quinta-feira, 19 de junho de 2014

70 Anos do Mestre:
A Lista do Chico

Ontem (primeiro disco, 1966) e hoje (último, em 2011): os extremos de um Poeta a serviço da Música (e dela na Literatura).

Eu me lembro de ter chorado quando o Maestro Tom Jobim morreu: foi-se ainda em tão tenra idade, no auge dos seus bem vividos 63 anos, merecia mais (assim como nós, seus fãs, também merecíamos dele)... Falando em gênios brasileiros tão queridos da Música, neste ano, sinto muito que quase ninguém tenha falado – pelo menos, não como deveria falar – dos 100 anos de nascimento do maravilhoso Dorival Caymmi e de suas canções tão simples e, ao mesmo tempo, tão lindamente ricas sobre o nosso povo simples e bem próximo de todos nós. E, na semana passada, o ainda bem vivo (graças a Deus) João Gilberto completou 83 anos de uma voz única e interpretação inconfundível, com a excepcional batida que fez nascer um gênero e marcou um mundo inteiro – com quem, dentre alguns outros grandes intérpretes, aprendi a cantar, e cujas gravações magistrais cresci ouvindo de memoráveis obras-primas de Tom, Caymmi e de tantos outros "amigos" incríveis da MPB na interpretação inconfundível desse grande baiano da Bossa Nova carioca!

Realmente, a influência da Arte destes e de outros grandes nomes da Música brasileira que já se foram – como Pixinguinha, Noel, Nelson Cavaquinho, Nelson Gonçalves... – sempre foi tão marcante em minha vida que os tenho todos assim, bem próximos... Mas nenhum deles tem a minha "amizade" como o aniversariante Francisco Buarque de Hollanda, que hoje completa 70 anos. Meu "segundo professor de canto" (ao contrário do que pregam alguns tolos opositores: Chico é tão bom que só ele canta ele mesmo com precisão!) e meu mestre maior na Música, tenho-o consagrado como o maior dos ídolos desde que me entendo musicalmente como gente, lá pelos idos de meus 15 anos, quando delirei com os primeiros LPs descobertos – o que era aquilo: Poesia pura e em sua plenitude, musicada com melodias fabulosas? Difícil descrever as emoções sentidas com canções geniais que oscilavam inteligentes protestos político-sociais (Deus lhe pague; Cálice), idílios infantis (Os Saltimbancos; Piruetas; João e Maria) e sambas que revitalizavam o velho Samba de Noel Rosa e Ismael Silva (Acorda, Amor; Meu Refrão; Sonhos de um carnaval), numa época em que samba já parecia uma coisa fora de moda...

Sem esquecer uma espécie de "nova Bossa Nova" com Carolina e Januária e de releitura das clássicas canções de amor rasgado, agora porém com um lirismo ímpar, como fez em Trocando em Miúdos e Pedaço de Mim, elementos comumente presentes na sua obra. Além, é claro, das muitas famosas músicas com a mulher como uma protagonista libertária, como em Folhetim, Sob Medida, Terezinha... E como ele falou às mulheres: para muito além dos seus famosos "olhos de ardósia" conquistadores do sexo feminino, ele é mestre e, cativar a alma delas ao saber, como poucos, falar sua Língua! Mas também falava muito bem sobre o seu povo simples (Gente Humilde; Bye Bye, Brasil; Brejo da Cruz; Iracema Voou; Carioca), assim como acerca das prostitutas, das lésbicas, dos malandros em sua essência, aguerrido homem de Esquerda que sempre foi...

E tudo "cinematograficamente": tal como outro ídolo, o mestre Kubrick, Chico gostava de entoar sua Poesia normalmente em três atos, com deliciosas idas e vindas de jogos de palavras que faziam perder-se o ouvinte desavisado (Olê, Olá; O Meu Guri; A Rosa; Pivete)! E seus parceiros o seguiam com idolatria, pois sabiam que, em qualquer melodia, Chico estaria lá com a letra mais perfeita (Meu Caro Amigo, com Francis Hime; Valsinha, com Vinícius; Moto Contínuo, com Edu Lobo; Mulheres de Atenas, com Boal; Eu te amo e Anos Dourados, com Tom...)... Sem esquecer que o artista completo (cantor, compositor e dramaturgo de 4 peças) só se completa se, entre um novo brilhante disco e outro, também lançar um livro fascinante: sua Literatura, cheia de personagens perdidos em labirintos de ideias e perseguições morais e filosóficas, além de consagrada, prende desde a primeira página (não à toa, Estorvo e Leite Derramado figuram entre meus romances favoritos)...

Bem, falar de Chico Buarque é mesmo coisa fácil para um "amigo" de longa data como eu... Bem mais novo, é claro: agora que cheguei aos 37 e o cara acabou de entrar para o seleto grupo dos septuagenários em plena atividade artística – categoria já iniciada pelos pares Milton, Caetano, Gil, Ney, Paulinho da Viola... Mas sei de tantas histórias das quebradas da Arte deste genial malandro e poeta maior que fica difícil eleger suas melhores canções e estabelecer uma lista só com as "cinco mais"! Como a tarefa é inglória, fica aqui a minha lista das (pouco mais de) vinte melhores composições de Chico Buarque, com os seguintes critérios: nela constam composições somente do Chico (sem parcerias ou versões) e, a fim de "ampliá-la" um pouquinho, alguns "empates técnicos" tiveram que acontecer para equilibrar certas músicas em certas posições, normalmente duas ou três canções com temas similares – assim, os três temas principais das trilhas sonoras dos filmes Dona Flor e Seus Dois Maridos e Vai Trabalhar, Vagabundo ocuparam, juntas, as 3.ª e a 7.ª posições, respectivamente, enquanto os seus dois maiores sambas políticos, Apesar de Você Vai Passar, pertencem unidas à 5.ª colocação. Já o turbilhão ceifador da roda-viva opressiva nos primeiros e duros anos da Ditadura e os versos alexandrinos e parnasianamente terminados em proparoxítonas da obra-prima sobre o ultimo dia de um trabalhador, Construção, amealharam, facilmente, o primeiro e o segundo lugares, respectivamente.

Então é isso, meu caro amigo: pensou que eu não vinha mais, pensou, mas eu vim! Agora falando sério, eu não queria nem falar, sabendo que não você não é muito afeito a holofotes ou tamborim, mas me sinto pisando um chão de esmeraldas quando levo meu coração a uma canção buarquiana... Sim, confesso, tenho uma vida sensata, e, nos últimos tempos, não paro pra nada, cheio de gratidão por alguns presentes da vida, mas quase sem hora para a emoção – entretanto, presto atenção a qualquer verso seu de uma canção útil e sempre bem-vinda no meu coração. E me perdoe, por favor, esta homenagem tão singela, esta canção improvisada, régio e trovador poeta maior da mulher e dos vagabundos, mas acontece que o tempo segue a me furtar a ofertar coisa mais bela: afinal, bem sabes que meu chapéu te tiro, muito humildemente, meu caro Chico: feliz aniversário! Daqui de São Luís (onde a coisa 'tá preta...) para aí em Paris, vê se acaba logo esse novo livro incrível e volta, um dia, em turnê aqui pela Ilha a entornar sua Poesia mais uma vez!

Parabéns, amigo velho trovador: difícil dizer o melhor do melhor... Mas, pra mim, suas (pouco mais de) vinte melhores canções:

20. A Ostra e O Vento
19. Carolina/ Até O Fim
18. Homenagem ao Malandro/ A Volta do Malandro
17. Vida
16. O Meu Amor/ Suburbano Coração
15. Paratodos
14. Samba e Amor/ Samba do Grande Amor
13. Futuros Amantes
12. Umas e Outras
11. Com açúcar, com afeto
10. Olhos nos Olhos/ As Vitrines
9. Pelas Tabelas
8. Quem te viu, quem te vê/ Ela desatinou/ Quando o carnaval chegar
7. Flor da Idade/ Feijoada Completa/ Vai Trabalhar, Vagabundo
6. O Meu Guri
5. Apesar de Você/ Vai Passar
4. Geni e O Zeppelin
3. O Que Será
("trilogia": O Que Será - Abertura; 
O Que Será - À Flor da Pele;
O Que Será - À Flor da Terra)
2. Construção
1. Roda-Viva

|

6 comentários:

Unknown on 22 de junho de 2014 às 17:25 disse...

Chico Buarque está para a música brasileira como Beatles está para o pop universal! Tirando seus "delírios ptistas" atuais, ele foi o maior mestre-aprendiz dos grandes homens da música brasileira, como Noel Rosa e Tom Jobim.

Sônia on 22 de junho de 2014 às 22:45 disse...

Aplausos para esse malandro! rs...
Amo suas canções...

Gilberto Carlos on 26 de junho de 2014 às 08:39 disse...

Também prefiro Sônia Braga. kkk
Quanto a Chico Buarque. A lista das minhas preferidas dele são:
Apesar de você
Mulheres de Atenas
Geni e o Zepelin
João e Maria
Trocando em miúdos
Valsinha
Olhos nos olhos
Cálice
O que será
Eu te amo
Bye Bye Brasil
Minha história

Anônimo disse...

Chico é mesmo "O Cara"! Se ele tiver a chance de ler essa declaração de amor, certeza vai se sentir honestamento homenageado. Sempre me considerei fã do mestre, mas depois de ler tua devoção, acho que não passo mesmo de um humilde admirador. Bom texto meu amigo!

Abçs,
Cristiano

Claudinha ੴ on 6 de julho de 2014 às 19:02 disse...

Olá Dil!
Eu também sou fã destes olhos lindos e de suas canções que marcaram minha adolescência. Fiz várias apresentações musicais com suas canções, ganhei prêmio de intérprete com O meu amor e Com açúcar e com afeto. Eu não conseguiria elaborar uma lista de preferidas. Raras eu não gosto. Meus LPs estão guardadinhos aqui, preciso ouvi-los... Ótima postagem.
Beijos a toda super família!

Claudinha ੴ on 6 de julho de 2014 às 19:03 disse...

Me esqueci de dizer que também representei uma Ópera do Malandro e fomos muito bem. Bj

 

+ voam pra cá

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!

Quem linkou

Twingly Blog Search http://osmorcegos.blogspot.com/ Search results for “http://osmorcegos.blogspot.com/”
eXTReMe Tracker
Clicky Web Analytics

VISITE TAMBÉM:

Os Diários do Papai

Em forma de pequenas crônicas, as dores e as delícias de ser um pai de um supertrio de crianças poderosas...

luzdeluma st Code is Copyright © 2009 FreshBrown is Designed by Simran