segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia da Poesia


Num antigo poema de minha lavra, em certo momento eu clamava para "Que cada poesia em sua errância Ajustasse a minha insignificância Ao estéril esquema de um horário!"... Pois que Poesia, Arte Maior, permanece viva e pulsante no ar, não tendo hora, dia ou lugar (tanto que tantos de meus poemas foram escritos originariamente num pedaço de guardanapo qualquer...), e os que se dizem poetas (uns mais, outros menos) apenas a catam aqui e acolá (vagam como meros catadores), na medida de suas visões (ou de seus tatos...)... Mas hoje é o Dia da Poesia (e viva nosso Castro Alves: 164 anos!) e não do poeta; por isso, deixem-na falar por si – e ela está aí, para quem quiser ver! Pois que eu mesmo, poeta menor, já disse, certa feita, noutro guardanapo qualquer: "O poeta é aquele que se conjuga no saber-se vazio no vazio fecundo da poesia...".


Homenagem Incompleta

Procuro
Entre as sombras de meus pensamentos
Por alguma coisa ainda não dita em poema algum.
E me refugio em pensamentos distantes
Buscando Drummond, Cecília, Bandeira,
Pessoa, Gullar, Nauro,
Chico, Leminski,
Torquato, Florbela,
Machado, dos Anjos, Billac,
Vinícius, Cabral, Neruda, Borges,
de Azevedo e Souza...
Poesia de todos e de ninguém
– Versos que existem e que são colhidos,
Versos que se inventam a cada instante:
Poesia que se sabe mutante.
E,
Ainda que seja a falsa amante,
Sempre viva por entre as tantas mortes,
Do Gozo e da Dor,
Segue ela independente,
Sangrando a pena de um qualquer
Que assim se torna poeta
E então trabalha, e teima, e lima, e sofre, e fia,
E acaba revelando a mesma coisa
Já dita antes algum dia...

(Dilberto L. Rosa, 2004 Poemas)

Ao Longe

Poesia inalcançável
de versos infinitos,
no ar, estática,
soberana e lenta...

Poema altivo
subido no alto
do mais alto monte
in natura, sem verbo,
à vista e à espera
ao sabor do talento
de um já em seu nascedouro
fracassado poeta...

Limitado, limitado
– tantas nuvens...
Luta vã:
no ar, estática,
poesia ao longe.

(Dilberto L. Rosa, 2004 Poemas)
|

29 comentários:

ANTONIO NAHUD on 15 de março de 2011 às 12:08 disse...

Poemas embriagados de emoção e questionamentos... Ah, a poesia de todos nós...
Salve! Salve!

Jens on 15 de março de 2011 às 15:03 disse...

Camarada Dilberto:
feliz a percepção contida nos versos finais do primeiro poema, Homenagem Incompleta - a poesia não é fruto apenas da inspiração, mas exige também transpiração na prospecção da palavra exata. Você se revela um garimpeiro diligente, que tem afinidade com aquela tribo que Erzra Pound qualificou como as as antenas da raça. Parabéns. Salve a poesia e seus cultores.
Um abraço.

Loba on 15 de março de 2011 às 17:02 disse...

desconfio dos poetas ditos menores, sabia? são assim enormes quando deixam sangrar a pena e dizem, de uma forma sempre nova e sempre sua, das coisas já ditas um dia.
eu já te disse que sou sua fã? só falta a carteirinha, tá? ;)
beijo

Magui on 15 de março de 2011 às 17:13 disse...

O poeta precisa ter alma própria.E vc tem.Eu já tive mas hoje passei de menor para nulo.

Sobre ajuda no templat não dispenso.Gostaria de saber como aplicar html para gifs vivos pois lá só dá estático.

Jota Effe Esse on 16 de março de 2011 às 07:21 disse...

Dilberto, "saber-se vazio" é comigo mesmo, tudo que quero escrever, já foi escrito por outro. Fazer o quê? Copiar, plagiar, fingir que faz versos, pra não sumir! É só. Meu abraço.

Marco on 16 de março de 2011 às 07:31 disse...

Fala, grande primo!
Congratulações aos poetas pelo seu dia (embora eu concorde com você, poesia não tem dia nem hora). Rapaz, você é bom nisso, mesmo! Gostei muito de seus poemas e não estou falando isso do teclado para fora. Bela postagem, bela música de ilustração...
E aceite meu conselho: ande, malhe, corra, perca a barriga se não a fila anda! Sua esposa já o ameaçou.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Unknown on 16 de março de 2011 às 10:28 disse...

Oi Dilberto! Eu consegui entender a sua poesia. Q bom, pois na maioria das vezes, entendo mais das palavras xulas. Seu linguajar é contagiante.
Bj.

Celamar Maione on 16 de março de 2011 às 15:36 disse...

Dil,
lindas palavras !!

Nós , poetas, somos meros catadores de palavras, escultores de emoções, dores, amores, saudade...e assim caminhamos a cada dia, fragmentados, por entre pedras e flores, vislumbrando o que há de melhor dentro de cada um : O sentimento.
Dói ser poeta. Dói a intensidade . Somos feitos de mares, rochas, tempestades e saudade.
Amor e desamor !

Meus dois grandes poetas : Fernando Pessoa e Florbela Espanca.

Dil, que a poesia seja eterna, posto que é chama e seja infinita, tocando corações sensíveis e os insensíveis, também!

Grande beijo !!

Batom e poesias on 16 de março de 2011 às 16:18 disse...

Oi querido!

Nem precisava procurar, pois a poesia te encontrou.
:)
A poesia não é o poeta, pois que este lhe serve apenas de canal.
E todo o dia é dia de poesia!

Beijos poéticos.
Rossana

Duarte on 16 de março de 2011 às 20:45 disse...

Gostei muito.
Li qualidade
em sentires diversos,
cantos ao ser.

Como dizes que é a semana dos poetas, aqui deixo uns versos meus...

É OUTONO

Chegou o Outono!
O sol espreita retraído,
cobrindo a cidade de ocres
e sombras inclinadas.
O ar vai-se pintando de fumo
que a humidade deixa desenhar
em boladas de mil formas;
enquanto os braseiros
vão aquecendo o corpo.
Já se percebe o cheiro,
que invade o Porto,
a castanhas assadas…
Stª Catarina, Boavista,
Praça dos Leões,
Ribeira ou Foz.
É a magia do Outono
que da infância guardo,
no culto ao São Martinho,
com vinho novo e alegria!

Um grande abraço

ítalo puccini on 16 de março de 2011 às 22:51 disse...

tua escrita é muito segura, rapá!

muito boa postagem esta.

sempre passando por aqui.

abraços.

O Neto do Herculano on 17 de março de 2011 às 11:15 disse...

Salve o dia da poesia!
Parabéns pelas postagens.

Luiz Santiago (Plano Crítico) on 17 de março de 2011 às 18:37 disse...

Te mandei um e-mail, nas não sei se você recebeu. Qualquer coisa, dá um toque no lulgo1@hotmail.com que eu te reenvio!

Belo post! Poesia que "cai gota a gota, do coração", como dizia o nosso Bandeira.

Grande abraço

ANTONIO NAHUD on 17 de março de 2011 às 18:43 disse...

Dilberto,o FALCÃO está comemorando cinco meses de vida. Apareça por lá!
Abraço bom,

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

Ruby on 18 de março de 2011 às 23:10 disse...

Dia poético e justo no dia do meu aniversário.
Lindas palavras, Dilberto. Poesia é beleza que só entende e maneja quem nasceu com mãos de artesão da palavra.
...Buscando Drummond, Cecília (amo), Gullar, Bandeira, Florbela, Neruda (oh!), Vinícius e Dilberto.
Parabéns poetas pelo dia de vocês!

meus instantes e momentos on 19 de março de 2011 às 06:16 disse...

Navegando pela internet "cai" aqui.
Parabens muito bom teu blog.
belissimos posts.
Maurizio

Игорь on 19 de março de 2011 às 09:28 disse...

Nossos momentos são próprios e às vezes conseguimos moldá-los em palavras.Um dom raro. jeito comlicado de dizer que gostei ! Rsss

abração

Ilaine on 19 de março de 2011 às 13:20 disse...

Poesia saída da alma, que nasceu no intante impreciso, na hora de um pensamento, ao escutar uma música, ao ver as ondas do mar... e anotada num guardanapo. Poesia pura, seus estigmas, Dilberto - poeta maior. Linda homenagem em forma de poesia para os grandes nomes neste mundo dos versos. Beijo

Saudades!!!
Teria o poeta se esquecido de meu singelo blog? Abraço

Claudinha ੴ on 20 de março de 2011 às 17:42 disse...

Meu caro, já tinha comentado este post e estranhei por achar que tinha um novo sistema de comentários! Agora me vem a dúvida, será que postei no blog de outra pessoa? hahahaha
O que eu disse foi sobre o encanto que senti ao chegar aqui e me encontrar com meu preferido Chopin e depois ler Poesia de primeira grandeza! Obrigada como mulher, obrigada como pessoa sensível, por nos presentear assim. Um beijo grande para as meninas mulheres de sua vida!
Beijo!

História é Pop! on 20 de março de 2011 às 22:01 disse...

Olá
Prazer te- lo no Vintage.
A proposta do blog é ser um diferencial entre tantos outros de cinema clássico.
Procuro fazer algo divertido, interessante, informativo nada enfadonho ou convencional.
Muitos podem não gostar da proposta mensal do “Brincando Com Imagens” mas ele é o carro chefe do Vintage.
Seja bem vindo e volte sempre
Adorei seu espaço.
beijão

Luanna disse...

Olha eu aqui! (demorei, mas cheguei).
Quando você disse que o meu comentário era importante, conquistou-me (risos!).
Que sensação boa que senti aqui no seu espaço. Parabéns pelos textos recheados com uma visão crítica de quem tem conhecimento intelectual...

P.S: E que músicas, hein! Excelente escolha, pois tem tudo a ver com a proposta do seu blogger (vontade de ficar ouvindo, ouvindo, ouvindo... sem parar).
=)

Abraço, Dil!

Anônimo disse...

"Vontade louca
De voar... No ar!
Leve como pluma
Em tom alvo de algodão
Percorrendo milhas
Do que fui ontem".

Belíssima e justa homenagem,Dil!

Raelson Cavalcante on 25 de março de 2011 às 11:58 disse...

Se almoço não janto pra mim é o bastante comer uma vez...parte da musica do meu saudoso avô Linésio, poeta, repentista de martelo agalopado, professor de todas as matérias fundamentais e etc...e agora tenho a oportunidade de aprender alguma coisa na querida BATCAVERNA. Grande abraço ao querido mestre Dilberto Rosa.

Jandira disse...

Esta janela, a mim me lembrou a do filme Mar Adentro...
E que beleza de poesias e homenagem àquilo que salta de ti com tanta naturalidade, meu Amor. O pulsar dos teus versos, mesmo que em um pedaço de papel qualquer, sempre me emociona!Beijos macios e cheios de poesia!

Rebeca Amaral on 26 de março de 2011 às 15:55 disse...

Valeu, senhor Poeta. Adorei o que li! Parabéns!

Canto da Boca on 27 de março de 2011 às 18:11 disse...

Dilberto, fiz um adorável passeio agora. Desde as reminiscências do poeta boêmio errante, que vai e vem, memórias adentro e nos leva junto, reverenciando grandes mestres das letras e da emoção, até ao infinito da matéria poética, ao horizonte inalacançável e ianacabado e sempre furtífero do universo e da matéria poética.

Abraço, que todo dia a poesia lhe brinde para podermos desfrutar também.

;)

Helô Müller on 27 de março de 2011 às 18:35 disse...

Vc sempre me surpreende com o seu talento e sensibilidade com as letras!
Parabéns pra nós, por vc dividi-las conosco!
Bj grande!
Helô

Emmanuela on 2 de abril de 2011 às 20:16 disse...

A inspiração vive de pregar peças, sempre dando o ar de sua graça nos lugares mais inusitados.

Seus preclaros poemas são infinitamente mais encantadores que minha paixão por cinema. Que bom que sua pequena melhorou, viroses são apoquentações inevitáveis.

Lu_MCordeiro on 3 de abril de 2011 às 18:25 disse...

Dil,já fiz mta poesia qdo era adolescente.Depois tomei gosto pela prosa,onde me saio melhor.Talvez eu tenha perdido o romantismo,será? Mas acho incrível determinados poetas,sendo Drummond e Fernando Pessoa os meus preferidos.Mas qdo eu era menina adorava Gonçalves Dias.Seu I-Juca-Pirama me deixava abobada.Eu queria escrever daquele jeito,com a mesma métrica,e tentava pra valer.Até consegui escrever um,mas com conteúdo erótico.Eu tinha uns 14 anos.Qdo mostrei,toda feliz,à minha mãe,houve uma polvorosa familiar:de onde eu havia tirado aquelas coisas,queriam saber.A coitada,aqui,nem sabia direito,só havia imaginado uma situação de amor e saudade. Afinal eu lia livros e via filmes românticos e minha imaginacão voava.Conclusão:parei por ali mesmo.
E vc,hein amigo,faz magia com as palavras!
Bjsss

 

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