirão, nesta segunda, 25 de fevereiro de 1993 - 10 anos depois! Favor confirmar presença! Carla". Tão atordoada, ideia de rever pessoas que não queria, inquisições que lhe acordariam os fantasmas mais incomodados... Foi quando se deu conta de que atravessara toda a Rua São Pantaleão e se encontrava em frente ao Cemitério do Gavião ("Não foi aqui que meus avós foram enterrados? Quem sabe eu os encontre..."). Não teve medo. Sentiu paz...
Tirou algumas fotos de lápides que achou belas, como que a se despedir do passado e a abraçar o presente ("Será que ele vai...?"). Ainda mais no quase futurismo do endereço do grande encontro, cobertura de um prédio de luxo, parte nobre da "Cidade Nova", atravessando a ponte... E se pegou paralisada diante de um suntuoso mausoléu, em que uma jovem falecera, com sua idade, exatos 100 anos antes... "Será hoje à noite...", disse em voz alta, pouco antes de sair decidida, quase que sem sentir o chão, dos umbrais daquele soturno ponto final de sua jornada - decidiu voltar a pé. Não queria esperar pela carona da mãe. Não queria mais ver ninguém até à noite. Tinha que se preparar...
0 comentários:
Postar um comentário