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Antes de ser tragado como uma máquina sem consciência pelo sistema, olhe-se no espelho... e lute! |
O greco-americano Basil Poledouris realizava, então, uma das suas mais belas partituras, capaz de unir pungentes sintetizadores ao seu lirismo e à sua verve épica típicos de trilhas sonoras anteriores, como no ótimo Conan, O Bárbaro; Edward Neumeier e Michael Miner escreviam seu primeiro (e melhor) roteiro para o Cinema, poucas vezes se vendo falar em manipulação midiática, exploração da classe trabalhadora e corrupção no sistema com tanto cinismo; e o diretor holandês Paul Verhoeven, depois de seu primeiro trabalho estadunidense, o excelente Conquista Sangrenta, sentia-se em casa para desfilar seu mórbido humor misturado a muita violência bruta e crítica social sob a sempre segura fachada futurístico-tecnológica da Ficção Científica... Não tinha como ser diferente: com aquela reunião de talentos no momento certo, aquele recessivo 1987 de fim de Era Reagan, nascia a pequena obra-prima Robocop - O Policial do Futuro.

Já não existiam mais as máscaras dos poderosos em relação a qualquer preocupação com políticas públicas e sociais - afinal, armas e seu lucrativo negócio internacional são algo muito mais importante do que bem-estar social! Noutras palavras: um soco no estômago de políticas estadunidenses que beneficiavam as grandes empresas e inúmeros políticos, que lucravam com os absurdos de um só aparente "crescimento econômico", capitaneados pelo ator-caubói transformado em político ultraconservador e nacionalista Ronald Reagan, mas com gigantescos cortes no orçamento social e, em contrapartida, estrondosos gastos militares e armamentistas - o que gerou um grave período de recessão do qual os EUA jamais se curariam completamente até hoje... Algo similar aos duros anos 80 brasileiros, em que amargávamos imersos na hiper-inflação e nas consequências de desastres "desenvolvimentistas" após 30 anos de Ditadura Militar (DITADURA, sim; e não "Movimento", muito menos "Revolução"!), como a completa dependência dos EUA (que muito colaborou no Golpe de 64) e do FMI, obras faraônicas do calibre de uma Transamazônica e falsos "projetos sociais" como o BNH e o indecente MOBRAL, tudo bem mascarado por uma comprada mídia conivente com um ridículo "milagre econômico" do petróleo nacional e um oba-oba patriótico mequetrefe derivado dos tempos da conquista do Tri - isso tudo sem falar nas desumanas atrocidades de torturas e assassinatos "pelo Estado" cometidos por sádicos militares tiranos e sedentos de poder, sórdidas heranças destruidoras de qualquer projeto de país democrático...
Hoje, lembrando-me de um rico detalhe cinematográfico de minhas fustigadas retinas sentimentais, um interessante barulho que o ciborgue personagem fazia ao abrir algumas portas ao longo do filme (na verdade, duas - e o barulho vinha do abrir seus braços: uma na sua primeira aparição social, numa loja de conveniências; e outra, ao final, ao abrir o escritório central da OCP), fui pesquisar algumas dessas cenas e descobri que uma sequência do Robocop de 87 (esqueça, portanto, as lamentáveis partes 2 e 3, as inúmeras séries televisivas e o interessante, porém desnecessário reboot de 2014 feito por José Padilha) vem sendo trabalhada desde o fim do ano passado pelos roteiristas originais e já conta até com um diretor, Neil Blomkamp (o mesmo do inteligente Distrito 9), que promete não só a "boa e velha ultraviolência" do clássico de Verhoeven como também a volta do "Murphy original", o cult Peter Weller e suas magistrais mímicas robóticas - sem dúvida, uma excelente notícia para os cinéfilos! Mas uma pena, uma vez que, mais de 30 anos depois, o mundo continue corporativamente fascista e o povo, mais uma vez, esteja sendo conduzido acriticamente para a repetição de velhos universos distópicos de inescrupulosos empresários e ridículos personagens robotizados e adoradores de imperialismos bélicos, sem qualquer proposta para os complexos problemas sociais de uma Nação, sejam tratados como um "mito", tal qual algum cinematográfico "herói matador" dos filmes B dos tristes anos 80 - sem a menor chance de rebeldia ou de redenção humanizada...
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