quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Como uma deusa...

Mas o que aquela miragem feminina fazia ali, a brotar na linha do horizonte daquela praia quase deserta, como nem fosse uma Janaína recém-saída das águas para abençoar algum pescador amedrontado com as ondas vindouras, se já se passavam dois dias do sagrado 2 de fevereiro de Iemanjá e não havia, até então, ninguém além de mim naquele local ermo? Mesmo sem ter a humana certeza, eis que, ao se aproximar com seu semblante vestal em pele marrom tão doce, sequer por um instante titubeei em dela aceitar o sublime colo para minha cabeça cansada de sol e de dúvidas!

De ver uma bela forma feminina, assim, numa praia deserta, acredito que homem nenhum em sã consciência consiga reclamar... O pior foi ver uma harpia desgrenhada procurando conversa por tenebrosos corredores da faculdade: a idade avançava, mas minha mente parecia presa a ideias mitológicas femininas das mais assustadoras e não crescia, não enxergava que, por trás de alguns sustos escabrosos, podia haver parnasos límpidos e cheios de vida em continuidade...

Daí para criar-se Acaso em minhas fatigadas retinas, que ainda viram tamanha reviravolta ao presenciar as tantas belezas das tantas Santas-Marias-Nossas-Senhoras sob as luzes coloridas de um céu de vitrais, foi uma grata surpresa! Ainda assim, confuso e tonto, dei de querer descer o Estinge rumo a Hades e por lá entrei numas de caos atormentado por outros afazeres falidos... Mas como um Caronte mulher, a conduzir o barco de volta ao cais da sagração e suportar o mundo nas costas com muito mais veemência que um Atlas mal acostumado com sua força de homem bruto, passei a ver, diante de mim, uma mãe Gaia, a parir uma pequena terra de onde brotavam leite, mel e meninos fartos de alegria - e, então, senti a paz...

Por fim, de volta à realidade depois de um efusivo dia estafante de trabalhos felizes a mais que os de Hércules, só vejo o chão de calçadas quebradas, que se alterna com um belo céu estrelado, de tempos em tempos... A caminho de um shopping na necessidade de comprar uma lembrancinha para a esposa guerreira de vários braços como a melhor deusa indiana, percebo uma cena ricamente bela e curiosa: uma mãe gata negra, saindo de um bueiro boca-de-lobo, sendo seguida por três lindos filhotinhos, brancos e negros, que se assustam com a minha aproximação e tentam correr de volta para o bueiro de esconderijo... A gata, quase uma loba na porta de Roma e dedicada a suas crias, só me observava com atenção, imóvel, porém preparada para avançar num só golpe acaso eu me engraçasse com sua bela familinha - no que me perguntei se não eram os egípcios que adoravam gatos como formas divinas...

E me descobri um adorador do universo forte feminino, num eterno estado de endeusamento pela fêmea mais simples e despida de vaidades, mas cheia de virtudes como a melhor mãe e companheira das melhores lutas: em relação a ela, o resto é inércia e adoração...
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3 comentários:

Valquíria Falcão on 6 de fevereiro de 2015 às 23:50 disse...

Meu Deus quanto tempo, dias, meses e até anos que não me desfrutava de suas ricas palavras....acho que nem se lembra mais de mim,rsrsrsrs...Como sempre nos exaltando, com suas doces palavras....Espero não sumir de novo...Beijos

Sônia on 17 de fevereiro de 2015 às 10:02 disse...

Uau! Que texto legal! rs...quanta sensibilidade pra um morcego...rs


Abraço!

Anônimo disse...

Que coisa linda meu Deus!!!

 

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