
Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption
I've planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way
(Trecho de My Way - "meu caminho" ou "meu jeito": costumava, assim como na clássica canção, orgulhar-se da sua trajetória... E não era pra menos: poucos viveram tão intensamente como ele!)

E Frank Sinatra merece muito mais! Afinal, ser um ítalo-americano franzino nos anos 10 do século XX, nascido a fórceps (com a extrema vaidade que lhe era peculiar, sempre usou maquiagem para disfarçar as marcas deixadas entre o rosto e o pescoço do lado esquerdo) e extremamente humilde de uma cidadezinha próxima à Nova Iorque, Hoboken (cuja maioria dos citadinos jamais perdoou o famoso cantor e ator, porque este nunca teria feito nada pela Cidade), crescer e se tornar um dos maiores cantores de todos os tempos, sendo referência viva até hoje, a despeito de seu começo um tanto quanto "marqueteiro" (moças eram pagas pelo seu agente para gritarem e desmaiarem durante as primeiras apresentações) e apesar de seu gênero mais representativo, o jazz big band, não ser nada popular entre os ruidosos "gêneros" musicais atuais, não é coisa para qualquer um! E tudo isso se deve ao seu talento único, um jazzista branco cheio do melhor swing musical negro (tal como uma de suas mais famosas adoradoras, a também falecida Amy Winehouse) e com marcantes e definitivas interpretações para clássicos como The Girl from Ipanema (da parceria sua com Jobim) Fly me to the moon, Night and Day, Something Stupid, I got you under my skin, The lady is a tramp, In the wee small hours, I get a kick out of you, Strangers in the night, Let me try again, My Way (que ele não gostava nem um pouco de que caracterizasse o seu repertório, a ponto de ter sempre de cantar aquela canção melancólica e decadente) e, é claro, Theme from New York, New York, música-tema de um filme de 1977 - com Robert deNiro e Liza Minelli (que ficou igualmente famosa com a canção), musical de Martin Scorcese (!) desconhecido do grande público - e que só se tornou famosa graças à pungência dada pela gravação de Sinatra, três anos depois, em 1980.

Assim, se ele começou "imitando" ídolos como Bing Crosby e Billie Holliday, com o tempo cresceu ao ponto de superar aqueles em potencial vocal ou em poder de interpretação. No fundo, o bon vivant Sinatra, o mesmo líder do grupo machista e beberrão do Rat Pack ("pacote de ratos", sugestivo nome dado por Lauren Bacall ao bando de cantores safados capitaneados, inicialmente, por seu marido Bogart e formado por Frank, Dean, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop), sempre se manteve como um bom vinho: quanto mais envelhecia o magrelo ex-crooner, mais encorpava (literalmente, o que lhe emprestou mais charme) e melhorava em qualidade - no caso, graças ao meticuloso perfeccionismo e sua extraordinária intuição (nunca estudou Canto ou Música e ainda tinha um tímpano perfurado, por causa do fórceps), cada interpretação se mantém única e com um indescritível frescor, mesmo com tanto tempo de "engarrafada"! Curiosamente, ele não escreveu nenhuma de suas milhares de canções tão amadas - tantas que existe um programa de rádio novaiorquino que só toca canções do Old Blue Eyes! Mesmo assim, com sua voz inigualável e poderosa, sua postura máscula e cheia de sedução e o sua figura de poder (não só o ligado à Máfia...) e respeito, transformou-se num mito! Tantos anos sem Sinatra, mas sempre haveremos de tê-lo!

E assim os ídolos que se iam nos primeiros passos da minha juventude foram se mostrando, com o tempo, imortais em minha admiração - especialmente agora, em minha maturidade, quando posso comprar ou encontrar, nalgum qualquer site que disponibilize bons torrents, para baixar e gravar, no mais espaçoso pen-drive ou HD externo, todos aqueles que pereceram, mas não deixaram de existir graças ao poder de suas Artes... E se até hoje a Memória coletiva ainda traz, merecidamente, nomes como os de Sinatra e de Tom sempre à tona, infelizmente alguns monstros sagrados, como Nelson Gonçalves, um dos maiores cantores brasileiros (particularmente entre a morte de Chico Alves, em 1952, e a entrega para as drogas, em 59) - e que também começou imitando um ídolo seu, Orlando Silva, ambos tão bons quanto o grande Frank -, andam injustamente esquecidos pela Grande Mídia... Uma pena, porque, com o injusto esquecimento de Nelson, muitos brasileiros, já dados ao comumente infeliz "complexo de vira-latas", jamais poderão colocá-lo "frente a frente" com Sinatra num "dueto" de "competição" entre os dois grandes para ver quem seria o "maior"...
No fundo, acho que todos foram geniais no que se propuseram a fazer: Frank, Nelson, Orlando, Nat King Cole, Francisco Alves, Tony Bennett (único ainda vivo e em atividade)... Entretanto, penso que Frank Sinatra foi o maior na sua completude inigualável e na figura icônica que manteve na mais constante longevidade para um cantor! Por outro lado, nas opiniões deles mesmos, sempre houve "o maior", a depender da sensibilidade artística de cada um: eu me lembro bem que Frankie disse, em certas ocasiões de (falsa?) modéstia, que não seria ele o maior, mas Bennett; já Nelson, num dos seus arroubos de sobriedade totalmente despidos de vaidade, teria uma versão diferente de si mesmo: num encontro com o próprio Frank Sinatra em Nova Iorque, "The Voice" teria dito ao cantor brasileiro, após ouvi-lo apresentar-se, - É, meu amigo: eu sou bom, mas você é melhor! (história que, para além do próprio falastrão Nelson, costumava ser endossada por muitos dos seus fãs, como o seu compositor favorito, Adelino Moreira, e pelo meu saudoso avô Sebastião)... Tudo invenção, tal como comprova a maioria dos biógrafos da Música Brasileira (e a própria realidade: ao contrário de Jobim, costumeiramente citado como um dos maiores compositores, não se tem registro de Frank falando sobre Nelson)! Encontro de Tom, Frank e Nelson, por aqui, somente em antigas rodas de amigos, onde eu costumava brincar, depois de algumas taças de vinho, de imitar os três ídolos de longa data (claro que deixando a desejar aos originais, logicamente)! Mas bem que esse grande encontro entre boêmios de diferentes realidades e estilos poderia acontecer, seria incrível... Quem sabe se eles já não se encontraram no além, trocando ideias sobre suas experiências no botequim?!
Uma bela e inteligente fusão, de imagens e músicas, entre as confidências de botequim dos estilos de Nelson Gonçalves e de Frank Sinatra...
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