Acredito que à exceção de Morcegos e de Um breve desabafo em antítese, nunca decorei um poema sequer de minha autoria. Na verdade, da autoria de ninguém. A despeito de minha boa memória, jamais recitei de cor qualquer verso, qualquer estrofe, como há tantos por aí que o fazem... Não os invejo, tampouco os critico, mas não sei: creio ser para que o poema seja relido e revivido sempre. Assim, jamais preso à exaustão do lugar fácil, sempre à mão, será sempre preciso tateá-lo novamente para uma redescoberta... Mas, como diria o Samurai Malandro, em mensagem aos velhos arautos da Eterna Poesia, Dia vai vir que os saiba/ tão bem que vos cite/ como quem tê-los/ um tanto feito também – desta forma, o poetizar há de se repetir como quem acredita reunir um manual da pessoa amada e acaba no ocaso de saber-se um fingidor...
Nestes 10 anos dos Morcegos, a Poesia sempre se fez presente e a minha, embora um tanto afastada ultimamente, recria-se perene em meu humilde poetizar... Hoje, um poema que me é caro, como sempre me foram caras todas as palavras (em verso ou em prosa) em que eu me inventei...
Palavras
Desditas
Cada
palavra dita me é cara
Como me
são caros os amores que inventei
Cada
palavra ainda me cabe
Como em
mim cabem ainda as mulheres que abandonei
Cada
boca, cada gesto,
Cada
medo, cada olho carente de amor que eu ainda lembro
Tal como
a palavra que meu amor reinventou
É, mesmo
assim,
Ela, a
palavra que ainda amo,
Ainda
rebola por entre os mais diversos timbres e sabores...
Verdade
seja dita,
Desdita,
Escrita
ou falada:
Cada
palavra velada
Resta em
meu peito maldita
Como cada
cópia dissonante e repetida de meus amores...
Amo-as
todas
Umas mais
Palavras
a mais ou a menos
Cada uma
que sei
Digo e
repito:
Ainda me
soa como grito
Cada palavra que dela
escutei...(Dilberto L. Rosa, 2004)
1 comentários:
Lindo Poema Dil!
E quem diria que dez anos depois de escrevê-las, estaria com uma super família para inspirá-lo ainda mais?
Um beijo procês!
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