Barbas e bênçãos para um novo ano que sempre precisa de mudanças...
Se a
barba por fazer do fim de ano acabou atravessando a “dimensão” do reveillón e vem se convertendo num cada
dia mais cheio “adereço” de resoluções para novos tempos (e visuais), tento
agora evitar que a acumulada bagunça do final de 2013 no escritório de casa não
se transforme em caos perene ao longo do novo 2014! E tome tempo para conciliar
a preguiça das breves “férias” do comecinho de ano com as mais que necessárias
arrumação e limpeza do sempre cheio amontoado de minhas coleções de livros, CDs, DVDs, BDs, antiguidades e
miniaturas no reduzido espaço do escritório do meu apartamento! E em meio às
descobertas de livros, filmes e discos que já nem me lembrava que havia
comprado, eis que encontro um caderninho de notas onde, dentre outros rabiscos
de ideias, encontrei alguns dos filmes e livros consumidos no ano que se findou
na semana passada...
Enquanto
desisti da sala escura logo no início do ano passado com o desapontamento em
relação a O Hobbit (que, por sua vez,
numa breve e recente revisão mental, evitou que eu tivesse vontade de ir ao
cinema ver sua sequência atual, A
Desolação de Smaug), ao longo de 2013 pude ver, ainda que bem poucos, muito aqui e acolá, na TV (a cabo ou baixado da internet:
nada de locadora ou de compra de novos títulos para ficar empoeirado nas
estantes), alguns filmes que há certo tempo perseguia, dentre os quais destaco
o competente e climático Argo, grande “vencedor” do Oscar
2013, trunfo do novo “Batman” Ben Affleck como astro/diretor neste thriller político sobre a história
real de um cinematográfico incidente diplomático entre EUA e Irã em 1980, e
o instigante O Som ao Redor, drama social pernambucano com apelo universal do competentíssimo Kleber Mendonça Filho
– produções estas pertencentes a um honroso rol de poucas boas exceções em
meio à saraivada de apenas regulares e mesmo péssimos filmes despejados ano
após ano, tanto nacional (vide as horríveis “chanchadas” da GloboFilmes) quanto internacionalmente,
que nada me acrescentaram...
Mas se com
o pouco visto da Sétima Arte houve tanta oscilação sem nenhum grande título, posso
dizer que o melhor livro que li neste ano foi A Invenção dos Direitos Humanos,
da historiadora
estadunidense Lynn Hunt – apesar de
a obra ser do já “longínquo” ano de 2007 (com o mercado literário dominado por
infinitas “trilogias” de fantasia de gosto duvidoso e por best-sellers “polêmicos” de “jornalistas” que nada sabem de
História, minha atenção segue voltada para bons títulos de outras épocas). E o
recomendo não só pela natural curiosidade geral a respeito do tema bastante atual
dos direitos humanos, vedete que se tornou até dos mais vazios noticiários
sensacionalistas diante das tolas reações medievais que se têm dado, nos
últimos anos, às óbvias evoluções da sociedade, que nada mais fazem que
reivindicar mínimos direitos civis no cenário político federal. Recomendo-o, simplesmente,
por ser muito bom: não é todo dia que um livro de Ciências Políticas, com
temática histórico-filosófica, é escrito sobre fundamentos de grande atrativo popular,
acessíveis mesmo ao grande público que jamais leu Hobbes, Locke ou Beccaria.
O grande
mote da obra? Dentre outros achados, a autora
demonstra sua tese de que os direitos humanos nasceram, de fato, da empatia
paulatinamente desenvolvida, em dado momento do século XVIII, na sociedade europeia
(mais precisamente na França e na Inglaterra, espalhando-se, depois, para
países vizinhos), diante de controversos temas como a tortura e a igualdade
entre homens e mulheres, devido às identificações sentidas sobre
relatos de torturas praticadas pelo Estado (Voltaire) e sobre dramas sofridos por precursoras
heroínas de romances epistolares da época (cujo maior expoente foi Rousseau)! Sim, meus caros blogueiros de
plantão: ainda que de forma dispersa já se falasse da igualdade de todos em
históricos documentos como a Declaração de Independência dos EUA e a
francesa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, pela primeira vez na
História pode-se dizer que as pessoas sentiam, de fato, o próximo em pé de
igualdade, com ele se identificando independentemente de sexo, etnia, religião
ou status social. E, com isso, começando a gerar a derrocada de pontos até então indiscutíveis, como o direito estatal
sobre seus cidadãos, a subserviência da mulher ao homem e a escravatura.
A própria
professora explica em sua obra que “Para que os direitos humanos se tornassem
auto-evidentes, as pessoas comuns precisaram ter novas compreensões, que nasceram
de novos tipos de sentimentos” – e isto se deu, basicamente, porque então se
popularizavam relatos sobre castigos corporais institucionalizados para a
obtenção de “confissões” e também se devoravam romances em que a personagem
feminina era a protagonista a sofrer as mais injustas agruras! Questões como “capacidade
de autonomia moral” e direitos básicos inerentes ao ser humano podiam, enfim,
ser entendidas como universalmente aceitos porque as pessoas, por meio da
Literatura, aproximavam-se pela primeira vez do “outro” injustiçado... E, ainda
que tantos direitos sejam ultrajados até hoje, de forma legalizada ou pelas
cabeças tacanhas de intolerantes (de ordem moral, social, religiosa ou sobre
orientações sexuais diversas), somente por meio de novas experiências
individuais é que surgirão novos conceitos sociais e políticos!
Afinal,
as grandes mudanças do mundo, por mais que sempre tenham necessitado de
“documentos oficializadores” e de leis determinantes, nasceram mesmo de dentro
para fora de cada indivíduo (tal como qualquer mudança verdadeira deve ser)... E
nada mais justo e menos espantoso que seja uma obra de arte a causar tal
despertar! O que me faz lembrar que um dos primeiros degraus que subi em
direção ao “esclarecimento” em relação à realidade/naturalidade da
homossexualidade, por exemplo, deu-se quando assisti, depois de muita relutância
“macha”, ao ótimo O Segredo de Brokeback Mountain, aquele “polêmico” filme do
diretor Ang Lee sobre dois cowboys
que sofrem por toda uma vida por terem se apaixonado um pelo outro em meio aos
convencionalismos da sociedade – grande parte deste feito cabendo à
brilhantemente sensível atuação do “Marlon Brando da nova geração” que se foi
tão cedo, Heath Ledger (o demoníaco
Curinga de Batman O Cavaleiro das Trevas).
Acredito,
sinceramente, que, assim como eu pude começar a mudar um pouco da minha visão
de mundo graças àquele filme, tanto ele como muitas outras obras, literárias,
de ficção ou jornalísticas, e cinematográficas, em algum momento foram
responsáveis por uma mudança no timão da História ao fazerem, em determinados
momentos específicos no tempo, com que muitas pessoas freassem suas grandes
indiferenças ou seus pequenos ódios, parassem para refletir na real vivência de
determinado “personagem” tornado “próximo” e acordassem de suas até então imutáveis
zonas de conforto a fim de ver que os “diferentes”, no final das contas,
acabavam sendo elas mesmas... Assim, “fácil” perceber-se que cada um de nós
precisa de uma ajudinha externa para começar a fazer a mudança por que tanto
clama o mundo cada vez mais intolerante de hoje: e por meio da arte sobre os
pequenos passos de uma retrospectiva individual de nós mesmos, seja numa virada
de ano, seja em qualquer outro momento, é que poderemos dar grandes saltos. Assim
caminha a humanidade! Há muito tempo...
3 comentários:
M eu caro e DILeto amigo!
Vejo que está mandando mensagens subliminares de que sua barba está de molho (hahahahaha, a família aumenta, é isso mesmo!)...
Bem, eu gostei dO Hobbit, e queria mais da Desolação, porém entendo que é a continuação. O livro é tão pequenino, parece escrito para crianças e, no entanto, fizeram dele três filmes, inventaram personagens que não existem, como a Elfa Taurien (?). Mas dos outros que cita, não posso dizer nada ou por não ter visto ou por não gostar (não gosto dos filmes do Batman mais. Gostava do light...)
Mas começo de ano é assim, hora de arrumar a casa e todas as nossas relíquias! Estou refazendo meu escritorinho. Porém, mudei computador de lugar e mesa... Mas os fios deram cria e está aparecendo fio por todo lado , coisa que eu detesto. Vou procurar umas fitas especiais e começar meu processo de esconde-fios, mas dá uma preguiça... Bom, mas pela primeira vez, em muitos anos, eu tenho um mês inteirinho de férias!!!
Um beijo procê, Jandira, Isabela e nenéns!
O meu escritório também está precisar de ordem.
Mas acho que me vou livrar dos CD e das cassetes antigas de filmes. Afinal eles estão todos na net...
E música... ainda tenho discos de vinil e cassetes... do que resistiu à brincadeira destruidora das crianças...
Caro amigo, tem um bom ano.
Um abraço.
... e ainda bem, meu amigo, que ao menos alguns de nós abrigamos a flexibilidade e inteligência de alargar os nossos horizontes mentais, e mudar de opiniões. Também andei meio "fora do ar" em 2013, mas vamos ver se em 2014 consigo abrir as janelas da alma, para arejar a minha mente! Excelente post; meu abraço, boa semana.
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