Crescia... E me foram dadas muitas outras armas: além de me entupir de imaginação, entre desenhos animados da Disney e da Hanna-Barbera e um homem bonito de collant azul e capa vermelha (que me fez acreditar que se podia voar...), exatos dez anos depois minha mãe me faria uma linda festa de aniversário em casa com os felinos de Thundera e, em seguida, me vestiria como o famoso guerreiro de Etérnia para um longínquo 7 de setembro - e tudo só de olhar uns álbuns de figurinhas e desenhos da TV comigo (e também com o auxílio de uma velha máquina Singer)! E eu, além de conversar com meus bonecos na uma hora de "intervalo para a digestão" entre o almoço e o dever de casa, já tinha visão além do alcance, possuía um colete de coridita (com a clara representação do time que meu pai me ensinava, por tabela, a gostar: He-Man era vascaíno!) e uma espada do poder que me daria a Força - de novo... Meu destino estava traçado em meu inconsciente adulto em formação: ou seria desenhista da Disney ou da Maurício de Souza Produções; ou desenvolveria brinquedos tão divertidos quanto aqueles bonecos da Estrela e da Graslitte; ou, se nada mais desse certo, seria arquiteto (conforme os adultos me explicavam que essa era a profissão de quem gostava de desenhar casas) - em meio a inúmeros super-heróis e personagens criados por mim mesmo e excelentes notas na escola (mesmo sem muita consciência disso tudo...)!
De repente, o mofo deu (o cacófato foi intencional): não só perdi toda a minha estimada coleção de fitas VHS para grandes manchas brancas de fungo como também o meu precioso aparelho de videocassete (meu, não - ambos, o JVC e depois o Semp-Toshiba, sempre foram de mamãe!) se acabou com o sucessivo desgaste de sujeira no cabeçote... De repente, as velhas armas conhecidas ficaram defasadas: os sabres e feixes de prótons improvisados das brincadeiras foram encostados; Spielberg desandou com Hook já na entrada dos anos 90; há muito o amigo Henrique voltara para Recife (onde hoje ele é... cineasta!)... Mas acabei aprendendo a desenvolver novos mecanismos de batalha: descobri como "atuar" no cinematográfico mundo das mulheres; comecei estudando a Arte da Arquitetura e terminei no seco Direito - mas preferia mesmo era escrever, escondido no escritório, num blogue criado pela amiga Adriana (novamente - dos tempos da escola); e, por fim, descobri-me professor, casado e com uma filha (depois, viriam mais dois!) e posso dizer que as canetas e os pincéis atômicos acabaram tornando-se a única arma disponível a partir de então... Caiu o DVD - depois o Blu-Ray, o pen-drive... O negócio é Torrent e Netflix! Agora os empregos, o mestrado...
Mas e eu?! Afinal, nada é mais defasado, obsoleto e desarmado do que este velho vermelho das 7 faces lilases... 41 desse jeito?! Não gostei! Morro de medo de, a qualquer momento desses "tempos estranhos", vir a ser julgado não por um juiz de exceção midiático e superpoderoso, mas por aquele eu-garotinho, que antes se armava de sabres, espadas e feixes de sonhos, e agora, por aqui materializado e vindo de alguma fenda espaço-temporal, acabasse por me questionar: - E aí: conseguimos? No que eu teria que confessar que não... E depois, ainda um tanto quanto envergonhado e com os olhos marejados por tantas desistências e magias perdidas, emendaria: "Cá entre nós, apesar de tudo, não mudei tanto assim de você... Mas, diante dos desvios, não conta nada pra mamãe da tua época... No entanto, agora que você está aqui - às armas! Tudo bem, já nem lembro pra onde mesmo que eu vou... Mas vamos até o fim!?"
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