segunda-feira, 6 de maio de 2019

L-O-V-E
100 anos de um amado rei negro
em um mundo branco: Nat King Cole

Nat Cole branco... E com voz feminina?! 
Na verdade, trata-se de Wayne Newton - e uma breve introdução em tom de crônica a seguir...

Noutro dia, ouvi, por acaso, a dileta canção L-O-V-E (não sei onde nem por quem cantada), e, logo em seguida, sem querer peguei-me cantarolando os primeiros versos de Danke Shoen ("muito obrigado", em Alemão), na versão norte-americana da célebre canção alemã de Burt Kaempfert e imortalizada pela "voz feminina" de Wayne Newton (vídeos acima) - popularizada, por sua vez, na divertida dublagem feita por Matthew Broderick/Ferris Buller em Curtindo a vida adoidado. Foi então que percebi, pela primeira vez, que ambas eram extremamente similares, chegando a ser praticamente idênticas nalguns pontos da melodia ou da estrutura rítmica... Mas quem plagiou quem? Como Danke Shoen é mais antiga (mesmo a versão Made in USA) e aprendi a amar L-O-V-E ("Santo trocadilho linguístico, Batman!") com o grande Nat King Cole, jamais poderia admitir que esse genial artista, um de meus ídolos e dos sujeitos mais cavalheiros da História da Música, pudesse ter participação em atitude tão vil...

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Dois grandes: JK e NKC. Rio de Janeiro, turnê de 1959.
Mas nada que o sempre companheiro-enciclopédico-móvel Google não resolvesse ao cabo de alguns minutos de "pesquisa" - e, assim, não só descobri que a canção original L-O-V-E também havia sido composta pelo mesmo músico alemão de Danke Shoen, Kaempfert, o que explicaria o "plágio" ("lapso de imitar a si mesmo", não é crime: acontece muito aqui nos Morcegos), como também que o grande Nat Cole, falecido precocemente, aos 45 anos em 1965 (câncer nos pulmões: engolia três maços de cigarros por dia), completou centenário no último mês de março... E como é que os Morcegos me deixam passar tamanha data especial em branco? Logo de alguém tão inesquecível - não por acaso, "Unforgettable"foi renovado como clássico em 1991, naquele famoso dueto póstumo com sua filha única, Natalie Cole, infelizmente também já falecida.

Afinal, o sujeito que adotou o epíteto "King", rei em Inglês, como seu nome do meio - que, dizem, teria sido dado mais em razão de uma antiga canção de roda inglesa do que o costume da época entre músicos, de autoatribuir-se títulos como este, em falta de modéstia -, não poderia ter acertado mais com seu nome de "batismo artístico": tanto como um inovador jazzista nos tempos iniciais de carreira em seu trio sem bateria, quanto como um exímio pianista que interpretava com a alma e a voz inconfundíveis clássicos populares românticos (muitos destes lançados por ele), Nat King Cole atravessou pouco quase três décadas de uma carreira extremamente bem sucedida. E, mesmo diante da "ameaça" do rock'n roll em meados dos anos 50, foi capaz de se reinventar ao lançar turnês internacionais cantando e gravando hits nos idiomas dos países que visitava - um deles, o Brasil, em que marcou com a sua presença elegante de sempre e seus verdadeiros "hinos da latinidade" em forma de boleros (embora seu Espanhol e Português fossem um tanto quanto "macarrônicos"), como Cachito, Aqueles ojos verdes e Quizas, Quizas, Quizas.

E se lhe faltava um pouco mais de posicionamento ou "consciência negra", o que poderia ter-lhe colocado num patamar ainda maior ao aproveitar sua popularidade para uma luta mais efetiva contra o racismo em seu País (do qual ele próprio era uma vítima), sobrava-lhe carisma ao ponto de impor-se naquela sociedade preconceituosa dos anos 40/60 simplesmente com sua figura e seu talento insuperáveis - e talvez tenha sido melhor assim: a mesma massa que criticou e condenou o fato, por exemplo, de Nat ter o próprio programa televisivo em 1956 (o que acabou pressionando alguns patrocinadores e fez com que o show fosse cancelado após pouco mais de um ano de exibição) se confundia com a massa que comprava milhões de seus discos - sua gravadora construiu todo um famoso prédio de luxo basicamente com os dividendos de seu "Anjo Negro", ao ponto de tal sede ser conhecida como "a casa que Nat King Cole construiu"! Tamanho o seu sucesso, que lhe rendeu outro epíteto mais do que merecido: "o melhor amigo que uma canção poderia ter"!

nat king cole cd box coletaneaConheci Nat King Cole ainda na adolescência, por intermédio de uma coletânea de três discos do Reader's Diggest, O Melhor de Nat King Cole - Unforgettable - dois CDs duplos de seus maiores hits norte-americanos e um simples com seus mais emblemáticos boleros - nem preciso dizer que meus pais adoraram quando cheguei em casa com aquela coleção, que ganhei de um antigo amigo por ocasião de uma aposta. Difícil escolher uma ou mesmo um pequeno grupo de canções como síntese de sua vasta obra para emoldurar esta singela homenagem em nosso humilde espaço virtual, tamanho o cabedal de sucessos e interpretações memoráveis... 

Ele era capaz de achar e apostar em compositores desconhecidos ou "canções estranhas", como Nature Boy, e transformá-las em músicas populares! Com sua verve jazzística, empregava um sentimento diferenciado em cada verso mais sentido ou acorde mais denso em seu piano, por onde deslizava sua voz macia, como se contasse uma história - foi assim com Stardust (minha favorita), Our love is here to stayMona Lisa, The very thought of you, Foolish Things e tantas outras... Mas, à beira de um dia das mães que ainda hoje são embaladas com suas lembranças de boleros na voz aveludada do Sr. Cole - como a minha, D. Dilena... -, deixo, por fim, a excelente seleção de um álbum somente com Cole en Español e, naturalmente, o carro-chefe do seu derradeiro álbum, lançado pouco antes de morrer: sua versão única e insuperável de L-O-V-E... Sorry, Wayne Newton, mas essa até o Laempfert concordava: o Rei Negro era  um colecionador de versões definitivas! E seu último legado foi, justamente, ser amado com suas versões imbatíveis por sobre qualquer outra alma branca...

Um legítimo gentleman em qualquer idioma...
 

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